CONHECENDO O DEUS DA PALAVRA

O meu povo está sendo destruído porque lhe falta conhecimento”

(Oséias 4: 6a)


Os povos semíticos (particularmente os hebreus) traçavam uma clara distinção entre o conhecimento e a sabedoria. Para eles, a sabedoria envolvia não apenas o aspecto intelectual, uma espécie de compreensão puramente teórica, mas significava a “aplicação prática” daquilo que tinha sido percebido em termos puramente teóricos. Por outras palavras, o sábio era alguém capaz de agir de um modo prático, aplicando o conhecimento  adquirido intelectualmente.

Uma pessoa que fosse possuidora de um profundo conhecimento intelectual, mas que não agisse, na prática, de acordo com o que sabia, era tida como não sábia. Ser sábio, portanto, implicava moldar os actos, as atitudes e o comportamento à dimensão do conhecimento intelectual adquirido.

Por sua vez, o conceito semítico de conhecimento, embora envolvesse o aspecto intelectual (ou seja, entendimento), representava muito mais que uma simples capacidade de percepção ou de compreensão do objecto a ser conhecido. Estava incluído nesse conceito um elemento de cariz afectivo e emocional.

É exactamente esta perspectiva, que envolve os aspectos afectivo e emocional, que predomina no texto bíblico, sobretudo quando se refere ao relacionamento de Deus com o povo de Israel, ou quando se trata da relação conjugal entre um homem e uma mulher (ex. Isaías 55:5; Jeremias 9:24; Amos 3:2; Mateus 1:22; 7:23; João 17:25). Não é possível interpretar estas passagens de um modo razoável, a não ser que o conceito de “conhecimento”, nelas mencionado,  envolva aspectos afectivos (e emocionais).

O profeta Oséias, ao longo do relato do histórico, exorta e instiga o povo de Israel ao arrependimento, na tentativa de convencê-lo a voltar-se para Deus.

Enquanto este se ia afastando do seu Libertador, e por isso sofrendo as duras consequências dos seus actos e das suas escolhas, Oséias, na qualidade de porta-voz de Deus, apresenta-nos o diagnóstico divino e a causa primária do desastre sociopolítico, moral e espiritual que povo experimentava.

Para Oséias, o povo de Israel (que incluía as 10 tribos do Norte) estava a viver aquela calamidade por causa do seu afastamento de Deus. Na linguagem usada pelo profeta, esse afirma que o povo estava a ser destruído por falta de conhecimento. Aqui, conhecimento deve ser entendido como uma boa e saudável relação com Deus, isto é, uma relação afectiva que resulta do entendimento daquilo que Deus é, em Seu ser e carácter, e da Sua bondade para com o Seu povo.

Por outras palavras, o povo estava a perecer por ter rejeitado as orientações do seu Deus, que só podiam ser conhecidas através da leitura, da meditação e da obediência à Sua lei (Oséias 4:6c), visto que não é possível amar a Deus longe da esfera de acção da Sua Palavra. Não existe experiência cristã genuína e equilibrada onde a Palavra de Deus, que nos revela esse mesmo Deus, esteja ausente ou seja irrelevante (João 14: 21,23).

Podemos afirmar que a saúde e a maturidade espirituais são directamente proporcionais ao apego à Palavra inspirada, de Deus, por meio da qual somos santificados (João 17:17). Este equilíbrio é inevitável!

Oséias insiste, afirmando que o conhecimento de Deus, isto é, uma relação íntima, afectiva e reverente, é mais importante do que uma religiosidade racional, externa e formal (Oséias 6: 3,6). Por sua vez, é a Palavra de Deus, a Sua revelação especial, que nos oferece um entendimento correcto e mais profundo do ser e do carácter daquele a quem devemos conhecer por meio da fé, com amor, afecto e santa reverência.

Que o nosso apego à Palavra de Deus, guia infalível para a vida, nos aproxime, cada vez mais, ao conhecimento do grande “Eu Sou”.

Soli Deo Gloria!

                                                                                                            Samuel Quimputo
Boletim nº 119
25 de Setembro de 2011

O DEUS-HOMEM: A DOUTRINA

Depois de termos estudado a doutrina da Encarnação do Senhor Jesus e da Sua Divindade (ou eidade), é chegado o momento de estudarmos a Doutrina da Sua dupla natureza. Para tal, é preciso começarmos com a difícil (e muitas vezes mal compreendida) doutrina da Sua subordinação ao Pai.
O Novo Testamento, em várias ocasiões, afirma a subordinação do Filho ao Pai. Por isso, é de extrema importância a compreensão do significado bíblico dessa verdade, visto que na nossa cultura (ocidental e pós-moderna) a subordinação é vista como sinónimo da inferioridade. Ser submisso a alguém é considerado como assumir um estatuto de inferioridade (e de pequenez) em relação a ele.
Com base nesta perspectiva, e com algum apoio linguístico, ser subordinado a alguém é estar “debaixo” da sua autoridade. Um subordinado não está no mesmo escalão (ou patamar) daquele a quem se submete. O prefixo “sub” significa “sob”, e “super” significa “sobre” ou “acima de”.
Contudo, no plano divino e no que diz respeito a doutrina da redenção, o Filho voluntariamente assume o papel da subordinação ao Pai. É o Pai que envia o Filho ao mundo; e Este obedientemente vem à Terra para fazer a vontade do Pai. “Não há nenhum senso de obediência relutante” (R. C. Sproul) (Filipenses 2: 5 – 11).
Na Trindade, todos os membros são iguais em natureza, em honra e em glória. São eternos e possuem, todos, existência própria; partilham todos as mesmas características e todos os atributos da deidade.
Tal como o são em glória, o Pai e o Filho são um em sua vontade. “O Pai deseja a redenção tanto quanto o Filho. O Filho almeja realizar a obra da salvação, assim como o Pai almeja que Ele o faça” (R. C. Sproul) (João 2:17; 4:34).
Toda a subordinação do Filho ao Pai se realiza no processo da Sua missão como Redentor da Humanidade. É nesse contexto (e nesta condição) que assume a Sua subordinação ao Pai.
Vejamos, então, as provas bíblicas dessa verdade acerca do Senhor Jesus: 
1.      Ele disse explicitamente que o Seu Pai (o Pai) é maior do que Ele (João 14: 28);
2.      Ele é descrito como o Unigénito (o primogénito da herança do Pai” (João 3: 16; Colossenses 1: 15); é também descrito como tendo sido “gerado” pelo Pai (Sal. 2: 7; Actos 13: 33; Hebreus 1: 5; 5:5);
3.      Ele afirmou que vivia pelo (por causa do) Pai (João 6: 57); 
4.      Afirmou também que tinha sido enviado pelo Pai (João 6: 39; 8:29); 
5.  Ele recebeu o mandamento do Seu Pai acerca de tudo o que deveria fazer, na qualidade de Seu enviado (João 14: 31; 10:18); 
6.  Da mesma forma, Ele afirmou ter recebido a Sua autoridade do Pai (João 5: 26, 27); 
7.      O Filho nada podia fazer independentemente do Pai (João 5: 19). Esta verdade revela de um modo singular a dependência e a subordinação do Filho ao Pai;
8.      A mensagem que ensinava vinha do Pai (João 8: 26, 28; 14:10); 
9.      As obras que realizava eram realizadas pelo Pai, por Seu intermédio (João 14: 10; 17:4); 
10.  O Seu reino era um reino que lhe tinha sido outorgado (destinado ou confiado) pelo Pai (Lucas 22: 29); 
11.  Depois da conclusão da Sua missão, Ele entregará o reino ao Pai e Ele mesmo se sujeitará ao Pai (I Coríntios 15: 24, 28); 
12.  Paulo afirmou que o Pai é a cabeça do Filho (I Coríntios11:3); 
13.  Ele leva-nos (e traz-nos) a Deus, o Pai (Hebreus 2: 10; Jud.24).


(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R.C.Sproul, Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones, Teologia Sistemática de George Eldon Ladd, Teologia Sistemática de Wayne Gruden)

Pastor Samuel Quimputo