“E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu
coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos:
Que faremos, irmãos?”
(Atos 2: 37)
Martinho Lutero,
uma das mais destacadas figuras da Reforma Protestante do século XVI, afirmou
que, tendo em conta a facilidade com que o homem se afasta da verdade, a Igreja
do Senhor Jesus devia fazer, ciclicamente, uma autoavaliação, de modo a ver quão
próximo ou distante se encontrava da verdade das Escrituras, relativamente às
doutrinas fundamentais da fé cristã e à conduta que devia pautar o viver diário
dos seus membros, na qualidade de seguidores de Cristo.
Segundo Lutero, a
Igreja devia realizar “reformas internas” que a protegeriam de tendências
nocivas que a podiam levar a desviar-se da sua identidade apostólica,
centralizada em Cristo. A autoavaliação periódica protegê-la-ia dos perigos do
sincretismo religioso, de desvios doutrinários e de toda a influência
prejudicial à preservação da pureza do evangelho bíblico.
O conselho de
Lutero reveste-se de grande relevância nos dias de hoje, onde impera o
relativismo absoluto (ou quase), o determinismo materialista, o sincretismo
religioso e o liberalismo teológico (ainda resistente) .
Um exemplo
prático, e bem evidente à vista de todos, é a mudança do paradigma bíblico, no
que diz respeito ao evangelismo atual, fortemente influenciado pelo movimento
carismático do início do século XX, centralizado no homem e nos dons
espirituais (Carismata, Carismata), fazendo dele a causa e o
centro de toda a proclamação do evangelho da salvação, em vez de Deus e da sua
glória.
Nesta nova
abordagem “evangelística”, o amor de Deus é apresentado de forma isolada do resto dos atributos divinos,
apelando ao ouvinte que creia na mensagem, que aceite Cristo no seu coração,
contudo, sem ser desafiado a reconhecer o seu pecado, a sua culpa e a sua
incapacidade de salvar-se a si mesmo.
Essa mensagem
suave, elaborada ao “gosto do cliente e do consumidor”, que não leva o pecador
a sentir-se compungido em seu
coração e a clamar, com todas as suas forças: “que farei?”, em sinal de
desespero diante da suprema santidade de Deus e da Sua justa indignação
(diga-se, ira), afasta-se grosseiramente do padrão bíblico (João 3: 36;
Romanos 1: 18).
O método bíblico
de evangelização, representado pela pregação do apóstolo Pedro, no dia de
Pentecostes, é aquele que desafia o pecador perdido e o convida ao
arrependimento e à rendição completa Àquele que pode perdoar os pecados e
conceder vida eterna, vida essa outorgada com o dom do Espírito Santo (Atos2: 38).
O padrão bíblico
de pregação mostra-nos, com toda a clareza, que enquanto o evangelho era
proclamado com amor e com verdade, os pecadores eram confrontados com o Deus
santo e justo, que um dia irá julgar o mundo, por meio do varão perfeito, o Seu
Filho amado, o Senhor Jesus (Atos 17: 30, 31).
Portanto,
proclamar o evangelho da salvação não é declarar tréguas entre Deus e o pecador, mas sim convidar o pecador a
render-se, em humildade, diante do único Deus que salva e perdoa,
pela Sua maravilhosa graça.
Soli Deo Gloria!
Boletim 144
27 out 2013