"Eis que estou ã porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo"
A Fé Cristã não é uma espécie de filosofia fundamentada nas conclusões a que alguns homens chegam sobre a realidade que os circunda e as causas últimas que a determinam. Nem tão pouco se trata de um conjunto de regras éticas e morais que indivíduos de uma determinada sociedade devem cumprir, como forma de provar a sua bondade pessoal ou o seu humanismo.
A Fé Cristã é uma experiência de afectos e de amor com o Deus da graça, que dá vida e salva, ama e perdoa, que integra pecadores arrependidos na Sua família de redimidos, e convida os que a Ele se chegam a um relacionamento de amor.
Qualquer pessoa que se fique pelo patamar do perdão dos pecados e pelo livramento do inferno, mas que não se importe com o convívio regular e constante com o Senhor que salva e perdoa, evidencia lacunas espirituais graves, que revelam mornidão de fé ou, na pior das hipóteses, ausência da verdadeira experiência de regeneração espiritual.
A Fé Cristã é uma questão de coração, de intimidade e de comunhão (Josué 24:23; Salmo 25: 14). Além de ser adorado, louvado e exaltado, Deus quer ser amado. E o nosso amor singular a Deus, sobre todas as coisas e sobre todos, deve constituir o princípio básico e sustentador de toda a verdadeira espiritualidade (Deuteronómio 6: 5; cf. Mateus 10: 37; 22: 37).
A declaração do Senhor Jesus em Apocalipse 3:20 é arrepiante, desconfortante e, de certa forma, intrigante. Não é possível ficar-se indiferente diante de tamanha afirmação. Uma das razões pelas quais esta declaração deixa alguns crentes insensíveis, prende-se com o facto dela ser mal entendida. Com frequência, é usada como uma declaração de carácter “evangelístico”. Contudo, estas palavras foram dirigidas à igreja local de Laodiceia. Portanto, a porta à qual o Senhor bate, a fim de entrar, não é a do incrédulo, mas sim a de uma igreja morna, orgulhosa mas pobre, cega mas convencida, nua mas desavergonhada. Enfim, uma igreja que vive do passado e que não cultiva a intimidade com o Senhor da Igreja.
A vida da igreja de Laodiceia, tal como a vida de muitos crentes, era sem fervor espiritual e conformada com o mundo. Era uma mescla de valores e de ensinos, que já nem refrescavam nem aqueciam; provocavam, sim, náuseas e indisposição. E o pior de tudo, o Senhor, que a tinha resgatado e comprado pelo Seu próprio sangue, já não era um convidado especial. Aparentemente, Cristo já não era o seu tesouro mais importante. Que ingratidão! Que insensatez! Que cegueira!
Apesar de tudo isto, o bondoso Salvador achega-se à porta da igreja (e de cada um dos seus componentes) e bate. Esta é uma atitude intrigante e paradoxal. O Senhor da Igreja, que faz um diagnóstico terrível da Sua Igreja, está à porta e bate. Qual é o objectivo? O que é que Ele pretende? “Entrar e cear!” Ele deseja privar com a Sua amada, falar com ela de coração, partilhar uma íntima refeição. Que amor incomparável! Que coração misericordioso! É assim o amor do nosso Deus. Ele é um Deus que ama e que deseja, acima de tudo, ser amado. “Eis a voz do meu amado, que está batendo:’abre-me, irmã minha, querida minha, pomba minha, imaculada minha…” (Cantares 5: 2). É o coração de Deus, do Esposo. Ele leva ao deserto, e a sós fala ao coração (Jeremias 31: 3, 20; Oséias 2: 14).
Ó amados no Senhor, a Fé Cristã é uma questão de coração, de intimidade. E toda a amizade deve ser nutrida com afectos, com diálogo, com partilha, com companheirismo. Como é que está o nosso amor pelo Senhor? Temos ceado com Ele? Estará Ele dentro ou fora do nosso coração, dos nossos afectos?
Ó amados, que o Senhor nos conceda a graça de avaliarmos a nossa fé, a fim de verificarmos se Ele está do lado de fora ou de dentro do nosso coração (2 Coríntios 13:5). Ele quer entrar e cear connosco. Quer falar ao nosso coração. Ele merece ser o nosso convidado especial. Convidemo-Lo sempre!
Soli Deo Gloria.
Setembro 2009