A Mordomia do Tempo

 

Segundo a opinião, bem fundamentada, do Professor Luiz Sayão, um mestre em estudos da cultura oriental, especialmente das culturas semíticas, em geral, e da hebraica, em particular, o que distingue o mundo ocidental do oriental, no que diz respeito ao entendimento e ao significado da vida, é a ênfase que cada um coloca nos conceitos de “espaço”, e de “tempo”, respetivamente.

Na cosmovisão ocidental, profundamente influenciada pela cultura e visão helénicas (gregas), o conceito de “espaço” tem prevalência sobre o do “tempo”. A vida é interpretada e avaliada, basicamente, na ótica da “dimensão das coisas”, na grandeza das coisas e na conquista do “espaço”. O mais importante, para a visão ocidental, é o que se pode ver e medir.

Contrariamente à perspetiva ocidental, a cosmovisão oriental é marcadamente condicionada pelo conceito de “tempo”, das sequências e dos momentos que vão marcando os ritmos da vida e de tudo o que a envolve.

Para os orientais, o tempo (embora difícil de definir) é o bem mais precioso com  o qual os seres humanos, limitados pelo tempo, foram agraciados por Deus.

Em certo sentido, tudo na vida é avaliado e gira em torno da noção que se tem do tempo.

A efemeridade ou a durabilidade das coisas determinam o seu valor e a sua importância. Portanto, o agir sábio ou insensato é, em certo sentido, determinado de acordo com a forma como gerimos o tempo, aproveitamos as oportunidades e interpretamos as circunstâncias com as quais nos deparamos em cada etapa do nosso caminhar, como peregrinos que somos.

Para os orientais, viver é percorrer uma caminhada feita de “momentos” que se vão acumulando e sucedendo rumo a um desfecho incerto e inesperado.

Esta perspetiva faz com que cada momento seja aproveitado com especial cuidado. Ao ser único e irrepetível, deve ser desfrutado com intensidade, com senso de urgência e com sabedoria.
Paulo, cuja mente era dominada pela visão oriental da vida, ao escrever aos efésios, exorta-os a “remir” o tempo.
À primeira vista, a orientação de Paulo parece não fazer sentido, visto que o “tempo” não pode ser controlado nem “domesticado”. Contudo, a boa gerência que se faz dele pode ser encarada, de um modo metafórico, como uma espécie de “redenção” do mesmo.

Como cogerentes de Deus, e ainda por cima na qualidade de filhos alcançados pela graça e comissionados a “anunciar as virtudes” do grande Deus, somos instados a aproveitar as oportunidades que se nos apresentam, gerindo o “tempo”, fazendo o bem, promovendo o bem-estar comum, exercendo uma boa influência sobre aqueles com quem nos cruzamos, fazendo de cada encontro um belo momento de “remir” o precioso tempo de vida que nos é, graciosamente, outorgado por aquele que é o seu Criador.

A negligência na gerência do tempo é claramente reprovado nas Escrituras. Essa atitude é considerada uma espécie de “insensatez”, que deve ser evitada a todo o custo. 

Assim como Paulo exortou os efésios a aproveitar todas as oportunidades para, gerindo (ou remindo) o tempo, fazer o bem, todos somos instados a fazer o mesmo, a agir com sabedoria, a usar o precioso tempo, com todos os seus desafios, enquanto é dia, visto que os dias são maus e de trevas. Soli Deo Gloria!    

Pr. Samuel Quimputo
março 2018