O AMOR QUE NÃO DEIXA PARTIR



A afirmação bíblica de que “Deus é amor” representa uma das definições mais profundas (se não a mais profunda)  que expressa a verdadeira essência do conceito de amor.

Em última análise, não é possível definir a vida, o amor ou a verdade a não ser que estes conceitos estejam vinculados ao caráter pessoal de Deus, a fonte e a razão de ser de  toda a vitalidade, dos afetos mais profundos e de toda a veracidade.

A mensagem central da Bíblia é que o grande Deus, supremo Criador de tudo o que existe, o fim para o qual tudo se dirige e  converge, é essencialmente um Deus de amor (1 João 4: 8, 16).

Não é possível a um ser criado amar, de facto, a não ser que receba esta dádiva daquele que é a fonte de toda a bondade, e isto porque “o amor é Deus, e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1 João 4: 7). Significa que, a relação de amor e de afeto com Deus, por meio da graça revelada na morte sacrificial do seu Filho unigénito, é a garantia de toda a experiência piedosa que faz do amor a sua marca identitária. 

É óbvio que esse amor é puro, santo e justo; é um amor humilde que “não se ensoberbece… e não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade” (1 Coríntios 13: 4e, 6).

O Deus de João e de Paulo é o mesmo que fez promessas estonteantes a Israel, por intermédio do profeta Oséas, numa linguagem que expressa paixão, num suave tom de romantismo, próprio da poesia hebraica, prometendo-lhe um futuro de esperança.

É impossível ficarmos indiferentes diante de palavras tão penetrantes, vindas do Deus Todo-Poderoso, Rei do universo, porém, cujo coração “se deixa derreter” pelo povo que tanto ama. 

Segundo as palavras de Oséas, o Deus de Israel, o Deus da Bíblia, é aquele que “atrai”. A beleza da sua santidade exerce, nos que o buscam com humildade e sinceridade de coração, uma influência penetrante e que aproxima. Graças a Ele, pois, esse amor que um dia nos “atraiu”, continua a encantar os nosso corações.

Ele é também o Deus que “leva para o deserto” e lá, num lugar árido e sem distrações, sem espaços verdes, onde normalmente a dor, a fome e a sede imperam, Ele, com o seu terno amor e graça “fala ao coração”. Quão maravilhoso é o amor do nosso bom Pai!

Quantas vezes a sua voz penetra o mais profundo do nosso ser quando nos fala “nos vários desertos” da nossa vida! Oh, que os nossos corações sejam mais e mais sensíveis ao seu toque, ao seu sussurrar, à sua augusta presença!

O extraordinário em tudo isso é o facto de que, apesar do seu amor ser compulsivamente atrativo, também é libertador! Deus atrai o seu povo com “cordas humanas”; mas estas cordas também são “cordas de amor”. Paradoxalmente, ao agir assim, Deus atua “como quem tira o jugo de sobre as queixadas do povo” (Oséas 11:4). Não há dúvida que este amor, apesar de ser derramado sobre nós, pelo Espírito Santo, excede sobremodo o nosso entendimento (Romanos 5: 5; Efésios 3: 19).

Podemos afirmar, portanto, que fazer missões é assumir o nosso papel de “atalaias do Senhor”, alertando o mundo acerca do perigo de se viver em indiferença para com Deus  que enviou  o seu Filho amado,

 a este mesmo mundo, para salvar pecadores como nós. Fazer missões é, essencialmente, proclamar o grande amor do Deus que redime, perdoa e salva! É anunciar a graça do bom Pai, cujo amor atrai, faz-se presente no deserto, fala ao coração e não deixa partir. 
Soli Deo Gloria! 

Pr. Samuel Quimputo
in Boletim nº 155
26 de out de 2014