A HUMANIDADE (OU POSTERIDADE) E O PECADO ORIGINAL

O problema humano não é, primariamente, ambiental; é sim, uma questão de natureza. Desde que os nossos primeiros pais pecaram, caindo do seu estado original de perfeição, a corrupção (deterioração moral e espiritual) tomou conta de toda a experiência da vida humana. A corrupção da sociedade é apenas o resultado da natureza pecaminosa de cada um dos seres humanos que vem a este mundo.
Os frutos pecaminosos evidenciados nos actos e nas atitudes dos seres humanos, são o resultado incontestável da “qualidade da árvore”, ou seja, do seu coração, do seu ser mais íntimo, que é essencialmente mau. E tudo isso porque os nossos originais ancestrais caíram em pecado.
A Queda “não é simplesmente uma questão de dedução racional. É uma parte da revelação divina” (R.C. Sproul). A doutrina da Queda do Homem é claramente ensinada nas Sagradas Escrituras.
O pecado original não se refere primariamente ao primeiro pecado cometido por Adão e Eva. Antes, refere-se ao resultado do primeiro pecado; refere-se ao início da corrupção da raça humana, à condição caída em que nascemos, antes mesmo de cometermos qualquer acto pecaminoso.
Por esta razão, não podemos perguntar: “Quando é que um ser humano se torna pecador?” A verdade bíblica afirma que o ser humano já vem à existência no estado de pecador (Salmo 51:5). Como descendente do primeiro Adão, o representante “federal” da raça humana, todo ser humano (excepto o Senhor Jesus) vem a este mundo com um natureza decaída, inclinada para o mal.
As consequências do pecado, como vimos, atingiram toda a criação, colocada sob a gerência do Homem. Por causa do pecado do seu “pai federativo”, a posteridade (ou descendência) humana ficou sujeita à corrupção (Romanos 5: 12- 14; 8: 20; I Cor. 15: 20-22). Assim, o pecado de Adão teve um efeito devastador sobre a sua posteridade, o que se traduz na evidente universalidade do pecado e da consequente morte, mesmo que alguns não o designem como tal. O facto é que todos são testemunhas da maldade proveniente do interior o ser humano, capaz de levá-lo a cometer actos contrários ao seu carácter moral.
Em maior ou menor proporção, a realidade dos efeitos do pecado em todos os homens é inegável, facto este que revela a desorientação moral e espiritual em que se encontram (Isaías 53: 6; Romanos 3: 10-12, 23, Tiago 3:2; I João 1: 8,10).
A realidade da universalidade do pecado leva-nos a indagar: Como é que pecado foi transmitido?
Em primeiro lugar, convém-nos lembrar que o pecado é um tipo de mal moral e ético. “É ausência de integridade, de autenticidade; é carência de rectidão, é o abandono do caminho designado” (M. Lloyd-Jones). É errar o alvo traçado por Deus, que é a Sua lei implantada na mente (isto é, no coração) do homem. Portanto, o pecado é também uma atitude de revolta e de rebeldia contra Deus; é uma recusa activa (positiva) de submissão à autoridade legal de Deus. “É a quebra deliberada de uma aliança” (M. Lloyd-Jones).
Ele envolve culpa, vaidade espiritual, perversão (ou distorção da natureza). O que significa que:
- O pecado é um tipo de mal (moral ou ético);
- O pecado possui um carácter absoluto (apropria-se do homem como um todo);
- O pecado é algo que se acha directamente relacionado com Deus, com a Sua vontade e a com
a Sua lei;
- O pecado é algo que está no coração dos homens e das mulheres, e não à superfície das
suas vidas; está no mais profundo do seu ser;
- O pecado não consiste apenas de acções, mas essencialmente é uma condição;
- O pecado é culpa e uma espécie de poluição.

Teorias de transmissão do pecado de Adão à Humanidade:

- A Teoria realística – Esta teoria afirma que a humanidade inteira estava em Adão; quando ele pecou e caiu, a natureza humana toda caiu com ele (com a base de que a alma é algo que herdamos dos nossos pais, uma espécie de identidade seminal; ex. Hebreus 7: 9, 10); Contudo, esta teoria tende a materializar a alma e entra num labirinto filosófico.
Uma outra dificuldade é o facto de que não somos responsabilizados por todos os pecados de Adão, e sim em apenas um (Romanos 5: 18),
- A Teoria do pacto – Por sua vez, esta teoria apoia o ponto de vista de que todos nós herdamos o pecado de Adão porque ele não é só o cabeça da raça humana, mas também porque Deus fez com ele um pacto, e designou-o como representante da raça. Segundo esta teoria, que tem muito a seu favor, Adão era uma espécie de representante federal da humanidade inteira. Portanto, tudo o que Adão fez teve consequências para todos que provieram dele.

Textos de apoio: Génesis 3: 1-24; Efésios 2: 1-3; 4: 17-19; I João 1:8-10

(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C.Sproul, Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd, Teologia Sistemática de Wayne Gruden, Comentário de Génesis de Derek Kidner e A Terra…De Onde Veio de John C. Whitcomb).
Pastor Samuel Quimputo