COM O SENHOR NO NOSSO MEIO

“Então, disse-lhe: Se a tua presença não for connosco, não nos faça subir daqui”
 (Êxodo 33: 15)

Alguém afirmou que o que torna o céu “um lugar encantador e incomparavelmente maravilhoso é a presença de Deus”. Esta afirmação contém uma verdade bíblica incontestável, visto que Deus é o único ser ontologicamente perfeito, em cuja presença tudo se torna belo e adquire real significado.
As vidas de Adão e Eva ficaram arruinadas porque se afastaram de Deus (Génesis 3:8). A vida de Enoque foi positivamente marcada pelo facto de que ele “andou com Deus” (Génesis 5: 22, 24). Noé foi salvo e poupado do dilúvio que inundou a terra e vitimou quase a totalidade dos seus habitantes. Essa singular salvação do patriarca (e da sua família mais próxima) teve a ver com o facto de que “Noé achou graça aos olhos do Senhor” e, também, porque ele “andava com Deus” (Génesis 6: 8, 9c). O jovem José esteve à altura dos desafios que enfrentou diante do implacável assédio da mulher de Putifar;  sofreu e venceu a injustiça, dentro e fora da prisão; encarou e perdoou os seus invejosos irmãos; demonstrou extraordinária capacidade de gestão socioeconómica da nação mais poderosa do seu tempo, o grande Egito. A explicação bíblica para todo esse sucesso encontra-se no facto de que “o Senhor estava com ele” (Génesis 39: 3,21,23). O próprio Faraó ficou convencido de que “nele se encontrava o Espírito de Deus (Génesis 41: 38).
Ao longo de todo o relato bíblico, o traço que carateriza aqueles que foram usados por Deus, independentemente das suas fraquezas e limitações, é que todos estiveram “perto do Senhor”, aprenderam a andar humildemente com Ele. Podemos, portanto, concluir que o segredo para uma espiritualidade vitoriosa, sadia e equilibrada  encontra-se numa experiência de intimidade com o Senhor (Salmo 25:14).
Moisés, o grande libertador do povo de Israel e mediador humano por meio de quem Deus providenciou o código moral e o padrão de conduta, que revela a santidade e a bondade de Yahweh (Jeová), percebeu, como poucos o conseguem discernir, que o que dá sentido à vida e a torna próspera é a presença e a liberdade de ação do Espírito do Senhor em nós, que proporciona uma experiência de intimidade e de comunhão com aquele que é a fonte de toda a graça e bênção.
Embora a certeza da entrada na terra prometida fosse uma certeza e constituísse motivo de grande alegria, Moisés sabia que só a presença divina, sinalizada com o seu amor fiel e imutável, faria com que tudo adquirisse brilho e se tornasse belo.
O usufruto das bênçãos de Deus sem a presença e a comunhão com o Deus que abençoa pode conduzir à idolatria, que sempre escraviza e dececiona. Para Moisés, a continuação da viagem só faria sentido se o “Grande Companheiro” estivesse presente. Sem Deus  a peregrinação deixaria de ser segura, a terra prometida perderia o seu encanto. Tudo ficaria sem cor e sem graça (Êxodo 34: 9).
Que neste novo ano que se avizinha, a presença do Emanuel se torne mais real e adorne o nosso viver, santifique o nosso serviço e ilumine o nosso caminhar, para bênção de muitos e para louvor do Seu nome. Soli Deo Gloria!                            

Pr. Samuel Quimputo
in Boletim 146
29dez2013

Feliz Natal

Esta noite, em Belém, a cidade de David, nasceu o Salvador - sim, o Cristo, o Senhor.

feito pelas crianças de Sete Rios
ano 2013


O PRÍNCIPE QUE ENCARNA E NOS TRAZ A PAZ


“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso conselheiro, Deus forte, Pai da
eternidade, Príncipe da paz” (Isaías 9:6)

Um dos sentimentos mais devastadores para a personalidade humana é a sensação de intranquilidade interior, sensação essa que nos “rouba” o equilíbrio psíquico e nos “suga” a beleza física. Essa intranquilidade faz com que a nossa visão da realidade seja substancialmente reduzida, levando-nos a perder, gradualmente, a alegria de viver e a motivação para continuarmos a desenvolver a imaginação e a sonhar.
Contudo, a paz, isto é, a tranquilidade interior, gera uma “atmosfera saudável” de bem-estar,  levando aqueles que a sentem a expandir a sua capacidade de amar e de servir os outros, com alegria e com abnegação. Isto só é possível porque a sensação de paz  nos permite exercer a nossa cidadania (dever cívico e moral), no pleno uso das nossas faculdades pessoais.
Embora tudo isso seja verdade, no que diz respeito ao equilíbrio da personalidade humana, sabemos pelo ensino da Palavra de Deus que a verdadeira paz só pode ser experimentada quando (e só quando) o ser humano é reconciliado com Deus.
A Bíblia declara, sem reservas, que todo o homem não reconciliado com Deus vive num estado de inimizade com Ele (Romanos 5: 10; Colossenses 1:21). A paz com Deus só pode ser experimentada por meio da fé na obra redentora realizada na cruz do Calvário (Romanos 5: 1; Colossenses 1: 20).
O profeta Isaías anunciou, com uma antecipação desconcertante, que o menino  nascido seria, entre outras categorias, o Príncipe da paz, aquele que serve de mediador entre o Deus Santo e o pecador desesperado e perdido.
Mesmo sabendo que a profecia tinha como primeiro e imediato foco o filho da profetiza, sinal de garantia da proteção divina sobre Judá (Isaías 8: 3), ela se desdobra e se cumpre plenamente em Cristo, visto que nenhuma criança nascida em Israel foi identificada como “Deus poderoso” ou “Pai da eternidade”.
Embora o próprio Senhor tenha afirmado que não viera para estabelecer paz, mas, sim, dissensões entre os homens (Lucas 12: 51), o contexto das suas palavras mostra-nos o facto de que tais dissensões resultam da própria natureza do conflito entre os dois reinos (reinos espirituais), que entram em colisão sempre que um membro da família seja introduzido no reino de paz e de amor, pelo poder do sangue de Jesus.
Contudo, o Senhor continua a ser o Príncipe da paz, visto que o seu sangue vertido na cruz, em obediência ao Pai, estabelece a base sobre a qual a verdadeira paz é implementada. Não é de estranhar, portanto, que no momento do anúncio do seu nascimento, os anjos declarassem aos pastores que esse advento era a proclamação da “paz na terra entre os homens” (Lucas 2: 14).

Louvemos, pois, ao Senhor, nosso Deus, por nos ter conciliado consigo mesmo, na pessoa do Seu amado Filho (2 Coríntios 5: 19, 20). Exaltemos todos o Príncipe da paz! Celebremos o nascimento do grande Rei! 

Soli Deo Gloria!                          

Boletim 145 
01 dez 2013

o bolo do 15º aniversário


Para os que estiveram connosco, das mais variadas formas,  em celebração, o nosso obrigado

fotografia e confecção da família Menezes

EVANGELISMO BÍBLICO: TRÉGUAS OU RENDIÇÃO?

“E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: 
Que faremos, irmãos?” (Atos 2: 37)

Martinho Lutero, uma das mais destacadas figuras da Reforma Protestante do século XVI, afirmou que, tendo em conta a facilidade com que o homem se afasta da verdade, a Igreja do Senhor Jesus devia fazer, ciclicamente, uma autoavaliação, de modo a ver quão próximo ou distante se encontrava da verdade das Escrituras, relativamente às doutrinas fundamentais da fé cristã e à conduta que devia pautar o viver diário dos seus membros, na qualidade de seguidores de Cristo.
Segundo Lutero, a Igreja devia realizar “reformas internas” que a protegeriam de tendências nocivas que a podiam levar a desviar-se da sua identidade apostólica, centralizada em Cristo. A autoavaliação periódica protegê-la-ia dos perigos do sincretismo religioso, de desvios doutrinários e de toda a influência prejudicial à preservação da pureza do evangelho bíblico.
O conselho de Lutero reveste-se de grande relevância nos dias de hoje, onde impera o relativismo absoluto (ou quase), o determinismo materialista, o sincretismo religioso e o liberalismo teológico (ainda resistente) .
Um exemplo prático, e bem evidente à vista de todos, é a mudança do paradigma bíblico, no que diz respeito ao evangelismo atual, fortemente influenciado pelo movimento carismático do início do século XX, centralizado no homem e nos dons espirituais (Carismata, Carismata), fazendo dele a causa e o centro de toda a proclamação do evangelho da salvação, em vez de Deus e da sua glória.
Nesta nova abordagem “evangelística”, o amor de Deus é apresentado de  forma isolada do resto dos atributos divinos, apelando ao ouvinte que creia na mensagem, que aceite Cristo no seu coração, contudo, sem ser desafiado a reconhecer o seu pecado, a sua culpa e a sua incapacidade de salvar-se a si mesmo.
Essa mensagem suave, elaborada ao “gosto do cliente e do consumidor”, que não leva o pecador a  sentir-se compungido em seu coração e a clamar, com todas as suas forças: “que farei?”, em sinal de desespero diante da suprema santidade de Deus e da Sua justa indignação (diga-se, ira), afasta-se grosseiramente do padrão bíblico (João 3: 36; Romanos 1: 18).
O método bíblico de evangelização, representado pela pregação do apóstolo Pedro, no dia de Pentecostes, é aquele que desafia o pecador perdido e o convida ao arrependimento e à rendição completa Àquele que pode perdoar os pecados e conceder vida eterna, vida essa outorgada com o dom do Espírito Santo (Atos2: 38).
O padrão bíblico de pregação mostra-nos, com toda a clareza, que enquanto o evangelho era proclamado com amor e com verdade, os pecadores eram confrontados com o Deus santo e justo, que um dia irá julgar o mundo, por meio do varão perfeito, o Seu Filho amado, o Senhor Jesus (Atos 17: 30, 31).
Portanto, proclamar o evangelho da salvação não é declarar tréguas entre Deus e o  pecador, mas sim convidar o pecador a render-se, em humildade, diante do único Deus que salva e perdoa, pela Sua maravilhosa graça.

Soli Deo Gloria!      

Boletim 144 
27 out 2013

A PROFECIA QUE PROTEGE E PRESERVA

“Onde não há profecia, o povo se corrompe, mas o que guarda a lei, esse é bem-aventurado.” 
(Provérbios 29: 18)

Quando a questão da espiritualidade bíblica, autêntica, é discutida, é frequente a polarização de opiniões entre os que destacam a importância singular da doutrina (teologia correta ou ortodoxia) e aqueles que sobrevalorizam a experiência (conduta certa ou ortopraxia), cada um dos grupos procurando provar que o seu ponto de vista é o melhor e o mais relevante para o testemunho cristão.
Uma cuidada leitura da Bíblia, particularmente em textos onde há instruções claras sobre o modo correto de se viver a fé e de agradar a Deus, provará que as duas perspetivas se complementam mutuamente, embora obedeçam a uma ordem lógica e teologicamente coerente, onde, a doutrina, salvo raras exceções,  aparece sempre como a força orientadora do modo de viver.
Uma das causas da atual crise de identidade cristã, prende-se com a confusão doutrinária que tem vindo a assolar as nossas igrejas (por culpa dos seus líderes), levando os seus membros a sobrevalorizar a doutrina (ou ensino teológico) em detrimento da boa conduta, ou a optar por uma espiritualidade definida pela experiência (conduta), que menospreza a doutrina, mesmo que essa experiência não possa ser sustentada pelo ensino das Escrituras.
As epístolas do Novo Testamento, escritas com o propósito de instruir comunidades de fé recém formadas, dão-nos uma boa orientação acerca dessa questão  determinante para uma vivência de fé sólida e equilibrada.
De um modo geral, a doutrina (ensino), que estabelece o conteúdo das verdades a serem cridas, deve desempenhar o seu papel orientador e delimitador da conduta e da experiência a ser vivida. Quer isto dizer que qualquer modo de vida considerada aceitável, do ponto de vista dos crentes, deve sempre passar pelo crivo do ensino claro das Escrituras. Assim, a conduta deve ser moldada pela orientação doutrinária.
Os apóstolos e os profetas, considerados o fundamento do edifício santo que constitui a família de Deus, são os mensageiros autorizados por Deus para orientar o Seu povo, por meio da revelação (Efésios 2: 20; 3:5).
Quando o escritor de Provérbios afirma que “onde não há profecia, o povo se corrompe”, pretende ensinar-nos a verdade de que onde não existe ensino, revelação da vontade divina, diga-se, doutrina, o povo perde as referências para viver dentro dos limites estabelecidos e, consequentemente, entra num processo crescente de confusão doutrinária e ética e de degradação moral.

A revelação da vontade de Deus (profecia), consubstanciada na Palavra escrita, serve de âncora na preservação da fé do povo redimido, contra as heresias e práticas religiosas não bíblicas, contribuindo, desta forma, para uma experiência feliz  que evidencia o fruto do Espírito. 
Soli Deo Gloria!  
in Boletim da igreja nº 143
29 setembro 2013

PALAVRA, MUDANÇA E DISCÍPULOS


“E crescia a palavra de Deus, e  em Jerusalém se multiplicava muito o número dos discípulos, e grande parte dos sacerdotes obedecia à fé.” (Atos 6: 7)


Vivemos num tempo de mudanças rápidas e constantes que, muitas vezes e de várias maneiras, não nos permitem desfrutar e “digerir as novidades durante um período de tempo relativamente suficiente para as desfrutar e “digerir”. Quando começamos a habituar-nos ao que nos é apresentado como a solução mais eficaz para satisfazer as necessidades do momento, eis que surge, algures, outra notícia da última novidade, enfeitada com o mais sofisticado knowhow publicitário, capaz de convencer até o mais cético dos consumidores. O resultado desse tipo de “amor pela novidade” afeta negativamente a nossa capacidade de admirar o durável, de apreciar o que permanece e de nos deixarmos encantar pelo eterno, tornando-nos presas fáceis de um pragmatismo compulsivo, promovido e incentivado pelos “vendedores da última novidade”.
A Igreja dos nossos dias, formada (como é óbvio) por pessoas do nosso tempo, sujeitas à pressão e à persuasão dos media, tem vindo a tentar adaptar-se ao “curso natural deste mundo”, onde o desejo de mudanças rápidas se destaca como a mais relevante das marcas da sua identidade.
Contudo, qualquer igreja que queira prosperar na sua missão de ser sal e luz, numa sociedade desequilibrada e em crise de identidade própria, deve permanecer firme, mantendo-se inabalável sobre o alicerce colocado pelos apóstolos, cuja pedra principal é o próprio Senhor Jesus (Efésios 2:20; 1 Pedro 2:4,5).
Embora as mudanças façam parte de qualquer processo de desenvolvimento natural de um organismo vivo, elas devem ser promovidas e sustentadas pelo poder transformador do Espírito Santo, que opera no interior da alma, e devem apoiar-se nas claras orientações da Palavra revelada de Deus.
Quando a Palavra é exposta fielmente no seio da igreja reunida, ela exerce uma influência reguladora de todo o contexto de culto, permitindo que o Espírito Santo atue, com poder e liberdade, em cada congregado, proporcionando a todos um excelente ambiente de bem-estar e de crescimento saudável.
É a mudança produzida pela influência da pregação biblicamente alicerçada que faz com que as igrejas sejam formadas de verdadeiros discípulos do Senhor Jesus, cujas vidas revelam sinais inequívocas da obra graciosa de transformação contínua, que o Espírito Santo, cuidadosamente, vai realizando no seu interior.
Concluímos, pois, que a mudança legítima e sustentável que deve ocorrer na igreja do Senhor Jesus (e na vida de cada crente) é aquela que resulta da operação realizada pelo Espírito Santo, por intermédio da exposição clara e fiel das Escrituras. Esta mudança é a verdadeira marca que carateriza os seguidores de Cristo, cujas vidas revelam fé e graça. 
Soli Deo Gloria!                           
Pr. Samuel Quimputo
in boletim da igreja 142
1 de setembro 2013


Eutanásia: Perpectiva Ética, Médica e Cristã


Convite

No próximo domingo dia 26 de Maio, às 16h vamos ter o privilégio de contar com a presença do Dr Jorge Cruz que nos guiará numa reflexão sobre

Eutanásia:
Perspetiva Ética, Médica e Cristã

Tratando-se de um tema da maior atualidade, gostaríamos de convidar-vos a estarem presentes, nas nossas instalações

A entrada é Livre

JORGE CRUZ licenciou-se em Medicina em 1992 no Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto.
É especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular desde 2001 e exerce atividade clínica no distrito do Porto.
Mestre em Bioética e Ética Médica pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (2004).
Doutor em Bioética pela Universidade Católica Portuguesa (2012). 
Diretor Associado da PRIME - Partnerships in International Medical Education, promovendo ações de formação em Portugal e países de língua oficial portuguesa.
Autor dos livros Morte Cerebral - Do Conceito à Ética (Climepsi, 2004) e Que Médicos Queremos? Uma abordagem a partir de Edmund D. Pellegrino (Almedina, 2012).
Foi Presidente da Direção da Associação Cristã Evangélica de Profissionais de Saúde (ACEPS-Portugal) de 1997 a 2012.
É membro do Centro Evangélico "O Caminho", em Ermesinde.
É casado e tem 2 filhos
É autor do blog Falemos de Saúde


REDESCOBRINDO A FAMÍLIA DE DEUS

“Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus”  
(Efésios 2: 19) 

Uma das mais importantes faculdades com as quais a nossa personalidade humana é munida é, sem sombra de dúvida, a  memória, que exerce a função de “conservar” a experiência anterior da nossa existência.
A memória é determinante na aquisição da consciência da nossa identidade pessoal. É através dela que reconhecemos quem somos e nos distinguimos de outros. A faculdade da memória fornece-nos o registo (no espaço e no tempo) da nossa própria história, estabelecendo o elo de ligação entre o passado e o presente, evidenciando, deste modo, a nossa singularidade pessoal.
Sempre que ocorre algum distúrbio, que impeça (ou dificulte) a memória de exercer a sua função de “registar e de conservar” , de forma organizada, as experiências vividas, a nossa identidade corre sérios riscos visto que, em última instância, a consciência da própria existência está intimamente relacionada ao registo histórico da nossa memória, num dos arquivos mais sofisticados do que o de qualquer computador, alguma vez inventado.
A Igreja dos nossos dias, afetada por uma profunda crise de identidade, encontra-se à deriva, em busca de um ponto de referência seguro, capaz de mantê-la estável diante das constantes oscilações da cultura pós-moderna, caraterizada, sobretudo, pelo seu relativismo acrítico.
Uma das causas da atual “crise de identidade” que assola a Igreja dos nossos dias, é a sua recusa em conservar os fundamentos sobre os quais os apóstolos, os pais da igreja que os sucederam e os reformadores (do séc. XVI) alicerçaram a sua experiência de fé, isto é, o papel regulador das Escrituras e a sua singular importância na orientação da vida.
Embora, aparentemente, a Igreja dos nossos dias se revele missionária, mais voltada no alcance dos perdidos, ela perdeu uma das caraterísticas mais relevantes da sua identidade - ser a família de Deus.
Entre as várias analogias usadas nas Sagradas Escrituras acerca da Igreja do Senhor Jesus, a da “família” assume-se como aquela que melhor destaca o valor e a importância dos relacionamentos humanos.
Para melhor desempenhar a sua “missão” de anunciar as boas-novas a um mundo perdido e alienado de Deus, a Igreja deve reconhecer e valorizar a sua própria identidade. Ela deve funcionar como uma verdadeira família, onde os constituintes se relacionam de um modo equilibrado, proporcionando aos novos membros da família um ambiente saudável para o seu crescimento holístico e sustentável.
A igreja, como família de Deus, deve promover uma visão comunitária, onde cada membro se sinta envolvido na criação de condições necessárias, para que todos encontrem o seu “campo” de serviço, contribuindo, dessa forma, para o bem comum.
Quando a Igreja do Senhor Jesus funciona como uma verdadeira família espiritual, então, estarão criadas as condições ideais para a manifestação do poder do Espírito Santo, trazendo para dentro dessa mesma família, novos “filhos”, nascidos de novo e necessitados de cuidado, amparo e amor, elementos preponderantes para o seu crescimento pessoal (Atos 2: 46,47).
Que o Senhor desperte em nós a vontade e a determinação de contribuir, de forma sábia, fazendo com que a nossa comunidade de fé seja um “espaço” onde todos se sintam amados e integrados na família local de Deus. 
Soli Deo Gloria!  
Pr. Samuel Quimputo
Boletim 138
28 de abril 2013

Cumprindo a missão de Deus


Quão formosos sobre os montes são os pés do que anuncia as boas-novas, que proclama a paz, que anuncia coisas boas, que proclama a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina”  
(Isaías 52:7) 

Os factos históricos relatados nas páginas das Sagradas Escrituras constituem aquilo que se denomina “História da Redenção”. Esta terminologia deve-se ao facto de que esta História Sagrada, procura destacar os momentos mais importantes da intervenção de Deus na criação, por meio de um processo gradual de auto-revelação divina.
Ao longo dos séculos Deus, na sua soberania, vem realizando o seu eficiente plano de salvação, chamando e usando homens e mulheres, na qualidade de agentes secundários, mas ativos, no cumprimento da sua soberana vontade, com o propósito último de levar a criação caída a uma experiência final de redenção e de restauração.
Este projeto de dimensão cósmica realiza-se através da manifestação do poder divino, ao chamar homens e mulheres, de todas as tribos e nações, a fim de formarem um reino sacerdotal, cuja natureza consiste na partilha do caráter e da identidade do próprio Deus, e cuja missão é a de anunciar as virtudes (beleza e excelência moral) daquele que liberta o homem e o cura da sua cegueira espiritual(1 Pedro 1:14-16; 1 Pedro 2: 5, 9).
Se a natureza desta nova comunidade de fé, formada por homens e mulheres regenerados pelo poder do Espírito Santo, se evidencia pela marca distintiva da santidade de vida e por uma constante atitude de devoção e de adoração  a Deus, a sua missão materializa-se e se cumpre por meio do anúncio das boas-novas a todos os que vivem alienados de Deus e escravizados pelo poder do maligno, a fim de que conheçam aquele que é a fonte da verdadeira vida e experimentem a multiforme graça do bom Pai.
Isaías afirmou que os pés daqueles que anunciam as boas-novas de salvação são “formosos”, “suaves”, “belos”, querendo com isto dizer que os portadores das boas-novas são bem-aventurados e abençoados por se envolverem   no maior e mais importante empreendimento humano, de escala mundial.
“Formosos”, “suaves” e “belos” são os pés de homens e mulheres que, tendo a consciência da urgência da missão, se apressam a anunciar a mais importante notícia alguma vez ouvida.
Ao tornarem conhecidas as boas-novas, os crentes, alcançados pela graça de Deus, anunciam a paz de Deus, proclamam a salvação que Ele oferece e afirmam a veracidade do seu Reino sobre o universo.
Com esta declaração de Isaías, que expressa de um modo singular a missão do povo de Deus, concluímos que fazer missões é, acima de tudo, o compromisso de proclamar as boas novas, as boas notícias de que há um Deus que, por meio da fé em Cristo, justifica o ser humano, concedendo-lhe a Sua paz, que há um Deus que salva e livra do pecado e do mal, e que há um Deus que reina, cujo governo é eterno e cuja vontade deve ser obedecida na terra como é no céu. É nisto que consiste o anúncio das virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pedro 2:9).
Que o Senhor da missão torne os nossos pés “belos”, “suaves”, “velozes” e preparados para anunciar a mensagem mais importante que os nossos concidadãos devem ouvir. Que ao celebrarmos o mês de missões mundiais, sintamos todos a responsabilidade e o privilégio indizível de participar o grande plano de Deus, que deseja salvar a todos os homens e mulheres (sem distinção) sejam salvos, pela pregação da mensagem da cruz. Soli Deo Gloria!                 
Pr. Samuel Quimputo
Boletim 137, 31 março de 2013

SOMOS, APENAS, MORDOMOS


Contudo, pouco menor o fizeste do que Deus e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo; as aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares.” 

Salmo 8: 5, 6) 


Não há no mundo literatura que desafie tanto a inteligência humana como a Bíblia. É impressionante a forma como ela penetra o âmago da mente do ser humano, desafiando-o a repensar e  reformular os seus pressupostos que estão na base da sua ciência e a reinterpretar a história da sua existência.
A forma simples, mas penetrante, como o faz, confirma a veracidade da sua origem sobrenatural e divina; facto esse que nos leva, a todos quantos desejamos entender a sua mensagem, a assumirmos uma postura de “aprendizes” e a adotarmos uma atitude de humildade diante da Palavra, que tudo sonda e perscruta (Hebreus4:12,13).
Ao penetrar os meandros da mente humana, a Bíblia impulsiona-nos  e predispõe-nos a refazer (e reformular) toda a nossa construção mental no que diz respeito a nós mesmos, ao mundo que nos rodeia, ao propósito da nossa existência e, por fim, ao papel que devemos desempenhar na nossa relação com o Criador e com a Sua criação.
O salmo 8 é um grito de adoração ao Deus da glória que se revelou, manifestando a Sua majestade nos céus e na singularidade da criação do ser humano, obra prima da Sua cândida capacidade de “invenção”.
Ao mesmo tempo que eleva a glória divina e a excelência da Sua obra, Davi, sob inspiração divina, revela-nos algo que contraria toda a teoria que considera o ser humano como resultado de um processo evolutivo, meramente mecânico e acidental que, com o tempo, se foi diferenciando do resto dos outros animais, até se tornar um homo sapiens, capaz de criar e de apreciar a arte.
Segundo o ensino claro das Escrituras, corroborado pelo grande  poeta e rei Davi, o Homem foi criado de modo diferente, distinto do resto dos seres vivos. Ele foi criado acima dos mesmos e pouco menor (ou abaixo) do que Deus (elohim) ou dos anjos (segundo a tradução da Septuaginta) (v.5).
Esta afirmação demonstra, por si só, que desde o princípio da criação, o ser humano foi distinguido e diferenciado do resto dos seres vivos criados, e que, por causa dessa relativa, mas enfática, superioridade, foi incumbido de exercer domínio sobre eles, não como seu dono mas como mordomo de Deus (v.6).
Concluímos, pois, que uma das funções implícitas no propósito que esteve na base da criação do Homem é o de gerir a criação de Deus. O Criador, graciosamente, delegou o governo da Sua criação (em especial do planeta Terra) ao ser que trazia as marcas da Sua própria personalidade: a capacidade controlar, de dominar e de gerir o que fora criado. Com esta incumbência, o Homem tornou-se o gerente-mor dos recursos que  foram colocados ao seu dispor, tornando-o responsável pelo seu cuidado e bem-estar.
Que o Senhor nos dê sabedoria vinda do alto, de modo a gerir da melhor maneira os recursos que vai colocando ao nosso dispor, conscientes de que Ele, e somente Ele, é o Dono e Senhor de toda a criação e nós somos, apenas, seus submissos e privilegiados mordomos. 
Soli Deo Gloria!                  
Pr. Samuel Quimputo
in Boletim 136
24 fevereiro 2013

UMA FÉ FUNDADA NA VERDADE

“E o  averbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigénito do Pai” (João 1: 14)

Ao criar o homem à sua imagem e conforme a sua semelhança, Deus dotou-o de uma impressionante capacidade de pensar, de construir ideias e de estabelecer ligações entre fenómenos, incluindo a capacidade de teorizar com base em possibilidades ainda não testadas.
Mesmo levando em consideração os estragos provocados pela queda da raça humana, por causa da desobediência dos nossos primeiros pais (com maior ênfase em Adão), a busca pela verdade, por meio da observação dos factos, da investigação dos processos e da verificação dos resultados, continua a ser o maior empreendimento dos descendentes de Adão.
Na abordagem da verdade, a linguagem humana ocupa um lugar de importância basilar, visto que as palavras pronunciadas são portadoras de pensamentos que, por sua vez, comunicam a verdade por meio de proposições.
Tudo o que expressa um elevado grau de coerência e de profundidade intelectual, denuncia a existência de uma mente por detrás  dos resultados obtidos. Todo o quadro epistemológico tem como pano de fundo o conceito e a realidade da verdade. Aliás, podemos afirmar, com toda a certeza, que todos os relacionamentos humanos ( em todas as dimensões da sua existência) são sustentados pela premissa da verdade.
De um modo peculiar, a espiritualidade cristã sustenta-se pela noção de verdade e encontra o seu equilíbrio tendo como fundamento a própria verdade.
É ela que faz da espiritualidade cristã uma experiência única e consistente. É a verdade que estabelece o padrão, a partir do qual a fé, a adoração, a vida comunitária e o comportamento dos comungantes são avaliados. É pela verdade que os benefícios da fé (tais como a paz e a liberdade) são experimentados e gozados plenamente (João 8: 31,32).
A singularidade da espiritualidade cristã faz-se evidente na medida em que as Escrituras apresentam o Senhor Jesus, não só como o maior conhecedor ou a fonte de toda a verdade, mas também como a própria encarnação e a personificação da mesma (João14:6).
João diz que o Verbo que (no princípio) estava com Deus e que era Deus (João 1:1), agora estava no mundo (João 1:10). Esta presença física do Filho de Deus deu-se por meio da encarnação (João 1:14), uma presença marcada, profusamente, pela graça e pela verdade (João 1:14).
Embora, por meio da lei e dos pronunciamentos proféticos, a graça e a verdade já estivessem presentes e já fizessem parte da espiritualidade do remanescente crente, em Israel, a sua plenitude só se tornou uma realidade com a vinda do Verbo encarnado, o Cristo de Deus (João 1:17).
Concluímos, pois, por dedução lógica, que a fé bíblica, com todas as variáveis que lhe são inerentes, deve estar fundamentada na verdade. É a partir da Palavra inspirada, com todas as suas verdades proposicionais (que formam a espinha dorsal da doutrina cristã) que a adoração, o serviço e a comunhão dos crentes encontram (e devem encontrar) o seu padrão de medida.
A verdadeira fé, depositada naquele que é a própria encarnação da verdade, deve caraterizar-se pelo amor à verdade que está em Cristo.
Toda a formação teológica deve ter como motivação e propósito pedagógico, o desejo (gracioso e redentor) de levar homens e mulheres ao conhecimento do Pai, pelo caminho da cruz, ensinando toda a verdade revelada nas Escrituras, com reverência e com convicção.
Soli Deo Gloria.                                                                                   
                                                                                         
Pr. Samuel Quimputo
in Boletim 145
27janeiro2013

ESPERANDO COM CONFIANÇA NO SENHOR


Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? 
Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação que há na sua presença 
(Salmo 42: 5)

O Ser Humano, criado no tempo, vive e orienta-se dentro da realidade do próprio tempo. Em certa medida, a sua identidade é determinada pela forma como se enquadra no “esquema” dos três momentos: passado, presente e futuro.
Embora os três momentos estejam essencialmente ligados, existem algumas diferenças quando à sua avaliação.
Embora o presente possa explicar o passado, com algum grau de precisão, não o pode fazer em relação ao futuro, visto que este só se torna uma realidade na medida em que se transforma no presente.
Contudo, mesmo tendo a consciência da incerteza do futuro, o ser humano aguarda-lo com expectativa e com alguma esperança. De um modo geral, quanto mais difícil é o presente, maior é a expectativa de um futuro melhor. Porém, às vezes, as dificuldades do presente tendem a obscurecer a nossa visão da realidade, tirando-nos a base emocional para abraçarmos um futuro melhor.
O autor humano dos salmos 42 e 43 (que em muitos manuscritos do Texto Massorético são considerados como um único poema) revela-nos uma das experiências mais penetrantes da alma e do espírito humanos, evidenciando os três momentos do tempo, enquanto um terrível conflito interior o dominava.
O estabelecimento de um diálogo com a sua própria alma traduz-se num dos exercício racionais mais profundos para o alcance da verdadeira sabedoria. Esta perspetiva hebreia (ou melhor, semítica) de análise psicológica é uma das formas de introspeção mais prescrutadoras do verdadeiro “eu”.
Três vezes o salmista formula a pergunta: “por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim?” (42: 5,11 e 43:5). Significa que no momento em que faz a pergunta, ele não se encontra livre de tudo o que o perturba e o aflige, as dificuldades ainda “estão lá”, os problemas ainda não foram resolvidos. Contudo, impulsionado pela esperança de um futuro melhor, que descansa na providência e no cuidado de um Deus que pode socorrer, este crente piedoso confronta a “sua alma”no sentido de descobrir as razões do seu pânico e da sua agitação. Que visão da vida nos transmite o salmista!
O mais impressionante é o “conselho” que ele dá à sua alma. Por outras palavras, o salmista diz ao seu “eu” mais profundo que a única solução para a verdadeira tranquilidade interior é a espera confiante  num Deus que auxilia a todos os contritos e quebrantados de coração, em cuja presença há salvação.
Eis a razão pela qual o salmista deixara bem explícito, logo no início do seu poema,  o maior desejo da sua alma - Deus. Tal como o catecismo escocês afirma: “o principal propósito do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”, o salmista deseja usufruir a presença de Deus e alegrar-se na Sua graça.
Concordo com John Piper quando afirma que “Deus é mais glorificado em nós quando somos mais satisfeitos nele”. Aliás, este é o lema que expressa a visão da sua vida e do seu ministério pastoral.
Ao terminarmos este ano de 2012, com todos os momentos nele vividos e prestes a encarar um dos mais conturbados anos da história da democracia portuguesa (segundo algumas previsões), aprendamos, com o salmista, a dialogar com a nossa alma, no sentido de ensiná-la a confiar, esperar e a descansar naquele que conhece, de um modo completo, o passado, o presente e o futuro, aquele que é o Senhor da História e das nossas vidas, que tranquiliza a alma inquieta, que auxilia a alma em agonia, cuja presença satisfaz o coração e outorga salvação. Encaremos o futuro com confiança!

Soli Deo Gloria.

                                                                                          
Pr. Samuel Quimputo 
in Boletim 132
30 dezembro 2012