Miqueias não encerra seu sermão antes de apresentar o remédio de Deus para a presunção espiritual, começando pelo remédio do julgamento: “Portanto, por causa de vós, Sião será lavrada como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de ruínas, e o monte do templo, numa colina coberta de mato” (Mq 3.12).
Sião é o monte sobre o qual o templo erguia-se. Ele seria
“lavrado como um campo”. Os edifícios construídos em Jerusalém com tanto
orgulho se tornariam “montões de ruínas”. Os muros, palácios e as glórias
cívicas representavam um obstáculo aos planos de Deus, por causa da opressão
com que haviam sido construídos, por isso, todos eles precisavam ser
derrubados. Isso comprova o provérbio: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão
trabalham os que a edificam” (Sl 127.1). Leslie Allen comenta que “a beleza da
cidade sagrada seria destruída por prédios construídos sobre fundamentos
moralmente fracos. […] Naquele monte em que se encontrava agora o templo em tremendo
esplendor, cresceriam arbustos e plantas espinhentas”.
Por mais improvável que a profecia de Miqueias possa ter
sido para alguns ouvintes, o julgamento de Deus por fim chegou a Jerusalém em
587 a.C. O primeiro passo foi a remoção do Espírito de Deus do templo, de forma
que as pessoas pecaminosas já não podiam mais gabar-se do “… Senhor no meio de
nós” (Mq 3.11; veja Ez 10). Então, com Jeremias como sua testemunha chorosa,
Deus entregou Jerusalém aos bandos de Nabucodonosor. Quando o povo foi morto ou
escravizado, o templo foi derrubado, pedra após pedra: “E queimou a Casa do Senhor
e a casa do rei, como também todas as casas de Jerusalém; também entregou às
chamas todos os edifícios importantes” (Jr 52.13).
As palavras-chave na advertência de Miqueias são “por causa de vós” (Mq 3.12). Aqueles que pressupõem a graça e a aliança de Deus se tornam a causa de sua queda e, muitas vezes, da queda de outros. A queda de Jerusalém não foi causada pelo Senhor, apesar de estar julgando a cidade, mas por causa daqueles que louvavam ao Senhor com suas bocas e tramavam o mal em seus corações. Se o povo não atentasse ao alerta, “por causa de vós”, a queda de sua cidade seria inevitável.
Mas o julgamento não era o primeiro remédio de Deus, como
deixa claro a mensagem de Miqueias.
Antes do julgamento, havia ainda o remédio da pregação. A
pregação da Palavra de Deus – de suas promessas e suas advertências – é um meio
da graça de Deus para lidar com os presunçosos espirituais. É uma chamada para
responder não só com a boca, mas com o coração. Por isso, é tão importante
pregarmos a Palavra de Deus hoje, não qualquer mensagem que agrade ao ouvido do
mundo, e mais importante ainda, que ouçamos a Palavra de Deus quando ela é
pregada.
Um exemplo de como a Palavra de Deus derrota a presunção
espiritual e adia o julgamento é
a pregação de Miqueias nessa passagem. Nem sempre sabemos
como as mensagens dos profetas eram recebidas, mas nesse caso sim. Sabemos, porque,
quando Jeremias pregou um século mais tarde e as autoridades reagiram prendendo
e ameaçando-o, “certos anciãos” defenderam sua mensagem. E o que eles lembraram
foi isto:
Miqueias, o morastita, profetizou nos dias de Ezequias, rei
de Judá, e falou a todo o povo de Judá, dizendo: Assim disse o Senhor dos
Exércitos: Sião será lavrada como um campo, Jerusalém se tornará em montões de
ruínas, e o monte do templo, numa colina coberta de mato. Mataram-no, acaso,
Ezequias, rei de Judá, e todo o Judá? Antes, não temeu este ao Senhor, não
implorou o favor do Senhor? E o Senhor não se arrependeu do mal que falara
contra eles? E traríamos nós tão grande mal sobre a nossa alma? (Jr 26.18–19) Isto
monstra-nos que o rei Ezequias respondeu à pregação de Miqueias com um coração arrependido.
Ele caiu de joelhos com orações de confissão, implorando misericórdia, e Deus
ouviu-o. A graça de Deus para seu povo é que, sempre que seu povo abandona sua
presunção e seu pecado e
deles se arrepende, ele suspende o julgamento e lhe ajuda.
Ezequias passou a liderar o povo numa das grandes reformas da história do Velho
Testamento, de forma que a presença de Deus foi mantida na cidade e Deus enviou
seu poder salvífico para defendê-la. Este, então, é o remédio que precisamos tomar
contra o nosso pecado presunçoso, respondendo à pregação da Palavra de Deus com
arrependimento sincero, com orações pela graça e com uma determinação renovada
de obedecer à Palavra de Deus.
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Pastor Leonardo Moraes