A Pessoa do Senhor Jesus Cristo

Todos os verdadeiros cristãos concordariam com a afirmação de que a pessoa do Senhor Jesus Cristo é central e o mais extraordinário facto na história da redenção. Todos os outros aspectos históricos, por muito importantes que sejam, não alcançarão a estupenda dimensão deste facto. Tão extraordinário que ele é, tornou o nosso cálculo histórico (e cronológico) divisível em antes de Cristo (a.C) e depois de Cristo (d.C). A encarnação é, indubitavelmente, o evento central e singular de todo o percurso histórico.
A fé cristã, diferentemente de outras crenças (ou religiões), não pode existir (e subsistir) sem a Pessoa “incontornável” do Senhor Jesus. Ele é absolutamente vital.
A prova da verdadeira fé cristã em cada ser humano reside (e evidencia-se) no facto da pessoa do Senhor Jesus ser, em termos absolutos, essencial para si. A fé cristã não pode existir em alguém em quem o Senhor Jesus não seja essencial. “Ela (a fé) está inteiramente voltada para Ele, para quem Ele é, para o que Ele tem feito e para o que tornou válido e possível para nós” (Lloyd-Jones).
Em certa medida, existe uma espécie de intolerância acerca da fé cristã, isto é, algum aspecto em que não pode haver cedência doutrinária, no que diz respeito aos fundamentos da fé cristã autêntica. Paulo provou este facto em Gálatas 1: 8,9. Tal como fez Paulo, cada cristão sincero, honesto e evangélico deve proceder da mesma forma. Uma atitude diferente e opcional seria uma traição declarada para com Aquele que deu a Sua vida, para tornar possível a salvação ao ser humano perdido e alienado do seu Deus (Actos 4: 12).
Quando alguém afirma que crê em Cristo, temos o dever (amoroso) de averiguar o que a pessoa sabe acerca daquilo que o próprio Senhor Jesus diz sobre Si. Ele disse e fez coisas que devem ser levadas em conta. Tudo foi registado para levar, não a um mero conhecimento intelectual ou admiração mas, à fé (João 20: 31).
Embora a encarnação seja um mistério insondável (por causa da nossa limitada capacidade de compreensão), a Bíblia, graças a Deus, não nos deixa um vazio (1 Timóteo 3:16). Nela encontramos matéria suficiente para nos levar à fé e à obediência. A Doutrina (ou ensino), portanto, é de extrema importância. Ela deve anteceder a conduta e deve regulá-la. A piedade sem entendimento é vaga e não passa de uma religiosidade vulgar, uma espécie de zelo oco e fanático (Romanos 10: 2), que leva, necessariamente, à auto justificação e à rejeição da verdadeira justiça que vem do Deus misericordioso e compassivo (Romanos 10: 3), que justifica o pecador, em Cristo Jesus, mediante a fé (Romanos 10: 4).
A fé cristã baseia-se em factos históricos que podem ser explicados com entendimento. Embora a fé esteja para além do âmbito da razão, elas não contrárias; apenas pertencem a dimensões diferentes. Portanto, o propósito (ou a razão de ser) da fé pode ser explicado com entendimento (IPedro 3: 15).
Podemos, assim, afirmar que o Senhor Jesus Cristo é o cumprimento de todas as profecias e de todas as promessas do Velho Testamento (2 Coríntios 1:20). Ele é, essencialmente, o cumprimento da promessa feita em Génesis 3: 15 e em Génesis 17: 10, 19, facto este confirmado em Gálatas 3:16.
A vinda do Senhor Jesus ao mundo, por meio da encarnação, trouxe glória ao templo reconstruído por Herodes (Ageu2:9); enviou João Baptista para preparar o Seu caminho (Malaquias 3:1); nasceu exactamente no lugar indicado pelos profetas (Miquéias5:2); veio da linhagem da tribo de Judá, como profetizado séculos antes (Jeremias 23: 5,6); o Seu nascimento teve lugar por intermédio de uma virgem (Isaías7:14).

(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C.Sproul, Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd, Teologia Sistemática de Wayne Gruden, Comentário de Génesis de Derek Kidner).

Textos de apoio: João 3: 16; Hebreus 1: 1,2; 3: 5, 6; 9: 10-12
Pastor Samuel Quimputo

A BONDADE DE DEUS

A Doutrina da Bondade de Deus aponta-nos para o carácter e para o “comportamento” divinos, cujo elemento essencial é a perfeição.
Por ser Deus recto, essencialmente puro e sem arbitrariedades nem ambiguidades, a Sua bondade pode ser definida como “aquela perfeição que O induz a tratar generosamente e de uma maneira benevolente todas as Suas criaturas” (Salmo 145:9; Romanos 11:22).
A bondade de Deus está intimamente ligada ao Seu amor. Se, por um lado, o Seu amor é aquele atributo pelo qual Ele é eternamente movido a comunicar-se com as Suas criaturas morais, a Sua bondade, por outro, é a expressão perfeita desse amor.
Diferentemente das criaturas decaídas, não existe em Deus qualquer mal. Nada pode manchar o Seu carácter nem contaminar as Suas motivações. As trevas são contrárias ao Seu carácter (Tiago 1:17). Nele tudo é puro e perfeito.
Quando as Escrituras mencionam a bondade de Deus, elas se referem não somente à sua abrangência, mas também à sua consistência; isto é, Deus é total e consistentemente Bom. Este facto leva-nos à conclusão de que Ele “não pode ser outra coisa senão ser bom”.
A perfeição da Sua Lei reflecte a Sua bondade. Ele não obedece a uma Lei cósmica fora de Si mesmo. Ele obedece uma Lei que é a Lei do Seu próprio carácter. A Sua Lei é eterna, imutável e intrinsecamente boa (Tiago 1:17).
A Verdade acerca da Bondade de Deus leva-nos, forçosamente, a um dos versículos mais conhecidos e citados das Escrituras, que é Romanos 8: 28. Este versículo revela a profundidade da providência divina. Ele prova o absoluto controlo que Deus exerce sobre a Sua criação, especialmente em Seu cuidado pelo bem-estar dos Seus redimidos.
Se Deus é intrinsecamente bom e capaz de fazer com que tudo funcione para o nosso bem, em última análise, tudo o que nos acontece, apesar da nossa compreensão parcial e limitada, deve ser considerado positivo e benéfico.
Significa que, no plano terrestre, as coisas podem, de facto, ser ruins (mesmo sem chamar o mal de bem nem o bem de mal), ainda assim, Deus em Sua bondade transcende todas essas coisas e age nelas e por meio delas para o nosso bem. Portanto, para o cristão, em última instância, não existem tragédias. “No final, a providência de Deus opera em todos esses males que estão próximos de nós, para o nosso benefício”.
Quando compreendemos a bondade de Deus, a nossa confiança nele cresce, visto que sendo Bom, Ele fará tudo para o nosso bem-estar espiritual.
Aquele que não poupou o Seu Filho Unigénito, por causa do Seu grande amor por nós, não permitirá que algo que seja prejudicial ao nosso crescimento espiritual invada o nosso ser. Devemos compreender (e aceitar) que até as coisas menos boas servem para cumprir o propósito divino em nós.
Ele é a perfeição de toda a noção do Bem. Ele é o Supremo Bem, por excelência! Ele é Bom e age com Bondade. Ele é fiel em Seu amor e no cumprimento das Sua promessas. Louvemos o Seu santo Nome. Amém!

Textos de apoio: Êxodo 34: 6,7; Salmo 25: 8 – 10; Salmo 100:1-5; Tiago 1:17

(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C. Sproul e Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd e Teologia Sistemática de Wayne Gruden).

A JUSTIÇA DE DEUS

Depois de termos estudado acerca da Santidade de Deus, passamos, agora a reflectir sobre um outro atributo moral que, naturalmente, vem a seguir, que é a Justiça ou Rectidão de Deus.
Justiça é uma palavra que ouvimos com frequência. Ela é usada, basicamente, nos relacionamentos interpessoais: nas convenções sociais, em relação à legislação, nos veredictos pronunciados nos tribunais, etc.
Embora seja uma palavra comum e de uso quotidiano, ela é uma palavra que deixa muita gente perplexa quando tenta defini-la. Às vezes ela é conectada com aquilo que é conquistado ou merecido. Por exemplo, é comum falarmos de pessoas que receberam aquilo que mereciam, em termos de recompensa ou de punição. Contudo, as recompensas nem sempre são baseadas nos méritos.
Na tentativa de se encontrar um significado mais adequado ao conceito de justiça, Aristóteles definiu a justiça como “dar a uma pessoa aquilo que lhe é devido”. E, como sabemos, o que é ‘devido’ pode ser determinado por obrigações éticas ou por acordo preestabelecido. Por exemplo, se uma pessoa recebe uma punição mais severa do que o seu crime merece, tal punição é injusta. De igual modo, se alguém recebe uma recompensa inferior à que merece, a recompensa é injusta.
Assim sendo, a Justiça de Deus deve ser entendida como a manifestação da Sua santidade para connosco; isto é, aquela qualidade existente em Deus, que O leva a fazer sempre o que é certo (ou recto). De uma forma negativa, podemos definir a justiça divina como uma qualidade (ou um atributo) que torna Deus incapaz de fazer algo que seja errado. A justeza do Seu ser e dos Seus actos é inerente à Sua natureza santa e justa.
A Rectidão e a Justiça de Deus são, por assim dizer, “a Sua santidade em acção e a expressão dessa mesma santidade no governo do mundo e de todas as Suas criaturas.
A Rectidão de Deus é a demonstração da Sua Santidade legislativa, isto é, da sua santidade judicial (ou legal).
Se a Rectidão de Deus expressa o Seu amor pela Sua santidade, então, a Sua justiça é a Sua abominação pelo pecado (João 3:36; Efésios 2:3). Pelo facto de ser Santo, Deus rejeita (e de distancia de) tudo o que é contrário à Sua natureza.
Diante desta realidade, surgem algumas questões fundamentais:
1ª Qual é, então, a relação entre a justiça de Deus e a Sua misericórdia?
2ª Como é que a graça e a misericórdia de Deus se enquadram na Sua infalível justiça?
Como a Bíblia ensina, a graça e a misericórdia de Deus são sempre voluntárias. Quer dizer, Deus exerce-as sem que do lado dos beneficiários (humanos) haja qualquer espécie de mérito ou de causas que exijam uma recompensa. Tanto a graça, assim como a misericórdia de Deus são fruto do Seu beneplácito (ou livre vontade) (Romanos 9:15).
Esta verdade leva-nos à conclusão de que, diante do Deus Justo nada é meritório da nossa parte. Ele é justamente soberano para agir com cada uma das Suas criaturas como lhe apraz. Quando Deus perdoa uma pessoa e não outra, Ele não é obrigado a fazê-lo.
A Misericórdia e a Graça de Deus são formas de “não justiça”, mas não são actos de injustiça. Tanto a graça, assim como a misericórdia de Deus não são exigidas. Elas devem ser suplicadas, visto que só serão exercidas pela livre e soberana vontade do Deus justo (Génesis 18:25; Ezequiel 18:4; Romanos 9:14).
É importante salientar que a Justiça de Deus não se manifesta somente na Sua ira. Ele revela as mesmas qualidades quando aplica o perdão pelos nossos pecados (Romanos 3: 25; I João 1:9).
A rectidão e a justiça de Deus manifestam-se na manutenção e preservação da Sua Palavra ou seja e no exercício da Sua fidelidade.
Embora o exercício da justiça divina não seja fruto do mérito humano, Deus, por causa da Sua graça, recompensa os justos (2 Timóteo 4:8). Isto é, pelo facto de ser um Justo Juiz, Ele, através dos méritos do Seu Cristo, terá em conta a obediência daqueles que por Si foram chamados. A fidelidade e o serviço cristãos serão recompensados.
Como crentes no Senhor Jesus, devemos descansar da justiça de Deus, confiando nas fiéis promessas do Seu amor e perdão.

Textos de apoio: Génesis 18:25; Êxodo 34: 6,7; Neemias 9: 32,33; Salmo 145:7; Romanos 9: 14-33

(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C. Sproul e Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd e Teologia Sistemática de Wayne Gruden).