ORIENTADOS PELA PALAVRA

Uma cuidada leitura da passagem do texto bíblico em Êxodo 19:1-6 levar-nos-á à perceção do propósito da existência da nação de Israel e da sua missão no panorama mundial, e tudo isso, em cumprimento das promessas feitas a Abraão em Génesis 12:1-3.

Israel, como nação, foi constituída como modelo diante das outras nações, com o objetivo de apresenta-la como “uma montra” a ser contemplada pelas demais, a fim de suscitar nelas o desejo, não só de admirar a sua sabedoria, a justeza das suas leis, mas também de imitar o seu exemplo de adorar um só e único Deus, criador do céu e da terra.

Este propósito é patentemente exposto em Deuteronómio 4:4-8, onde Moisés, à guisa de despedida, exorta o povo, prestes a entrar na terra prometida, a permanecer fiel ao Senhor, que o libertara do jugo egípcio.

Para que Israel preservasse a sua identidade nacional e cumprisse a sua vocação missionária, a de ser luz para as nações, era necessário colocar a Lei de Deus, isto é, a sua Palavra, no lugar de destaque, fazendo com que ela “regulasse toda a vida nacional”, pessoal e coletivamente. Dito de outra forma, a lei que lhe fora dada por um Deus gracioso e bondoso, devia servir de “guia de orientação” constante e de instrumento de diferenciação étnica.

Todos os profetas que falaram em nome de Deus, interpretaram as calamidades que se abateram sobre Israel, incluindo a destruição do templo e o exílio, como resultantes da desobediência do povo eleito, e como  a clara evidência da indignação divina; e a causa primária apresentada por, praticamente, todos eles, era a rejeição do povo em seguir as orientações divinas.

O Deus da Bíblia é um Deus que se revela, principalmente, por meio da sua Palavra. É por meio dela que Ele manifesta a sua vontade e exterioriza os seus “sentimentos”.

Fica claro, portanto, que existe uma estreita relação entre a Palavra de Deus e o relacionamento pessoal e a “saúde” espiritual que deve caraterizar a vida do crente.

O processo de aquisição do conhecimento (diga-se, da intimidade), necessário para o alcance da maturidade espiritual, é assegurado e consolidado pela “familiaridade que se nutre” com a Palavra de Deus.

Vivemos numa época e numa sociedade em que os sentimentos assumem maior protagonismo, relativamente aos pensamentos. Os pilares do Iluminismo, com a sua ênfase na Razão, parece terem colapsado e terem sido    colocados numa gaveta de reserva.

Para muitos, o que faz um culto ser “interessante”, e mais atrativo, é o grau de  emoções que produz nos seus participantes, é o “sentir o momento”.

Para esses, não importa tanto o que se ensina, o lugar e a importância que são atribuídos à pregação e ao ensino da Palavra de Deus. O que determina a “relevância” do culto e do ambiente nele criado é a abundância e a intensidade de sentimentos que proporciona aos adoradores. Logicamente, o que define a qualidade do culto (e a própria relevância da igreja local), passa a ser o sentimentalismo (e às vezes, com entretenimento santo) e a agitação que predominam nos “encontros” e que satisfazem os seus “consumidores”.

Convém deixar bem claro que as emoções, e a legítima manifestação de sentimentos, fazem parte da estrutura da personalidade humana. Alegria, tristeza, medo e ira, para citar apenas algumas, são emoções que acompanham as celebrações do ser humano. Não é possível compreender o amor e a graça de Deus, na medida do possível, sem que essa perceção afete a nossa emoção e suscite sentimentos profundos em nós.

O que está em causa, segundo Deus, por intermédio do seu profeta Oseias, é que o povo é destruído e perde o rumo quando lhe falta o conhecimento que, obviamente, se adquire quando a fé é principalmente “nutrida” pelo ensino da palavra divina.

Sempre que o povo de Deus destaca algo mais, que não seja o próprio Senhor e a centralidade da sua Palavra, vacila e perde a orientação.

Que o bom Deus, por meio do Seu Espírito, nos impeça de negligenciarmos a centralidade da sua Palavra na nossa experiência pessoal de fé e  de vivência comunitária.

Soli Deo Gloria! 
Pr. Samuel Quimputo
Boletim 175
25 set 2016

Seguros nas Mãos do Pastor

A relação de Deus com o seu povo é constantemente ilustrada pela analogia com a vida pastoril, onde Deus se assume como o pastor enquanto que o seu povo é considerado como o rebanho.

Esta analogia é também aplicada à relação existente entre o povo e aqueles que eram chamados por Deus e incumbidos de cuidar o Seu rebanho, na qualidade de seus guias espirituais e de “facilitadores” da caminhada da fé dos demais peregrinos.

Profetas, sacerdotes, juízes e reis pertenciam à mesma categoria de pastores, cujo ministério consistia no cuidado da vida e da saúde espiritual do rebanho do Senhor.

Antes da encarnação do Senhor Jesus , os fariseus e os escribas, peritos em matéria da Lei, eram considerados os guias qualificados para orientar o povo nos “caminhos da espiritualidade”. Contudo, eles não se revelaram suficientemente capazes de desempenhar tão exigente tarefa. E a avaliar pelas contundentes críticas que lhes eram dirigidas pelo Senhor Jesus, o bom Pastor, só podemos concluir que o seu trabalho não tinha sido bem realizado.

Neste texto de João 10, Jesus assume-se como o pastor mais qualificado e capaz de cuidar do seu rebanho, proporcionando-lhe todos os recursos necessários para a manutenção do seu equilíbrio existencial e da sua saúde espiritual.

Porém, ao fazê-lo, Ele traça uma linha divisória e inconfundível, que separa as verdadeiras ovelhas dos lobos que, maldosa e dissimuladamente, se infiltram no seio do rebanho.

Nesta passagem, o bom Pastor destaca os sinais do verdadeiro discipulado , sinais esses que identificam aqueles que foram regenerados pelo Espírito Santo, eficazmente chamados pelo poder da pregação, e que foram integrados no seio do rebanho, no qual amorosamente servem uns aos outros e são edificados na fé; nele também encontram as condições ideais para o seu crescimento saudável, na graça e no conhecimento do Senhor Jesus, Autor e Consumador da sua fé (Hebreus 12:1,2; 2 Pedro 3: 17,18). 

Segundo o diagnóstico feito pelo Supremo Pastor, as suas ovelhas são aquelas que:

 1º -  ouvem a sua voz, isto é, aqueles que aceitam de bom grado as suas reivindicação e obedecem às suas recomendações, procurando seguir as suas orientações. Para Ele, o verdadeiro discipulado carateriza-se , acima de tudo, pela aceitação da liderança do Mestre, por meio do seu ensino.

 2º - seguem os passos do seu Pastor; aqueles que, por cultivarem uma relação de intimidade com o SEU Mestre, são capazes de identificar a sua voz com precisão, de modo bem nítido e familiar.

Essas ovelhas seguem o seu pastor porque o conhecem; e, por meio da cumplicidade existente entre ambas as partes, conseguem distinguir a sua voz, da voz dos estranhos (João 10:5).

O Pastor identifica cada uma das suas ovelhas sem se esquecer de uma única sequer. Ele cuida de todas, embora cada uma seja especial e única.
Depois de revelar o que carateriza e distingue as suas verdadeiras ovelhas, das falsas, o Senhor Jesus, de modo perentório e categórico, assegura a completa proteção das mesmas, tanto no presente como no futuro.

Ele declara que elas são detentoras da “vida eterna”, vida essa que procede e flui do próprio Pastor. Uma vida de qualidade singular e que garante uma experiência de amor que não terá fim.

“Nunca hão de morrer”, afirmou Ele, sem hesitação. Esta declaração prova o facto de que nenhuma força, natural ou sobrenatural, é suficientemente capaz de provocar uma separação entre o Pastor e as sua ovelhas. Quem é protegido por Ele  nunca se perderá! Quem é amparado pelo seu forte braço nunca será separado do seu amor. Louvemos a Deus pela Sua fidelidade! Soli Deo Gloria! 

Pr. Samuel Quimputo
agosto 2016

Zelo com Entendimento


O encontro de Saulo de Tarso com o Senhor Jesus, a caminho de Damasco, é uma das experiências mais dramáticas mencionadas na Bíblia, no que diz respeito à conversão de um indivíduo.

Desde o momento da sua conversão e comissionamento para o apostolado, Paulo teve a plena convicção de que tinha sido chamado para ser o “apóstolo aos gentios”, a fim de levar o evangelho da salvação e o testemunho de Cristo para além dos limites do contexto judaico.

Com base no testemunho bíblico, e com especial ênfase no livro de Atos dos Apóstolos, vemos que Paulo desempenhou, com afinco, a sua missão, atravessando vastos territórios do Império Romano, a fim de levar a cabo a incumbência   que lhe tinha sido dada. 

Embora estivesse consciente dessa missão aos gentios, a qual Paulo encarava com orgulho e dedicação, nunca ficou indiferente em relação aos seus  compatriotas judeus. Prova disso mesmo é o facto de que, em qualquer cidade onde chegava para ali começar o ministério de evangelização, o ponto de contacto inicial era, quase sempre, uma sinagoga, um ponto de referência importantíssimo na transmissão dos valores da fé e da cultura judaicas.

Ao escrever a sua epístola aos Romanos , o “apóstolo aos gentios” dedica uma parte substancial (cerca de quatro capítulos—2,9,10,11) a abordar o lugar dos judeus, como povo, no misterioso e insondável plano de salvação.

No início do capítulo 10 (v.2), Paulo faz uma afirmação que, ao mesmo tempo, expressa a sua avaliação do estado espiritual da maioria dos seus compatriotas. Segundo ele, Israel, como nação, incluindo a sua elite religiosa, sofria de uma das mais graves enfermidades (ou deficiências) espirituais que afetam o bom equilíbrio no processo de crescimento e do alcance da maturidade pessoal, a saber,  o fanatismo religioso destituído de entendimento.

Os judeus eram zeloso, exuberantes e cheios de entusiasmo por Deus e pelas coisas sagradas. Tinham “zelo por Deus”.
É interessante que Paulo não nega tal zelo, nem o considera reprovável ou negativo. Ele próprio exerceu o seu ministério com zelo e com dedicação.
O zelo é uma das características de alguém que faz as coisas movido por convicções fortes, capaz de sofrer por elas até às últimas consequências.

Não era o zelo dos judeus que preocupava Paulo. Era, sim, a conjugação do seu profundo zelo por Deus com a sua “insensatez”, isto é, a sua falta de “conhecimento sustentado” que servisse de suporte ao seu empenho religioso.
Fica claro, pelo contexto imediato, que Paulo se referia ao orgulho da justiça própria, que fez com que Israel, o povo da promessa, recusasse e desprezasse a justiça de Deus que, por meio de um único justo, decide perdoar pecadores indignos.

Ao rejeitarem a oferta de Deus, o Messias prometido, não só revelaram ingratidão, mas também falta de entendimento na compreensão do “espírito” e das exigências da justiça que há na lei.

É sempre perigoso fazermos as coisas, ou assumirmos posições sobre determinados assuntos, sem conhecimento de causa. Mais perigoso ainda é nutrirmos zelo exacerbado por algo, ou alguém, sem um suporte mental (e/ou racional) que sirva de base para justificar tal atitude.

O zelo deve ser sempre acompanhado e sustentado pelo entendimento prévio da realidade que nos move a agir. Deve ser “servo” do entendimento e nunca seu substituto.

Que Deus aumente o nosso zelo por si e pelo Seu reino, ao ponto de o servirmos de todo o nosso coração. Que Ele nos dê um sadio e claro entendimento da sua vontade e dos seus caminhos, revelados na sua bendita Palavra, a fim de crescermos na graça e no conhecimento da sua pessoa. Soli Deo Gloria! 

Pr. Samuel Quimputo
Boletim julho 2016

O Preço do Discipulado

             
Durante os cerca de três anos que o Senhor Jesus passou na terra, exercendo o seu ministério do anúncio da chegada iminente do reino de Deus, e da proclamação do evangelho da salvação, agregou junto a si um considerável número de seguidores, denominados de discípulos (isto é, aprendizes) . 

Embora as razões variassem de pessoa para pessoa, o certo é que todos os que que o seguiam podiam ouvir, tanto os seus penetrantes ensinos, assim como as suas perturbadoras denúncias, dirigidas, particularmente, contra as elites religiosa de então.

Depois de um curto, mas significativo, período de “retiro” para fora dos territórios da Judeia e da Galileia , Jesus procurou certificar-se do grau de compreensão que as multidões, incluindo os próprios discípulos, tinham acerca da sua pessoa.

Pedro, auxiliado por uma revelação sobrenatural, afirmou ser Ele “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:15,16). Com a firme resposta de Pedro, foi evidente que o grupo destes seguidores, próximos, estava preparado para encarar, com valentia, os tensos episódios que se avizinhavam e que teriam lugar em Jerusalém.

Contudo, o Senhor Jesus não deixou de informar os apóstolos sobre a dramática realidade que os aguardava na cidade santa e que culminaria com a sua própria morte.

Depois de uma áspera repreensão feita  a Pedro, o Senhor Jesus passou a desafiar  todos os presentes, mostrando-lhes o custo do verdadeiro discipulado e as exigências de uma vida de compromisso e de lealdade plena.

Ao fazer isso, Ele apresentou três atitudes radicais, que se traduzem nos requisitos necessários a todo aquele que deseja ser seu discípulo:

  1. Atitude de auto-negação -  Para o Senhor Jesus, o verdadeiro discípulo é aquele que renuncia aos seus direitos e privilégios pessoais, e passa a viver em função das orientações daquele que o alistou, vivendo para satisfazer a sua vontade.
    Auto-negação significa a renúncia de tudo o que concorre com a lealdade devida ao Senhor que nos comprou com o seu próprio sangue, sacrificando-se por nós, indignos pecadores.
  2. Prontidão para a morte - A assunção da decisão de seguir Jesus requer, por parte daquele que se prontifica a fazê-lo, uma atitude de predisposição volitiva total, capaz de o levar a correr sérios riscos, mesmo que a morte seja o preço a pagar por essa lealdade.
    A cruz é símbolo de dor, de brutalidade, de tortura; é símbolo de morte. Carregar a cruz é caminhar para a morte.
    Com estas palavras, o Senhor Jesus estabeleceu um dos princípios mais penetrantes do discipulado cristão, isto é, a vida e a morte devem ser encaradas à luz da relação e do serviço a Cristo (Filipenses 1:21).
  3. Dedicação diária - O terceiro requisito apresentado pelo Senhor é a dedicação diária que o verdadeiro discípulo deve demonstrar, revelando, deste modo, a sua determinação em aprender cada vez mais aos pés do seu Mestre.
    Embora hoje a presença física de Jesus não seja uma realidade, o requisito acima referido continua em vigor, visto que Ele ainda fala (e ensina) por meio da sua Palavra. É, portanto, possível “segui-lo” através da obediência dos seus ensinos, sob a infalível orientação do Espírito Santo.

Que a nossa dedicação ao Senhor Jesus seja sincera, real e completamente radical, fazendo da promoção do seu reino na terra, o motivo do nosso serviço, e da proclamação da sua glória, a razão da nossa vida. Soli Deo Gloria! 

Pastor Samuel Quimputo
Boletim 172
2016

Vivendo em Família


No princípio, Deus iniciou o seu relacionamento com a raça humana num ambiente e num contexto de família. E foi precisamente nesse ambiente que outorgou ao ser humano a responsabilidade de ser o seu vice-gerente, no cuidado e governo do resto da criação.
A ordem dada para a reprodução (multiplicação) e para o domínio (ou sujeição) sobre os animais, foi dada como expressão da “bênção divina” àqueles que tinham sido criados à sua imagem e semelhança.
Desde esse momento em diante, o relacionamento do Criador com os humanos tem-se fundamentado e consolidado, tendo a “linguagem do amor familiar” como suporte e matriz de convivência entre ambos. O amor familiar serve de exemplo visível e prático daquilo que caracteriza a relação de Deus com o seu povo.
O povo de Deus é composto da porção da humanidade que integra homens e mulheres de todas as gerações e de todas as classes sociais que, por meio do arrependimento e da fé, aceitaram viver debaixo do governo e da orientação divina, representando o modelo da humanidade, “idealizado” no princípio por Deus, caracterizado pelos relacionamentos saudáveis, evidentes no seio de uma família equilibrada.
A igreja local é a expressão visível da comunidade global que representa o povo de Deus. E é na igreja local que os dons e os ministérios são exercitados, e onde os membros do corpo de Cristo aprendem a servir a Deus, através do cuidado mútuo que mostram uns pelos outros.
Nesse ambiente de convívio familiar, que se traduz num espaço ideal de crescimento pessoal, as atitudes, os comportamentos e as ações devem ter como fundamento e motivação o amor verdadeiro e sacrificial.
Ao escrever a sua magna epístola aos crentes em Roma, Paulo exorta-os a exercitarem, no seio da sua comunidade (e não só), um amor “sem fingimento”, isto é, sem hipocrisia, sem dolo, querendo dizer com isso que, entre os membros da comunidade de redimidos, que partilham de um ambiente familiar, não deve haver lugar para a falsidade.
Segundo Paulo, a irmandade (gr. filadelfia) entre aqueles que se assumem como seguidores de Jesus, e que pertencem à família de fé, deve caracterizar-se  pela autenticidade da entrega e dos afetos, onde o respeito mútuo, a consideração pelo outro (irmão) e o zelo pelo bem comum, devem ser estimulados e deliberadamente promovidos. 
Um dos aspetos mais poderosos do testemunho cristão é, sem sombra de dúvida, a evidência dos laços de amor que caracterizam a vida do povo da aliança, e que tornam visível o poder regenerador do Espírito Santo e a presença real do Reino de Deus em ação no coração de homens e mulheres transformados pela graça.
Onde o amor impera, as barreiras são ultrapassadas, as “pontes” (em vez de muros) são construídas, as necessidades são supridas, as feridas são curadas, os fracos são auxiliados, os erros são corrigidos, as dúvidas são gentilmente esclarecidas, os verdadeiros milagres da transformação acontecem.
Que o Deus da nossa salvação, aquele que com a sua maravilhosa graça nos arrancou das trevas e do poder de Satanás, para o reino do seu Filho amado, nos conceda a graça de vivermos como irmãos, o que de facto somos, fazendo com que os nossos relacionamentos sejam caracterizados e “coloridos” por um amor não fingido, mas real e autêntico. 
Soli Deo Gloria!

Pr Samuel Quimputo
Boletim 171
maio 2016



O Amor sem igual


O que diferencia, na sua essência, a fé cristã de todas as outras crenças, incluindo aquelas consideradas religiões históricas e universais, é, sem dúvida, a singularidade da pessoa do Senhor Jesus. Ele é o padrão a partir do qual todas as demais experiências religiosas são avaliadas. 
Diretamente ligada ao caráter invulgar da sua pessoa, está a monumental e singular obra que realizou, ao morrer na cruz, em favor dos homens, na qualidade de seu substituto e representante legal, obra essa cujas repercussões ecoam em todas as direções, com o propósito de restaurar a criação afetada pelo pecado, e que se encontra sob a maldição divina. 
É oportuno afirmar que toda a história da humanidade, em geral, e da redenção, em particular, atinge o seu ponto mais alto no advento da encarnação do Filho de Deus - Jesus de Nazaré, cujo nascimento, para além de traçar o rumo da existência humana, significou, também, a presença do próprio Deus entre os homens (Isaías 7:14 cf. Mateus 1: 21,22). 
A encarnação do Filho de Deus representa o cumprimento das promessas feitas na Antiga Aliança, acerca do Ungido do Senhor que asseguraria, ampliaria e estenderia a linhagem real de Davi. 
Tipologicamente, a vinda do Filho de Deus, em carne, significou a determinação da vontade divina em manifestar a sua presença redentora e abençoadora entre os homens a quem viera salvar, montando a sua tenda entre eles, com o propósito de revelar a sua glória (Êxodo 25:8; 40:34,38 cf. João 1:14). 
Contudo, a vinda e a presença do Filho de Deus, como homem entre os homens, não representou um fim em si mesmo. Ele viera para realizar a maior de todas as missões, que nenhum outro ser (humano ou angélico) era capaz de realizar, isto é, morrer uma morte vicária (em favor e para benefício de outros), com o propósito de levar o homem caído a reconciliar-se com o seu Criador. 
Para que essa obra fosse plena e eficazmente realizada, era necessário que Cristo preenchesse dois requisitos. A saber, viver uma vida de perfeita obediência à Lei divina e assumir as consequências da culpa do pecado humano (sofrendo, portanto, o castigo pela sua transgressão). 
Embora nunca tenha conhecido pecado, isto é, nunca se tenha envolvido com o mal, e nunca tenha transgredido a Lei, em nenhuma circunstância, Deus, o Pai, fez dele “pecado” por nós! 
Paulo é cuidadoso no uso que faz da palavra. Cristo foi feito “pecado”, e não “pecador”, visto que pecador é aquele que “erra o alvo”, que transgride a lei moral de Deus, e Cristo nunca o fez. 
O que o apóstolo quis dizer foi que Jesus, ao substituir os culpados, carregou consigo a sua culpa, “encarnando” o mal em seu corpo. Por isso, ao olhar para o Seu Filho, na cruz, Deus viu a feiura do pecado de todos nós, e castigou-o n`Ele. 
A razão que nos é dada, é que Deus fê-lo “por nós”, ou seja, em nosso lugar e a nosso favor, a fim de que a justiça punitiva de Deus que, por um lado, caiu sobre o seu justo Filho, fosse, ao mesmo tempo, a garantia da nossa própria absolvição por meio da imputação da justiça de Cristo em nós. E desta forma fomos feitos “justiça” do mesmo Deus que pune o nosso mal no corpo do seu Filho, mas que, também, declara justo aquele que deposita fé na pessoa e obra do seu Cristo (Romanos 3: 24-26). Maior evidência da graça divina do que esta não pode haver! 
Que os nossos corações pulsem e se encham de gratidão e louvor a Deus, que nos deu o seu próprio Filho, a fim de morrer a nossa morte, outorgando-nos a vida eterna.
Soli Deo Gloria! 

Pr Samuel Quimputo
Boletim 170
março 2016

Em Busca de Maturidade


Estando no cenáculo, reunido com os seu discípulos mais chegados, momentos antes de ser preso, o Senhor Jesus fez uma oração, conhecida como “a oração sacerdotal”, a mais longa registada nas Escrituras, proveniente da sua boca.

Nela, Ele orou a favor de si (vs.1-5), a favor dos discípulos, seus contemporâneos (vs. 6-19), e a favor daqueles que viriam a crer nele, no futuro (vs. 20-26).

Logo na introdução da sua oração, o Senhor revelou (mais uma vez) a razão da sua vinda ao mundo, a saber, dar vida eterna aos que lhe tinham sido dados pelo Pai, e que estavam “mortos”, isto é, espiritualmente insensíveis em seu delitos e pecados (João 10:10; 17: 2; Efésios 2:1).

Logo a seguir, o Senhor Jesus explicou o significado da vida que viera outorgar, e que implicava “revelar o Pai” e “torna-lo conhecido” de todos quantos tinham sido convencidos pelo Espírito Santo da sua necessidade de salvação.

Com o “coração” da confissão de fé dos israelitas em sua mente, que se encontra em Deuteronómio 6:3-6, Jesus monstra que possuir a vida eterna é reconhecer Deus como o único soberano a ser adorado e amado, assim como o Seu Messias, enviado para salvar o mundo e reger as nações.

Vida e conhecimento são duas realidades similares  que apresentam algumas caraterísticas comuns. Ambas são entidades não estáticas, mas sim, dinâmicas.

A vida, embora valha pela sua natureza intrínseca, expressa-se por meio de etapas de crescimento. O conhecimento, por sua vez, passa por um processo de aprofundamento e de consolidação, que o torna mais consistente e sólido.

Portanto, é evidente que aqueles que foram agraciados pela experiência da nova vida, que o Senhor Jesus lhes veio dar, demonstram a sua vitalidade através de sinais evidentes de crescimento constante e saudável.

Ao exortar os destinatários da sua epístola a permanecerem firmes na fé, Pedro alerta-os do perigo em que incorrem os “indoutos e inconstantes” por torcerem (com manipulação) as Escrituras. Ao invés de se manterem “estéreis” na sua espiritualidade (1:8,9), o apóstolo estimula-os a crescerem, visto que onde há graça, onde há vida e onde há conhecimento, deve haver crescimento.

À medida que o tempo passa, a vida do crente deve demonstrar uma dimensão de graça cada vez maior (João 1:16) e um desejo cada vez mais profundo de conhecer ao Senhor (Oseias 6:3).

Graça e conhecimento podem ser considerados os meios pelos quais os crentes alcançam a sua maturidade, assim como a esfera dentro da qual o crescimento ocorre.

Qualquer que seja o entendimento que se tenha do papel desempenhado pela “graça” e pelo “conhecimento”, a verdade é que ambos envolvem uma atitude pró-ativa por parte daqueles que possuem a nova vida em Cristo. E segundo o contexto imediato da recomendação de Pedro, podemos concluir que a meditação das Escrituras, a submissão à ação do Espírito Santo e a prontidão para a obediência das orientações divinas, são os pré-requisitos para uma experiência de crescimento espiritual saudável.

Todos aqueles que partilham da nova vida em Cristo devem exercitar a sua fé, procurando o alimento sólido da Palavra, enriquecendo a vida por meio da oração e da comunhão com os irmãos.

Que a nossa espiritualidade seja profunda e constantemente marcada por um anseio e por uma determinação, cada vez mais intensos, de crescimento na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, pois só Ele é digno de toda a glória, para todo o sempre. 

Soli Deo Gloria! 
Pr Samuel Quimputo
Boletim 169
feveiro 2016

Confiando na Rocha Eterna

 A crise financeira que abalou a economia mundial, afetando milhões de pessoas e famílias, para além de abalar a estabilidade do sistema bancário, trouxe à luz, entre outras coisas, a ganância que governa o coração humano que não ama Deus e que despreza o próximo.

Um dos aspetos que mais se destaca, sobretudo quando se acompanha a discussão de analistas e de peritos em economia, é a verdade de que um dos elementos mais determinantes (se não o mais determinante) para o equilíbrio do sistema financeiro é a confiança. 

A maioria do comum dos mortais nutre a ideia de que o elemento mais importante é o dinheiro. Ora, as mentes mais brilhantes em matéria de economia insistem em dizer-nos que a confiança, esta sim, é o alicerce que sustenta todo o edifício do sistema.

É interessante notar que, em matéria de fé, a confiança acaba por assumir um papel relevante na relação entre Deus (o objeto da fé) e o homem (o sujeito da fé). Aliás, convém, nesta altura, afirmar que o próprio conceito bíblico de fé, implica a confiança em Deus.

A fé bíblica não se resume a um simples assentimento intelectual, ou à simples assunção da existência de Deus. Crer em Deus significa crer na sua existência, mas também, e sobretudo, confiar na sua bondade, misericórdia e graça. Quanto maior é a confiança depositada na pessoa e no caráter de Deus, mais profunda é a qualidade da fé.

Neste   início   de   novo   ano,  convém-nos escutar as palavras proferidas por Isaías ao transmitir ao povo de Israel uma mensagem de um futuro de esperança.
Segundo o profeta evangélico da Antiga Aliança, Deus proporciona uma experiência de paz interior a todo aquele que mantém a sua mente concentrada nele. Esta disposição mental, segundo Isaías, resulta da confiança do crente no seu Criador e Senhor.

Depois de estabelecer a magnífica relação entre a disponibilidade mental e a paz (shalom, bem-estar, saúde, prosperidade, salvação) de Deus, que nasce da reconciliação estabelecida na cruz do Calvário, Isaías convida o povo (e a todos nós) a depositarmos uma inabalável confiança naquele que é a fonte da nossa estabilidade pessoal e espiritual.

A razão apresentada pelo profeta, na exortação que faz ao povo, reside no facto de Deus ser “uma rocha eterna”.  Há nesta afirmação uma ênfase que  pode passar despercebida. Literalmente, o texto diz: “Pois o Senhor, somente o Senhor, é a Rocha eterna”.

O princípio por detrás desta afirmação é que “a verdadeira segurança que traz estabilidade à vida, encontra a sua firmeza em Deus, e somente nele”.

Assim como a rocha é sólida e firme, transmitindo a sensação de estabilidade, assim também o nosso Deus é o refúgio seguro em quem encontramos a verdadeira paz e a inabalável segurança. Mais ainda, a segurança proporcionada por Deus é duradora e eterna.

O desafio do profeta é que a nossa confiança em Deus seja “perpétua”, isto é, “permanentemente colocada nele”.

Que ao longo deste novo ano, e perante as contingências e as vicissitudes da vida, a nossa fé encontre em Deus a sua mais firme âncora. Que a Sua paz, que vai além do que somos capazes de entender, domine os nossos corações, proporcionando-nos a tranquilidade necessária, a fim de gerirmos da melhor maneira, com sabedoria e discernimento, os desafios com que nos depararmos ao longo da jornada. Soli Deo Gloria! 

Pr. Samuel Quimputo
jan 2016
boletim 168