MORDOMOS CONFIÁVEIS

A nossa experiência de vida, como seres humanos criados à imagem de Deus e responsáveis pelo cuidado e domínio do resto da criação, encontra a sua realização no ambiente e no envolvimento social, onde cada um interage com os demais, numa relação de interdependência e de mutualismo funcional e de convivência.

A integração na “família da fé” faz com que esta realidade social seja ainda mais significativa e notória, pelo facto de que o próprio espaço de convívio cristão, pela sua natureza essencialmente comunitária, acaba por se revelar propício para o exercício do amor abnegado e da generosidade contagiante.

Na parte final da sua epístola às igrejas da Galácia, Paulo exorta os crentes a viverem,   de modo prático, a nova realidade (de vida) que lhes foi outorgada em Cristo, provando, assim, a veracidade da sua fé por meio de atitudes, de decisões tomadas no dia-a-dia e de atos concretos que provam a vitalidade e a relevância da sua fé.

Ao fazê-lo, o Apóstolo dos gentios, socorreu-se de um método pedagógico muito apreciado entre os rabinos, conhecido como a “regra” ou o “princípio da sementeira”, que estabelece a correspondência e a relação de proporcionalidade entre o ato (ou atividade) de semear e os resultados da colheita.

Entre outras recomendações feitas por Paulo aos gálatas encontra-se a de “não se cansarem de fazer o bem”. A formulação negativa da frase revela e intensifica o pensamento do Apóstolo, que procura incentivar os irmãos da Galácia a perseverarem em fazer o bem (como quem semeia) para que, diz ele, a seu tempo colham os benefícios do seu investimento.

O tempo verbal usado na afirmação (ou exortação) sugere que esta atitude deve ser contínua e constante.

Na sua vivência diária, instrui Paulo, todas as oportunidades que se lhes apresentassem deviam ser aproveitadas para a prática do bem a todos, sem, contudo, ignorar o estabelecimento das prioridades.

Nessa atitude beneficente, os irmãos na fé, ou usando os termos do próprio Paulo, “os domésticos da fé” deviam ser os primeiros a serem contemplados e favorecidos.

O ensino bíblico mostra-nos, do princípio ao fim, que o nosso papel neste mundo é o de sermos mordomos ou “vice-gerentes” de Deus, o Criador do universo. Aliás, em termos teológicos, esta função de governar a terra, sob a supervisão divina, é a que potencia a nossa qualidade de “imagem de Deus” (Génesis 1: 26-28).

Tendo como base o nosso pepel de mordomos do mundo criado (em especial, no cuidado da terra), a nossa responsabilidade consiste em tratar da melhor forma o meio ambiente do qual fazemos parte, extrair (de um modo equilibrado) os recursos necessários para a  continuidade da nossa existência e, por fim, em partilhar com os nossos semelhantes, de forma altruísta e generosamente, os resultados do nosso empreendimento, suprindo, deste modo,  as suas necessidades básicas.

Para cada um de nós, crentes em Jesus e objetos da maravilhosa graça de Deus, o desafio torna-se ainda mais relevante e pertinente, visto que o exercício do bem é um imperativo a ser materializado, tendo em conta, não apenas o bem proporcionado a outros, mas também a garantia da recompensa que aguarda aqueles que “semeiam o bem”.

Que o Senhor nos sensibilize (com incómodo, se necessário for), de modo a desempenharmos da melhor maneira a nossa função de mordomos confiáveis, responsáveis por gerir, com sabedoria, os bens que nos foram incumbidos gerir.
Que cada um de nós se empenhe, com toda a diligência, na benigna missão de praticar e promover o bem, de suprir as necessidades dos mais carenciados e de “semear” o amor ao próximo, contribuindo, assim, para o engrandecimento do nome do Senhor Jesus e para a expansão do Reino “daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. 

Soli Deo Gloria! 

Pastor Samuel Quimputo
março 2017