A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA

(Actos 8: 30 – 36; 15:15; Efésios 4:11-16; 2 Pedro 1:16-21; 3:14-18)

Qualquer documento escrito, para ser compreendido, precisa ser interpretado e exige um certo grau de capacidade interpretativa. Em diversas áreas do domínio público, encontramos pessoas capacitadas, que executam a tarefa de ler, estudar e interpretar. Elas interpretam leis, regras, códigos, etc. com grande cuidado e diligência. Por exemplo, as leis são interpretadas com base na Constituição. Os especialistas na interpretação da Constituição formam o Supremo Tribunal, um corpo de peritos em questões de fórum legal.
A bíblia, por sua vez, é o seu próprio “Supremo Tribunal”, isto é, de acordo com a principal regra de interpretação bíblica, “a Bíblia é a Sua própria intérprete”. Significa que a Bíblia deve ser interpretada pela própria Bíblia. Sendo um livro divinamente inspirado, a Bíblia apresenta uma coerência interna singular. Ela não se contradiz. O que é obscuro nalguma porção das Escrituras pode ser esclarecido noutra.
Interpretar a Bíblia pela Bíblia significa que não devemos colocar uma passagem contra a outra. Cada texto deve ser entendido não somente à luz do seu contexto imediato, mas também à luz do contexto geral da Bíblia.

1. Métodos de Interpretação bíblica
Entendido adequadamente, o único método legítimo e válido de interpretação da Bíblia é o da interpretação literal. Existe, contudo, muita confusão a respeito dessa ideia de interpretação.
Estritamente falando, a interpretação literal significa que devemos interpretar a Bíblia como está escrita, isto é, tendo em conta a sua dimensão histórica e gramatical. Por exemplo, um substantivo deve ser interpretado como um substantivo; um verbo como um verbo, etc. O que significa que todas as formas usadas na redacção da Bíblia devem ser interpretadas de acordo com as regras normais que regem tais formas. Por exemplo, a poesia deve ser tratada como poesia, relatos históricos devem ser tratados como História, parábolas como parábolas, hipérboles como hipérboles, etc.
Neste aspecto, a Bíblia deve ser interpretada de acordo como as regras que governam (e orientam) a interpretação de qualquer outro livro. É claro que a Bíblia difere do restante dos livros alguma vez escritos. Contudo, em termos de interpretação, ela deve ser tratada como qualquer outro livro.

2. A Bíblia e o Intérprete
A Bíblia não deve ser interpretada de acordo com os nossos próprios desejos e preconceitos. Devemos, sempre, procurar entender o que ela de facto diz e não impor o nosso ponto de vista sobre ela. Forçar as Escrituras a dizer o que queremos que elas digam é um erro crasso na interpretação e na compreensão da mensagem bíblica. Essa postura (muitas vezes deliberada) faz com que muitos procurem uma base bíblica, fora do seu contexto, para introduzir doutrinas falsas que não possuem base no texto (ex. o uso que Satanás faz das Escrituras, em Mateus 4: 1 – 11).
O intérprete sábio e honesto deve submeter-se à mensagem e ao sentido que o autor, realmente, quis transmitir. Deve entender o significado que a mensagem teve na mente dos seus primeiros ouvintes, dentro do seu contexto primário.

3. A Necessidade da Interpretação da Bíblia
Embora a mensagem bíblica seja simples e clara o suficiente ao ponto de ser compreendida por uma criança ou por um adulto inculto, o ‘alimento sólido’ que ela contém e fornece requer estudo e atenção cuidadosos, de modo a ser adequadamente entendida. É preciso dedicação para que os benefícios por ela proporcionados sejam usufruídos.
Algumas questões tratadas na Bíblia são tão complexas e profundas que mantêm os maiores eruditos constantemente envolvidos no esforço de resolvê-las.
Existem alguns princípios de interpretação que são básicos para todo o estudo saudável de Bíblia. São eles:
1º As narrativas devem ser interpretadas à luz das passagens doutrinárias;
2º O que está implícito sempre deve ser interpretado à luz do que está explícito e nunca o contrário; o que está explícito deve esclarecer o que está implícito, trazendo maior compreensão para o intérprete.
3º As leis da lógica governam a interpretação da Bíblia.
Ao serem postos em prática, estes princípios acabarão por conduzir o intérprete da Bíblia à uma melhor compreensão do texto sagrado.


(bases: Verdades Essenciais da Fé Cristã de R. C. Sproul; Grandes Doutrinas Bíblicas de Dr. Martyn Lloyd-Jones; Teologia Sistemática de George Eldon Ladd e Teologia Sistemática de Wayne Gruden).
Pastor Samuel Quimputo