Imitando a nobreza dos Bereanos

“Ora, estes (de Beréia) eram mais nobres que os de Tessalónica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de facto assim”


Alguém afirmou, uma vez, “a História ensina-nos que não aprendemos nada com a História”, querendo, assim, chamar a nossa atenção para o facto de que, com muita frequência, revelamos “memória curta” no que diz respeito aos erros cometidos no passado, erros esses que deveriam servir de alerta, a fim de avaliar-mos melhor o presente. Aliás, fazendo eco à mesma observação, existe uma publicidade televisiva (sábia, na minha opinião) que diz que “um dos erros do mundo moderno é presumir que as coisas passadas se tornaram obsoletas…” e não voltarão a acontecer. Por outras palavras, o conselho é que devemos aprender com o passado. De certa forma, é o passado que nos explica o presente e nos auxilia a vivê-lo melhor, e a encarar o futuro com segurança e com confiança.
No campo da espiritualidade, esta valiosa lição, de aprender com o passado, ganha maior relevância visto que, em essência, o ser humano, mesmo em diferentes sociedades, continua o mesmo. As suas necessidades básicas, seus anseios, medos e inseguranças, dúvidas e inquietações, assim como as aspirações mais profundas do seu ser, continuam os mesmos. O que muda são apenas as formas, o essencial permanece inalterável.
Nesta abordagem histórica, no campo da espiritualidade, aprendemos a seguinte verdade, sempre que a Igreja, em geral, e os cristãos, em particular, se afastaram da Bíblia, de modo a torná-la não essencial e de valor periférico para a saúde da sua espiritualidade, os resultados sempre foram desastrosas e catastróficas.
A História prova que a centralidade da Bíblia na fé cristã e a sua influência directa na vida dos crentes estão intimamente relacionadas com o crescimento saudável e equilibrado do povo de Deus. A iliteracia bíblica sempre esteve na base da frieza espiritual dos cristãos e da “diluição” do Cristianismo bíblico e autêntico.
Contrastando-os com os judeus de Tessalónica, Lucas destaca a atitude dos bereanos, qualificando-os de “nobres”, isto é, pessoas de elevado carácter e de sentimentos nobres e que evidenciavam “grandeza de alma”. Este é o significado da expressão usada por Lucas.
A razão pela qual estes bereanos foram considerados nobres, ao contrário dos brutais e intemperantes tessalonicenses, deve-se ao facto deles revelarem a nobre atitude de ouvir, com agrado, o que Paulo dizia, reflectirem sobre o conteúdo da sua doutrina e, com sabedoria inigualável, avaliarem o seu ensino, testando e comparando-o com o que as Escrituras seguramente diziam.
Diz o texto bíblico que eles examinaram as Escrituras, ou seja, fizeram uma cuidadosa pesquisa, uma criteriosa averiguação, com o propósito de ver se existia alguma correlação entre o ensino de Paulo acerca do Messias e o que dele se afirmava na Palavra de Deus, atitude essa que revela sabedoria e prudência.
Devemos todos aprender com os bereanos, visto que a sua atitude revela familiaridade com as Escrituras, sem a qual não seriam capazes de avaliar o “novo” ensino de Paulo. Só quem está familiarizado com a Bíblia é que pode tirar bom proveito dela, sustentando toda a base da sua fé, a fim de não se deixar levar “ao redor por todo vento de doutrina…” (Efésios 4: 14). A intimidade com as Escrituras é o pilar seguro que nos pode auxiliar no momento de dúvida e de incerteza. A Palavra de Deus é um instrumento eficaz, providenciado por Deus, para o nosso crescimento espiritual. É por ela que somos santificados (João 17: 17; Efésios 5: 26). A nossa relação com ela irá determinar a saúde da nossa espiritualidade.
Aprendamos, pois, a nobre lição que os bereanos nos oferecem, examinando tudo à luz do sólido ensino da inerrante Palavra de Deus, a fim de adquirirmos discernimento suficiente que nos capacitará para distinguir a verdade do erro, o bem do mal. Que o Senhor, pela Sua graça, nos aproxime da Sua Lei. Soli Deo Gloria.
Pr. Samuel Quimputo
Boletim de Outubro 2009

Um bolo... um carinho... um sorriso


“Mais bem aventurada coisa é dar do que receber”
Nos dias que correm, corremos sem parar. Fazemos mil e uma coisas mas sempre dizemos que nos falta tempo. Quem nunca assistiu àquele momento em que uma criança quase que explode de alegria ao oferecer um presente que ela própria construiu? O prazer que ela tem em dar e o orgulho em dizer “É para ti. Fui eu que fiz!” Pois bem, temos de reviver esse prazer. A satisfação de produzir com as nossas próprias mãos algo feito “à medida” para oferecer trará, como a Palavra de Deus nos ensina, benefícios sem fim. O tempo existe! Tem apenas de ser reorganizado. Fazer e decorar um bolo é apenas uma das muitas coisas deliciosas que podemos fazer para demonstrar o nosso afecto àqueles que amamos e que merecem que lhe dediquemos tempo.
texto: Ana Rute

Uma questão de coração

"Eis que estou ã porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo"

A Fé Cristã não é uma espécie de filosofia fundamentada nas conclusões a que alguns homens chegam sobre a realidade que os circunda e as causas últimas que a determinam. Nem tão pouco se trata de um conjunto de regras éticas e morais que indivíduos de uma determinada sociedade devem cumprir, como forma de provar a sua bondade pessoal ou o seu humanismo.
A Fé Cristã é uma experiência de afectos e de amor com o Deus da graça, que dá vida e salva, ama e perdoa, que integra pecadores arrependidos na Sua família de redimidos, e convida os que a Ele se chegam a um relacionamento de amor.
Qualquer pessoa que se fique pelo patamar do perdão dos pecados e pelo livramento do inferno, mas que não se importe com o convívio regular e constante com o Senhor que salva e perdoa, evidencia lacunas espirituais graves, que revelam mornidão de fé ou, na pior das hipóteses, ausência da verdadeira experiência de regeneração espiritual.
A Fé Cristã é uma questão de coração, de intimidade e de comunhão (Josué 24:23; Salmo 25: 14). Além de ser adorado, louvado e exaltado, Deus quer ser amado. E o nosso amor singular a Deus, sobre todas as coisas e sobre todos, deve constituir o princípio básico e sustentador de toda a verdadeira espiritualidade (Deuteronómio 6: 5; cf. Mateus 10: 37; 22: 37).
A declaração do Senhor Jesus em Apocalipse 3:20 é arrepiante, desconfortante e, de certa forma, intrigante. Não é possível ficar-se indiferente diante de tamanha afirmação. Uma das razões pelas quais esta declaração deixa alguns crentes insensíveis, prende-se com o facto dela ser mal entendida. Com frequência, é usada como uma declaração de carácter “evangelístico”. Contudo, estas palavras foram dirigidas à igreja local de Laodiceia. Portanto, a porta à qual o Senhor bate, a fim de entrar, não é a do incrédulo, mas sim a de uma igreja morna, orgulhosa mas pobre, cega mas convencida, nua mas desavergonhada. Enfim, uma igreja que vive do passado e que não cultiva a intimidade com o Senhor da Igreja.
A vida da igreja de Laodiceia, tal como a vida de muitos crentes, era sem fervor espiritual e conformada com o mundo. Era uma mescla de valores e de ensinos, que já nem refrescavam nem aqueciam; provocavam, sim, náuseas e indisposição. E o pior de tudo, o Senhor, que a tinha resgatado e comprado pelo Seu próprio sangue, já não era um convidado especial. Aparentemente, Cristo já não era o seu tesouro mais importante. Que ingratidão! Que insensatez! Que cegueira!
Apesar de tudo isto, o bondoso Salvador achega-se à porta da igreja (e de cada um dos seus componentes) e bate. Esta é uma atitude intrigante e paradoxal. O Senhor da Igreja, que faz um diagnóstico terrível da Sua Igreja, está à porta e bate. Qual é o objectivo? O que é que Ele pretende? “Entrar e cear!” Ele deseja privar com a Sua amada, falar com ela de coração, partilhar uma íntima refeição. Que amor incomparável! Que coração misericordioso! É assim o amor do nosso Deus. Ele é um Deus que ama e que deseja, acima de tudo, ser amado. “Eis a voz do meu amado, que está batendo:’abre-me, irmã minha, querida minha, pomba minha, imaculada minha…” (Cantares 5: 2). É o coração de Deus, do Esposo. Ele leva ao deserto, e a sós fala ao coração (Jeremias 31: 3, 20; Oséias 2: 14).
Ó amados no Senhor, a Fé Cristã é uma questão de coração, de intimidade. E toda a amizade deve ser nutrida com afectos, com diálogo, com partilha, com companheirismo. Como é que está o nosso amor pelo Senhor? Temos ceado com Ele? Estará Ele dentro ou fora do nosso coração, dos nossos afectos?
Ó amados, que o Senhor nos conceda a graça de avaliarmos a nossa fé, a fim de verificarmos se Ele está do lado de fora ou de dentro do nosso coração (2 Coríntios 13:5). Ele quer entrar e cear connosco. Quer falar ao nosso coração. Ele merece ser o nosso convidado especial. Convidemo-Lo sempre!
Soli Deo Gloria.
Setembro 2009