Discípulos de Um Só Mestre

Mesmo que não lhe tenha sido reconhecido nenhum preparo formal aos pés de algum mestre judeu, ou que tenha frequentado alguma escola rabínica do seu tempo, o Senhor Jesus era popularmente considerado um verdadeiro “Rabi”, isto é, Mestre.

Não houve ninguém que com ele se tenha cruzado ou que o tenha ouvido  ensinar que duvidasse da sua evidente e inegável mestria. As palavras que saíam dos seus lábios eram revestidas de uma sabedoria tal, que não deixavam ninguém indiferente. Mesmo os seus mais acérrimos opositores ficavam, não poucas vezes, emudecidos diante daquele cujo discurso era caraterizado por uma autoridade singular, que ultrapassava a dos fariseus e dos escribas, embora exalasse, ao mesmo tempo e de modo paradoxal, graça, bondade e compaixão.

A consequência lógica do reconhecimento da sua mestria era o número cada vez mais alargado de seguidores que ingressavam na sua “escola”, e que se consideravam seus discípulos.

Embora nem todos os que se intitulavam  “discípulos” o fossem de facto, e por motivações corretas, contudo, aqueles que verdadeiramente criam ser ele o Messias de Deus, que havia de vir ao mundo, eram considerados irmãos, logo, discípulos do único Mestre que os havia convencido pela verdade que proclamava, com discursos penetrantes e que denunciavam os males do coração humano (Mateus 23:8,10).

É na qualidade de discípulos que os crentes que nele confiavam foram comissionados a sair da sua zona de conforto, a ultrapassar as barreiras do comodismo e da indiferença e a levar a mensagem da salvação aos demais seres humanos, que jaziam nas densas trevas espirituais e que careciam do amor sacrificial que abraça, acolhe, ilumina e liberta.

Antes de deixar este mundo, o Senhor Jesus, em ato de despedida, ordenou aos seus discípulos o “fazer discípulos” em todas as nações, querendo isso dizer que  a incumbência de proclamar o evangelho  envolvia não só o anúncio das boas-novas, mas também o acompanhamento necessário dos que aceitassem a fé, de modo que fossem ajudados a crescer na graça e no conhecimento daquele que é o “novo” Senhor das suas vidas.

Ananias, enviado para ser o agente divino da “conversão” e do batismo de Saulo, foi identificado como “discípulo” de Cristo (Atos 9:10). Após o seu batismo, Saulo permaneceu por alguns dias em Damasco, na companhia de crentes que Lucas identifica como “discípulos” (Atos 9:19).

Este aspeto enfatizado por Lucas tem como objetivo destacar o princípio de que todos os seguidores de Jesus estão debaixo da sua liderança e do seu ensino. E, embora haja entre si estágios diferentes  no crescimento espiritual, todos os crentes pertencem à mesma escola que os prepara para a tarefa de levar e fazer conhecido o nome do Senhor aos que ainda estão perdidos.

Essa nobre missão, de resultados e consequências eternas, implica, por parte dos que são escolhidos, um compromisso radical e uma predisposição em sofrer as consequências inerentes ao facto de a proclamação do evangelho de Jesus ser feita com a Bíblia na mão e a “cruz às costas”.

Saulo foi agraciado por Deus para ser um instrumento (ou vaso) útil, a fim de levar a todos o nome, diga-se autoridade, daquele que antes perseguia. Contudo, essa bênção envolvia, igualmente, a realidade do quanto iria sofrer no decorrer do cumprimento da sua missão.

Que o Senhor nos dê uma melhor compreensão da nossa missão neste mundo, e desperte em cada um de nós a consciência de que  só há um Mestre, e que todos somos meros discípulos ao serviço desse Mestre sem igual. 

Soli Deo Gloria!   

Pr. Samuel Quimputo
Boletim junho 2017