LIVRES PARA SERVIR


“Irmãos, fostes chamados para a liberdade. Mas não useis da liberdade como pretexto para a carne; antes, sede servos uns dos outros pelo amor

Um dos conceitos mais apreciados, mas muitas vezes mal entendido por muitos, é, sem dúvida, o da liberdade. Todos nós afirmamos, com frequência, que fazemos certas reivindicações por acharmos que a “nossa” liberdade está em causa, visto que todos nos sentimos, de certo modo, valorizados quando assumimos a nossa condição pessoal (e social) de “livres”, mesmo que isso signifique, simplesmente, uma espécie de “autorização” para a reivindicação dos nossos direitos. Por esta razão, sempre que qualquer um de nós se sente privado ou limitado do gozo da sua preciosa liberdade, a tendência natural é a de lutar com todas as suas forças, a fim de (re)conquistá-la.
Contudo, o que muitos não enxergam (com a devida profundidade) é o facto de que o exercício da liberdade envolve, necessariamente, uma escolha, e esta, por sua vez, determinada por alguma razão. Tudo o que fazemos, fazemo-lo movidos pelo desejo que é, de certa forma, a causa imediata da própria escolha.
Por exemplo, neste preciso momento em que escrevo, estou a exercer um certo grau de liberdade, expressão de um desejo meu. O leitor deste artigo, por sua vez,  estará a fazer o mesmo porque decidiu (escolheu) lê-lo.
É exatamente neste ponto do querer e do desejar que a capacidade de fazer escolhas se torna um assunto profundamente complexo. Visto que toda a escolha é determinada por algum desejo, as questões a colocar serão as seguintes: o que deseja o ser humano? O que o move a fazer escolhas? O que é que estará por detrás delas? Qual é a condição moral (e espiritual) do coração humano que o impulsiona a fazer essas escolhas?
Martinho Lutero escreveu um livro, traduzido para o português com o título  “Nascido Escravo”, sustentando, com alguma base bíblica, que o ser humano, apesar de ser moralmente responsável e capaz de fazer certas escolhas, ele nasce com um coração escravizado pelo pecado,  que o inclina (e incita) a fazer escolhas éticas e morais, com base em motivações e desejos pecaminosos.
Visto que as escolhas são determinadas pelos desejos que controlam o coração humano, este acaba sempre por obedecer aos ditames do “seu senhor”, satisfazendo-lhe a vontade (João 8:34,44). Aqui reside a causa de todo o drama humano. Eis a razão por que nenhum ser humano “livre” é capaz de fazer todas as escolhas de um modo acertado, usando adequadamente a liberdade que faz dele um ser moral, com a exceção, é claro, do Senhor Jesus.
Por isso é que o Senhor Jesus fez a categórica afirmação de que a verdadeira liberdade só é experimentada quando, e só quando, por ele for outorgada (João 8: 36). Só o Filho de Deus pode tornar homens e mulheres em seres verdadeiramente livres. A essência da liberdade autêntica encontra-se nele.
Portanto, a verdadeira liberdade que os crentes encontram em Cristo não significa uma conquista pessoal para a auto-satisfação ou para a afirmação pessoal, que promove o “eu”, buscando os seus próprios interesses, mas sim uma capacitação pessoal e espiritual para o serviço a Deus, ao Seu reino e ao próximo, numa atitude constante de autodoação.
A verdadeira liberdade que encontramos em Cristo não é aquela que tem como prioridade a reivindicação de direitos e privilégios pessoais, mas a que se preocupa e se gasta pelo bem-estar do outro, cuja motivação principal é o amor.
Fomos libertos da tirania da lei (que condena) e da escravidão do pecado, para vivermos de um modo santo, num espírito de serviço, dominados pelo amor.
Gozemos, pois, da verdadeira liberdade que o Senhor Jesus nos ofereceu, por meio da sua morte e da sua vitória sobre o mal.
Soli Deo Gloria!        

Pr. Samuel Quimputo
in Boletim nº 131
30 de Setembro de 2012

A GRAÇA QUE ENRIQUECE


“Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, fez-se pobre por vossa causa, para que fôsseis enriquecidos pela Sua pobreza ” 

Uma das verdades mais extraordinária das Escrituras é aquela que nos revela a graça de Deus, isto é, o “amor de Deus por aqueles que nada merecem”, um amor que conquista e favorece aqueles que, por causa da sua arrogância e desprezo pelo seu Criador, mereciam a Sua justa indignação (ira) (Efésios 2: 8,9).
É impossível um leitor atento da Bíblia não vislumbrar as marcas da presença e da manifestação da graça de Deus, ao longo de toda a História da Redenção.
Embora o conceito de graça tenha tido uma maior ênfase no Novo Testamento, com a vinda do Messias prometido, não deixa de ser verdade o facto de ele já se encontrar presente nas páginas do Antigo Testamento. Aliás, pode-se mesmo afirmar que a paciência demonstrada por Deus, ao suportar os fracassos e as inconstâncias dos intervenientes humanos envolvidos no Seu infalível plano da salvação, deveu-se à Sua maravilhosa graça que fez com que o caminho ficasse aberto para a vinda do Seu ungido.
Esse atributo divino significa muito mais do que uma simples atitude de Deus em favor daqueles que não merecem a Sua bondade. O conceito de graça (caris) inclui, além dos benefícios da bondade divina, o próprio estado da salvação daqueles que foram alcançados pelo amor divino. Quer dizer que “graça” acaba por tornar-se numa das marcas da vida (atitudes, comportamentos e ações) daqueles que foram integrados na família de Deus.
Tal como acontece com todas as virtudes cristãs, o Senhor Jesus é o expoente máximo da graça divina. Ele é o padrão pelo qual todas as qualidades espirituais são avaliadas. Todos os ingredientes do fruto do Espírito encontram a sua máxima e perfeita expressão nele. A Sua própria vida revelou a graça de Deus de um modo singular, sacrificando-se pelos pecadores.
Paulo, um cristão que experimentou na sua própria vida os efeitos da graça divina, estimulou os irmãos de Corinto, desafiando-os a concretizar a sua intenção generosa de suprir as necessidades dos seus irmãos em Jerusalém que enfrentavam dificuldades extremas.
Para este grande apóstolo, uma vida marcada pela graça é aquela que se torna  numa fonte de riquezas espirituais ao serviço de outros. E a força motriz que faz com que alguém rico se torne pobre, para enriquecer a outros, é a graça que nele opera.
Todos aqueles que um dia foram alcançados pela maravilhosa graça de Deus, demonstram que foram (e são) objectos da mesma graça na medida em que vivem num espírito de sacrifício em favor de outros, por meio de um altruísmo santo que beneficie os demais irmãos, ajudando-os a crescer no conhecimento do Senhor e a prosperar em ações de graças para glória do grande e soberano Deus (2 Coríntios 9:12, 13).
Que o Deus da graça continue a moldar os nossos corações, retirando todo o egoísmo e indiferença, caraterísticos deste mundo caído e sob maldição, operando em nós tanto o querer como o realizar, de modo a sermos cristãos autênticos, marcados e dominados pela graça, cujas vidas enriqueçam e abençoem os outros.
Soli Deo Gloria!
Pr. Samuel Quimputo
in Boletim nº 130
2 de Setembro de 2012