A GENEROSIDADE DE DEUS

 Mateus 20.1-16


Ao final de ‘O Peregrino’, João Bunyan observa que existe uma entrada para o inferno mesmo junto às portas do céu. Judas Iscariotes é uma prova disto. Na noite em que traiu a Cristo com um beijo, ele saiu da presença de Jesus para sempre e selou a sua ruína eterna. Num certo sentido, sua entrada no inferno deu-se às portas do céu. Todavia, há também uma realidade contrastante ilustrada no ministério terreno do Senhor Jesus: ‘o pior pecador pode ser conduzido ao céu, estando às portas do inferno’ (MacArthur, 2008). Publicanos, prostitutas, ladrões e moribundos, todos encontraram em Jesus um Salvador que deu-lhes vida eterna. Ninguém estava além do alcance do seu poder redentor. Todo o pecador arrependido que, pela fé, rendeu-se a Jesus, recebeu salvação completa (Hb 7.25).


Vemos um homem que é chamado ao arrependimento e à fé ainda na infância, como Timóteo. Vemos outro homem que é salvo por Cristo na “hora undécima”, como o ladrão na cruz. Mesmo assim, o evangelho permite-nos crer que estes dois homens estão perdoados diante de Deus (Ryle, 2018).


Em Mateus 20.1-16, Jesus conta uma parábola que ilustra este princípio. Esta é uma parábola acerca do reino dos céus, onde a graça de Deus é o fator predominante. Portanto, esta parábola é uma lição espiritual, e não é uma aula sobre justiça trabalhista. O ensino básico é que Deus nos chama para fazermos parte de seu reino em tempos diferentes, e a todos aqueles a quem ele chama, oferece a mesma coisa (Lopes, 2019).


A Parábola 

A parábola descreve um dono de uma propriedade que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para sua vinha. Estes homens foram contratados para trabalhar por um denário por dia (uma moeda de prata), um ordenado razoável naquele tempo. Suponhamos que começariam a trabalhar às 6 horas da manhã (20.1-2). O proprietário continuou verificando a praça ao longo do dia e, sempre que encontrava trabalhadores disponíveis, mandava-os para a vinha com a promessa de pagar-lhes “o que for justo”. O dia de trabalho estava praticamente encerrado, quando o versículo 6 diz que ele voltou mais uma vez “por volta das cinco horas da tarde”. Restava apenas uma hora de trabalho, mesmo assim encontrou trabalhadores à toa e contratou-os para sua vinha (Sproul, 2017). No fim do dia (Lv 19.13; Dt 24.14,15), o proprietário da vinha instruiu seu administrador a pagar os trabalhadores, começando pelos últimos, e indo até os primeiros. Aqueles que haviam trabalhado uma hora receberam um denário. Aqueles que haviam trabalhado três horas receberam um denário. Aqueles que haviam trabalhado seis horas receberam um denário. E aqueles que haviam passado o dia todo (12 horas) trabalhando receberam um denário (MacDonald, 2011). 


Era o mesmo pagamento para todos — um denário (20.9-12). Mas os homens que passaram o dia inteiro ali consideraram os salários injustos, pois haviam realizado o grosso do trabalho sob o calor do sol enquanto os outros haviam trabalhado durante apenas um curto período no frescor da tarde (Mt 20.11-12). Quando o proprietário da vinha ouviu a queixa, respondeu a um deles: “Amigo, não estou sendo injusto com você. Você não concordou em trabalhar por um denário? Receba o que é seu e vá. Eu quero dar ao que foi contratado por último o mesmo que lhe dei. Não tenho o direito de fazer o que quero com o meu dinheiro? Ou você está com inveja porque sou generoso?” (20.13-15). A queixa deles foi: Tu os igualaste a nós. Eles não estavam apenas insatisfeitos com o que haviam recebido, mas também invejosos do que os outros receberam. Eles não suportavam a ideia de que alguém que havia trabalhado menos do que eles, receberia o mesmo salário. De repente, a gratidão pela generosidade do proprietário deu lugar a um ressentimento (Sproul, 2017; Carson, 2018).


O Significado 

O prefácio e o epílogo desta parábola consistem num único provérbio: “Muitos primeiros serão últimos, e muitos últimos serão primeiros” (Mt 19.30). E o mesmo provérbio é repetido no fim da parábola: “Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos” (20.16). Encontramos um eco deste mesmo provérbio também na própria parábola, na expressão-chave em Mateus 20.8 quando o proprietário instrui o administrador a como pagar os trabalhadores: “Chame os trabalhadores e pague-lhes o salário, começando com os últimos contratados e terminando nos primeiros.”


Como pode o que termina primeiro ser o último e vice-versa? Numa corrida, chamaríamos isso de empate. Todos atingem a linha de chegada absolutamente juntos. Os primeiros contratados e os últimos contratados receberam exatamente o mesmo salário; independentemente do número de horas que cada um trabalhou. 


Qual é a lição espiritual desta história? Deus concede a mesma graça abundante a todos que entram no seu Reino. Não importa durante quanto tempo você trabalhou no Reino de Deus. Não importa se suas circunstâncias foram difíceis ou fáceis. Se você for um seguidor de Cristo, quando esta vida terrena acabar você estará com Cristo. Os benefícios do Reino são iguais para todos porque fomos salvos apenas pela graça de Deus, e por nada além disso.


As epístolas referem-se a diferentes galardões, mas este não é o ponto salientado nesta parábola (1Co 3.14-15; cf.: tb.: Ap 4.10-11). A questão aqui é a da igualdade na salvação. O céu em si não é uma recompensa que pode ser conquistada por meio de trabalho duro. Em Cristo “não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher”; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.28). Os últimos são os primeiros, e os primeiros, últimos (MacArthur, 2016). 


Os Princípios 

A parábola está repleta de princípios vitais, incluindo alguns que representam verdades centrais do evangelho.

Esta parábola é sobre a misericórdia de Deus. É sobre a graça daquele que possui uma vinha e que, em sua misericórdia, concede benefícios às pessoas que não os merecem. Na parábola, aqueles que chegaram ao final do dia não tinham como atender às exigências normais para ganhar um denário. Mesmo assim, o proprietário da vinha deu-lhes o denário. O primeiro grupo recebeu justiça. Todos os grupos que vieram depois receberam graça e misericórdia. Aqueles, entretanto, que receberam justiça queixaram-se de ter sido vítimas de injustiça, alegando que o proprietário não era justo. Eles achavam que o proprietário devia-lhes algo (20.11-12). Mas Deus nada nos deve, exceto sua ira como punição por todos os nossos pecados. Apesar disso, tudo o que temos vem dele, não porque merecemos, mas porque ele nos provê em misericórdia.


É Deus quem, soberanamente, toma a iniciativa da salvação (20.15, 16). Tal como o proprietário que saiu à procura de trabalhadores para a sua vinha, é Deus quem inicia a salvação. É Ele quem procura e salva, e é Ele que traz pecadores ao seu reino. Embora as pessoas tenham de decidir seguir a Cristo, em última análise, a salvação não é uma decisão humana. Deus é o Autor e o Consumador da nossa fé (cf. Hb 12.2). Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro (cf. 1 Jo 4.19). Nossa salvação é exclusivamente obra dele, e esta é a razão principal pela qual não temos direito de fazer exigências ou impor limites ao que ele dá à outra pessoa. A generosidade de Deus confunde o orgulho da natureza humana. Ela não permite que o homem se vanglorie em justiça própria.


Deus continua a chamar pessoas para o reino. O proprietário voltou à praça diversas vezes para chamar trabalhadores para a vinha. Ao longo de toda a história humana e em cada fase da vida de um ser humano, Deus está chamando pessoas para o seu Reino. Jesus disse em João 9.4: “Enquanto é dia, precisamos realizar a obra daquele que me enviou. A noite se aproxima, quando ninguém pode trabalhar.” A redenção continua até o juízo. E esse juízo está vindo.


Deus sempre dá mais do que merecemos. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai” (Tg 1.17). E tudo que recebemos que não seja a condenação eterna é mais do que merecemos. Deus é gracioso, e sempre deveríamos celebrar a sua graça. Portanto, não há espaço para que o cristão fique ressentido com a graça que Deus concede a outros. O dono da vinha repreendeu aqueles homens por sua inveja: “São maus os teus olhos porque eu sou bom?” (Mt 20.15). Não devemos nutrir nenhum sentimento de ressentimento por causa da bondade de Deus (20.11,12). Deus nunca está em dívida connosco. Mesmo depois de havermos feito tudo, continuamos a ser servos inúteis (Lc 17.10).


No reino dos céus, muitos que agora são os últimos serão os primeiros, e muitos que agora são os primeiros serão os últimos (19.30; 20.16). Deus nunca permitirá que os ramos mais antigos de sua igreja olhem com desdém para os ramos mais recentes (20.8,9). Coletores de impostos, prostitutas, mendigos e cegos compartilharão a mesma vida eterna como aqueles que serviram durante toda a sua vida; como aqueles que pregaram o evangelho a milhares; como aqueles que morreram como mártires por Cristo. A graça de Deus é abundante até mesmo para o maior dos pecadores. Esta é uma razão para louvarmos a glória da graça de Deus e para regozijarmos com todos que receberam esta mesma graça.


Uma Reflexão Solene 

Alguma vez você já refletiu sobre o contraste que existe entre Judas Iscariotes e o ladrão na cruz? 

Judas Iscariotes era um discípulo de Cristo, membro do círculo mais íntimo dos Doze. Ele pregou, evangelizou, serviu e até recebeu o poder de “curar enfermidades” (Lc 9.1). Ele parecia ser um discípulo modelo. Quando Jesus predisse que um dos Doze o trairia, ninguém apontou para Judas. Os outros discípulos confiavam tanto nele que o haviam elegido seu tesoureiro (Jo 13.29). Mas ele traiu Jesus, encerrou sua própria vida cometendo suicídio e entrou na condenação eterna. As palavras de Cristo sobre ele em Marcos 14.21 são assombrosas: “Ai daquele que trai o Filho do homem! Melhor lhe seria não haver nascido.”


O ladrão na cruz, por outro lado, era um criminoso. Ele é chamado de “ladrão” em Mateus 27.38. Originalmente, ele deveria ser executado com Barrabás, um revolucionário e assassino (Lc 23.19). Ele era claramente um homem mau, pois nas primeiras horas da crucificação ele e seu parceiro no crime zombavam de Jesus juntamente com a multidão (Mt 27.44). Mas o criminoso endurecido vivenciou uma surpreendente mudança em seu coração. Literalmente, nos últimos minutos de sua vida, ele confessou seu pecado (Lc 23.41), fez uma simples oração: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu Reino” (Lc 23.42), e naquele mesmo dia foi salvo e levado para o paraíso (Lc 23.43). 


Este ladrão não havia feito nada para merecer o céu. Ninguém que pecou tem o direito de reivindicar a bondade de Deus (MacArthur, J. 2016). Justiça plena significaria a morte imediata para todo pecador, pois “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). A Bíblia diz que Cristo expiou completamente os pecados daqueles que confiam nele. Ele “morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). Visto que Cristo tomou sobre si a penalidade do pecado, Deus pode justificar o pecador que crê sem comprometer sua própria justiça (Rm 4.5). Ele “demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26). Como diz a Escritura: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1João 1.9). 


Contudo, tenhamos o cuidado de não supor, com base nesta parábola, que é seguro adiar o arrependimento para os últimos anos da vida. Este pensamento é uma ilusão das mais perigosas. Pouquíssimas pessoas são salvas no leito de morte. Como escreveu Ryle (2018): “Um dos ladrões sobre a cruz foi salvo para que ninguém se desesperasse da salvação; mas somente um, para que ninguém tenha presunção. A Bíblia diz: “Eis agora o tempo sobremodo oportuno, eis agora o dia da salvação” (2Co 6.2).


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Referências: Carson, D.A. 2018. The Gospels and Acts. (Em D. A. Carson, ed. Biblical Theology Study Bible NIV. Grand Rapids, MI: Zondervan, p. 1738–1739). / Crossway Bibles, 2008. The ESV Study Bible, Wheaton, IL: Crossway Bibles. / Lopes, H.D. 2019. Mateus: Jesus, o Rei dos Reis. SP: Hagnos. / MacArthur, J. 2008. O Evangelho Segundo Jesus. São José dos Campos, SP: Editora FIEL. / MacArthur, J. 2016. As parábolas de Jesus. Thomas Nelson Brasil (Uma lição sobre Justiça e Graça). / MacDonald, W. 2011. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. SP: Mundo Cristão. / Snodgrass, K. 2010. Compreendendo todas as parábolas de Jesus: guia completo. RJ: CPAD, p. 510-534. / Ryle, J.C. 2018. Meditações no Evangelho de Mateus. São José dos Campos, SP: Editora FIEL. / Sproul, R.C. 2017. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. SP: Editora Cultura Cristã (Mt 20.1-16). 


Pastor Leonardo Cosme de Moraes
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O VALOR DA NOSSA FÉ EM CRISTO

   

             

 1 Pedro 1:3-10


Caríssimos irmãos e irmãs, agradeço a bênção de partilhar convosco a Palavra de Deus neste tão especial aniversário da nossa igreja. Que a graça, o amor e a comunhão de Deus Pai, Filho e Espírito Santo sejam com todos vós.

A todos desejo a paz e proteção de Jesus nestes tempos difíceis que vivemos: tempos de uma pandemia que teima em afligir e assombrar a nossa vida; tempos também de uma sequência de ideologias na guerra cultural que se acentua, e tende a destruir os valores fundamentais da nossa fé em Cristo, pondo em causa o cerne da verdade eterna do Evangelho. Portugal há quatro décadas era outro país, e o mundo também o era. Mudaram-se os valores, os costumes e a linguagem. Estão a mudar-se as políticas, as ideologias e a fé dos homens.

É por isso que celebrar hoje o nosso aniversário é um verdadeiro ato de fé; da fé que nos une em Cristo e nos enche de esperança no meio da tribulação.

E é neste contexto de espanto que Deus me move a falar-vos do “valor da nossa fé”, e da segurança que temos no nosso Senhor; não da segurança insegura deste mundo, mas da segurança eterna que Cristo nos dá. Leiamos, por favor, 1 Pedro 1.3-10. Diz assim:

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que, pela sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, por meio da ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável e que não pode murchar-se; a herança que Deus reservou nos Céus para vós, 5 que estais guardados pelo poder de Deus mediante a fé, para a salvação que está pronta para ser revelada no último tempo. É nisto que grandemente vos alegrais, embora no presente, se necessário, sejais afligidos por várias provações durante algum tempo. Estas provações servem para pôr à prova o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, para ser considerada digna de louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso, obtendo o fim da vossa fé, a salvação da vossa alma. 10 Foi esta a salvação que os profetas examinaram e procuraram compreender, profetizando sobre a graça que a vós é destinada.

Pedro começa esta carta como Paulo começou a dele aos Efésios: “Bendito seja o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo; que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”, diz Paulo; “que pela sua grande misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo”, diz Pedro.

1.  Deus regenerou-nos pela sua grande misericórdia (3-4)

De pecadores sem esperança, Deus fez-nos novas criaturas, livrou-nos da tirania do pecado e adotou-nos na sua família. ‘Regenerar’ é ser feito nova criatura em Cristo pelo poder de Deus (2Co 5.17), é nascer de Deus, nascer espiritualmente para integrar a família de Deus (Jo 1.13), conforme o Senhor Jesus explica a Nicodemos: “Em verdade em verdade te digo, que ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo” (3.3). E regeneração é obra exclusiva de Deus, sem mérito algum da nossa parte.

Deus regenerou-nos “pela sua grande misericórdia”, restaurou-nos a esperança perdida “por meio da ressurreição de Jesus Cristo”. Reparem irmãos, Deus regenerou-nos para nos dar três bênçãos: para uma viva esperança, para uma herança incorruptível, para a salvação. E tudo isto mediante a fé. Sigamos o texto:

Primeiro, regenerou-nos ‘para uma viva esperança’, vida que permanece, vida eterna com Deus. A nossa vida aqui é passageira, instável e insegura. Culmina na morte, que não é mais que uma passagem, um trânsito deste mundo para o Além; separação deste corpo perecível para um corpo imperecível na revelação final de Jesus Cristo, na final ressurreição dos mortos.

Segundo, regenerou-nos ‘para uma herança incorruptível’, incontaminável e que não pode murchar-se. “É o próprio Espírito Santo que testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E se nós somos seus filhos, também somos seus herdeiros. Somos herdeiros de Deus juntamente com Cristo”, partilhamos da sua glória celestial (Rm 8:16-17). E que herança meus irmãos! A herança que Deus nos reservou no Céu é eterna, incorruptível, sem mácula, sem deterioração nem perda de valor.

Terceiro, regenerou-nos ‘para a salvação’, preparada para se revelar no último tempo’; salvação tríplice: realizou-se no passado, processa-se no presente, vai cumprir-se no futuro, na plenitude da vida eterna.

A nossa salvação é-nos assegurada na regeneração mediante a fé, manifesta-se e confirma-se na santificação, cumpre-se e mostra-se com todo o esplendor na glorificação, com a libertação total e final do pecado e seus efeitos.   

2. Somos salvos mediante a fé em Cristo (5)

A fé não é mérito ou virtude nossa. É graça divina. Reparem no vs. 5: A nossa fé veicula a graça de Deus, que nos salva; na fé somos guardados até ao cumprimento final da nossa salvação em Cristo; e pela fé aprendemos a viver com lealdade e fidelidade a Cristo, regozijando-nos até nas provações que possam vir. Uma fé viva que é mais preciosa do que o ouro que perece.

A fé viva, a esperança certa, a herança prometida, resultam numa alegria tão intensa que supera as provações que possam vir. Por um lado, Deus controla todas as coisas, e só permite provas se elas forem necessárias para nos alimentar a fé e ajudar a crescer espiritualmente. Por outro lado, estas provações são transitórias e fortalecem a nossa fé. Podem doer, magoar, entristecer, mas delas saímos mais fortes, mais felizes, mais perto de Deus.

Assim como o fogo separa o ouro das impurezas para que fique mais puro, também Deus nos prova para confirmar o valor da nossa fé, e a tornar mais pura e preciosa. Mesmo purificado, o ouro continua a ser perecível; mas a fé provada permanece para sempre, é imperecível, dá os seus frutos na eternidade.

Lemos em 1.5 que somos protegidos pelo poder de Deus, mediante e fé, para a salvação. O mesmo poder que ressuscitou Cristo é o poder que alimenta a nossa fé; fé que, mais que simples crença ou confiança, é lealdade e fidelidade, é descanso e paz na nossa preparação para a glória, é entrega total aos desígnios do nosso Senhor. É bom não ignorarmos que somos peregrinos aqui a caminho do Céu, exortados a abster-nos dos desejos carnais que fazem guerra contra a alma (2.11). Fidelidade, no fundo, é fé aperfeiçoada.

3. O valor da nossa fé é provado na Terra, mas celebrado no Céu (1.6-8)

Podemos ser afligidos com várias provações, mas a nossa fidelidade a Cristo será honrada no Céu. O foco de Pedro neste texto não é o louvor, honra e glória que devemos prestar a Deus. É, sim, o louvor, glória e honra que Deus assegura aos seus fiéis na revelação de Jesus Cristo. A fé verdadeira é honrada no Céu, tal como o Senhor Jesus disse aos seus discípulos: “Bem está servo bom e fiel. No pouco foste fiel, no muito te colocarei. Entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25.21-23).

A fé que justifica e salva, a fé que em nós tem o valor da dádiva divina, as boas obras que dela derivam são sempre honradas e celebradas pelo nosso Deus. Ou não diz a Escritura em Romanos 2.28-29: “Não é judeu aquele que o mostra exteriormente, nem é circuncisão a que se recebe no corpo. O verdadeiro judeu é aquele que o é interiormente, como se fosse circuncidado no coração; isto é, a circuncisão que vem do Espírito, e não a da lei escrita. Esse tem o louvor, não tanto dos homens, mas o louvor de Deus”.

Mais claro ainda é o texto de Rm 2.6,7-10, que diz: “Ele”, o nosso Deus, “dará a cada um conforme as suas obras. Dará a vida eterna aos que praticam com perseverança as boas obras e buscam glória, honra e vida imortal [...] Haverá sofrimento e angústia para todos os que fazem o mal, primeiro para os judeus e também para os não-judeus. Mas haverá glória, honra e paz para todos os que fazem o bem [...] pois Deus não faz aceção de pessoas”. Sim, queridos irmãos, vale a pena ser crente fiel, igreja fiel, povo fiel a Cristo e sua palavra.

4. O fim último da nossa fé é a salvação eterna da nossa alma (1.9)

Na regeneração, operada pelo Espírito Santo, nós fomos salvos. Na nossa caminhada cristã, vamos demonstrando que estamos salvos. Na revelação final de Jesus Cristo, nós seremos confirmados filhos de Deus e passaremos a fruir a plenitude da nossa salvação; uma realidade passada, presente e futura, e que só no futuro se afirma ser nossa eternamente.

Como lemos em 1.8-9: amamos Jesus Cristo, apesar de o não termos visto; e cremos nele mesmo sem o ver agora. E isso dá-nos uma alegria tão grande e tão intensa que nem se consegue explicar. Porquê? Porque atingimos a finalidade última da nossa fé, que é a nossa salvação, a plenitude da nossa redenção.

Finalmente, irmãos: amamos Jesus Cristo e cremos nele, mesmo sem o ver (1.8). E são esse amor e fé que nos definem como cristãos na sua essência. A fé dá voz a esse amor agradecido, ao Cristo que por amor se deu por nós. E, do amor, uma só coisa pode resultar: “uma alegria indizível a cheia de glória”. É nele, irmãos, que atingimos a razão última da nossa fé, a nossa salvação eterna; isto é, a nossa herança, a eternidade em paz com Deus. Livres da culpa, do poder do pecado e das penas eternas a que o pecado conduz, nós hoje vivemos em Cristo, e viveremos com Cristo por toda a eternidade, pois somos dele.

Que bênção! Mas será que a salvação é graça divina em todos nós, meus irmãos e amigos? Será que a nossa vida o mostra em cada frente do nosso caminhar cristão na nossa luta espiritual de cada dia? Será que quantos hoje se dizem cristãos o são de facto, e não só de nome? O pastor Lenz, da grande Hillsong de Nova Yorque, foi afastado da sua igreja, por andar a ser infiel à sua esposa, e coabitar com outra mulher ao longo de meses a fio, enquanto se mostrava cada vez mais espiritual e exigente na sua pregação.

Conclusão

Quem se limita a seguir o discurso piedoso do cristianismo contemporâneo, acabará por não ser melhor do que o mundo. Como diz Peter Kreeft, no seu livro Como vencer a guerra cultural: um plano cristão de batalha para uma sociedade em crise[1], neste mundo tão avesso a Cristo e sua palavra, muitos dos que se dizem cristãos hoje adulteram, prostituem-se, abortam, sodomizam, fornicam, divorciam-se, cultivam a pedofilia e destroem a família, quase na mesma proporção que os claramente não crentes, contribuindo assim para o suicídio gradual da sua fé e o escândalo dos demais. Como afirma o profeta de Deus: “dizem paz, paz, paz onde não há paz”, ao mesmo tempo que são capazes de entrar em delírios de louvor num simulacro de adoração. E nessas orgias de sentimentalismo vazio, eles se vão perdendo aos poucos até ao desespero total, e levam consigo para a perdição muitos inocentes em busca da verdade.

A igreja deve ser vista como um organismo vivo em santa comunhão com Deus, e não como uma organização; como um mistério sobrenatural e não como uma empresa. Infelizmente, há hoje tantos que tratam a igreja como um negócio, e não como a noiva de Cristo! Temem o fracasso, mas não temem o pecado. No seu hedonismo vão, muitos líderes dão aos seus seguidores um Cristo sem cruz, adoram-se a si mesmos e não ao Deus que dizem servir. O mundo ocidental, e em especial a Europa, é hoje a sociedade mais politeísta da história. Adoram centenas de milhões de deuses, pois pouco mais fazem do que adorar-se e servir-se a si mesmos.

Espiritualizam praticamente tudo, até mesmo a encarnação e a ressurreição de Cristo, mas nelas não acreditam literalmente. Substituem a santidade por espiritualidade, a igreja da cruz e da ressurreição pela igreja da graça barata, pois nem sequer param para assumir que a vida cristã tem um preço; que “não pode ser para nós barato aquilo que a Deus custou tão caro”.

Estamos, de facto, irmãos, numa guerra cultural que é sobretudo espiritual. E, para a vencermos, temos de usar as mesmas armas que Cristo usou. Quais, meus irmãos, quais? Não as do poder, não as do pragmatismo, não as da persuasão pela diplomacia, não as de cedências ao adversário. Cristo podia ganhar este mundo facilmente sem essas armas, mas deixou-se crucificar às mãos de César. E, com isso, ganhou algo infinitamente melhor do que este mundo de pecado e morte. Ganhou para nós o mundo por vir, um mundo conforme o seu modelo original, e exorta-nos a buscar o seu Reino; não o reino de César, não o deste mundo que aos poucos se destrói, mas os novos Céus e a nova Terra em que habita a justiça. “Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”, disse o Senhor Jesus no Sermão do Monte.

Quais são afinal as armas de Cristo? Apenas duas: amor e verdade. Irmãos, a Trindade não é um sistema político, é uma família divina; e a Igreja de Cristo não é uma ideologia, é uma criação de Deus para abençoar o mundo. Deixemos o discurso barato e a fé barata. “Evangelizemos com a vida; e, se for necessário, usemos palavras”.

Tudo o que hoje tem a ver com sexo é justificado, santificado e glorificado, mesmo que seja o homicídio. O divórcio, por exemplo, é uma forma de homicídio; sim, porque é o suicídio de uma união criada por Deus. “E os dois serão uma só carne”, diz o Senhor.

Ser cristão de verdade, é sê-lo como Elliot o definiu: “uma condição de simplicidade completa, custando nada mais que tudo”. Sim, não cuidemos de ser espirituais à maneira do mundo. Vivamos em santidade, sejamos esse tudo.

É tão fácil pecar. Tudo o que somos é feito com os nossos pensamentos. Se não, vejamos: um pensamento gera um ato, um ato gera um hábito, um hábito repetido gera um carácter, e é do carácter que se chega a um destino. Daí as palavras de Paulo: “Somos humanos, é certo, mas não lutamos segundo os padrões do mundo. Pois as armas da nossa guerra não são humanas, mas poderosas em Deus para destruir fortalezas. Deitamos abaixo as ideias erradas e toda a espécie de arrogância que se levanta contra o conhecimento de Deus, e fazemos com que o pensamento humano obedeça a Cristo” (2Co 10.3-5).

Irmão queridos, somos igreja, sejamos igreja de Deus, não por nós nem para nós, mas em Cristo, por Cristo e para a glória de Cristo. Por isso, amamos, por isso cremos, para isso Deus nos regenerou e salvou, por tudo isso Ele nos promete uma tão grande redenção final.

Não sujemos, pois, o valor da nossa fé. Vivamos à sua altura, e honremos o Deus que a fez nascer em nós, que a nós destinou uma tão grande salvação.

Feliz aniversário, igreja do Senhor; feliz aniversário para a glória de Deus; feliz aniversário com Cristo no mais íntimo do nosso coração.


                                                                                                    Pastor Manuel Alexandre Junior

[1]Peter Kreeft, How to Win the Culture War: A Christian Battle Plan for a Society in Crisis, Downers Grove, Il: InterVarsity Press, 2002. Em português: Como vencer a guerra cultural: um plano de batalha cristão para uma sociedade em crise, Campinas: Ecclesiae, 2020.


O SINAL DE DEUS EM ISAÍAS 7.14

 


I. O CONTEÚDO DO “SINAL” (7.14-25)

  • O termo hebraico אוֹת (‘ot’, "sinal") pode se referir a um evento miraculoso (7.11), mas em outras partes de Isaías, a palavra geralmente se refere a um objeto/pessoa revestido de significado especial (ver 8.18; 19.20; 20.3; 37.30; 55.13; 66.19).
  • O plural “vos” significa que isto será um sinal para toda a casa de Davi (7.14; ver 7.3,17). 
  • Os factos da concepção e do nascimento de um filho são significativos para a elaboração do sinal para Acaz. O menino nascerá numa determinada configuração de tempo, e sua existência específica nessa configuração de tempo é intrínseca à função do sinal.
  • A palavra עַלְמָה (’almah) significa ‘jovem casta em idade de casamento’. A palavra é a forma feminina do substantivo masculino correspondente עֶלֶם (’elem, ‘jovem’; cf. 1 Sam 17.56; 20.22). Apesar de não transmitir directamente o sentido técnico para virgindade, é uma palavra que inclui a ideia de virgindade (“cultural e religiosamente, era termo que pressupunha a castidade”). O termo almâh (Gn 24.43), diferentemente de בְּתוּלָה, bétulah, não necessita de adjetivação (p ex. Gn 24.16, que em Joel 1.8 parece indicar uma mulher casada). 
  • עִמָּ֫נוּ אֵל (ʿimmānû ʾēl), subs. Emmanuel significa “Deus connosco”. Deus prometeu estar com seu povo para defendê-los de seus inimigos se eles perseverassem Nele com fé. 
  • No curto prazo, os versículos 15 e 16 podem referir-se a uma criança que teria nascido em seus dias de Acaz e Isaías. A profecia dá à mãe uma qualificação que pode significar virgem no sentido de “jovem casta”, sugerindo que ela ainda não gerara filhos. Neste caso, esta moça se tornará mãe da maneira costumeira, embora não haja menção de marido ou casamento, pois toda ênfase recai sobre essa jovem mãe e seu filho.
  • O pai da criança não é absolutamente identificado, e sua mãe só em termos gerais. Ele é mencionado apenas de forma sucinta, mas então aparece novamente em 8.8 como possuidor da terra, e ainda uma vez mais em 8.10 pelo uso de jogo de palavras. A natureza enigmática das referências torna extremamente difícil identificar o menino dos dias de Acaz.
  • O filho nascido da virgem viverá em pobreza (comendo manteiga e mel) até chegar à idade em que deve prestar contas de seus atos.  A significação é que um menino concebido naquele momento ainda seria imaturo quando as duas nações ameaçadoras tivessem sido destruídas (7.16,22).
  • Antes disso, porém, Israel será desamparada por seus reis, e a aliança que Judá tanto temia dará em nada.  Porém, Deus também castigará Judá por meio das incursões do rei da Assíria. 
  • De que maneira? Deus assobiará […] às moscas do Egito e às abelhas que andam na terra da Assíria, e enxamearão sobre Judá. A Assíria será a navalha alugada do Senhor e trará vergonha e desgraça (7.18-22). Terras que outrora rendiam colheitas abundantes serão cobertas de espinheiros e abrolhos. Não mais aráveis, serão apropriadas apenas para pasto de bois e […] ovelhas (7.23-25).Apenas um punhado de pessoas sobrando, a terra arável cultivaria apenas sarças e espinhos (7.23-25), talvez uma referência à situação em 701 aC, quando Senaqueribe devastou a terra (36.1).
  • Portanto, a mesma condição pela qual a Síria e Efraim serão despovoados, a Assíria, também deixará Judá despovoado. Se o significado do sinal terminara simplesmente com o livramento, Acaz poderia ter creditado o resultado a suas próprias manobras políticas, em vez de creditá-las a Deus. Mas este não poderia ser o caso, pois o versículo 17 segue bem de perto o versículo 16 sem muita coisa além de uma conjunção. Ao depender mais de si mesmo do que de Deus, Acaz desencadeou uma tormenta tal que não se contentará em tragar seus terríveis vizinhos do Norte. Guiada pelo Deus de quem ele desdenhara, ela processará uma varredura contra ele e igualmente contra sua nação. 
  • Como seria esta situação e como seria um sinal? A coalizão Sírio-Efraimita seria derrotada. Então, o Senhor daria início a um período de tempo diferente de qualquer outro desde a divisão do reino quase 200 anos antes. Os assírios invadiriam a terra, destruiriam as plantações e forçariam o povo a subsistir com leite de cabra e mel. Naquela época (literalmente, no curto prazo), quando o povo viu Emanuel comendo seu leite azedo e mel, a ‘casa de Davíd’ foi forçada a reconhecer que Deus estava de facto com eles. Ele esteve presente com eles na crise Sírio-Efraimita, plenamente capaz de resgatá-los; mas também estava presente com eles no julgamento, disciplinando-os por sua falta de confiança. A mensagem divina é bastante clara: a falha em apropriar-se das promessas de Deus pela fé pode transformar uma bênção potencial num julgamento disciplinar. Seja o que for em que o homem confie em lugar de Deus, um dia isso voltará para devorá-lo (Is 7.18-25).

I. DUAS PERSPETIVAS CONSERVADORAS SOBRE A IDENTIDADE DO EMANUEL 

1. Resumo da perspetiva do duplo comprimento (Blomberg, 2014)

O Senhor está falando ao rei Acaz, de Judá, desafiando-o a pedir um sinal que confirme a promessa divina de destruir os dois reis das terras do Norte que ameaçam Judá (Is 7.10,11), a saber: Rezim, da Síria, e Peca, de Israel (v. 7.1). Acaz protesta, afirmando que não porá o Senhor à prova (7.12), mas Isaías, falando em nome de Deus, repreende Acaz por testar a paciência de Deus com sua resposta, talvez por perceber que faltava sinceridade ao rei (7.13). Surge então a famosa profecia do nascimento iminente de uma criança, cuja mãe seria uma jovem em idade de casar (hebraico, almâ). É amplamente aceito que a palavra hebraica em si não precisa ter outro sentido a não ser este: uma criança que será o sinal de Deus (7.14). Antes que a criança tenha idade suficiente para distinguir entre o bem e o mal, os domínios dos temíveis reis serão assolados (7.15,16). Antes, porém, que isso seja recebido como uma notícia extraordinária, o profeta acrescenta que eles serão substituídos por um invasor ainda pior: a Assíria (7.17).


Quem é essa criança especial? A maioria admite um cumprimento, pelo menos provisório, nos dias do profeta, tendo em vista as declarações inequívocas de Isaías 7.15,16. Muitos entendem que a interpretação mais provável é que a profecia se refira ao filho do próprio Isaías: Maer-Salal-Has-Baz. A passagem de Isaías 8.3, que apre senta esse filho, faz eco ao conteúdo de 7.14, pois Isaías tem relações com sua mulher, ela engravida e dá à luz a criança com esse nome simbólico (“rápido para saquear, veloz para despojar”). O versículo seguinte repete o sentido de 7.15, afirmando que as riquezas de Damasco (na Síria) e de Samaria (em Israel) serão saqueadas antes que a criança possa dizer “meu pai” ou “minha mãe” (8.4). Esse mesmo filho é chamado “Emanuel” em 8.8, termo explicado em 8.10 como “Deus connosco”, o que mostra a razão de Mateus vincular as duas passagens de Isaías. Em 8.18, Isaías refere-se a seus dois filhos, Maer-Salal-Has-Baz e Sear-Jasube (cf. 7.3), como “sinais e maravilhas em Israel”, designação que se harmoniza com o sinal prometido por Deus em 7.11,14. Em 9.1-7, porém, o que se tem em vista é o futuro mais distante, quando mais uma vez os exilados são restaurados à Galileia. Em 9.6, temos outra descrição do nascimento de um filho maravilhoso, que pode ser chamado “Deus Forte”, “Pai Eterno” e “Príncipe da Paz”, o qual reinará sobre o trono de Davi e estabelecerá justiça para sempre. Essas são profecias que dificilmente poderiam se cumprir na vida de um rei meramente humano.


Resumindo: Deus está dizendo que antes que uma criança concebida naquela época chegasse a idade da responsabilidade moral (7.16), as duas nações de que Acaz estava tão aterrorizado deixariam de existir (Is 7.15-17). Mas, a longo prazo, este sinal, mais alto do que o céu e mais profundo do que o inferno, referia-se à vinda de Jesus Cristo, o verdadeiro Emanuel (Mt 1.23), onde a virgindade de sua a mãe era de vital importância.


2. Resumo da perspetiva predicativa cristológica ou do sentido único

Nenhum homem gerado por um pai humano poderia ser a incorporação de “Deus connosco”. Em contraste com Shear-jashub e Maher-shalal-hash-baz, sendo ambos apresentados de uma maneira directa como filhos de Isaías, há uma aura de mistério acerca da figura do Emanuel. Esse é o caso mesmo sem a citação neotestamentária de 7.14.

Precisamos observar que depois que Acaz recusa-se a receber um sinal, Deus não se dirige a ele outra vez. A conjunção “Portanto” refere-se atrás ao versículo 13 e indica que Deus dará um tipo diferente de sinal do que Ele ofereceu a Acaz no versículo 10. Esta “não é mais uma matéria de convite, mas de predição”. O plural “vos” (é dirigido e) significa que isto será um sinal para toda a casa de Davi (7.14). O sinal não se refere apenas a um nascimento sobrenatural, mas também para as condições que cercam esse nascimento. Isto leva-nos imediatamente além de um foco rígido na cena actual. 


É importante observarmos também que tanto “virgem”, no versículo 14, como “Menino”, no versículo 16; têm o artigo definido. Há um consenso geral de que estes são artigos de referência geral, e que uma virgem é a tradução apropriada para o versículo 14. Mas observe o que acontece se traduzimos “um menino” no versículo 16. O versículo profético passa a ter um sentido excelente, por si mesmo, como uma declaração a respeito da duração da crise, sem nenhuma referência ao versículo 14.


A mãe do Emanuel é chamada a virgem, indicando uma virgem específica no plano de Deus. Ela irá chamar o nome de seu filho “Emanuel”, cujo significado é “Deus connosco”. Nenhum pai é mencionado, ajustando-se com o facto de que a criança é nascida de uma virgem. Alguns comentaristas limitam a sua atenção ao contexto imediato e supõem que a criança nasceu a Acaz ou Isaías. Todavia, o Emanuel não poderia ser Ezequias, pois Acaz o designou como co-regente em 728 a.C. e ele começou o seu pleno reinado em 715, quando tinha a idade de vinte e cinco anos, de modo que ele já existia vivo naquele momento (732 a.C.). Nem poderia ser a virgem tampouco a esposa de Isaías, uma vez que seus filhos são nomeados especificamente como seus, e isto não é dito a respeito do Emanuel.


Depois, em 8.8, a terra de Judá é identificada como a terra do Emanuel, o que indica que o filho Emanuel é o Messias. “Em 8.10, Emanuel é a garantia da sobrevivência de Israel. O mesmo Filho nascido da virgem é o Filho maravilhoso em Isaías 9 e 11. A profe cia do Emanuel alcança um maior cumprimento no nascimento do Deus-Homem, o qual é tanto o Protetor Libertador como o Divino Guerreiro. Mateus aplicou corretamente esta profecia a Jesus, o Messias (Mt 1.23). Note também que Mateus termina o seu livro com Jesus dizendo: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (28.20). Ele continua sendo o Emanuel, “Deus connosco” (Stanley).


CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Talvez a opção mais atraente seja que o Emanuel e o Maher-shalal-hash-baz fossem um e o mesmo. Se este era o caso, esta passagem formaria uma declaração mais poética da identidade do menino, apontando para o último Emanuel, enquanto 8.1–4 constituiria um relato mais prosaico e se limitaria simplesmente à pessoa de Maher-shalal-hash-baz. As referências à sua conceção e nascimento em 8.3 emprestam apoio ao nexo, como faz a referência ao Emanuel em 8.10, um pouco depois do nascimento do filho de Isaías.


Contudo, o cumprimento final desta profecia de Isaías 7.14 está em nosso Senhor Jesus Cristo, que é “Deus connosco” (Mateus 1.22–23; Lucas 1.31–35). Portanto, em última instância, a mãe é a Virgem Maria e o menino Jesus Cristo. Como escreveu Wiersbe: “se Jesus Cristo não é Deus vindo em carne humana sem pecado, então não temos Salvador. Jesus teve que nascer de uma virgem, à parte da geração humana, porque Ele existia antes de Sua mãe. Ele não nasceu apenas neste mundo; Ele desceu do céu ao mundo (João 3.13; 6.33, 38, 41–42, 50–51, 58). Jesus foi enviado pelo Pai e, portanto, veio ao mundo tendo uma mãe humana, mas não um pai humano (4.34; 5.23–24, 30; 9.4) [tradução minha].


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Referências: 

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Wiersbe, W. W. 1996. Be Comforted, Wheaton, IL: Victor Books.


Pastor Leonardo Cosme de Moraes

O TERNO CONVITE DO FILHO DE DEUS

     

  Mateus 11.25-30


Depois que Jesus repreendeu as cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaum por não terem se arrependido, mesmo tendo visto tantos milagres que atestavam sua posição como agente de revelação do Pai, ele foi orar. Em virtude de tamanha incredulidade, Jesus encontrou consolo no plano sábio e soberano do Pai, que nada nem ninguém poderia derrotar.


Deus faz uma revelação geral de si mesmo a todos os homens por meio da criação. Além disso, contanto que haja uma Bíblia disponível nos idiomas adequados, qualquer um pode ter acesso à sua revelação especial na Escritura. No entanto, há um tipo de revelação na qual Deus levanta o véu do pecado presente nos olhos das pessoas e revela-se a elas, e Jesus afirmou aqui que Deus não concede esta revelação a todos (Mt 13.11–17; comp. Mt 16.16-17).


Jesus apresenta o Deus Pai como aquele que revela e oculta (11.25-27). Contudo, não devemos pensar que o ocultar e o revelar de Deus são atividades exercidas arbitrariamente contra seres humanos neutros, inocentes e impotentes em face do decreto divino. Deus está lidando com uma raça de pecadores à qual ele não deve nada (Mt 1.21; 7.11). Por isso, ocultar “estas coisas” não é um acto de injustiça, mas de julgamento. 


Os seres humanos são os únicos responsáveis pela dureza de seus corações, mas somente Deus amolece os corações de seus eleitos (I Rs 8.58, SL 51.10, Jr 31.31, Ez 11.19; 36.26, 2Co 3.3; 4.6, Hb 10.16). Pelo que as Escrituras apresentam, a causa da eleição está em Deus, e a causa da reprovação jaz no pecador. Deus trabalha positiva e ativamente na alma dos eleitos, proporcionando todos os meios conducentes para garantir sua salvação. No caso dos réprobos, Ele simplesmente os deixa à sua própria sorte pecaminosa. Deus passou por alto alguns por sabias e boas razões, suficientes para Ele. Por outro lado, o motivo da condenação é conhecido: é o pecado.


Deus seria perfeitamente justo se não salvasse ninguém (Mt 20.14, 15; Rm 9.14-16). Ele reserva para si o direito de ter misericórdia de quem quer ter misericórdia. Seria perfeitamente justo se Deus fizesse com os seres humanos como fez com os anjos, não salvando nenhum daqueles que pecaram e se rebelaram contra Ele (2Pe 2.4). Mas se Ele de qualquer modo salva um grande número de pecadores (de todos os povos, tribos, línguas e culturas), isso é uma demonstração de graça que vai muito além das exigências da equidade e da justiça. Portanto, o fundamento da eleição é a graça de Deus, ao passo que o fundamento da reprovação é a justiça de Deus.


A eleição para a salvação é uma expressão da vontade soberana de Deus, do beneplácito divino (Ef 1.3-6; Mt 11.26; Rm 9.11; 2 Tm 1.9; I Pe 1.1-3). A eleição não substitui a obra objetiva de Cristo, antes a inclui e dela depende (Mt 11.27; Ap 13.8). O mesmo Deus que estabeleceu os fins, a nossa redenção, também estabeleceu o meio pelo qual deveríamos ser salvos, ou seja, a morte de Cristo e as operações subjectivas do Espírito Santo (Rm 8.29, 30; 11.29; 2 Tm 2.19).


A doutrina da eleição é apresentada nas Escrituras como um consolo (Rm 8.28-30); como uma razão para louvar a Deus (Ef 1.5-6,12); e como um incentivo à evangelização. Como escreveu o apóstolo Paulo: “tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna” (2 Tm 2.10). O equilíbrio de Jesus é refletido no equilíbrio da Escritura: ele pode simultaneamente denunciar as cidades que não se arrependeram e louvar a Deus que não se revelou a eles (Mt 11.20-27). 


Jesus agradeceu por essa expressão da soberania de Deus, e nós devemos fazer o mesmo. “Não devemos pensar que Deus faz algo porque é bom e reto, mas antes que algo é bom e reto porque Deus o deseja e faz” (William Perkins). Deus define a justiça para nós porque ele é, por natureza, justo e reto, e o que ele faz reflete essa natureza. “O que ele quer é justo; e é justo, não devido a algum padrão externo de justiça, mas simplesmente porque ele o quer" (MacArthur). A justiça de Deus é algo que flui do seu caráter, não está sujeita às suposições que o homem caído faz do que a justiça deve ser. Não podemos impor nossas ideias de equidade e justiça ao nosso entendimento das operações de Deus. Em vez disso, devemos ir às Escrituras para ver como Deus, em sua retidão perfeita, decide agir.


Jesus apresenta os receptores da misericórdia e do julgamento divino. A coisa surpreendente a respeito da atividade de Deus não é que ele age em misericórdia e em julgamento, mas quem são os receptores dessa misericórdia e julgamento: os que se orgulham de entender as coisas divinas são julgados, os que não entendem nada são ensinados. O contraste aqui não é literalmente entre intelectuais e crianças, mas entre aqueles que são orgulhosos e aqueles que são humildes. 


Jesus não condena a capacidade intelectual; o que ele condena é o orgulho intelectual. Jesus não relaciona a ignorância com a fé, mas relaciona a humildade com a fé. Os primeiros recusam-se a arrepender-se quando são confrontados com as palavras e obras do reino. Os últimos respondem à mensagem do reino em arrependimento, reconhecendo sua dependência do Pai celestial (Mt 5.3; 10.42; 18.6; 21.16; 25.40; Lc 10.21–22). 


Jesus resume o equilíbrio bíblico entre a soberania divina e a responsabilidade humana. Deus revela-se ao seu povo por meio de Jesus Cristo (11.27). Mas eles precisam responder o convite de Jesus (11.28). 


Jesus acrescenta que ele é o agente exclusivo desta revelação. Depois de declarar que o Pai concede verdadeiro entendimento “destas coisas” aos “pequeninos” (Mt 11.25,26), agora, Jesus acrescenta que ele é o agente exclusivo desta revelação (Mt 11.27). No presente contexto, a designação “estas coisas” significaria as coisas concernentes ao reino de Deus (Mt 11.12; cf. Lc 10.9,17), o evangelho (Lc 9.6) do arrependimento e da salvação (Mc 6.12). 


Existe um mundo fechado em si mesmo do Pai e do Filho que só é aberto aos outros pela revelação fornecida pelo Filho. Somente Deus é grande o suficiente para entender Deus. Embora possamos conhecer Jesus, amá-lo e confiar nele, ainda há um sentido que somente o Pai pode verdadeiramente conhecê-lo (11.27). Conhecer o Filho em sua plenitude é algo possível apenas ao Pai (e ao Espírito Santo, naturalmente - 1 Co 2.10-11). Da mesma forma, somente o Filho (e o Espírito) pode conhecer o Pai em sua totalidade. No entanto, alguns seres humanos podem conhecer o Pai: aqueles “a quem o Filho o quiser revelar”. Esta revelação não só é factual - o Filho revela “estas coisas” -, mas também pessoal - o Filho revela a “ele” — o Pai. 


A teimosia da pecaminosa rebelião humana é tal que, sem um discernimento espiritual soberanamente concedido, todos os pecadores recusam-se a reconhecer a profundidade de sua miséria espiritual para virem a Cristo. Como disse Jesus: ”Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer” (João 6.44)


Da mesma forma como o Filho louva o Pai, por revelar e ocultar de acordo com sua vontade (11.26), também o Pai autorizou o Filho a revelá-lo ou não segundo a sua vontade. Todo aquele que vem a conhecer o Filho vem também a conhecer o Pai (Jo 14.7). Jesus é quem revela o Pai. Ele é o filho de Deus. Ele é da mesma essência do Pai. Ele e o Pai são um. Ele é Deus de Deus e luz de luz. Se você quer ver como Deus é, se você quer ver a mente de Deus, a natureza de Deus, precisa olhar para Jesus.


Jesus convida às almas oprimidas (11.28-30). Depois desta declaração de exclusividade, Jesus fez um convite geral (11. 28). Este convite só é registrado por Mateus. O convite de Jesus tem três características: 


(1) É um convite universal (11.28). Este convite é dirigido a todos os homens, de todos os lugares, de todos os tempos, de todas as culturas, de todos os estratos sociais. Jesus dirige estas palavras exatamente nas mesmas cidades onde foi rejeitado. Jesus não disse à humanidade pecadora: “Afastem-se de mim”, mas, sim: “Vinde a mim.”  


A maneira como Jesus vincula a soberania de Deus (Mt 11.25–27) a um apelo por uma decisão humana é impressionante (11.28-30). A verdade da Eleição divina no versículo 27 não é incompatível com a livre oferta do evangelho a todos homens nos versículos 28 e 29.


Alguns professores enfatizam a soberania de Deus e outros enfatizam a responsabilidade humana. Mas, uma vez que os textos bíblicos frequentemente falam destes assuntos lado a lado, não é correto tentar separá-los (p. ex.: Gn 50.20; At 2.23; 13.48; 2 Tm 2.10). Em última análise, é devido apenas à graça soberana de Deus que os pecadores se arrependem e crêem em Jesus. Esta graça opera apenas por meio da mensagem do evangelho de Jesus. 


É um convite para uma relação pessoal com o Senhor Jesus Cristo (11.28). Jesus convida o “cansado” e o “sobrecarregado” a virem a ele; e ele lhes dará descanso. Jesus convida as pessoas a virem a ele (cf. Mt 4.19; 22.4) e a tomar seu jugo sobre elas e aprender com ele. 


A palavra de Cristo jamais falhará: “O que vem a mim de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37). Ninguém pode dizer: "Eu vim até Cristo, mas não há redenção sobrando para mim.” (Horton). Há suficiente redenção na cruz de Cristo para todo aquele que nele crê. “E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida.” (Ap 22.17).


Este convite é dirigido a você, agora! Venha a Cristo mesmo cansado e sobrecarregado. É ele quem vai aliviar você. Só nele você encontra descanso para sua alma. Só ele pode perdoar seus pecados. Só Jesus pode dar a você a vida eterna. 


É um convite para aqueles que têm consciência de sua necessidade (11.28). O convite da salvação não é oferecido àqueles que se julgam bons, justos, merecedores. O convite de Jesus é dirigido aos que se sentem cansados, tristes, sem amparo. “Há pessoas sobrecarregadas que precisam de alívio. Não há fardo mais esmagador para a alma humana do que a culpa” (Sproul). 


Se você está sobrecarregado por causa do pecado, da culpa este convite de Jesus é para você. Se você está cansado de lutar sozinho para vencer suas fraquezas, se você está cansado de tentar fazer o melhor para Deus e fracassar, então este convite é para você. Se você está sobrecarregado por sofrimento, doença, opressão e conflitos familiares, este convite de Jesus é para você (Lopes). Jesus oferece a você descanso! O descanso para a alma está em Jesus. Só ele pode dar-nos o alívio (11.28b,29).


Jesus convida aos forem a ele para tomarem o seu julgo (11.29-30) Antigamente, quando alguém transportava uma carga, podia usar um jugo sobre os ombros para sustentar o fardo de forma equilibrada. A água costumava ser transportada assim, com um balde em cada extremidade. “Este é o tipo de jugo que Jesus tinha em mente, o qual foi prometido a todos os que fossem a ele. Este instrumento facilitaria o carregamento dos fardos que, de outra maneira, seria inviável” (Sproul).


Jesus convida abertamente a todos os que estão cansados e sobrecarregados, exatamente como o povo se sentia sob o jugo do legalismo fariseu (Mt 23.4; At 15.10). Jesus disse que os fariseus atam fardos pesados e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los (Mt 23.4). Jesus diz, porém, que o seu jugo é suave e o seu fardo é leve.


Tomar o jugo de Cristo significa submeter-se completamente à sua autoridade. É reconhecer seu senhorio e transferir o controle de sua vida para ele (Rm 12.1-2). Assim o Mestre disse: Vinde à minha escola e aprendei de mim (11.29). Jesus é tanto o Mestre quanto a lição. Aprender dele significa submeter-se à sua autoridade e tornar-se seu servo, como os discípulos fizeram. Aprendei de mim é a instrução que ele dá. Jesus é um mestre gentil, manso e humilde, que nunca perde a paciência com os que são lentos para aprender.


O contraste implícito entre o jugo de Jesus e o de outros não é entre antinomianismo e legalismo, pois num sentido espiritual, as exigências de Jesus são mais radicais que as deles (Mt 5.20, 21-48). O contraste é entre o fardo da Lei em termos da regulamentação farisaica e a libertação de ficar sob a autoridade do mestre manso e humilde. Portanto, Jesus também oferece um jugo (mandamentos que restringem e orientam), mas com a maior exigência vem uma maior capacitação pelo Espírito (Rm 8). O Espírito Santo assiste-nos em nossa fraqueza.


Além disso, o jugo de Jesus é “suave” (confortável/adequado) e seu fardo é leve (11.30). Os jugos eram feitos de madeira. Levava-se o animal para tirar a medida e então sob medida fazia-se o jugo. O jugo de Jesus é perfeitamente adequado. Seu jugo não esfola nosso pescoço. Jesus não oprime seus filhos. O fardo de Jesus é leve porque não se trata de mera obediência a mandamentos externos, mas de lealdade a uma Pessoa. “Jesus não é um tirano. Ele nunca oprime seu povo. É sempre um enorme prazer levar o seu jugo” (Lopes). Na sua exigência está contida promessa e força. O jugo do pecado escraviza; o jugo de Cristo liberta. O jugo do pecado mata; o jugo de Cristo dá vida. O pecado e a culpa oprimem e escraviza, mas Jesus liberta destes fardos. 


Você já aceitou, pessoalmente, o convite do Filho de Deus? Acaso você tem pecados a serem perdoados ou tristezas a serem removidas ou feridas de consciência a serem saradas? Se sim, oiça atentamente a voz de Jesus Cristo. Vinde a Cristo! Tomai o seu julgo! Aprendei dele! Eis os imperativos da graça.

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Referências:

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Pastor Leonardo Cosme de Moraes