O Alto Preço da Hipocrisia

Atos 4.32-5.11

 

Os membros da igreja viviam juntos em harmonia, enquanto continuavam a proclamar a ressurreição do Senhor Jesus Cristo (4.32-33). Eles praticavam uma partilha espontânea e voluntário de bens (4.35, 2.45). Não foi uma divisão uniforme e arbitrária realizada numa determinada ocasião. O direito à propriedade particular não foi abolido. A venda dos bens era absolutamente voluntária, não obrigatória (4.34, 5.4). A igreja só controlava os recursos a partir do momento em que estes haviam sido entregues aos apóstolos. Lucas simplesmente descreve uma acção amorosa, espontânea e voluntária (veja, por exemplo, 2 Coríntios 8 e 9). 

 

Lucas entrelaça seu resumo com exemplos concretos. Aqui ele oferece dois casos, um positivo (4.36, 37) e outro negativo (5.1-11). O primeiro caso era de um homem cujo verdadeiro nome era José, mas que os apóstolos chamavam de Barnabé - nome que significa Filho do encorajamento (4.36-37).

 

Barnabé era um levita natural de Chipre. Ele recebeu esse nome devido ao seu caráter admirável. Ao longo de Atos, Barnabé é um conciliador e construtor de pontes entre as pessoas e comunidades (9.27; 11.22–26, 29, 30; 13.2; 14.12, 20, 27-28; 15.2, 37). Ele tinha um ministério de encorajamento. Ele sempre investiu na vida das pessoas. Ele apresentou o recém-convertido Paulo ao círculo apostólico quando todos os demais suspeitavam dele (9.27). Ele trouxe Paulo a Antioquia para participar da divulgação aos gentios (11.25–26). E ele defendeu o jovem João Marcos quando Paulo não quis levá-lo com eles (15.36–39). Aqui ele abre mão de uma propriedade para socorrer os necessitados da igreja. Ele não teria sido citado como um exemplo de generosidade se a prática não fosse voluntária (4.36-37).

 

Depois de retratar a conduta exemplar de Barnabé, Lucas descreve a conduta avarenta de Ananias e Safira (5.1-11). Vemos aqui um contraste entre a atitude de Barnabé e a conduta de Ananias e Safira. Todos eram membros da igreja. Todos venderam uma propriedade, levaram os valores e depositaram aos pés dos apóstolos. A diferença entre eles era a motivação. Barnabé foi inspirado pelo amor; Ananias e Safira, pelo egoísmo. Barnabé ofertou para a glória de Deus; Ananias e Safira, para sua própria glória.

 

A sequência da narrativa sugere que Ananias e Safira foram movidos pelo ciúme e pelo desejo de ser tão admirados quanto Barnabé. Eles queriam impressionar a igreja. Eles queriam fazer com que as pessoas acreditassem que eram mais espirituais do que na realidade eram.

 

Ananias tentou representar sua ação como divinamente inspirada pelo Espírito Santo. Ele e sua esposa tentaram envolver o Espírito Santo numa mentira (5.9). Eles deliberaram agir de forma hipócrita. Houve uma aliança para o mal.

 

Pedro atribui as ações de Ananias à influência do maligna (5.3-4; Gn 3.4; Jo 8.44; Ap 12.9). Satanás foi o instigador por trás da conspiração do casal, "enchendo" seus corações, assim como o Espírito havia "enchido" a comunidade para o testemunho (4.31). Satanás tentou infiltrar dois impostores na igreja para atacá-la com a corrupção a partir de dentro. Se Pedro não tivesse mostrado discernimento, Ananias e Safira teriam se tornado pessoas influentes dentro da Igreja!

 

As palavras de Pedro indicam que o Espírito Santo é Deus e que Ele é uma pessoa divina cuja paciência pode ser provocada. (At 5.3-4, 9). No versículo 3, Pedro declara que Ananias mentiu ao Espírito Santo e, no versículo seguinte, diz que Ananias mentiu a Deus. Num versículo subsequente (v. 9), ele diz que o casal colocou à prova o Espírito do Senhor. Logo, para ele, o Espírito Santo é uma pessoa Divina. Ele não uma força impessoal. 

 

A Bíblia ensina que o Espírito é claramente distinto do poder ou da força de Deus em ação no mundo (Jo 14.26; 15.26; 16.13-14; Mt 28.19; 2Co 13.14). Por exemplo, Lucas 4.14 ("Então, Jesus, no poder do Espírito, regressou para a Galiléia") significaria então 'Jesus, no poder do poder, regressou para a Galiléia". E Atos 10.38 ("Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder") significaria "Deus ungiu a Jesus com o poder de Deus e com poder" (v. tb. Rm  15.13; 1Co 2.4). 

 

Pedro deixou claro a natureza voluntária da caridade da igreja. Ananias não tinha que dar nada (5.4). Ninguém havia pedido a Ananias que vendesse a propriedade. Ele não teria cometido nenhum pecado se não vendesse sua propriedade; ou se vendesse e não desse nada ou só a metade. Seu pecado foi dar uma parte, dizendo que estava dando tudo. Seu pecado foi mentir ao Espírito e enganar a igreja (5.3-4, 8). Assim que ouviu as palavras de Pedro, Ananias caiu e expirou, e foi levado e sepultado por alguns moços (5.5).

 

Safira fica preocupada e começa a procurar pelo marido (5.7-11). Quando se aproxima de Pedro e aparentemente pergunta-lhe onde está seu marido, Pedro pede que ela lhe responda a uma pergunta: “Foi esse o valor que você e seu marido receberam pelo terreno?”. Ela respondeu: “Sim, foi esse o valor”. Então Pedro disse: “Como vocês puderam conspirar para pôr à prova o Espírito do Senhor” (Atos 5.8, 9). Pedro complementa sua frase, dizendo: “Veja, os jovens que sepultaram seu marido estão logo ali, perto da porta, e também levarão você. No mesmo instante, ela caiu no chão e morreu. Quando os jovens entraram e viram que ela estava morta, levaram seu corpo para fora e a sepultaram ao lado do marido.” (5.9, 10). Deus usa Pedro como porta-voz, mas o próprio Deus é quem julgou Ananias e Safira (5.5, 11; Is 11.4). 

 

O resultado do julgamento de Deus foi uma onda de temor piedoso que se espalhou por toda a igreja e entre os que ouviram o relato (At 5.5, 11, 9.31; 17.17; 19.17). Portanto, o relatório continha uma advertência a qualquer um que desejasse infiltrar-se na assembleia dos crentes com o propósito de enganar.

 

Geralmente, Cristo mantém a pureza de Sua Igreja por meio do processo ordeiro de disciplina da igreja, levando, se necessário, à excomunhão (Mt 18.15-20; 1 Co 5.1-5). Mas este capítulo não descreve um caso de "disciplina eclesiástica". Antes, é um exemplo do julgamento pessoal de Deus (Hb 10.30, 31; cf.: 1Co 11.29,30). Felizmente, a maioria de nós não recebe julgamento imediato por nossos pecados como Ananias e Safira receberam. Tal julgamento é raro, mesmo nas Escrituras - quase sempre no princípio de uma nova fase da história da salvação, Lv 10.1-2; Js 7). Deus usou esses julgamentos como advertência a seu povo, inclusive a nós (1Co 10.11,12; cf. tb. Nm 16.23-35; 2 Sm. 6.1-7).

 

O Deus que puniu Ananias e Safira é o mesmo Deus radicalmente misericordioso que oferece graça até mesmo para aqueles que planearam a crucificação de seu Filho (At 2.23, 37–39; 3.13–20). Mas podemos ter certeza de que a consequência do pecado sem a expiação de Cristo é sempre a morte (Rm 6.23; I Pe 4.17). Por isso, "Retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor" (Hb 12.28, 29).

 

A história de Ananias e Safira mostra que nem tudo era romântico e justo na igreja primitiva. Nenhuma igreja é perfeita, uma vez que todas são formadas por pecadores, e a igreja primitiva não foi exceção. Nenhum cristão é capaz de viver à altura de tudo o que sabe ou possui no Senhor. Suas falhas e fraquezas não fazem de você um hipócrita. A hipocrisia é a tentativa de fazer as pessoas acreditar que somos mais espirituais do que, na realidade, é o caso. A hipocrisia geralmente começa quando nos preocupamos mais com nossa reputação do que com nosso caráter. É fácil condenar Ananias e Safira por sua desonestidade, mas devemos examinar a própria vida e ver se estamos praticando aquilo que professamos. Cantamos os hinos e corinhos de coração ou nosso louvor não passa de uma prática rotineira? (Mt 15.8). Se Deus retirasse o fôlego de vida dos "dissimulados religiosos" de hoje, quanta gente restaria nas igrejas? Finalmente, esta passagem revela como a pureza e a unidade da igreja é essencial para Deus e como Ele leva a sério o engano que ameaça essa pureza e unidade.

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Referências: Beeke, J. R.; Barrett, M. P. V. & Bilkes, G. M. ed. 2014. The Reformation Heritage KJV Study Bible. Grand Rapids, MI: Reformation Heritage Books, p. 1564–1565. / Bock, D. L. Acts. Baker Exegetical Commentary on the New Testament. Grand Rapids, MI: Baker Academic. / Carson, D. A. 2918. NIV Biblical Theology Study Bible. Grand Rapids, MI: Zondervan, p. 1960–1961. / Crossway Bibles. 2008. The ESV Study Bible. Wheaton, IL: Crossway Bibles, 2089–2090. / González, J. L. Atos, o evangelho do Espírito Santo. SP: Hagnos, p. 92-105. / Kistemaker, S. 2016. Atos, vl. 1: Comentário do Novo Testamento. SP: Editora Cultura Cristã, p. 226–247. / Lopes, H. D. 2012. Atos: A Ação do Espírito Santo na Vida da Igreja - Comentários Expositivos Hagnos. SP: Hagnos,  p. 91–108. / MacDonald, W. 2011. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. SP: Mundo Cristão, p. 349–350. / Sproul, R. C. 2017. Estudos Bíblicos Expositivos em Atos. SP: Cultura Cristã, p. 94–100. Stott, J. 2000. A Mensagem de Atos: até os confins da terra. SP: Editora ABU. Wiersbe, W. W. 2007. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento, vl. 1. Santo André, SP: Geográfica, p. 544-547.

 

Pastor Leonardo Cosme de Moraes

 

Santos Intrépidos



 Atos 4.13–31

 

A intrepidez é um atributo de virtude, um atributo que deve marcar a vida da igreja em todas as gerações. Nesta passagem vemos isso na prática (3x: 4.13, 29; 4.31). Depois de terem sido severamente ameaçados pelo mesmo grupo de homens que tinha orquestrado a crucificação de Jesus seis semanas antes, os seguidores de Jesus se reuniram e oraram. Os crentes pediram a Deus intrepidez renovada para proclamar a palavra de Deus. 

A proclamação da palavra de Deus com “intrepidez”, “ousadia” ou “coragem” (do grego, parrēsia, παρρησία), independentemente se envolve algum risco ou perigo, é um tema dominante em todo o livro de Atos (ver 2.29; 9.28; 13.46; 14.3; 18.26; 26.26; 28.31). Sem o auxílio de equipamentos modernos, meios de transporte, traduções e publicações da Bíblia, a intrepidez na proclamação evangelho da graça de Deus fez estremecer todo o império romano, a ponto de haver cristãos até mesmo na casa de César (Fl 4.22).  

Pedro e João estavam à frente dos homens que haviam orquestrado a morte de Jesus, mas não se intimidaram (4.19-20). Eles não recuaram diante de suas ameaças (4.21, 22). Os membros do Sinédrio ficaram impressionados com a firmeza e a coragem  dos apóstolos. Não se esperava que homens comuns e sem educação formal falassem com tanta confiança perante a suprema corte do país (4.13). Os líderes religiosos atribuíram a ousadia eloquência inesperada dos apóstolos ao facto de eles terem estado com Jesus (4.13). Os membros do Sinédrio acharam que estavam livres de Jesus, crucificando-o; mas agora enfrentavam seus porta-vozes que revelavam a mesma sabedoria e coragem de seu Mestre (Lc 21.15). 

A presença do homem curado no tribunal também causava incómodo (4.14). Não havia como negar a ocorrência do milagre, pois todos na cidade sabiam que o homem era coxo de nascença (3.1-10). O Sinédrio, no entanto, continuava a negar que o milagre tenha sido por causa do poder do Nome de Jesus Cristo. A principal preocupação deles era evitar o alcance e a influência da mensagem cristã (4.17). Eles não buscavam a verdade, mas uma forma para silenciá-la (4.15-18). Assim, os líderes decidiram proibir Pedro e João de falar de Jesus a outros em conversas particulares e pregar sobre ele publicamente (4.14-18).

Pedro e João estavam num conflito ético: “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus” (4.19). Apenas algumas semanas se passaram desde que os apóstolos ouviram as palavras de Jesus: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). Jesus deu a Pedro e a João e à igreja inteira uma ordenança. 

Os apóstolos, como testemunhas oculares de Jesus, devem actuar como testemunhas fiéis de acordo com a ordem de Jesus (“não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos”, 4.20). Assim, decidiram tomar o caminho da desobediência obediente. Eles  desobedecem as leis humanas para obedecer a Jesus, que os incumbiu de serem “testemunhas tanto em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra” (1.8).

Embora Deus chame os cristãos para se submeterem às estruturas de autoridade que Ele ordenou para a Família, o Estado e a Igreja (Rm 13.1-7; 1 Pd 2.13-18), nossa obrigação para com o próprio Deus tem prioridade sobre os direitos do Estado ou de qualquer autoridade humana (At 4.19; Lc 14.26; Atos 5.29). Se qualquer autoridade debaixo do céu vem para um cristão e o proíbe de orar, pregar, adorar, ou fazer qualquer uma das coisas ordenadas por Deus, esse cristão não somente pode, mas deve desobedecer (At 5.29). 

É muito importante percebermos, em nossas vidas diárias, o que Deus ordena e o que ele proíbe, caso contrário, somos como ovelha sem pastor, e concordaremos com o que Nietzsche chamou de “moralidade de rebanho”, fazendo tudo que nos disserem para fazer, quando, de facto, há momentos em que o cristão tem que dizer não. Portanto, quando o intento de uma lei civil é contrário à lei de Deus, devemos registar nossas objeções junto às autoridades governamentais. Em todo o caso, os cristãos devem estar preparados para pagar o preço da perseguição (Mt 5.12).

O tribunal fez novas ameaças e depois soltou os apóstolos. Eles não haviam transgredido nenhuma lei. Também não parecia possível castigá-los, por causa do povo, porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera, especialmente porque o coxo que fora curado tinha mais de quarenta anos (4.21, 22). A reação dos líderes do Sinédrio é uma prova que os milagres, por si mesmos, não são capazes de convencer do pecado nem converter o pecador perdido. O conselho não queria que a mensagem do evangelho se propagasse em Jerusalém; no entanto, foi exatamente isso que aconteceu! 

A primeira perseguição dos apóstolos foi seguida de uma reunião de oração da igreja (4.23). O melhor método para enfrentar a oposição é sempre a oração. A igreja é o povo que busca a Deus em oração nas horas de dificuldades. Assim como em geral procuramos nossos familiares mais próximos depois de experiências significativas e graves, assim os apóstolos encontram amparo na “família de Deus” (4.23). Os cristãos eram unidos não apenas em sua oração, mas em sua mentalidade, desejos e missão (4.24).

Os crentes oraram, citando o Salmo 2 (4.25, 26). Inspirado pelo Espírito Santo, Davi previu uma conspiração internacional, na qual todos os governantes de todo o mundo se reuniriam para contestar o senhorio do Deus Todo-Poderoso e o seu Filho ungido. Quando Davi descreve essa cena da reunião de cúpula dos inimigos de Deus, diz: “Aquele que governa nos céus ri; o Senhor zomba deles.” (v. 4). Davi disse, mas somente por um momento, porque o divertimento de Deus transforma-se em ira, e diz, “Tu as quebrarás com vara de ferro e as despedaçarás como a um vaso de barro” (v. 9). Ele avisa-os, “Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se acender a sua ira; bem-aventurados todos aqueles que nele confiam.” (Sl 2.12).

O Salmo 2 é interpretado à luz da paixão de Cristo. Os reis (Herodes e Pôncio Pilatos) e governantes (o Sinédrio, At 4.5) se reuniram com os gentios e os povos de Israel contra o Senhor e seu Ungido. Todos estavam juntos quando o objetivo é combater a Jesus! Tudo porém está de acordo com a mão e o plano de Deus (4.28; 2.23). Nada, nem mesmo a morte injusta do Filho de Deus, acontece à parte da vontade e controle soberano de Deus (At, 4.28; 2.23). O que os outros pretendiam para o mal, Deus trabalhou para o nosso bem (Gn 50.20). A crucificação de Jesus, que parecia o triunfo final do mal sobre o bem, foi na verdade o ponto culminante do plano de Deus para a nossa redenção (At 4.27-28). O Filho de Deus não teria sofrido nenhum arranhão se não fosse pelo conselho determinante do Pai, que ordenou desde toda a eternidade que o Filho sofreria nas mãos desses homens ímpios para o nosso bem (4.28). Deus não forçou os adversários de Jesus a engajarem-se em atos de violência contra a vontade deles. Em vez disso, Deus permitiu que conspirassem contra Ele a fim de poder consumar a salvação para o seu povo. A igreja primitiva não acreditava que estava nas mãos do acaso ou das autoridades judaicas e romanas, mas nas mãos do Deus Todo-poderoso, que governa soberanamente a história. Eles entendiam que a despeito de todas as ações antagónicas daquelas autoridades, Deus ainda estava no controlo.

Os crentes não se contentaram em seguir em frente com sua própria força. Eles perceberam sua necessidade de obter de Deus poder para testemunhar a Palavra de Deus com toda a intrepidez. Eles não oram pedindo alívio da perseguição (4.29). Não oram contra aqueles que os perseguem. Em vez disso, pedem coragem renovada para proclamar a palavra de Deus (4.29). 

Em vez de dizer: “Senhor, ajude-nos a ficar em silêncio”; o texto convida-nos a dizer: “Senhor, garanta que seus servos falem sua palavra com coragem e firmeza”. Em vez de dizer: “Senhor, não permita que esses evangelistas criem dificuldades”; o texto convida-nos a dizer: “Senhor, dê-nos mais evangelistas fiéis e intrépidos”.

Os crentes não hesitam em orar para que Deus faça milagres enquanto eles continuam a proclamar o evangelho (4.30, 31). Hoje, muitas igrejas parecem ortodoxas, mas não acreditam nas intervenções soberanas de Deus. Aquela igreja estava aberta para o extraordinário e o extraordinário aconteceu. O lugar onde estavam reunidos tremeu, como se fosse um terremoto; “e todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a anunciar com intrepidez a palavra de Deus” (4.31; At 5.42). Deus deu um sinal aos apóstolos de que assim como sacudiu a casa com um terremoto, assim também faria o mundo tremer com o evangelho de Cristo.

O texto informa que, novamente, todos foram cheios do Espírito Santo. Existe somente um batismo com o Espírito, que ocorre na conversão (1 Co 12.13; Ef 4.5; 1Co 10.2), mas o cristão pode receber a plenitude do Espírito repetidas vezes, a fim de dar testemunho eficaz de Jesus Cristo (Ef 5.18). 

Pedro estava entre eles e já havia sido “cheio do Espírito Santo” (2.4; 4.8, 31), e todos os os discípulos presentes no Pentecostes também foram “cheios” do Espírito” (2.4). Ser cheio do Espírito não é uma experiência de uma vez para sempre. Podemos ser cheios do Espírito Santo e, ao mesmo tempo, receber mais do Espírito Santo também (comp. 4.8 com 4.31). Foi apenas o próprio Jesus a quem o Pai deu o Espírito sem medida (Jo 3.34).

A Bíblia diz que nenhum de nós deve ficar bêbado, mas todos nós devemos ser cheios do Espírito Santo (Efésios 5.18). Paulo usa um verbo imperativo no tempo presente que poderia ser traduzido de uma forma mais explícita: “Ser continuamente cheio do Espírito Santo”, o que implica que isso é algo que deveria estar acontecendo repetidamente com os cristãos. Nós que já temos o Espírito, que fomos baptizados pelo Espírito no corpo de Cristo, também devemos ser cheios do Espírito (1 Co 12.13, 10.2). Esse enchimento resultará em maior santificação, intrepidez e poder para o exercício do ministério.

Satanás tem procurado calar o povo de Deus desde o princípio. Infelizmente, no caso de muitos cristãos, ele é bem-sucedido ao transformá-los em "testemunhas silenciosas" dentro da Igreja. Quando o livro do Apocalipse fala do julgamento final de Deus, menciona aqueles a quem Deus enviará para o lago de fogo – os assassinos, os adúlteros e os covardes. Se há algo que caracteriza a igreja no começo do século 21, é a covardia. Se algo nos diferencia da igreja do 1° século, é a nossa falta de ousadia. Precisamos proclamar o evangelho com a coragem que caracteriza um cristão convicto da ressurreição de Cristo. Podemos experimentar a mesma mudança que ocorreu naqueles homens se transformaram de homens medrosos em santos intrépidos. Precisamos tomar uma posição firme diante das tendências do mundo às vezes requer tanta coragem quanto enfrentar os perseguidores e suas ameaças.

 

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Referências: Beeke, J. R.; Barrett, M. P. V. & Bilkes, G. M. ed. 2014. The Reformation Heritage KJV Study Bible. Grand Rapids, MI: Reformation Heritage Books, p. 1563–1564. / Bock, D. L. Acts. Baker Exegetical Commentary on the New Testament. Grand Rapids, MI: Baker Academic. / Boor, W. 2002. Comentário Esperança, Atos dos Apóstolos. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, p. 79–88. / Carson, D. A. 2018. NIV Biblical Theology Study Bible. Grand Rapids, MI: Zondervan, p. 1959–1960. / Crossway Bibles. 2008. The ESV Study Bible. Wheaton, IL: Crossway Bibles, 2088–2089. / González, J. L. Atos, o evangelho do Espírito Santo. SP: Hagnos, p. 79-81. / Holcomb, J. S. 2013. Atcs. Gospel Transformation Bible: ESV. Wheaton, IL: Crossway, p. 1458–1459. / Kistemaker, S. 2016. Atos, vl. 1: Comentário do Novo Testamento. SP: Editora Cultura Cristã, p. 206–232. / Lopes, H. D. 2012. Atos: A Ação do Espírito Santo na Vida da Igreja - Comentários Expositivos Hagnos. SP: Hagnos,  p. 91–108. / MacDonald, W. 2011. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. SP: Mundo Cristão, p. 346–349. / Mikeal C. Parsons, Acts, Paideia Commentaries on The New Testament (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2008), 66-75. / Pearlman, M. 1995. Atos, a igreja primitiva na força e na unção do Espírito. RJ: CPAD, p. 49-58. / Sproul, R. C. 2017. Estudos Bíblicos Expositivos em Atos. SP: Cultura Cristã, p. 89–93. Stott, J. 2000. A Mensagem de Atos: até os confins da terra. SP: Editora ABU.

 

Pastor Leonardo Cosme de Moraes 

Nenhum outro nome


Atos 4.1-12

 

Esta passagem apresenta o primeiro confronto da igreja com a liderança judaica e suas consequências. O primeiro milagre foi seguido pela primeira perseguição contra a igreja. A secção divide-se em três partes: a prisão (vv. 1–4), a audiência (vv. 5–12) e as ameaças (vv. 13–22). 

Do templo para a prisão (4.1,2). Pedro pregou o seu segundo sermão e a igreja cresceu - “muitos ... dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil” (4.4). A reação do Sinédrio foi imediata. Vários sacerdotes que estavam no serviço do templo (Lucas 1.8, 23), perto do Pórtico de Salomão, puderam ouvir as declarações de Pedro sobre Jesus. 

Os sacerdotes eram membro do partido dos saduceus (4.1). Ao contrário das outras seitas judaicas do primeiro século, como os fariseus, os saduceus não acreditavam na doutrina da ressurreição (At 23. 6-8; Lc 20.27-40). Eles criam que a era messiânica havia começado no período dos macabeus; portanto, não estavam à espera de um Messias. É por isso que os saduceus ficaram irritados com a pregação de Pedro de que em Jesus a ressurreição geral havia começado (4.2). Assim, os sacerdotes se fizeram acompanhar do capitão da guarda do templo (totalmente composta por levitas), e dos saduceus para tirar satisfação com Pedro e João. As acusações eram: perturbação da ordem e pregação de heresia.  

Como já era tarde (Atos 3.1) e a alta corte judaica reunia-se pela manhã,  Pedro e João foram colocados em detenção durante a noite (4.3). Por conseguinte, a prisão dos apóstolos não fechou a porta da igreja para a entrada de novos conversos. De acordo com o versículo 4, quase cinco mil homens ingressaram na comunhão dos santos. A maioria dos comentaristas acreditam que esse número inclui os três mil do Pentecostes; outros afirmam que não. De qualquer modo, não inclui mulheres e crianças. 

Aplicação: Prestígio e poder não são necessários para que as pessoas sejam atraídas por Cristo. A multidão não abandonou a fé por causa da prisão dos apóstolos. A fé, que é gerada pelo evangelho de Cristo, não pode ser destruída pelas perseguições. Nenhuma oposição pode obstruir o avanço do evangelho de Jesus Cristo. 

Da prisão para o tribunal (4.5-11). No dia seguinte, o conselho de autoridades, conhecido como Sinédrio, reuniu-se para fazer um inquérito e colocar um ponto-final nas atividades dos apóstolos (4.5). Este conselho incluía o sumo sacerdote e membros de sua família (v. 6); outros saduceus; fariseus (Mt 27.62); e “anciãos", que eram homens do mais alto escalão da sociedade judaica. Os homens listados no versículo 6 constituem a liderança do conselho. 

O tribunal começou o interrogatório com uma pergunta direta a Pedro e João: Com que poder ou em nome de quem vocês fizeram isto” (referindo-se a cura do coxo, 4.7)? Então Pedro, cheio do Espírito Santo, dá todo o crédito a Jesus Cristo, o nazareno. Pedro exalta a Jesus (4.10-11). Ele aponta para Jesus cumprindo um dos Salmos: “a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular” (Sl 118:22, Lc 20.17; 1Pd 2.4-8). O crucificado é aquEle a quem os construtores (os líderes dos judeus) rejeitaram, mas na ressurreição dos mortos, Deus o fez cabeça de esquina - o alicerce de Seu edifício espiritual (At 4.11; 1 Co 3.11; Ef 2.20; 1Pd 2.6–7).  

Jesus agora ocupa a posição principal do edifício, a pedra angular (usada como o padrão para assegurar que as demais pedras estivessem alinhadas e niveladas), em torno da qual o igreja de Deus está construída. Somente no Jesus rejeitado, mas agora exaltado, a salvação pode ser encontrada. No entanto, os judeus tropeçaram na pedra (Rm 9.32, 1 Pd 2.8) e a rejeitaram, exatamente como o Salmo 118.22 havia previsto. Mas, para os que crêem em Jesus Cristo, Ele é a "pedra angular, eleita e preciosa" (1 Pe 2.4-8; Ef 2.20, 1 Co 3.11).  

Aplicação: Que erro enorme dos edificadores! Rejeitaram a pedra mais importante do edifício! Este foi o erro de Israel: rejeitar Jesus como seu Messias. Apesar desta rejeição, Deus exaltou-o à sua posição certa: a de Pedra Angular ou Fundamental. 

Jesus Cristo, o único caminho (4.11-12). É frequentemente afirmado hoje que as pessoas podem ser salvas sem saber nada sobre Jesus. O versículo 12 está em absoluto contraste com essa ideia. Não há princípio mais básico para a cultura secular contemporânea do que a tolerância religiosa. Estamos de acordo que pessoas de todos os credos religiosos são bem-vindos à nossa terra e lhes deve ser concedida a liberdade religiosa de forma que todas as religiões sejam igualmente toleradas sob a lei. Hoje, no entanto, o pressuposto do secularista é que todas as religiões não devem ser somente toleradas igualmente perante a lei, mas todas são igualmente válidas ou inválidas. A ideia hoje é que não importa no que você crê, contanto que você seja sincero, pois há muitos caminhos que levam para o céu. Não há nada em nossa cultura atual mais intolerável do que a exclusividade, do que deparar-se com a afirmação cristã de que há somente um único caminho para Deus. Precisamos estar preparados para nos posicionarmos contra a onda de relativismo em nossa cultura. 

O apóstolo Pedro, porém, não é era um defensor do pluralismo religioso (4.12). Pedro anuncia que a salvação não pode ser obtida de nenhum outro modo a não ser pelo nome de Jesus Cristo. A declaração de Pedro de que não havia salvação em nenhum outro nome era um convite ao Sinédrio para colocar sua fé em Jesus (4.12). A salvação é concedida exclusivamente àqueles que abraçam Jesus Cristo pela fé. “Por meio de seu nome, todo aquele que crê receberá o perdão dos pecados” (At 10.43). 

Os dois negativos (nenhum outro e nenhum outro nome) proclamam a singularidade do nome de Jesus. Não há ninguém além de Jesus que tem os meios para providenciar a salvação, mesmo para os judeus que têm acesso à revelação de Deus escrita. O próprio Senhor Jesus disse: “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Jesus recebeu esse nome porque “ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21). 

A palavra devamos revela uma necessidade divina estabelecida por Deus, como parte do seu plano, para salvar-nos por intermédio da pessoa e obra de Jesus Cristo. Essa palavra significa que o homem tem uma responsabilidade moral de responder a chamada para crer em Jesus e, assim, apropriar-se da salvação. Como diz a Escritura: “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3.18). “Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1 Jo 5.12). 

Certa feita, perguntaram ao Dr Sproul (2000): Como você pode crer num Deus tão intolerante, que providenciou somente um único caminho de salvação para o mundo? Ele respondeu: 

 

“Eu não sei porque Deus não nos deu 5 salvadores ou 15 caminhos religiosos para satisfazê-lo. Vamos, contudo, tomar uma situação hipotética: Suponha que exista um Deus. Suponha que esse Deus seja por completo absolutamente santo. Suponha que esse Deus, não por mera necessidade em si mesmo, mas por puro amor e bondade cria um mundo, e ele o habita com um vasto tipo de animais e plantas. E, então, quando ele termina, sua coroação da criação é uma criatura que Ele molda em Sua própria imagem. E Ele sopra nesta criatura seu próprio fôlego, e dá a essa criatura preeminência sobre toda criação, domínio sobre todo o mundo. E Ele dá-lhe a tarefa de espelhar e refletir o próprio santo caráter de Deus. E Deus gratuitamente derrama nessa criatura todos os tipos de benefícios. Mas dá a essa criatura uma única restrição e diz: “você não tem permissão para comer este específico fruto”. E, assim, que Deus volta suas costas, suponha que essa criatura totalmente ingrata, que deve tudo ao seu criador, vira-se e agarra aquele fruto por querer igualdade com seu criador e abertamente e desejosamente desafia a lei de Deus. E Deus tinha dito que se ele fizesse aquilo ele iria morrer. Agora, suponha que Deus tivesse eliminado a humanidade da terra. Ele teria sido perfeitamente justo ao fazer isso, não teria?  

 

Mas suponha que Deus era tão paciente, tão bondoso que ele diria: Eu cobrirei a nudez dessa criatura. Eu providenciarei um caminho de salvação para ela. Eu prometerei tirar esse pecador ingrato de sua condição desesperada. Eu vou enviar a esse povo, que rejeitou tudo o que eu fiz por eles, o meu único filho. Eu vou transferir os pecados do meu povo para as costas do meu Filho, que é perfeitamente justo e santo. E eles matam o Filho! E Deus diz: está tudo bem. Vocês mataram o meu Filho, mas se vocês somente colocarem sua confiança Nele e honrarem-o, eu os perdoarei de todo pecado cometido contra mim e contra Ele. E eu lhes darei vida eterna, onde não haverá mais morte, nem lágrimas, nem perversidade, nem dor ou sofrimento, e vocês viverão para sempre numa felicidade interminável. Mas minha única exigência é que vocês honrem aquele que morreu em seu lugar. Buda não morreu por você. Moisés não morreu por você. Maomé não morreu por você. Eu exijo que vocês honrem e sigam meu único Filho. Você ousaria levantar-se diante de Deus no dia do julgamento e dizer: Deus, você não fez o bastante? Você olharia para a face de Deus e diria: um único caminho para a salvação não é suficiente?” 

A questão não tem nada haver com a superioridade das pessoas. As pessoas que acreditam em Cristo não são melhores do que as pessoas que acreditam em outra coisa. Mas não há dúvida de que é uma afronta para o Deus Todo-Poderoso ouvir qualquer ser humano mencionar Buda em pé de igualdade com Jesus Cristo. Porque somente Cristo é sem pecado. Buda foi um pecador. Buda não podia salvar a si mesmo. Tampouco o pode qualquer outra pessoa. Maomé foi um pecador e ele nunca salvou ninguém. Somente Cristo é sem pecado. Somente Cristo providenciou redenção para nós. Este é o único caminho que Deus providenciou. Portanto, arrependa-se dos seus pecados e coloque a sua confiança e sua fé somente em Jesus Cristo.  

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Referências: Beeke, J. R.; Barrett, M. P. V. & Bilkes, G. M. ed. 2014. The Reformation Heritage KJV Study Bible. Grand Rapids, MI: Reformation Heritage Books, p. 1563–1564. / Bock, D. L. Acts. Baker Exegetical Commentary on the New Testament. Grand Rapids, MI: Baker Academic. / Crossway Bibles. 2008. The ESV Study Bible. Wheaton, IL: Crossway Bibles, 2088–2089. / González, J. L. Atos, o evangelho do Espírito Santo. SP: Hagnos, p. 79-81. / Kistemaker, S. 2016. Atos, vl. 1: Comentário do Novo Testamento. SP: Editora Cultura Cristã, p. 203–205. / Lopes, H. D. 2012. Atos: A Ação do Espírito Santo na Vida da Igreja - Comentários Expositivos Hagnos. SP: Hagnos,  p. 91–108. / MacDonald, W. 2011. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. SP: Mundo Cristão, p. 346–349. / Pearlman, M. 1995. Atos, a igreja primitiva na força e na unção do Espírito. RJ: CPAD, p. 49-58. / Sproul, R. C. 2017. Estudos Bíblicos Expositivos em Atos. SP: Cultura Cristã, p. 78–88. Sproul, R. C. Jesus Cristo o único caminho. Em voltemosaoevangelho.com/blog/2009/04/r-c-sproul-jesus-cristo-o-unico-caminho/ Data de acesso: 07/07/2021. Stott, J. 2000. A Mensagem de Atos: até os confins da terra. SP: Editora ABU. 

 

Pastor Leonardo Cosme de Moraes 

A Centralidade de Jesus

 Atos 3.12-26

A cura do coxo de nascença na Porta Formosa do Templo, forneceu a Pedro uma oportunidade para proclamar o poder de Jesus, em quem devemos colocar nossa fé (3.12). Pedro muda o foco da atenção até então voltado para o homem curado e os apóstolos, pois a explicação para o milagre não encontrava-se neles (3.12). A explicação de Pedro redireciona o olhar para Jesus, a quem Deus glorificou (3.13) ao ressuscitá-lo dos mortos.

A primeira parte do discurso conecta a cura do homem à vida, morte e ressurreição de Jesus (3.12-16), e a segunda parte pede uma resposta baseada em quem Jesus é e o que Ele realizou (3.17-26). O aspecto mais notável neste sermão de Pedro é o seu fator cristocêntrico. O tema mais importante nesta passagem é a promessa, a continuidade e o cumprimento da salvação para aqueles que colocam sua fé em Cristo (3.16). Pedro usou vários nomes e títulos para descrever Jesus, como: o Servo de Deus (3.13), o Santo e o Justo (3.14), o Autor da vida (3.15), o profeta prometido por Moisés (3.22). Ele apresenta Cristo à multidão de acordo com as Escrituras, sucessivamente como o servo sofredor (3.13,18), o profeta semelhante a Moisés (3.22,23), o rei davídico (3.24) e a semente de Abraão (3.25,26).

Pedro insiste que a cura milagrosa do coxo de nascença é obra do mesmo Deus de Abraão, Isaque e Jacó. A missão redentora de Jesus é o cumprimento das promessas da aliança de Deus aos patriarcas (At 3.13; 7.32; 13.17). A mensagem dos cristãos trata do Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus dos patriarcas. Esse milagre foi feito por aquele que “glorificou seu Servo Jesus”, identificando Jesus com o Messias prometido da última parte do livro de Isaías, o servo do Senhor (‘ěě Yahweh”), aquele cuja bravura é apresentada em Isaías 53 – “homem de dores e que sabe o que é padecer” (53.3), aquele que levaria os pecados do seu povo. Este é o servo do Senhor que todo judeu aguardava surgir no cenário da história, e agora Pedro estava dizendo, “Não olhem para mim. Não olhem para João. Olhem para o Deus de nossos pais, que neste ato glorifica a seu Servo, o servo do Senhor” (At 3.13). Foi o Deus dos patriarcas que “glorificou a seu Servo Jesus”. A história de Jesus é a obra desse único Deus vivo, que é “o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó”. Aquele que os judeus tinham matado estava agora vivo, e havia sido ressuscitado pelo próprio Deus! Pedro e centenas de outros tinham testemunhado isto (1 Co 15.5-8).

Pedro considera o Antigo Testamento como um testemunho único que aponta para a vida e a obra de Cristo (Gl 4.4; 1 Pe 1.20). Jesus é o cumprimento da profecia. Deus cumpre sua palavra por meio de Jesus. Toda Escritura mostra Jesus. Em alguns casos, ela faz isso apontando para a frente (como no Antigo Testamento); em alguns casos, apontando para trás (como no Novo Testamento, depois dos evangelhos). 

Aquele que foi crucificado é o Messias. Pedro tentou comunicar algo às pessoas a respeito daquele a quem haviam crucificado. Eles entregaram, negaram e mataram o verdadeiro autor da vida (3.13-15). Pedro aponta que o sofrimento do Messias foi predito pelos profetas (Atos 3.18). Isaías falou do Messias como alguém que “foi traspassado pelas nossas transgressões” e “esmagado pelas nossas iniquidades” (Isaías 53.5). Davi prefigurou o sofrimento do Messias num salmo que Jesus citou na cruz: “Traspassaram-me as mãos e os pés ... repartem entre si as minhas vestes e lançam sortes sobre as minhas vestes” (Sl 22.16, 18; cf. Mt. 27.35, 46).

O fato de todos os profetas terem anunciado que o Cristo de Deus haveria de padecer não inocentou os judeus de terem traído, negado e matado Jesus (3.17, 18; 2.23). A maldade dos homens não anula os propósitos divinos, nem a soberania de Deus isenta os homens de sua responsabilidade. O que aconteceu a Jesus foi o cumprimento da profecia: “Deus assim cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas que o seu Cristo havia de padecer” (3.18). Entretanto, nem a ignorância, nem a predição de Deus justificava-lhes. Eles precisavam de arrependimento e conversão (v. 19a). 

Pedro, contudo, atenua-lhes a culpa, dizendo que o fizeram por ignorância (3.17; Lc 23.34; 1Co 2.7,8; 1Tm 1.13). O povo judeu pecou devido à cegueira espiritual. Os judeus não tinham ainda percebido que Jesus de Nazaré veio a eles como o seu Messias. Nem compreenderam as Escrituras ao falar de um Servo Sofredor, isto é, o Messias (13.27). Mesmo assim, a sua culpa só pode ser removida após o arrependimento (Lc 23.34). Tal ignorância das Escrituras não absolve as pessoas de responsabilidade por suas ações. Se eles tivessem sido estudantes aplicados da Palavra de Deus, não seriam surpreendidos pela morte do seu Messias, nem teriam participado do clamor pelo seu sangue (veja Lc 24.25; 45).

Pedro encerra seu sermão desafiando os ouvintes (irmãos, ele os chama), falando da necessidade e das bênçãos do arrependimento (3.17). O arrependimento é necessário para abraçar a salvação que Cristo oferece. A chamada ao arrependimento está sempre incluída na mensagem do evangelho (2.38; 17.30; 20.21). O evangelho chama os pecadores ao arrependimento e à conversão, para que seus pecados sejam apagados (Atos 3.19, 2.38). 

Arrependimento é afastar-se do pecado. Fé é voltar-se para Deus em busca de salvação. A parte do arrependimento para com Deus e da fé no Senhor Jesus, você não está salvo nem seguro. Que ninguém pense que pode ser feliz continuando em pecado quando Deus declara que a bênção está em apartar-se de toda iniquidade. Que ninguém pense que crê no Evangelho se somente busca ser livre do castigo do pecado, mas não espera felicidade ao ser livre do próprio pecado. Ninguém espere ser livre de seu pecado a não ser que creia em Cristo, o Filho de Deus, e o receba como sabedoria, justiça, santificação e redenção.

Você pode imaginar Deus apagando cada pecado que você já cometeu? Se estamos em Cristo, encontramos o lugar do perdão. Encontramos aquele que removerá nossos pecados, cancelará nossas transgressões, mas a única maneira como esses pecados são apagados é se nos humilharmos, reconhecermos nossos pecados e abandoná-los. O perdão de Deus não é automático.

A promessa é que aqueles que se arrependem e têm fé em Cristo entrarão no descanso de Cristo (3.20). Quando Deus restaurará todas as coisas com a vinda do Seu reino (At 1.6-7, 11; Is 65.17–18). Esta restauração de tudo refere-se à era final da salvação - a segunda vinda, a plenitude do reino de Deus, o Juízo Final, e a remoção do pecado do mundo.

Embora o reino de Deus tenha sido inaugurado por meio da vida, morte e ressurreição de Jesus, ainda não foi consumado. A ascensão de Jesus e seu reinado à destra de Deus (2.33, 34, 36) representa o período intermediário entre sua primeira e segunda vinda de Cristo (3.19b-21).

Essa restauração vem unicamente por meio de Jesus, anunciado por todos os profetas desde Samuel (3.24; Lc 24.25-27, 44-48). Pedro também cita as palavras de Moisés (em Dt 18.15, 18, 19) e lembra os ouvintes de que Moisés havia previsto a chegada de um Profeta, e esse Profeta era o Messias (At 3.22-23). A recusa, porém, em ouvir a Cristo resulta em condenação irremediável (At 3.23; Hb 2.2-4; 10.28,29).

A bênção outorgada na aliança com Abraão por meio de Jesus consiste em capacitar os pecadores a deixar o caminho do pecado e, assim, ter a condição de receber as demais bênçãos espirituais associados com o Messias. Pedro é direto quando diz aos judeus que Cristo separa-os “das perversidades deles” (2 Tm 2.25). 

O Messias era para todos, apenas sendo enviado a Israel “primeiro” (At 3.26; 13.46). Cristo é o descendente de Abraão, e através dEle virão bênçãos a todas as nações (Gl 3.16). Todos aqueles que pertencem a Cristo também são chamados de "descendência de Abraão" (Gl 3.29; 7; 9). Mas não há promessa de salvação onde não há a realidade do arrependimento (At 3.24-26).

Jesus é o ponto culminante do plano da salvação desde o início. Ele é o cumprimento das promessas que Deus fez ao fundador da nação de Israel para abençoar o mundo inteiro por meio da descendência de Abraão. Agora que o descendente prometido veio, como Pedro diz: “para abençoar vocês, convertendo cada um de vocês das suas maldades" (3.26). Embora sejam culpados de matar o Messias prometido, Deus não está procurando puni-los, mas sim restaurá-los. Maravilhosa Graça!

 Referências: Beeke, J. R, Barrett, M. P. V. & Bilkes, G. M. ed. 2014. The Reformation Heritage KJV Study Bible. Grand Rapids, MI: Reformation Heritage Books, p. 1562. / Boor, W. 2002. Comentário Esperança, Atos dos Apóstolos. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, p. 64–74. / Carson, D. A., ed. 2018. NIV Biblical Theology Study Bible. Grand Rapids, MI: Zondervan, p. 1958–1959. / Crossway Bibles. 2008. The ESV Study Bible. Wheaton, IL: Crossway Bibles. p. 2086–2087. / Holcomb, J. S. 2013. Acts. Gospel Transformation Bible: ESV. Wheaton, IL: Crossway, p. 1456–1457. / Kistemaker, S. 2016. Atos, vl. 1: Comentário do Novo Testamento. SP: Editora Cultura Cristã, p. 159–187. / Lopes, H. D. 2012. Atos: A Ação do Espírito Santo na Vida da Igreja: Comentários Expositivos Hagnos. SP: Hagnos, p. 73–88. / Marshall, I. H. 1982. Atos, introdução e comentário: Série Cultura Bíblica. SP: Vida Nova, p. 89-96. / Stott, J. 2008. A Mensagem de Atos: até os confins da terra. SP: ABU, p. 100-105. / Sproul, R. C. 2017. Estudos Bíblicos Expositivos em Atos. São Paulo: Cultura Cristã, p. 67-70.

 

Pastor Leonardo Cosme de Moraes

 

 


Um milagre na Porta Formosa

 Atos 3.1-11


Uma das glórias do livro de Atos é que ele não se restringe ao ensino didático. Ele conta histórias e dá exemplos de tudo o que põe diante de nós teoricamente. Ele dá-nos o evangelho em ação, como algo vivo e real. Sempre há o perigo de pensarmos no cristianismo como algo abstrato e intelectual. Entretanto, embora devamos conhecer a teoria, e devamos ter o entendimento, nunca devemos esquecer que primeiro e acima de tudo a  cristã lida com a vida e com o viver, e que ela é o poder mais revolucionário que o mundo já conheceu (Lloyd-Jones, 1999).

 

Lucas iniciou o livro de Atos informando aos leitores que iria relatar o que Jesus continuou "a fazer e ensinar", após a ascensão, através de seus apóstolos (1.1-2). Este primeiro milagre, após a inauguração da igreja cristã, testifica a autoridade da palavra de Jesus por meio de Seus apóstolos (At 3.1-10). Jesus está agora a trabalhar por meio de seus representantes apostólicos. O que Jesus iniciou durante o seu ministério terreno tem agora prosseguimento por meio de seus seguidores imediatos.

 

Os versículos iniciais particularizam a descrição geral da comunidade de crentes encontrada no resumo narrativo anterior, em que "muitos sinais e maravilhas eram feitos por meio dos apóstolos" (2.43) e os crentes estavam diariamente "reunidos juntos no templo” (2.46). Agora, em Atos 3.1-10, vemos um exemplo especialmente dramático.

 

Pedro e João estavam indo ao templo à hora da oração, às 3 horas da tarde. Para os judeus devotos, havia três turnos de oração por dia: às 9 da manhã, ao meio-dia e às 3 da tarde (Sl 55.16, 17). A chegada dos apóstolos ao templo coincidiu com a chegada de um coxo que era levado ali para que pudesse pedir esmolas aos que vinham adorar no Templo. 

 

O texto apresenta-nos um homem que nasceu coxo (3.2). Tinha quarenta anos de idade (At 4.22), e nunca tinha andado em sua vida. Todos os dias ele era carregado à porta do templo chamada Formosa, e ali ficava sentado, pedindo esmola, o que significa que ele era um mendigo (3.2). A maioria dos estudiosos considera a porta chamada Formosa como sendo a porta de Nicanor, revestida de bronze de Corinto, que separava o recinto do templo do pátio dos gentios. 

 

O versículo 3 informa que o homem viu Pedro e João entrando no templo e implorou que lhe dessem uma esmola. A reação humana mais normal à presença de um pedinte é desviar o olhar, como se a pessoa não existisse. Mas quando Pedro e João chegaram fizeram contato visual com ele, e enfatizaram esse contato visual dizendo-lhe: “Olha para nós”. O coxo volta sua atenção para eles na esperança de receber algo. A resposta de Pedro é enfática e contém uma surpresa. Pedro disse: “Não possuo nem prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda!” (3.6). Quando Pedro disse: “Não possuo prata nem ouro”; ele provavelmente tenha pensado, “Bem, então por que está a olhar para mim e por que pediu-me para olhar para ti? Você encheu meu coração de expectativa somente para me dizer que não tem nenhum dinheiro. A serviço de Jesus, Pedro não era um homem rico (Mt 10.9,10; 1Co 9.14). Pedro não tinha dinheiro no bolso, mas era um “apóstolo” de Cristo, e como tal, poderia dar o que as pessoas mais ricas de Jerusalém não conseguiam compensar com seu dinheiro. “Mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus, o Messias, o Nazareno, anda!”

 

De seguida ocorre um evento surpreendente (3.7). “O coxo pediu uma esmola, mas recebeu pernas novas” (MacDonald, 2011). Pedro estendeu a mão e o ajudou a ficar em pé; “imediatamente, os seus pés e tornozelos se firmaram”. De um salto, o coxo de nascença levantou-se e começou  andar. O milagre da cura foi imediato, e não gradual. O que normalmente levaria meses por causa da atrofia muscular ocorre instantaneamente e completamente. Ele então caminha, salta e louva a Deus, desfrutando do dádiva de sua nova habilidade (3.8). Quando nos lembramos do processo lento e difícil pelo qual uma criança passa a fim de aprender a andar, percebemos como foi extraordinário esse homem saltar e andar de imediato, pela primeira vez na vida. Ele também profere palavras de louvor e agradecimento a Deus e deseja acompanhar os apóstolos para dentro do pátio do templo. Sua cura o permite entrar no templo pela primeira vez (cf.: Lv 21.17–20; 2 Sm 5.8 proibia sua entrada como um homem coxo). 

 

Então uma reação de espanto toma conta de todos. A vista daquele que antes fora coxo, saltando e louvando a Deus, era prova suficiente, diante da multidão, de que verdadeiramente ele tinha sido curado. Era uma pessoa tão bem conhecida, depois de tantos anos a pedir esmolas nas entradas do templo, que não poderia haver dúvida acerca da sua identidade e, portanto, acerca da realidade da cura (3.9-10).

 

Este milagre surpreendente de curar um homem coxo de nascença reúne uma multidão de curiosos e prepara-os para ouvir às boas-novas de Jesus Cristo. O pregação que Pedro fez a seguir explica o motivo do milagre (3.12-26).

 

Implicações práticas:

1. O que é milagre? Por definição, um milagre não pode ser explicado em termos naturais. No milagre as leis da natureza não são quebradas, porém Deus age acima delas. É o mesmo Deus que age no milagre e, também, de maneira natural. Deus fez o universo de tal modo que normalmente as coisas acontecem de acordo com o que chamamos “leis da natureza”. Normalmente Deus cura por meios indiretos, por meio de médicos e medicamentos, porém às vezes cura sem eles. Cura diretamente. Deus não é limitado por Suas leis. Ele as fez, e às vezes prefere agir independentemente delas. Quando ocorre um milagre, Deus age de diferente maneira — não pondo de lado Suas leis, mas agindo sem elas.

 

2. Por que acontecem milagres? Um milagre é um sinal de autenticação que aponta para Deus (seu poder e misericórdia) e para os porta-vozes de Deus e suas respectivas mensagens (Êx 4.5, 31; 10.2; Dt 4.34,35; 1 Rs 17.24; 18.36; Mt 21.11; Lc 3.18; 4.43; 7.22; Jo 3.2; 4.19; 20.30; At 2.22, 5.12-16; 6.8, 8.6, 10; 9.36-42; Gl 3.1-5; 2 Co 12.12; 1 Ts 2.13). A respeito da singularidade e da extraordinária frequência dos sinais e prodígios  nos ministérios de Jesus e dos apóstolos, a epístola aos Hebreus adverte: “como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade.” (Hb 2.3-4).

 

3. Três verdades podem ser destacadas com respeito a esses dois apóstolos: (a) Eles eram homens de oração (3.1). A oração era prioridade na vida dos apóstolos. (b) Eles eram imitadores de Cristo (3.2–7). Pedro fitou o paralítico e lhe disse: Olha para nós (3.4). Nós costumamos dizer: “Não olhe para nós; olhe para Jesus”. Mas a Palavra de Deus diz que somos cartas de Cristo (2Co 3.2). O apóstolo Paulo diz: Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo (1Co 11.1). Pedro e João disseram ao paralítico: Olhe para nós (3.4). Será que podemos dizer ao mundo: Olhe para nós? Os pais podem dizer aos filhos: Olhem para nós? Na igreja primitiva não havia separação entre o discurso e vida, entre doutrina e prática, entre fé e fidelidade. (c) Eles demonstravam compaixão, e não apenas religiosidade. Não agiram como o sacerdote e o levita da parábola do bom samaritano. Eles fitaram os olhos no paralítico, trataram-no como gente (Lopes, 2012).

 

4.  A cura foi em nome de Jesus (3.6). “Em nome de Jesus” significa aqui: “pela autoridade de Jesus”. Pedro disse às autoridades do povo e aos anciãos que questionavam a fonte do poder que trouxera saúde ao paralítico: Tomai conhecimento, vós todos e todo o povo de Israel, de que, em nome de Jesus Cristo, o Nazareno […], é que este está curado perante vós (4.10). O poder da cura está no nome de Jesus e não em Pedro. O texto é claro: À vista disto, Pedro se dirigiu ao povo, dizendo: Israelitas, por que vos maravilhais disto ou por que fitais os olhos em nós como se pelo nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar? (3.12).

 

5. A cura foi realizada mediante a fé (3.16). “Pela fé em o nome de Jesus, é que esse mesmo nome fortaleceu a este homem que agora vedes e reconheceis; sim, a fé que vem por meio de Jesus deu a este saúde perfeita na presença de todos vós.” (3.16). Foi o nome de Jesus (tudo o que ele é e fez), juntamente com a fé que vem Dele, que deu a este homem saúde perfeita. O próprio Jesus transmite este tipo de fé aos corações das pessoas. O nome de Jesus não é uma fórmula mágica que "funciona" à parte da fé Nele (19.13-16). Neste caso, foi o ato de fé dos apóstolos o instrumento da cura do paralítico, pois ele estava totalmente passivo nesse processo. 

 

 

6. Este milagre pode ser visto como uma figura daquilo que a Igreja existe para realizar. A comissão da igreja é: “O que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo o Nazareno, levanta-te e anda.” A Igreja não existe para falar de política, para tocar música, para produzir arte, ou para prover melhoramento social ou tratamento psicológico. A Igreja não é um centro cultural ou uma clínica psicológica. Não, a sua vocação, a sua comissão, é tratar das almas dos homens e das mulheres, das causas da sua paralisia espiritual. A dificuldade dos homens e das mulheres é a sua pecaminosidade. Não é falta de conhecimento; há muito disso. Teoricamente os homens e as mulheres sabem que a guerra é loucura, porém isso não impede as suas lutas. Eles sabem muito bem que tomar bebidas alcoólicas em excesso é pura imprudência, mas eles fazem isso. Sua dificuldade é esta paralisia da alma, é sua alienação de Deus (Lloyd-Jones, 1999).

 

O problema do mundo é que os homens e as mulheres não conhecem a Deus, não sabem viver e não sabem morrer. E a Igreja existe para lhe dizer o que você precisa saber acima de tudo mais, como a sua alma pode ser redimida e posta em boas relações com Deus; como você pode ser posto firme sobre os seus pés, como a paralisia pode ser curada. Essa é a mensagem singular da Igreja. É isso que diferencia a igreja de todas as outras instituições existentes debaixo do sol. 

 

E como, então, a Igreja faz isso? Pedro disse: “Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou” - e então - “Em nome de Jesus Cristo o Nazareno, levanta-te e anda”. Eis a mensagem: Jesus Cristo, o Nazareno. Pedro tomou a iniciativa de levar Jesus a alguém que precisava dele. A obra de Jesus mudou a vida desse homem para sempre. Este é o trabalho da igreja neste mundo: Levar Jesus as pessoas. Quem sabe, tomando-as pela mão, e levando-as para conhecer o caminho da salvação em Cristo. 

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Pastor Leonardo Cosme de Moraes