A HUMANIDADE (OU POSTERIDADE) E O PECADO ORIGINAL

O problema humano não é, primariamente, ambiental; é sim, uma questão de natureza. Desde que os nossos primeiros pais pecaram, caindo do seu estado original de perfeição, a corrupção (deterioração moral e espiritual) tomou conta de toda a experiência da vida humana. A corrupção da sociedade é apenas o resultado da natureza pecaminosa de cada um dos seres humanos que vem a este mundo.
Os frutos pecaminosos evidenciados nos actos e nas atitudes dos seres humanos, são o resultado incontestável da “qualidade da árvore”, ou seja, do seu coração, do seu ser mais íntimo, que é essencialmente mau. E tudo isso porque os nossos originais ancestrais caíram em pecado.
A Queda “não é simplesmente uma questão de dedução racional. É uma parte da revelação divina” (R.C. Sproul). A doutrina da Queda do Homem é claramente ensinada nas Sagradas Escrituras.
O pecado original não se refere primariamente ao primeiro pecado cometido por Adão e Eva. Antes, refere-se ao resultado do primeiro pecado; refere-se ao início da corrupção da raça humana, à condição caída em que nascemos, antes mesmo de cometermos qualquer acto pecaminoso.
Por esta razão, não podemos perguntar: “Quando é que um ser humano se torna pecador?” A verdade bíblica afirma que o ser humano já vem à existência no estado de pecador (Salmo 51:5). Como descendente do primeiro Adão, o representante “federal” da raça humana, todo ser humano (excepto o Senhor Jesus) vem a este mundo com um natureza decaída, inclinada para o mal.
As consequências do pecado, como vimos, atingiram toda a criação, colocada sob a gerência do Homem. Por causa do pecado do seu “pai federativo”, a posteridade (ou descendência) humana ficou sujeita à corrupção (Romanos 5: 12- 14; 8: 20; I Cor. 15: 20-22). Assim, o pecado de Adão teve um efeito devastador sobre a sua posteridade, o que se traduz na evidente universalidade do pecado e da consequente morte, mesmo que alguns não o designem como tal. O facto é que todos são testemunhas da maldade proveniente do interior o ser humano, capaz de levá-lo a cometer actos contrários ao seu carácter moral.
Em maior ou menor proporção, a realidade dos efeitos do pecado em todos os homens é inegável, facto este que revela a desorientação moral e espiritual em que se encontram (Isaías 53: 6; Romanos 3: 10-12, 23, Tiago 3:2; I João 1: 8,10).
A realidade da universalidade do pecado leva-nos a indagar: Como é que pecado foi transmitido?
Em primeiro lugar, convém-nos lembrar que o pecado é um tipo de mal moral e ético. “É ausência de integridade, de autenticidade; é carência de rectidão, é o abandono do caminho designado” (M. Lloyd-Jones). É errar o alvo traçado por Deus, que é a Sua lei implantada na mente (isto é, no coração) do homem. Portanto, o pecado é também uma atitude de revolta e de rebeldia contra Deus; é uma recusa activa (positiva) de submissão à autoridade legal de Deus. “É a quebra deliberada de uma aliança” (M. Lloyd-Jones).
Ele envolve culpa, vaidade espiritual, perversão (ou distorção da natureza). O que significa que:
- O pecado é um tipo de mal (moral ou ético);
- O pecado possui um carácter absoluto (apropria-se do homem como um todo);
- O pecado é algo que se acha directamente relacionado com Deus, com a Sua vontade e a com
a Sua lei;
- O pecado é algo que está no coração dos homens e das mulheres, e não à superfície das
suas vidas; está no mais profundo do seu ser;
- O pecado não consiste apenas de acções, mas essencialmente é uma condição;
- O pecado é culpa e uma espécie de poluição.

Teorias de transmissão do pecado de Adão à Humanidade:

- A Teoria realística – Esta teoria afirma que a humanidade inteira estava em Adão; quando ele pecou e caiu, a natureza humana toda caiu com ele (com a base de que a alma é algo que herdamos dos nossos pais, uma espécie de identidade seminal; ex. Hebreus 7: 9, 10); Contudo, esta teoria tende a materializar a alma e entra num labirinto filosófico.
Uma outra dificuldade é o facto de que não somos responsabilizados por todos os pecados de Adão, e sim em apenas um (Romanos 5: 18),
- A Teoria do pacto – Por sua vez, esta teoria apoia o ponto de vista de que todos nós herdamos o pecado de Adão porque ele não é só o cabeça da raça humana, mas também porque Deus fez com ele um pacto, e designou-o como representante da raça. Segundo esta teoria, que tem muito a seu favor, Adão era uma espécie de representante federal da humanidade inteira. Portanto, tudo o que Adão fez teve consequências para todos que provieram dele.

Textos de apoio: Génesis 3: 1-24; Efésios 2: 1-3; 4: 17-19; I João 1:8-10

(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C.Sproul, Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd, Teologia Sistemática de Wayne Gruden, Comentário de Génesis de Derek Kidner e A Terra…De Onde Veio de John C. Whitcomb).
Pastor Samuel Quimputo

A DOUTRINA DA QUEDA DO HOMEM

No nosso estudo anterior procurámos analisar, à luz da Bíblia, a doutrina do Homem, tal como foi criado por Deus, à Sua imagem e semelhança, e como foi colocado no Paraíso, numa relação de plena comunhão com o Senhor. Vimos que ele foi criado perfeito e em perfeito exercício das suas faculdades pessoais, e vivendo em pleno estado de felicidade, usufruindo da justiça, da rectidão, da moralidade e de um carácter correspondente ao de Deus. Tudo isso foi fruto da perfeita comunhão que partilhava com o Senhor, e da harmonia existente entre a vontade de Deus e a da Sua criação especial.
Contudo, quando contemplamos o Homem como ele é hoje, reconhecemos que algo difere do quadro traçado em Génesis, nos capítulos 1 e 2. Logo, surge uma pergunta inevitável: O que é que provocou tal mudança?
O estado e a condição moral e espiritual, juntamente com a sua degradação física e mental, são evidências claras de que algo inteiramente novo interferiu e afectou o estado e a condição iniciais.
Qual foi, então, o problema? O que é que aconteceu, de facto, para que o ser humano se tornasse tal e qual o conhecemos hoje?
A resposta bíblica é que, esse “algo” que mudou tudo é o Pecado. E sem a realidade do pecado é impossível compreendermos a profundidade das doutrinas tanto do Homem como da própria Salvação.

1. A Natureza do Pecado
O significado mais básico que a Bíblia atribui ao pecado é errar o alvo. Ainda, segundo a visão e o ensino bíblicos, o alvo que não foi atingido são as normas da Lei de Deus, que expressa a Sua justiça e representa o padrão supremo para o nosso comportamento. Quando falhamos em alcançar (ou cumprir) esse padrão, pecamos; erramos o alvo e ultrapassamos os limites estabelecidos pelo próprio Criador.
A outra realidade sobre a natureza do pecado é que, ele envolve uma atitude positiva de desobediência às orientações dadas e à vontade de Deus, assim como de desrespeito e de rebeldia em relação a própria pessoa de Deus.
No conceito do pecado existem duas dimensões cruciais:
A primeira é a dimensão da omissão, isto é, pecar é deixar de fazer o que Deus ordena, por livre e espontânea vontade ou da falta de conformidade com as normas justas de Deus.
A segunda é a dimensão da comissão, isto é, pecar é transgredir a lei estabelecida. Nesta dimensão, o pecador ultrapassa os limites estabelecidos e vai além. Pode-se dizer que, nesta dimensão, pecar é cometer a ilegalidade; é violar a lei estabelecida.
Várias teorias têm sido elaboradas na tentativa de explicar a incontornável situação do estado actual do homem e do mundo, em que nos encontramos. Entre elas destacam-se a teoria do dualismo. Esta teoria que remonta ao tempo antes da era cristã, afirma que existem dois princípios de vida igualmente grandes: o do bem e o do mal. Atesta esta teoria que o bem e o mal são de igual essência e são controlados por um deus que controla o bem, e pelo outro que controla o mal. Existem, porém, ramificações dentro dessa teoria.
A outra é a teoria da evolução, que afirma que afirma que o homem não passa de um animal que deu um “salto” no processo evolutivo, de tal modo que, o que testemunhamos na vida e no mundo nada mais é senão uma manifestação de certas qualidades e características que trazemos, como animais, que com “maturidade” intelectual e racional temos vindo a abandonar, tornando-nos mais humanos e menos irracionais.
Alguns são da opinião que o que a Bíblia chama de pecado não passa de uma espécie de resistência, isto é, de uma parte essencial da natureza humana, posta ali por Deus, a fim de que tenhamos “algo” que superar e que, ao superá-lo, possamos evoluir e nos desenvolvermos.
Outros, ainda, afirmam que o pecado é simplesmente a ausência de algumas qualidades positivas tais como: conhecimento e discernimento (por exemplo, em vez de dizermos que uma pessoa é má, temos que dizer que ela não é boa”).
Como podemos verificar, quando homens e mulheres são confrontados com a realidade do mal, há uma clara tendência para se evitar o conceito bíblico de pecado, como força activa e em profusa operação em cada aspecto da nossa vida.
O que nos convém fazer é, sem receio, voltarmos para o ensino das Escrituras e buscarmos o Seu ensino sobre a causa ou a origem da presente situação em o homem e o mundo se encontram. E para isso, o capítulo 3 de Génesis é fundamental.
A doutrina ensinada nas Escrituras acerca da origem do pecado, encontra a sua base do capítulo 3 de Génesis, e nos é apresentado como sendo um relato histórico, sem qualquer insinuação de uma pretensa alegoria. O relato deve ser aceite como um facto histórico, confirmado pelo Senhor Jesus e pelos inspirados apóstolos, cujo ensino serve de fundamento para a edificação da Igreja cristã (Efésios 2: 20).
A confirmação histórica do relato de Génesis encontra-se espalhada em todas as partes da Bíblia. Vejamos as seguintes passagens: Jó 31: 33; Oséias 6:7; Romanos 5: 12-21; 2 Coríntios 11:3; I Timóteo 2: 14, etc.
A tentativa subtil de considerar os primeiros 11 capítulos de Génesis como não históricos, mas como um conjunto de mitos, ou de considerar partes do seu relato não são históricos, é um confronto à autoridade das próprias Escrituras, que afirmam a historicidade desses relatos.
Fazer “jogos” de interpretação para tentar encaixar “verdades” científicas nos relatos bíblicos, leva, invariavelmente, à confusão exegética e à deturpação hermenêutica. O procedimento sábio é aquele que encara a Bíblia como um Livro que aborda questões de âmbito natural e sobrenatural.
Se o Deus em que cremos é Aquele que a Bíblia nos apresenta, se cremos na existência de seres sobrenaturais e espirituais, como Satanás e seus anjos, então, temos que esperar realidades sobrenaturais, que escapam a nossa capacidade de raciocínio e de compreensão.
Dito isto, podemos perguntar: quais são as verdades ensinadas no capítulo 3 de Génesis?

1º O mal, o pecado e a tentação vieram de fora; vieram de (e com) Satanás, fazendo uso da serpente. Isto quer dizer que, antes da queda, nada houve no próprio homem que tivesse produzido a queda; não houve nenhuma causa física ou mental. Ele possuía um perfeito livre arbítrio para decidir o que fazer com ele. O homem era perfeitamente equilibrado e todos os aspectos do seu ser.
Os passos foram os seguintes: a serpente atacou a mulher, e não o homem; ela começou por dar ouvidos às calúnias do diabo contra Deus; começou a ter dúvidas das palavras e do amor de Deus. Em seguida, começou a olhar aquilo que Deus havia proibido ao ponto de desejá-lo. Esse passo levou-a a um definitivo acto de desobediência. Deliberadamente ela quebrou o mandamento dado por Deus a ambos. Depois, partilhou o fruto com Adão e ambos caíram em transgressão, errando o alvo.
Diante disto, somos levados a fazer a seguinte pergunta: o que é que os fez agir dessa maneira? Honestamente, devemos afirmar que não sabemos. Contudo, podemos supor que “a constituição moral do homem – o ter sido feito à imagem de Deus e possuir livre arbítrio – de qualquer forma reteve a possibilidade da sua desobediência”. Para além desta possibilidade, é difícil encontrarmos uma resposta final.

2º O diabo insinuou dúvidas acerca do amor de Deus. Foi a recusa por parte de Adão e Eva de se submeterem à vontade de Deus e de O deixarem determinar o curso da sua vida. A sua escolha demonstrou o seu desejo de afastar Deus de suas vidas. Enfim, foi o desejo de se tornarem independentes do Criador. Foi o amor à criação (criatura) em substituição do amor ao Criador que os levou à ruína e ao desastre. A suposta liberdade transformou-se em escravidão e humilhação (I João 2: 15, 16). Aquele que se tinha apresentado como o melhor amigo de Adão e Eva, não passava do seu pior inimigo, determinado em destruir a harmonia que existia entre Deus e os pais da raça humana.
Concluímos, pois, que “o pecado só foi possível ao homem, no princípio, visto que ele possuía uma personalidade espiritual livre”. O pecado só se tornou possível, por causa da sua personalidade livre ou seja, por ser capaz de exercer o seu livre arbítrio.
Como resultado da queda:
1. Adão e Eva tomaram consciência da sua nudez (Génesis 3:7 vs. 2:25);
2. Tiveram sentimento de culpa (Génesis 3:8); perderam a sua comunhão com Deus;
3. Experimentaram a morte espiritual (Génesis 3:24);
4. Passaram a viver numa relação inteiramente nova com a natureza (Génesis 3: 17 -19);
5. Experimentaram uma perversão da sua natureza moral;
6. Experimentaram a morte física. A morte já não era uma possibilidade, mas sim, uma
realidade (Génesis 3:19 cf. Romanos 5:12).

Textos de apoio: Génesis 3: 1-21; Jeremias 17:9; Romanos 3:10 – 26; 5: 12-19; Tito 1: 15


(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C.Sproul, Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd, Teologia Sistemática de Wayne Gruden, Comentário de Génesis de Derek Kidner e A Terra…De Onde Veio de John C. Whitcomb).

Pastor Samuel Quimputo

A IMAGEM DE DEUS NO HOMEM

Depois de nos debruçarmos sobre a doutrina do Homem, onde abordámos questões tais como: a sua origem, a sua singularidade em relação ao resto da criação, a sua humanidade caracterizada pela consciência própria, pela liberdade moral, pela elaboração de pensamentos abstractos e pela capacidade de possuir religião e de prestar culto. Falámos, também, da sua perfeição original, assim como da unidade de toda a raça humana, confirmada pelas tradições comuns, tais como a Queda e o Dilúvio e pela Filologia, que desvenda as afinidades entre as línguas.
A constituição do ser humano é integral, embora haja evidências nas Escrituras sobre as diferentes partes que compõem a sua pessoa (1 Tessalonicenses 5 :23; Hebreus 4: 12).
Agora, passamos a abordar a importantíssima questão da Imagem de Deus implantada no Homem. Reflectiremos sobre as implicações no entendimento e na compreensão da Antropologia bíblica e na valorização da doutrina da Salvação (a Soteriologia).
A doutrina da Imagem de Deus no Homem é basilar para a compreensão de toda a Antropologia bíblica. “Não podemos explicar o mundo e o que estamos a fazer nele, a menos que estejamos esclarecidos sobre a nossa origem, a nossa natureza e o nosso ser essenciais”. Só um entendimento correcto sobre a imagem de Deus no Homem pode nos capacitar a discernir o ensino acerca da humanidade do Senhor Jesus e da Cristologia em geral. O que Ele fez por nós torna-se relevante em nossas mentes quando compreendemos a posição em que nos colocou, depois de termos sido salvos. E para isso, devemos desenvolver o interesse pela “psicologia bíblica”, visto que, toda verdade sobre a nossa salvação passa, necessariamente, pelo entendimento de quem é o Homem.
Assim, a primeira questão a ser abordada é a seguinte: Qual é o significado das expressões “imagem” e “semelhança”?
Em primeiro lugar, não há diferença real de significado entre “imagem” e “semelhança”. Ambos os termos são cambiáveis. Eles significam a mesma coisa, dependendo da ênfase que é dada no contexto em que aparecem.
Convém salientar que a questão da imagem de Deus no Homem revela a grandiosidade do Homem no plano da criação divina. É neste ponto que reside o grande erro da Humanidade, e de um modo particular, da Sociedade actual visto que, contraditoriamente, ao tentar exaltar o ser humano, rebaixa-o com a sua doutrina (a Teoria da Evolução). Esta Teoria é um insulto à grandeza e à dignidade que a Bíblia coloca sobre o Homem.
O termo “imagem” ou “semelhança” transmitem-nos a ideia de um espelho e de um reflexo (ex. 2 Coríntios 3:18). Sermos feitos à imagem de Deus significa sermos uma espécie de reflector de Deus, a saber, uma “espécie de reflector de algo da própria glória divina. Essa é a ideia essencial.
Em segundo lugar, convém notarmos que o termo “imagem” é usado antes e depois da Queda do Homem. Quer isto dizer que, a imagem de Deus no Homem não foi inteira e totalmente perdida quando Adão e Eva pecaram e caíram. Há teorias que defendem que a imagem foi perdida na queda e que, só mediante a redenção (pelo novo nascimento) é que ela é restituída.
Contudo, as Escrituras, como iremos provar, confirmam o contrário, e mostram que a posição do salvo é mais elevada em relação à do Homem, antes da queda.
É verdade o facto de que, quando o Homem caiu, perdeu algo da sua imagem. Entretanto, não perdeu toda a dimensão da mesma. Algo essencial à imagem ainda permanece.
Em terceiro lugar, é um engano definir a imagem original de Deus no Homem em termos do que nos é dito sobre o homem regenerado.
Este princípio esclarece a confusão que se gera quando se tenta equiparar a regeneração à imagem original implantada no Homem. O que aconteceu na regeneração não se restringe ao regresso ao estado original; ultrapassa a realidade anterior à queda (Romanos 5:20).
A salvação, a redenção e a regeneração colocam-nos a um nível superior e mais elevado do que o original em que se encontravam Adão e Eva.
Em Quarto lugar, há uma diferença entre o homem como criado no princípio por Deus e a natureza humana do Senhor Jesus Cristo. Esta diferença reside no facto de que, o Senhor Jesus é “a expressa imagem da pessoa de Deus”. Todo o brilho da glória divina encontra-se nele, realidade esta que não pode ser contemplada no homem.
Contudo, tendo em conta a verdade acerca da imagem divina no homem, podemos dizer que, ele é uma espécie de cópia criada. Cristo é a imagem real e essencial do próprio Deus.
Ainda no que diz respeito à imagem de Deus no homem, há dois elementos importantes a ter em conta: a imagem natural e a imagem espiritual. Isso pode ser definido da seguinte forma: “a imagem consiste da natureza intelectual e moral do homem, bem como da sua perfeição moral original”.
A sua natureza intelectual e moral constitui a sua imagem natural.
A sua perfeição moral original constitui a sua imagem espiritual. João Calvino afirmou que “a sede da imagem no homem é a alma, ainda que alguns raios dela brilhem igualmente no corpo”. Significa que, a imagem de Deus no homem, representa “a integridade original do homem, a sua unidade, a sua justiça e a sua rectidão”. Essa imagem “se estende a tudo o que há no homem e que excede a de todas as demais espécies de animais”. Esta imagem diferencia o homem de qualquer outra espécie do mundo animal – o seu aspecto espiritual.

Qual é, então, o significado da imagem com que o homem foi criado no princípio? O que significa essa semelhança de Deus em nós?
Antes de mais, ela refere-se à alma ou ao espírito, isto é, à nossa espiritualidade. Trata-se da nossa “invisibilidade” espiritual.
Em certo sentido, a essência do nosso ser é invisível. Ninguém é capaz de ver o que somos em termos do nosso ser essencial, nem nós próprios. A nossa percepção de nós próprios é deficiente pelo facto de que a nossa personalidade, o nosso ser essencial, é invisível, tal como a Pessoa de Deus (João 1:18). A nossa alma ou espírito é invisível.
Em segundo lugar, a imagem de Deus em nós refere-se à nossa “imortalidade”. Com imortalidade queremos dizer que a nossa alma (ou espírito) continua activa e consciente, mesmo depois da experiência da morte física. Nem mesmo a sua “morte” espiritual significa extinção ou inexistência. Significa, apenas, separação da presença graciosa do Deus que é a fonte da verdadeira vida.
De certa forma, por termos sido criados à imagem de Deus (como no início), fomos capacitados a viver por um tempo indeterminado.

Para além da invisibilidade e da imortalidade, a imagem refere-se às nossas capacidades e faculdades psicológicas (da alma). Aqui o interesse está em fenómenos psicológicos e não psíquicos.
Somos seres racionais e morais; quer dizer que possuímos intelecto e temos a capacidade de pensar; possuímos vontade e podemos desejar. A nossa capacidade de pensar e de desejar condiciona-nos a raciocinar, pensar, meditar e a desejar o que é eterno, ou seja, Deus (Eclesiastes 3:11).

Como imagem de Deus, também possuímos “auto consciência”. Temos consciência de nós mesmos. Possuímos auto consciência e reconhecemos a nossa incapacidade de fugir da nossa própria pessoa, do nosso próprio “eu”. De forma geral, como imagem de Deus, possuímos a “capacidade para a auto contemplação e de análise. Podemos nos contemplar a nós próprios e fazer uma auto análise. E quantas vezes não queremos exercer essa capacidade, chegando mesmo ao ponto de detestarmos o facto de sermos possuidores da mesma!
Outra característica da imagem de Deus no homem é a sua integridade intelectual e moral, que se revela no conhecimento, na justiça e na santidade. Esta realidade faz parte do ser humano, visto que ele foi criado intelectual e moralmente “de tal forma que havia uma espécie de integridade nele, sem falsidade, sem imperfeição e sem erro”. Havia nele rectidão, justiça e verdade. Ele foi preparado para ser íntegro moral e intelectualmente (Efésios 4: 24).

Textos de apoio: (Génesis 1: 26, 27; Génesis 5: 1,3; Génesis 9:6; Tiago 3:9; Efésios 4:24; Colossenses 3:10)

(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C.Sproul, Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd, Teologia Sistemática de Wayne Gruden, Comentário de Génesis de Derek Kidner e A Terra…De Onde Veio de John C. Whitcomb)

RECAPITULAÇÃO DOS ESTUDOS JÁ REALIZADOS

  1. A Revelação
    Revelação Geral e a Especial (sol, Lua, chuva, mar e milagres, aparições, sinais, prodígios, sonhos, visões, inspiração da Bíblia e a revelação em Cristo).
    A Bíblia e a Revelação especial. A Sua autoridade assenta-se na sua origem e na sua inspiração. Na Bíblia encontramos doutrinas fundamentais em matéria de piedade, de fé e de conduta (isto é, do comportamento correcto e de acordo com o padrão divino).
    A Bíblia não é uma história geral do mundo. Exemplo, só em Génesis, Ela acumula cerca de 2 mil anos em apenas 11 capítulos.
    Em sua essência a Bíblia é a grande História da Redenção.
    Deus revelou-se por ser Bom e misericordioso (Actos 14: 15 – 17). Ele quis, de um modo gracioso, revelar-se, isto é, dar-se a conhecer.
  2. A Existência de Deus
    Vimos que Ele é Soberano demais para ser contido na mente humana limitada (Romanos 11:33). A Bíblia não argumenta sobre a existência de Deus. Parte do princípio que a Sua existência é real. Não entra em questões cosmológicas, teleológicas ou morais da existência de Deus. O Conhecimento de Deus é resultado da fé (Hebreus 11:6). A seguir, reflectimos sobre a incompreensibilidade de Deus.
    Abordamos as qualidades (ou atributos) de Deus: Sua infinidade, espiritualidade, personalidade, unidade (trindade).
    Aprendemos sobre os Seus atributos: comunicáveis e incomunicáveis, pessoais e morais tais como: eternidade, imutabilidade, omnipresença, omnisciência, omnipotência, vontade (prescritiva, “decretativa” e permissiva), glória, santidade (distinção e pureza), justiça, bondade, graça, misericórdia, longanimidade, fidelidade, etc.

    Analisámos os nomes divinos que representam o Seu carácter: El (o primeiro), Elohim, Elion (sublime, exaltado), Adonai (soberano), Shadadai (poderoso), Jehováh (o Grande EU SOU, o Deus da aliança), Emanuel (emanu ‘el). Também Pai, Filho e Espírito Santo.

    Falámos acerca dos Decretos de Deus. Vimos que eles são eternos, cumprem-se sempre, são a expressão da Sua vontade, são incondicionais, soberanos e eficazes; são perfeitamente consistentes com a Sua natureza. Não negam a existência de agentes livres, mas concorrem com eles.
  3. Anjos
    Abordámos a doutrina dos anjos, como poderosas criaturas Deus (Colossenses 1:16), criados perfeitos no princípio. Alguns deles se rebelaram, sob a liderança de Lúcifer, e se tornaram inimigos de Deus e de tudo o que constitui o plano benéfico e redentor de Deus.
    Vimos que existem em número bastante grande e que são poderosos em seus feitos. Aparentemente são assexuais (Mateus 22: 29,30), são imortais (Lucas 20:36) e obedecem a uma hierarquia definida (em ambos os grupos – bons e maus); possuem liderança mais elevada (Miguel e Lúcifer) e estão empenhados naquilo que fazem.
    Os anjos bons estão envolvidos no plano da salvação dos homens: protegem (Salmo 91:10,11); orientam (Actos 8:26); animam (Actos 27: 23,24); livram (Actos 12: 7,8); acompanham os crentes na morte (Lucas 16:22,23), executam o juízo presente e futuro (Mateus 24:30,31; Actos 12: 23);
    Os maus são inimigos de Deus e dos homens, semeiam dor e escravizam o homem espiritual e moralmente, dominam os homens, apoderam-se deles, maltratando-os em termos físicos, mentais, morais e espirituais. São qualificados de inimigos, adversários, mentirosos, enganadores, acusadores, caluniadores, etc.
  4. Criação
    Falámos da criação do mundo (Colossenses 1:17; Actos 17: 24-28; Hebreus 11:3). Enfatizámos de que Deus criou tudo do nada. Que o Pai, o Filho e o Espírito participaram na criação inicial.
    Aprendemos que nada provém do nada (um princípio científico); tudo o que existe teve origem numa causa última, que não se criou.
    Abordámos ligeiramente a Teoria da Evolução (incluindo o evolucionismo teísta) e as suas contradições.
    Falámos da criação do Homem (Actos 17:26), como algo singular, criado à imagem de Deus e conforme a Sua semelhança. Falámos bendita providência divina.

Pastor Samuel Quimputo

A CRIAÇÃO DO HOMEM

Seguindo a ordem cronológica e teológica das doutrinas bíblicas, fundamentais para a fé cristã, chegamos, neste momento, àquela que ocupa uma grande parte do relato bíblico: a doutrina do Homem. A particular importância desta doutrina prende-se com o facto de que, ela ocupa um lugar especial na abordagem que se faz dela nas Escrituras. Com certeza, “as Escrituras foram-nos dadas a fim de podermos chegar a um conhecimento da verdade concernente a nós mesmos e à nossa relação com Deus”.
Portanto, é de extrema importância começarmos com o que a Bíblia diz sobre a origem da raça humana.
Quando lemos o relato no primeiro capítulo de Génesis (complementando-o com o segundo), o próprio relato faz transparecer a impressão óbvia de que algo especial aconteceu; algo singular, distinto e marcante em sua especificidade.
A criação do Homem é enfatizada pela seguinte afirmação: “Disse Deus, façamos o Homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Génesis 1:26). Enquanto que no resto do processo da criação vegetal e animal o feito tenha sido coroado com a distintiva frase “segundo a sua espécie” (vs. 11, 12, 21, 24, 25), aqui, na criação do homem, todo o discurso é inovador. As três pessoas da santíssima trindade unem-se, numa espécie de conselho, para determinar a singularidade e a personalidade daquela criatura, cuja existência estava prestes a ser concretizada.
É forçoso demais concluir que a expressão “façamos” seja, apenas uma forma de um género de plural majestoso, com frequência usado por personagens reais, quando se expressam, dizendo “nós” em vez de “eu”. Esta forma de expressão não encontra apoio nas Escrituras. Muito menos pode ser visto como uma consulta de Deus feita aos anjos. Também essa tentativa de interpretação não encontra nenhum apoio bíblico. Desde os primórdios da fé bíblica (ou cristã), tem havido uma acentuada concordância no sentido de ver na expressão “façamos” uma alusão ao acordo entre Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo. Este aspecto específico e singular não é evidenciado em relação ao resto da criação, embora a obra da criação tenha sido sempre da competência do Deus Triúno.
O Homem, portanto, foi criado à imagem de Deus, conforme a Sua semelhança.
Em seguida, somos informados em Génesis 2:7 que o Homem foi formado do pó da terra (que constituiu o seu corpo), e que depois, o Senhor “soprou em seus narizes o fôlego da vida; e, então, o Homem foi feito uma alma vivente”. Embora os outros animais fossem criados do pó da terra, tal como o Homem (Génesis 2:19), há, no entanto, uma diferença essencial quanto ao modo como ele veio a ser uma alma vivente.
O Homem é caracterizado, essencialmente, pela “consciência própria; liberdade moral; capacidades de pensamentos abstractos e capacidades de exercício da religião e de culto”. Estas características são peculiares ao ser humano, distinguindo-o dos outros animais, mesmo os tipos mais excelentes e mais desenvolvidos.
Se o Homem evoluiu (como afirma a teoria da evolução), e sempre num processo ascendente, partindo do primitivo e do simples para o mais complexo, altamente organizado e desenvolvido, movendo-se em direcção à perfeição, como “encaixar” a doutrina bíblica da queda? A Bíblia afirma que o Homem começou no “topo” e que, depois, caiu de lá e não o contrário. Ela ensina a doutrina da Queda logo no início da existência humana. Esta doutrina é uma parte vital da doutrina bíblica da salvação. Todo o ensino bíblico acerca da salvação repousa sobre a premissa de que o homem criado perfeito, caiu e se tornou imperfeito, ao contrário do que é ensinado pela teoria da evolução (mesmo do ainda mais incoerente evolucionismo teísta).
A negação do ensino bíblico da Criação do homem, como ser especial, coloca sérios problemas, relativamente à doutrina da salvação. Mesmo o chamado evolucionismo teísta não responde às questões básicas da antropologia bíblica.
A Bíblia afirma a unidade da raça humana. Toda a humanidade veio de Adão e Eva. O Novo Testamento corrobora com a narração de Génesis em várias passagens, incluindo as afirmações do Senhor Jesus (Mateus 19:4, 5). Os apóstolos criam na criação espontânea do ser humano e no relato histórico de Génesis (Romanos 5: 12 – 19; 1 Coríntios 11: 8 – 12; 2 Coríntios 11: 3; 1 Timóteo 2: 13, 14).
Experiências científicas na área da genética têm vindo a provar a unidade da raça humana, confirmando a História das migrações dos povos, com tradições comuns (queda, dilúvio) e evidências filológicas.

Textos de apoio: (Génesis 1: 26, 27; Génesis 11: 1-9; Deuteronómio 32:8; Actos 17: 26; Romanos 5)

(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C.Sproul, Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd, Teologia Sistemática de Wayne Gruden, Comentário de Génesis de Derek Kidner e A Terra…De Onde Veio de John C. Whitcomb)

A PROVIDÊNCIA DIVINA

A doutrina da Providência divina está intimamente ligada a da Criação. Ela procura enfatizar a questão da sustentabilidade de tudo o que foi criado por Deus. Por outras palavras, a doutrina da providência ensina que o Universo não só teve a sua origem em Deus, mas também depende dele para a continuação da sua existência.
A providência significa que Deus governa a Sua criação “com absoluta soberania e autoridade”.
Segundo o ensino das Escrituras, os conceitos de fortuna, destino ou sorte não são sustentáveis, visto que a fortuna é cega, o destino é impessoal e a sorte é muda. Não existem forças cegas e impessoais a operar na história humana. Tudo funciona por meio da mão invisível da providência de Deus. Isso significa que num mundo governado por Deus não existem eventos casuais. O acaso não existe.
Esta doutrina da Providência divina é das mais relevantes numa sociedade como a nossa, dominada por uma filosofia marcadamente naturalista. Ela tem sido a pedra de tropeço para muitas pessoas que não possuem a fé cristã. Duvidam da existência de um Deus de amor e Todo-poderoso, num mundo confuso, cheio de maldade e de desequilíbrios profundos.
O panteísmo (a crença de tudo o que existe é parte de Deus) e o deísmo negam a doutrina da providência divina, visto que para o primeiro, Deus não está fora do que existe e para o segundo, Deus não intervém, actualmente, na Sua própria criação. Permanece inactivo perante o desenrolar dos acontecimentos, ao longo dos séculos.
Contudo, a Bíblia afirma e assevera que Deus está no controle de todas as coisas (Salmo 104; Salmo 103:19). Tal como o piloto de um navio (e não como um relojoeiro), Deus sustenta e coordena o funcionamento de tudo o que acontece no Universo.
A Bíblia apresenta evidências inegáveis da providência divina:
- As profecias que predizem o que vai acontecer, o modo como será feito e a garantia da sua concretização, são provas da actividade e da intervenção divinas;
- As Orações feitas, na esperança de que serão atendidas pelo Criador, não fariam qualquer sentido se a doutrina da providência divina não fosse verdadeira;
- Os milagres são, de certa forma, alguns dos aspectos da evidência da intervenção de Deus na Sua própria criação;
A Providência pode ser definida como “o exercício contínuo da energia divina, por meio da qual o Criador sustente todas as Suas criaturas, é operante em tudo o que ocorre no mundo, e dirige todas as coisas ao seu destinado fim”. (Martin Lloyd-Jones). Ou, como a Confissão de Fé de Westminster (séc. XVII), diz: “Pela mui sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livre e imutável conselho da sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas as coisas, para o louvor da glória da sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as criaturas, todas as acções delas e todas as coisas, desde a maior até ao menor” (Cap. VI, cit. de R.C. Sproul).

A Providência divina envolve três aspectos importantes:
1º - Preservação – a continuidade da “obra de Deus por meio da qual sustenta as coisas que criou, em conjunto com as propriedades e energias com que Ele as dotou”; significa que Ele conserva tudo na sua existência (Salmo 104: 28-30; Actos 17:28; Colossenses 1:17; Hebreus 1:3).

2º - Governo – a “actividade contínua de Deus por meio da qual Ele conduz todas as coisas para um fim e um objectivo definidos,...a fim de assegurar a consumação do Seu próprio propósito divino” (Salmo 97:1; 103:19; Isaías 40:15; Daniel 4: 34,35).

3º - Concorrência - quer dizer “a cooperação de Deus e Seu divino poder com todos os poderes subordinados segundo as leis preestabelecidas da sua operação, levando-as a agir precisamente como fazem”. Aqui encontra-se a totalidade da ideia da relação das causas secundárias com a suprema ordenança de Deus. Ele opera nas e através das causas secundárias, usando-as, ordenando-as e manipulando-as como quer (Jó 12:24; Salmo 104:20, 21 e 30; Amós 3: 6; Mateus 5:45; 6:26; 10:29; Gálatas 1:15,16).

Textos de apoio: Jó 38: 1-41:34; Daniel 4: 34,35; Actos 2: 22-24; Romanos 11: 33-36

(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C.Sproul, Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd, Teologia Sistemática de Wayne Gruden, Comentário de Génesis de Derek Kidner e A Terra…De Onde Veio de John C. Whitcomb).
Pastor Samuel Quimputo

A criação do Mundo

Já vimos, num dos estudos, que o ensino da Bíblia, relativamente ao que existe hoje, é que tudo foi criado por Deus (Hebreus 11:3), a partir do nada ou seja, tudo veio à existência pela Palavra criadora de Deus (João 1:3; Colossenses 1: 16) e continua a ser sustentado por Ele (Colossenses 1: 17).
A Criação divina pode ser definida como “aquele acto soberano de Deus por meio do qual Ele... no princípio trouxe à existência o universo visível e invisível, sem o uso de materiais preexistentes, e assim imprimir-lhe uma existência distinta da Sua (de Deus) e, contudo, sempre dependente dEle” (L. Berkhof). Esta é uma definição interessante do que significa criação ex nihilo, isto é, do nada, visto que “a partir do nada, nada procede” (do lat. ex nihilo nihil fit).
A Bíblia não fornece uma razão para a criação. Deus não criou o mundo por sentir uma necessidade de o fazer. Simplesmente decidiu criar tudo de acordo com a Sua soberana vontade e para a Sua glória. O que sabemos é que, toda a complexidade e a beleza da Criação de Deus, apontam para a grandeza e para a incomparável sabedoria do Criador.
Há quem creia que a matéria é inerentemente eterna; outros há, porém, que crêem numa geração espontânea da matéria, bem como em seu desenvolvimento espontâneo. Há, ainda, os que pensam que Deus simplesmente deu forma à matéria já existente, ou que a matéria é apenas uma emanação da substância divina. O panteísmo ensina que a matéria é apenas uma forma de Deus, isto é, que ela é Deus. Existe também o dualismo que afirma que Deus e a matéria são ambos eternos.
A primeira questão que surge com frequência, quanto ao relato bíblico de Génesis, é se existem dois relatos da criação na Bíblia – um em Génesis 1 e outro em Génesis 2:4. A resposta deve ser negativa. Em Génesis 2:4 o relato não é da criação. Este é um estilo próprio do hebraico que especifica e desenvolve o relato inicial da criação do homem, num típico hebraísmo, como o encontrado em Génesis 5:1: “Este é o livro das gerações...”
A criação é obra do Deus Triuno (Génesis 1:2; Isaías 40:13; João 1:3; I Coríntios 8:6; Colossenses 1:16).
A segunda questão é a seguinte: se tudo começou “no princípio”, isto é, envolvendo tempo, o que é que houve antes desse princípio?
Para uma boa compreensão, é preciso ter em conta as palavras que são usadas na Bíblia com referência à Criação. Embora possam ser intercambiáveis, a sua diferenciação pode ajudar-nos a distinguir os seus vários signifiados.
1ª “bará” – esta palavra significa chamar à existência sem o uso de material preexistente. É usada apenas três vezes em Génesis, capítulo 1, e somente em relação à actividade de Deus no Velho Testamento. Bará jamais é usada em conexão com material existente e descreve sempre a actividade divina (Génesis 1: 1, 21, 27).
2ª “asah” – esta palavra significa dispor do material existente, usada para descrever a obra da maioria dos dias da Criação (Génesis 1:7, 16,25, 26, 31).
3ª “yatsar” – que significa modelar o material já existente. Ela é usada em Génesis 2:7.

Qual é, então, a relação existente entre o 1º e o 2º versículos de Génesis? Qual é a interpretação deles? Tem havido duas respostas principais. Uma delas é que esses versículos descrevem dois estágios de um longo processo; enquanto que a outra diz que houve um intervalo entre os dois versículos. O segundo ponto de vista afirma que o versículo 1 fala da criação original do céu e da terra, provavelmente com Satanás e anjos habitando nele. Depois veio uma calamidade e uma destruição, em consequência da queda dos anjos; portanto, o versículo 2 descreve a obra da reconstituição e da reconstrução do caos provocado.
Há, subjectivamente, dois pontos de vantagem quanto à 2ª interpretação, visto que as palavras “sem forma e vazia” pressupõem devastação e destruição. Esse é o significado em Isaías 24:1 e em Jeremias 4:23.
Contudo, quanto ao que realmente ocorreu, devemos restringir-nos ao que está relatado na Bíblia. Ainda mais porque as expressões usadas em Génesis (sem forma e vazia, do heb. towú wabohú) não exigem, necessariamente, um estado de caos e de destruição, como no caso de Isaías e Jeremias.
A luz do primeiro dia deve ser entendido como sendo o “éter” luminoso ou a “electricidade”, já que o sol é o condutor da luz.
No segundo dia, a palavra “sobre” refere-se às nuvens; enquanto que o “firmamento”, significa expansão.
No terceiro dia, houve separação entre o mar e a terra seca, e o reino vegetal de plantas e árvores veio a existir, em três tipos: relva, ervas, vegetais e grãos. Árvores frutíferas – todas “segundo a sua espécie”.
O versículo 12 mostra que as espécies são distintas e não se evoluem umas das outras.
A doutrina da Criação é de extrema importância quanto ao fundamento da fé cristã. Ela prepara o “terreno” para a compreensão da realidade em que vivemos e nos movemos, e responde às inúmeras questões da nossa existência e da forma como nos relacionamos, como sociedade. Explica a causa das nossas crises existenciais e dos nossos conflitos no que diz respeito ao propósito da nossa presença neste mundo.
O relato bíblico da história da criação, na sua forma condensada e bem elaborada, procura, em termos gerais, servir de guia e baluarte contra a sucessão de erros, tais como: o politeísmo, o dualismo, a eternidade da matéria, a inerência do mal na matéria, a astrologia. Também, serve de protecção contra toda a tendência (cada vez mais popular) de esvaziar de sentido da verdadeira História do Homem.
Uma das questões que tem suscitado calorosas discussões, mesmo entre aqueles que crêem na Bíblia como Palavra de Deus, é a que diz respeito ao significado dos dias da criação, mencionados no relato de Génesis 1.
À parte das posições intermédias, dois pontos de vista têm sido defendidas. O primeiro defende que o termo “dia” significa um dia de 24 horas. O segundo afirma que “dia” significa um extenso período de tempo. Dos dois lados existem defensores piedosos que tudo fazem para entender, com honestidade, o verdadeiro significado da mensagem.
A favor do segundo ponto de vista está o facto de que, na Bíblia, a palavra traduzida, em Génesis 1, por “dia” nem sempre significa um dia de 24 horas. Nos versículos 5, 16 e 18, de Génesis 1, o termo refere-se às horas diurnas, enquanto que nos versículos 5, 8 e 13, significa luz e trevas. Em Génesis 2: 4, significa o sexto dia da criação.
Há passagens na Bíblia onde a palavra “dia” significa um período de tempo, tais como: Salmo 90: 4; Isaías 4:2; 13: 6; Jeremias 51: 2; Joel 3:14. Em 2 Pedro 3: 8 a ideia não é de enfatizar o “dia” em si, mas a de contrastar o tempo com a eternidade. A ênfase recai na aparente demora da parte de Deus em executar as suas promessas.
Por outro lado, a favor do dia de 24 está, antes de tudo, o facto de que este é o primeiro significado da palavra hebraica. Em segundo lugar, há expressão sequencial “tarde e manhã” ao longo de todo o capítulo 1. É difícil a explicação de tal expressão, caso o “dia” fosse algo indeterminado. Ainda, com base na interpretação do “dia” como sendo um “estágio”, como classificar o longo período de “tardes” e “manhãs”? O que estaria a acontecer nesse período de milhões de anos? Como poderia (mesmo em termos científicos) existir vida (vegetal e animal) durante esse período extenso de milhões de anos de trevas e de ausência de luz? Ou ainda, se os últimos três “dias” foram determinados pelo sol (que separa dia e noite), como dilatar o período entre ambos? Isso só seria possível se crêssemos que os 3 primeiros dias significam longos períodos de tempo, e que os 3 últimos significam dias de 24 horas. Mesmo assim, esta conclusão não encontra apoio no contexto da passagem em causa.
Uma outra dificuldade encontra-se na aplicação feita em Êxodo 20: 8, 11; cf. 31:17, onde o sábado a ser gozado pelo homem encontra a sua base e exemplo no “dia” em que o Senhor descansou da Sua obra inicial (Génesis 2:3). Como se pode aplicar um período de tempo de milhões de anos a pessoas que só vivem, no máximo, cerca de cem anos?
Embora “sábado” (cessação; descanso) não seja um conceito limitado pelo dia (de 24 h, ex. Levítico 25:4), quando ligado ao “dia” resume-se ao descanso diário de 24h.
Embora a nossa tendência, nos dias actuais, seja a de aceitar, cegamente, todas as propostas que nos são feitas, em nome da Ciência, sem análise crítica, convém afirmar, nesta altura, que “todo esforço para modificar a subitaneidade e sobrenaturalidade dos eventos da criação, a fim de torná-los mais aceitáveis para a ‘mentalidade moderna’, acabam por resultar somente na minimização e obscurecimento dos verdadeiros atributos do Deus da criação” (John C. Whitcomb).
Concluímos, assim, que não há provas bíblicas, na passagem de Génesis 1, que nos leve (em nome da ciência) a descartar a interpretação dos “dias” do capítulo 1 como compostos, cada um, de 24 horas. A Bíblia não é um livro escrito com um propósito científico. Contudo, ela não é anti-científica. A sua linguagem simples e de observação dos fenómenos é coerente, contendo, mesmo, elementos da mais avançada ciência (Jó 26:7; Actos 17:26).



(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C.Sproul, Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd, Teologia Sistemática de Wayne Gruden, Comentário de Génesis de Derek Kidner e A Terra…De Onde Veio de John C. Whitcomb).

A Doutrina dos anjos: O Diabo e os Anjos Apóstatas

Continuamos o nosso estudo acerca dos Anjos, estes seres magníficos, criados por Deus para o Seu próprio louvor e para a participação destes na vida dos Homens e na História de toda a criação.
Felizmente, o estudo acerca dos anjos eleitos (santos) não esgota a revelação bíblica, no que diz respeito aos seres angelicais existentes.
Se por um lado, como já estudamos, existem os anjos que nos ajudam e cuidam de nós, por outro existem os que são mencionados como sendo os nossos maiores inimigos. Estes agem contra nós e com todas as suas forças procuram prejudicar-nos e afastar-nos de Deus.
É completamente impossível entendermos a história humana sem considerar o que a Bíblia nos relata acerca destes anjos apóstatas e perversos. Infelizmente, é cada vez mais crescente a negligência (ou até descrença) na mente de muitos da existência de seres espirituais, tais como o diabo e seus anjos.
A realidade da apatia espiritual e das constantes derrotas no campo da espiritualidade pessoal e colectiva, no seio do cristianismo actual, deve-se, em grande medida, ao desprezo deliberado acerca do que o Senhor diz na Sua bendita Palavra, relativamente à presença e à actividade das forças demoníacas e a sua influência maléfica na vida dos seres humanos.
A Bíblia refere-se ao diabo do princípio ao fim, do Génesis ao Apocalipse. Por esta razão, podemos afirmar, com toda a certeza, que o facto de não levarmos a sério da doutrina bíblica sobre o diabo e seus aliados, é um mau serviço que prestamos a nós próprios e a todos aqueles que, por se encontrarem cegos e dominados por Satanás, rejeitam a mensagem da salvação que lhes é pregada.
A Bíblia deixa bem claro que, assim como existe uma realidade física, existe também outra de carácter espiritual, com os seus agentes potencialmente activos.
1. Nomes
Ele é referido como “satanás” (isto é, adversário); também como o “diabo” (ou seja, caluniador); ele é ainda descrito como “Belzebu” (o principal dos demónios); é chamado, também de “Apolion” (isto é, destruidor, Apocalipse 9:11); como “o anjo do abismo insondável”; “príncipe deste mundo”; “o deus deste mundo” (2 Coríntios 4:4). A outra designação mais significativa é a do “maligno”, que demonstra o seu carácter imundo (Mateus 6:13; João 17:15; I João 5:19); ele é ainda descrito como o “adversário, isto é, aquele que nos resiste” (Zacarias 3:1; Daniel 10: 13; Lucas 22: 31; I Tessalonicenses 2:18).
2. Natureza e personalidade
A Bíblia diz-nos que o diabo é uma criatura de Deus (Isaías 14; Ezequiel 28; 11-19). Tudo indica que, entre os seres criados, ele era o mais elevado de todos.É evidente no relato bíblico que o diabo é uma pessoa, isto é, possui personalidade e faculdades que o qualificam como um ser consciente, inteligente e possuidor de vontade própria.Há uma tendência para se negar a verdade bíblica que afirma que o diabo é uma pessoa. Contudo, as evidências das Escrituras confirmam, claramente, que Satanás é um ser pessoal que fala (ou dialoga), que faz sugestões e que procura enganar as pessoas (Lucas 4: 1-13). Ele é identificado como pessoa (Mateus 13:19; João 8: 44).
3. Os anjos apóstatas
O que se aplica ao diabo aplica-se igualmente àqueles anjos que com ele se rebelaram. Estes são descritos como “demónios” (Mateus 8:31), seres espirituais hostis a Deus); como “legião”, por serem numerosos.
A função destes anjos consiste em tentar os crentes, cegar os descrentes e boicotar o plano redentor de Deus, na tentativa e impedir (ou frustrar) o seu cumprimento cabal.É preciso salientar que, “independentemente do pecado que há em nós, bem como do mal inerente à nossa natureza, em resultado da Queda, somos confrontados por uma pessoa fora de nós que anda em nosso encalço, uma pessoa que tem um reino, do qual é a cabeça, o qual é altamente organizado e cuja grande preocupação consiste em destruir a obra de Deus”(Martin Lloyd-Jones) (Efésios 6:12).
4. Outras considerações:
Não sabemos da origem do mal que invadiu o coração de Lúcifer. Ele é ainda descrito como “leviatã” (Isaías 27:1); “leão que ruge” (I Pedro 5:8 e 2 Pedro 2: 10,11); “dragão”; “valente” (Lucas 11:21); “Opressor” (Actos 10:38; 2 Coríntios 12:7); “o deus deste mundo” (2 Coríntios 4:4); “homicida” que habita os lugares celestiais (Jó 1: 7, 12; 2:6).
Como conclusão, devemos sempre ter a consciência de que, apesar do seu poder, este é um poder limitado. E os que estão em Cristo podem resistir-lhe (Tiago 4:7; I João 4:4).A nossa dependência do poder libertador e protector do sangue de Jesus, derramado na cruz, é a garantia da nossa força para vencermos o maligno e as suas hostes.
(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C.Sproul e Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd e Teologia Sistemática de Wayne Gruden).

Estudos sobre os anjos

Depois de reflectirmos sobre a doutrina dos Decretos eternos de Deus, isto é, do Seu projecto eterno sobre as Suas criaturas, revelando-nos o facto de que as acções de Deus não são casuais nem fortuitas, chegamos ao ponto de abordar o resultado prático (ou a execução) dos mesmos decretos. Isso leva-nos à doutrina da Criação.
Contudo, antes de falarmos de uma forma específica sobre o Universo criado, logicamente, devemos analisar a revelação bíblica, no que diz respeito aos seres criados, antes do nosso Universo, incluindo a parte habitável.
Como crentes em Cristo sabemos que a Bíblia é a revelação da divina vontade de Deus. Tudo o que nos foi revelado é (e deve ser) para a nossa aprendizagem (Deuteronómio 29:29).
É triste o facto de que, geralmente, muitos crentes não usufruem das grandes verdades reveladas nas Escrituras, para a sua edificação. Há uma grande tendência para a negligência de certas doutrinas bíblicas, o que resulta, necessariamente, na pobreza espiritual do próprio crente negligente, privando-se, desta forma, das bençãos provenientes do conhecimento e da aceitação destas doutrinas.
O estudo dos Anjos (naquilo que nos é dado a conhecer, na Palavra do Deus) é enriquecedor e estimulante quanto à visão da fé cristã e do cuidado que o nosso Senhor, na Sua multiforme graça, demonstra pelos Seus eleitos.
De uma forma resumida iremos conhecer algumas verdades acerca desses magníficos seres espirituais, activos e cooperantes com Deus e com os homens.
Tudo indica que, antes de criar o nosso mundo, Deus trouxe à existência seres inteligentes e celestiais a quem chamamos Anjos.

1. Etimologia e Natureza
O termo “anjo” significa “mensageiro” (do hebraico mal’ák e do grego ângelos). Os anjos são seres espirituais, cuja função principal é a de servir a Deus como mensageiros, para a execução de várias missões (Hebreus 1: 5, 13, 14).
Embora sejam seres espirituais, são seres criados. Não existiram desde a eternidade (Neemias 9:6; Salmo 148:2,5; Colossenses 1:16).
Embora sejam referidos como espíritos (1 Pedro 3:19), os anjos parecem possuir corpos espirituais (Génesis 18; Juízes 13) em suas manifestações (ou angelofanias).
Quanto ao seu género, mais uma vez, sem falarmos em termos dogmáticos, parece que os anjos são assexuados (Mateus 22:29,30). Eles são sempre referidos no masculino.
Outra verdade acerca dos anjos é que, eles não morrem e nem podem morrer; são imortais (Lucas 20:36; Hebreus 2:9).

2. O Seu Estatuto (status)
Quanto ao seu estatuto, os anjos são inferiores ao Filho, o Senhor Jesus Cristo, mas superiores ao Homem (Salmo 8). São magníficos e poderosos em força (Salmo 103:20).
Eles são mencionados como:
espíritos, principado, poder, potestade, domínio (Efésios 1:21), tanto para os bons quanto para os maus (Efésios 6: 12). Também são designados de santos (Lucas 9:26; eleitos (I Timóteo 5:21); ministradores (Hebreus 1:14).

3. Classificação
Parece evidente que existem graus diferentes entre os anjos.
Querubins (Génesis 3:24; Êxodo 25:22; Salmo 18: 10; Salmo 99:1; Ezequiel 10:1-22).
Serafins (Isaías 6:2-7) – anjos de contínua adoração diante de Deus.
Seres (ou criaturas) viventes (Ezequiel 1: 5-14; Apocalipse 4: 6-8).


4. Hierarquia
Miguel (arcanjo ou anjo principal) (Daniel 10: 13; Judas 9). Tudo indica ser ele o principal do exército angélico (I Tessalonicenses 4:16; Apocalipse 12:7,8).
Gabriel (Lucas 1: 19, 26,27).

5. A Sua Função (ocupação) é:
a) Adorar a Deus e ao Cordeiro (Mateus 18:10; Apocalipse 5);
b) Inspeccionar a questão da nossa salvação (Efésios 3:10; I Pedro 1:12);
c) Observar os crentes (I Coríntios 11:10);
d) Executar a vontade de Deus (Actos 7:53; Gálatas 3:19; Hebreus 2:2,3);
e) Revelar os propósitos de Deus (Génesis 18. à Abraão, Jacó; Gideão, Zacarias; José);
f) Participar (como instrumentos) na nossa salvação (Actos 10; Hebreus 1:14);
g) Proteger os crentes dos perigos (Salmo 91:10,11; Daniel 6:22);
h) Orientar e animar os crentes nos momentos difíceis (Actos 8:26; 27:23,24);
i) Trazer (ou proporcionar) libertação aos crentes (Actos 12: 7,8);
j) Acompanhar os crentes na morte (Lucas 16: 22,23); Que consolo!
k) Executar juízo contra os inimigos de Deus (Mateus 13: 40-42; 24: 30,31; 2Tessalonicenses 1:6-8).


(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C.Sproul e Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd e Teologia Sistemática de Wayne Gruden)

A Criação

Todas as coisas têm um início no tempo e no espaço. Cada um de nós teve um início; as nossas casas, carros, naves, roupas, etc. tudo teve o seu momento inicial. Houve um tempo que estes corpos não existiam.
Pelo facto de estarmos cercados por coisas que tiveram início, somos tentados a concluir que tudo teve um início. Obviamente que tal conclusão pode nos conduzir a uma avaliação errada da realidade, e pode traduzir-se num salto no abismo do absurdo, visto que se esta conclusão fosse correcta, seria uma sentença de morte para a religião (e para a fé cristã), para a ciência e para a própria razão.
Afirmar que todas as coisas tiveram um início no tempo e no espaço, não significa que tudo teve um início, de maneira nenhuma. Em termos lógicos e científicos é simplesmente impossível que todas as coisas tenham um início, visto que, se tudo o que existe teve início, então teria havido um tempo em que nada existia.
Não se pode imaginar a existência do nada. Não podemos nem mesmo conceber a existência do absolutamente nada, já que o próprio conceito é a pura negação da existência de alguma coisa. O nada é diametralmente o oposto de alguma coisa.
Se houve tempo em que não havia nada, então hoje deveria continuar não haver algo, por uma simples razão de que, não se pode obter algo a partir do nada.
Uma lei absoluta da ciência e da lógica diz que ex nihilo nihil fit, quer dizer, “a partir do nada, nada procede”. O nada não pode produzir coisa alguma. O nada não possui nenhum poder porque não tem existência. Para que alguma coisa procedesse no nada, ela teria de possuir o poder de criação própria; teria de ser capaz de produzir a sua própria existência. Para que alguma coisa criasse ou produzisse a si próprio teria de ser antes de existir. Entretanto, se algo já existe, não tem a necessidade de ser criado.
Concluímos, pois, que se as coisas existem hoje, então de alguma maneira, em algum lugar, algo não teve início.
A famosa teoria de que o Universo é o resultado de uma ‘série infinita de causas finitas’ defendida por Bertrand Russell, pode negar a lei de que nada procede do nada, mas não pode refutá-la sem cometer suicídio mental. É preciso que tenha havido algo antes do começo temporal de tudo. O que ou Quem seria? Esta é a grande questão.
A Bíblia responde com a existência de um Ser Transcendente, isto é, alguém que está acima e além do Universo, alguém que deu início a tudo o que existe. Alguém que pertence a uma ordem mais elevada do que os outros seres. E esse ser é Deus, o Supremo Criador, que não teve início. Quando tudo começou, alguém esteve presente (Génesis 1:1). Este texto é fundamental para todo o pensamento cristão. “Antes que existisse algo, existiu alguém”. “No princípio…Deus”. Ele é a Causa não causada de tudo o que existe.
A obra da criação é da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo (Génesis 1:1,2; Isaías 40: 13; João 1:3; I Coríntios 8:6; Colossenses 1:16). Deus fez tudo a partir do nada (Colossenses 1:17).


Textos de apoio: Génesis 1; Sal. 33:9; Salmos 104:24 – 26; Jeremias 10:1.16; Hebreus 11:3

(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R. C. Sproul; Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones; Teologia Sistemática de George Eldon Ladd e Teologia Sistemática de Wayne Gruden).
estudo elaborado por: Pastor Samuel Quimputo

OS DECRETOS ETERNOS DE DEUS

Começamos os nossos estudos com a doutrina da Revelação nas suas diversas formas. Falamos do seu aspecto geral, assim como do específico. Abordámos a questão da Bíblia e da sua relação com a revelação especial de Deus. Analisámos os requisitos usados na elaboração do Cânon do Novo Testamento. Tratámos da questão da interpretação bíblica, sobretudo, no que diz respeito ao estudo pessoal das Escrituras. Abordámos as vantagens e as desvantagens (ou perigos) da interpretação demasiadamente individualista e subjectiva.
Passámos, depois, a analisar as doutrinas acerca de Deus, dos Seus atributos incomunicáveis e comunicáveis. Esperava-se que, depois da doutrina acerca de Deus, passássemos para a doutrina da Criação. Contudo, não teríamos uma compreensão mais abrangente sobre a Criação, sem antes focalizarmos a nossa atenção no complexo tema dos Decretos divinos.
Esta doutrina aborda a questão acerca de Deus, antes mesmo de ter criado algo, isto é, antes de Deus ter criado o mundo e o Homem. Houve um momento em que Ele ponderou, intentou e determinou certas coisas, assim como um projectista elabora o plano, antes de iniciar a obra.
Esta doutrina (difícil, mas fundamental) é frequentemente evitada. Contudo, somos recomendados a estudar e a expor a Bíblia na sua totalidade. É fundamental, visto que a Bíblia menciona a verdade de que “certas coisas foram decididas na mente e no conselho eternos de Deus, antes que Ele fizesse qualquer coisa no âmbito da Criação”.
Para entendermos o que a Bíblia ensina acerca desta grandiosa doutrina, devemos elaborar, com base bíblica, alguns princípios orientadores.
Salientamos, ainda, o facto de que, a dificuldade que encontramos quando estudamos algumas porções das Escrituras, não deve ser motivo para nos afastarmos delas ou de as ignorarmos, fazendo de contas que elas não existem.
Um dos grandes males (ou dificuldade) do cristianismo actual e da evangelização contemporânea é o facto de que, não dedicamos tempo suficiente com a doutrina a respeito de Deus. Este facto é de suma importância, visto que quanto mais conhecermos a verdade sobre Deus e a Sua infinita grandeza, mais a nossa alma sente a sua pequenez e se curva em adoração do grande e soberano Eu Sou.
As grandes doutrinas, tais como a Trindade, a Encarnação, ou o Nascimento Virginal revelam a nossa limitação e fraqueza mental. Estas verdades estão além da nossa capacidade de raciocínio, contudo, e por serem bíblicas, devem estimular-nos a nos sentirmos como crianças, dependentes do auxílio dos adultos. Vamos, então, com humildade e sem preconceitos, estudarmos o que a infalível Palavra de Deus nos ensina acerca desta augusta doutrina. Eis os princípios fundamentais (seguindo a sequência lógica sugerida por D. Martyn Lloyd-Jones):

1. Desde a eternidade Deus tem um plano imutável em relação às Suas criaturas (Efésios 1:4; Gálatas 4:4)
Significa que Deus jamais faz algo com indiferença; nada é incerto, acidental, casual ou fortuito em Suas actividades. Tudo o que Deus faz está de acordo com o Seu próprio plano eterno. Ele nunca perdeu o controlo sobre a obra de Suas mãos.

2. O plano de Deus abarca e determina todas as coisas e todos os eventos, de toda espécie, que acontecem.
Significa que, se Ele determinou certos fins, então Ele determina, também, tudo o que conduz a esses fins, isto é, os meios pelos quais os fins são atingidos. Isto inclui, necessariamente, as acções livres e voluntárias dos agentes livres e voluntários (Provérbios 16: 33; 21:1; Mateus 10: 29, 30; Efésios 1:10,11; 2:10; Filipenses 2:13).
Desse maneira, Deus governa, controla e determina os eventos que aparentam aos nossos olhos ser totalmente fortuitos (Provérbios 16:33).

3. As acções pecaminosas estão nas mãos de Deus e debaixo da Sua permissão.
Embora Deus não sejam o Autor ou a causa do mal, nem seja a origem do pecado, de modo algum, Ele, porém, “permite que os agentes perversos o realizem, e então o administra para Seus próprios fins sábios e santos”. Isto é, o mesmo decreto de Deus que ordena a Lei moral, que proíbe e pune o pecado, também permite a sua ocorrência. (Génesis 45: 8; 50: 20; Actos 2:23; 4:27,28). Há na vontade de Deus dois aspectos, distintos mas complementares, que são: o decretório e o permissivo. (a continuar)

4. Todos os decretos de Deus são incondicionais e soberanos.
Quer dizer que eles não dependem, em nenhum sentido, das acções humanas. Os decretos de Deus não são, de modo nenhum, determinados à luz do que Ele sabe que as pessoas irão fazer. Eles são absolutamente incondicionais e dependem, somente, da própria vontade e da própria santidade de Deus. Isto não significa que não exista a realidade de causa e efeito que se verificam na vida. Existem as chamadas acções condicionais ou causas secundárias.
O que a doutrina afirma, porém, é que cada causa e efeito, bem como as acções espontâneas, são componentes do decreto do próprio Deus. Quer dizer que Ele determinou agir daquela forma particular, com a fim de realizar a Sua santa vontade.
Deus decretou que o fim que Ele tem em vista será cumprido inevitavelmente, isto é, que nada poderá impedir o seu cumprimento, frustrá-lo ou mesmo questiona-lo (Daniel 4:35; Mateus 11: 25,26). A Sua vontade é soberana (Efésios 1:5). O Senhor sabe o que faz e fá-lo com toda a liberdade (Romanos 9:11, 13, 15-18).

5. Os decretos de Deus são eficazes.
Sendo Ele o Senhor soberano, necessariamente, e em virtude da Sua omnipotência e da Sua grandeza, os Seus propósitos jamais podem fracassar. Ele cumpre o que decretou. Ele realiza o que prometeu. O Seu plano será plenamente cumprido.

6. Os decretos de Deus são em todos os aspectos, perfeitamente consistentes com a Sua própria natureza sábia, benevolente e santa.
Isto, obviamente, significa que não há em Deus nenhuma contradição. Ele é perfeito e a Sua perfeição é absoluta. Nenhum aspecto da Sua natureza apresenta debilidade.
Apesar de existirem algumas contradições aparentes (isto é, paradoxais) em nossa mente finita, de uma coisa podemos estar certos e que devemos sempre ter em conta, é que Deus jamais é a causa do pecado. A Sua natureza é infinitamente pura e santa (Habacuque 1:13; Tiago 1:13).
É preciso salientar, também, que o propósito de Deus é, em todas as coisas, perfeitamente consistente com a natureza e o modo de agir das Suas criaturas. Há uma conciliação final entre os decretos de Deus e a existência de agentes livres e das acções livres.
Apesar de conceder liberdade às Suas criaturas, não obstante, Ele governa tudo a fim de que os Seus fins determinados possam ser concretizados.
A pergunta que se coloca, portanto, é: como pode Deus decretar tudo e ainda mantermo-nos responsáveis pelo que fazemos? Só existe uma resposta: Romanos 9:20-23. Mas, como podemos conciliar as duas realidades? Racionalmente não podemos. Contudo, está bem claro que a Bíblia afirma as duas coisas. Existe o Homem, como um agente livre, e, por sua vez, existe a verdade de que os decretos eternos de Deus governam todas as coisas, pois Ele é tudo em todos.

7. A salvação dos homens e das mulheres (e a preservação de alguns dos anjos) foi determinada por Deus antes da fundação do mundo.
Ele faz isso de acordo com o Seu beneplácito e com a Sua graça (Mateus 11: 25-26; João 6: 37, 44; Actos 13:48; 2 Tessalonicenses 2:13; 2 Timóteo 1:9).
A nossa tendência em racionalizar tudo (embora a própria razão não seja capaz de fazê-lo) leva-nos sempre a tentar encontrar explicações da parte de Deus acerca da lógica do funcionamento da nossa débil, enferma e limitada mente (Romanos 9:19). Muitos, na tentativa de encontrar uma justificação racional, que defenda a liberdade humana, chegam mesmo ao ponto de acusar Deus de injusto, como se esta atitude mudasse a natureza pura, santa e perfeita de Deus.
Contudo, a verdade bíblica afirma que, se somos filhos de Deus é por que Ele assim o determinou, e o que Ele determinou a nosso respeito é indiscutível, seguro e certo. Eis a razão da segurança que temos acerca da eficácia da nossa salvação. Se a nossa salvação não estiver inteiramente nas mãos de Deus, então, não podemos afirmar, com convicção, que somos filhos de Deus e que temos a vida eterna.
Temos que aceitar as verdades bíblicas com humildade, inundando os nossos corações com elevado senso de gratidão àquele que nos remiu e nos amou, antes mesmo de O termos conhecido (Romanos 5: 8-10), cujo Cordeiro, morto em nosso lugar, foi preparado antes da fundação do mundo (Apocalipse 13: 8; 17: 8).


(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R. C. Sproul; Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones; Teologia Sistemática de George Eldon Ladd e Teologia Sistemática de Wayne Gruden).

A Pessoa do Senhor Jesus Cristo

Todos os verdadeiros cristãos concordariam com a afirmação de que a pessoa do Senhor Jesus Cristo é central e o mais extraordinário facto na história da redenção. Todos os outros aspectos históricos, por muito importantes que sejam, não alcançarão a estupenda dimensão deste facto. Tão extraordinário que ele é, tornou o nosso cálculo histórico (e cronológico) divisível em antes de Cristo (a.C) e depois de Cristo (d.C). A encarnação é, indubitavelmente, o evento central e singular de todo o percurso histórico.
A fé cristã, diferentemente de outras crenças (ou religiões), não pode existir (e subsistir) sem a Pessoa “incontornável” do Senhor Jesus. Ele é absolutamente vital.
A prova da verdadeira fé cristã em cada ser humano reside (e evidencia-se) no facto da pessoa do Senhor Jesus ser, em termos absolutos, essencial para si. A fé cristã não pode existir em alguém em quem o Senhor Jesus não seja essencial. “Ela (a fé) está inteiramente voltada para Ele, para quem Ele é, para o que Ele tem feito e para o que tornou válido e possível para nós” (Lloyd-Jones).
Em certa medida, existe uma espécie de intolerância acerca da fé cristã, isto é, algum aspecto em que não pode haver cedência doutrinária, no que diz respeito aos fundamentos da fé cristã autêntica. Paulo provou este facto em Gálatas 1: 8,9. Tal como fez Paulo, cada cristão sincero, honesto e evangélico deve proceder da mesma forma. Uma atitude diferente e opcional seria uma traição declarada para com Aquele que deu a Sua vida, para tornar possível a salvação ao ser humano perdido e alienado do seu Deus (Actos 4: 12).
Quando alguém afirma que crê em Cristo, temos o dever (amoroso) de averiguar o que a pessoa sabe acerca daquilo que o próprio Senhor Jesus diz sobre Si. Ele disse e fez coisas que devem ser levadas em conta. Tudo foi registado para levar, não a um mero conhecimento intelectual ou admiração mas, à fé (João 20: 31).
Embora a encarnação seja um mistério insondável (por causa da nossa limitada capacidade de compreensão), a Bíblia, graças a Deus, não nos deixa um vazio (1 Timóteo 3:16). Nela encontramos matéria suficiente para nos levar à fé e à obediência. A Doutrina (ou ensino), portanto, é de extrema importância. Ela deve anteceder a conduta e deve regulá-la. A piedade sem entendimento é vaga e não passa de uma religiosidade vulgar, uma espécie de zelo oco e fanático (Romanos 10: 2), que leva, necessariamente, à auto justificação e à rejeição da verdadeira justiça que vem do Deus misericordioso e compassivo (Romanos 10: 3), que justifica o pecador, em Cristo Jesus, mediante a fé (Romanos 10: 4).
A fé cristã baseia-se em factos históricos que podem ser explicados com entendimento. Embora a fé esteja para além do âmbito da razão, elas não contrárias; apenas pertencem a dimensões diferentes. Portanto, o propósito (ou a razão de ser) da fé pode ser explicado com entendimento (IPedro 3: 15).
Podemos, assim, afirmar que o Senhor Jesus Cristo é o cumprimento de todas as profecias e de todas as promessas do Velho Testamento (2 Coríntios 1:20). Ele é, essencialmente, o cumprimento da promessa feita em Génesis 3: 15 e em Génesis 17: 10, 19, facto este confirmado em Gálatas 3:16.
A vinda do Senhor Jesus ao mundo, por meio da encarnação, trouxe glória ao templo reconstruído por Herodes (Ageu2:9); enviou João Baptista para preparar o Seu caminho (Malaquias 3:1); nasceu exactamente no lugar indicado pelos profetas (Miquéias5:2); veio da linhagem da tribo de Judá, como profetizado séculos antes (Jeremias 23: 5,6); o Seu nascimento teve lugar por intermédio de uma virgem (Isaías7:14).

(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C.Sproul, Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd, Teologia Sistemática de Wayne Gruden, Comentário de Génesis de Derek Kidner).

Textos de apoio: João 3: 16; Hebreus 1: 1,2; 3: 5, 6; 9: 10-12
Pastor Samuel Quimputo