A INTERPRETAÇÃO PESSOAL

A Reforma protestante do Séc. XVI foi um marco de grande importância na História do Cristianismo. Foi um movimento de retorno às bases e aos fundamentos da fé cristã, ensinada pelo Senhor Jesus e pelos Seus incansáveis apóstolos.
A Reforma protestante deixou-nos dois legados de grande valor:
- O princípio da interpretação pessoal da Bíblia
- A tradução da Bíblia para a língua do povo.
Diante da Dieta de Worms (concílio no qual foi acusado de herege por causa dos seus ensinos) Lutero declarou:
“A menos que eu seja convencido pela Escritura, a minha consciência continuará cativa da Palavra de Deus – não aceito a autoridade de papas e concílios, porque se têm contraditado. Não posso nem quero retratar-me, porque ir contra a consciência não é certo nem seguro. Que Deus me ajude. Amém.”
Tanto a declaração de Lutero assim como a sua subsequente tradução da Bíblia para a sua língua vernácula, tiveram dois efeitos tremendos:
1º Tirou da Igreja Católica Romana o direito exclusivo de interpretação das Escrituras. O povo deixou de estar à mercê das doutrinas da Igreja, que impunha as suas tradições, fazendo com que os seus ensinos tivessem autoridade igual à da Palavra de Deus.
2º Colocou a interpretação da Palavra nas mãos do povo. Esta mudança foi mais problemática, levando aos mesmos excessos que caracterizavam a Igreja Católica, isto é, excessos de interpretações subjectivas do texto, cujas consequências foram o afastamento da sã doutrina bíblica e da fé cristã pura e simples.
O subjectivismo tem sido o grande perigo da interpretação pessoal das Escrituras. Por isso, convém dizer que o “princípio da interpretação pessoal não deve significar o direito de usar o texto bíblico de maneira que bem se entende”.
O ‘direito’ de interpretar as Escrituras traz consigo uma responsabilidade acrescida de interpretá-las correctamente, com reverência e santo temor.
Os crentes são livres de descobrir do verdadeiro sentido das Escrituras, aquele pretendido pelo autor original, mas não são livres para impor as suas próprias verdades, fazendo com que o texto diga o que se quer e não o que realmente pretende dizer.
O intérprete deve buscar compreender os sólidos princípios de interpretação, evitando, assim, os perigos do subjectivismo hermenêutico ou exegético.
A interpretação pessoal deve, sempre, levar em conta o significado objectivo das Escrituras, isto é, compreender o que a Palavra de Deus diz, no seu próprio contexto, antes de prosseguirmos para a tarefa igualmente necessária de aplicá-las à nossa vida.
Uma declaração particular pode ter inúmeras aplicações pessoais possíveis, contudo só pode ter um único significado correcto.
A interpretação pessoal da Bíblia não pode (nem deve) servir de pretexto para moldar o ensino das Escrituras ao sabor dos caprichos do intérprete. Como se diz “o texto fora do seu contexto é puro pretexto”.
O intérprete das Sagradas Escrituras deve cultivar uma honestidade mental e uma humildade espiritual, deixando que Elas falem ao seu coração, tendo a consciência de que o que elas afirmam é a Palavra do Senhor Todo-Poderoso.
A obediência e a busca humilde do poder orientador do Espírito Santo devem caracterizar a atitude e a vida do intérprete bíblico.

Textos de apoio: (Jó 38:1-41:34; Salmo 139:1-18; Isaías 55:8-9; Romanos 11: 33-36;
I Coríntios 2: 6–16)

(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R. C. Sproul; Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones; Teologia Sistemática de George Eldon Ladd e Teologia Sistemática de Wayne Gruden)
Pastor Samuel Quimputo