“E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento”
Os nossos irmãos do passado, conhecidos como os puritanos, marcaram várias gerações da Sociedade da qual fizeram parte. Eram distinguidos pela sua devoção a Cristo, enfatizando, entre outras coisas, a santidade de vida, marca esta que os identificava e os diferenciava do resto dos seus concidadãos, e o zelo pela glória do Senhor, que condicionava o seu estilo de vida, influenciando, de um modo profundo, a forma da sua adoração.
Na sua busca por uma fé ortodoxa e bíblica, redescobriram o verdadeiro propósito da existência humana. Segundo esses dedicados cristãos, a razão pela qual o ser humano fora criado era a glória do seu Criador.
O conceito hebreu (e também semítico) de glória envolve a ideia de esplendor, de brilho, de grandiosidade, de fama e também de beleza. Esta é a razão pela qual o Senhor Deus, ao criar o mundo (kosmos), com beleza e harmonia inimitáveis, deixou marcas inconfundíveis da sua sabedoria e do seu poder, com o propósito de suscitar espanto e admiração no coração e na mente de qualquer observador atento (Salmo 19:1; Romanos 1:19-20).
A Bíblia afirma que Deus criou tudo para a sua própria glória. Este é, sem sombra de dúvida, o propósito básico e eterno que dá sentido ao significado da imagem que o Criador imprimiu no Homem, Seu representante autorizado, e principal gerente de tudo o que fora criado (Isaías 43:7, 21).
Essa glória de Deus, a ser reconhecida e exibida pelo Homem, não pode ser partilhada com nenhum outro ser (Isaías 42:8; 48:11; 60:21). Agir de modo contrário revela uma atitude de afronta ao grande “Eu Sou”. Esta é a razão por que todo aquele que conhece Deus, procura viver de um modo condizente com o carácter do seu Pai, através da prática de boas acções, cujo objectivo é levar os outros a glorificarem o Criador (Mateus 5:16).
Se o reconhecimento e a promoção da glória Deus é o propósito (ou razão de ser) da existência humana, resta saber os mecanismos pelos quais esta glória é promovida, o que suscita, desde logo, uma pergunta: Como proceder de modo que as nossas vidas sejam instrumentos da graça divina e meios reveladores da Sua glória?
É neste ponto que a questão do primeiro (e o maior) mandamento se mostra relevante. A primazia deste mandamento tem a ver com a sua importância. Ele funciona como a mola propulsora de toda a verdadeira espiritualidade.
Ao responder à pergunta do escriba, versado na lei, talvez disposto a debater os cerca de 613 mandamentos nos quais a lei mosáica era desfragmentada pelos rabinos de então, o Senhor Jesus, de um modo magistral, apontou para a essência da verdadeira espiritualidade e da autêntica adoração.
Não é possível adorar a Deus em espírito e em verdade, com sinceridade de coração, a menos que a glorificação do Seu nome sirva de motivação angular. Por sua vez, não é possível promover a glória de Deus a não ser que o coração daquele que adora esteja saturado com fé e com um amor profundo, que envolva todas as suas faculdades pessoais (mente, volição, emoção, afectos e imaginação). É por meio de um coração amoroso que Deus é glorificado. E a verdadeira adoração acontece quando Deus é, de facto, amado.
Citando o Shema de Israel (Deuteronómio 6:4,5), lido duas vezes ao dia pelos judeus, o Senhor Jesus aponta-nos o caminho para a verdadeira adoração, que consiste no amor santo e singular, direccionado Àquele que é o Único e verdadeiro Deus, revestido de glória e majestade, digno de ser amado.
Soli Deo Gloria!
Pr. Samuel Quimputo
Boletim nº 118
28 Agosto de 2011