Uma benção antiga de um Deus eterno

“O Senhor te abençoe e te guarde; O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti , e tenha misericórdia de ti; O Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz”


Há um belo hino, no Hinário Para o Culto Cristão (nº 266), cujo título é “Uma Bênção Antiga”, com uma linda melodia, tipicamente oriental (israelita). Parte da letra deste hino expressa a mensagem de Números 6: 22-27.
Este livro dá-nos o contexto quando Moisés recebeu a ordem divina de transmitir a Arão e a seus filhos, o modo como deveriam abençoar o povo de Israel. Infelizmente, o título dado ao livro (Números ou arithmoi, em grego), não corresponde ao original (em hebraico) que era “no deserto”, cujo conteúdo descreve a experiência dos trinta e nove anos passados no deserto, a caminho da terra prometida.
Ao chegarmos no fim de mais um ano civil, é natural pronunciarmos palavras que expressam o nosso desejo para os outros. A expressão mais ouvida, na nossa cultura ocidental, é “um próspero ano novo”; com “próspero” queremos dizer “sucesso material”, “felicidade”, “realização pessoal”, etc. Não há nada de errado em desejar a alguém “um próspero ano novo”, quando o fazemos conscientemente e não como o articular de meras palavras de circunstância.
Contudo, em Números 6, foi o próprio Deus, o Senhor do Universo, que forneceu a “fórmula” de como o Seu povo deveria ser abençoado. Esta bênção não era, apenas, manifestação de um desejo, como nós fazemos. Ela garantia, também, a concessão dos bens prometidos. E como o próprio texto afirma, em tom de conclusão, era com o pronunciamento desta bênção que o nome do grande Yahweh (ou Jeová) seria posto sobre Seu povo, isto é, seria invocado (v. 27).
“O Senhor te abençoe e te guarde”, diz a bênção. A primeira das três bênçãos, proferida pelo sacerdote, com as mãos levantadas (Lev. 9:22), é de carácter geral, invocava a protecção divina. O Deus que abençoa, que concede os ricos benefícios (materiais e espirituais), é também o grande protector. Aleluia! Ele abençoa e guarda, protege do mal e do maligno. Ele dá segurança e é digno de confiança.
O Apóstolo Paulo diz que o grande Yahweh é o “bendito Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais, em Cristo” (Ef. 1: 3). Aleluia! Em Cristo, o Deus Pai nos abençoa com “todas as bênçãos”. Todas as bênçãos necessárias em todo o processo da nossa salvação. A Ele, pois, seja dada toda a glória, para todo o sempre!
“O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti”, acrescenta a bênção. Agora é a comunhão que é acentuada. O rosto de alguém é a parte do corpo onde se encontram a maior parte dos órgãos de sentido, e excelentes meios de comunicação. O rosto é o espelho da alma.
Na antiga psicologia hebraica (e não só), virar o rosto contra alguém era sinónimo de “corte de relações” ou de desprezo. “Olhar para alguém” era sinal de atenção e de boas relações. “Olhar para o pobre, o órfão, a viúva” significava “cuidar deles”. Virar o rosto contra alguém era ignorá-lo.
Usando um antropomorfismo (aplicação de formas humanas a Deus), a bênção pronuncia comunhão. O Deus que abençoa e cuida é o mesmo que deseja um relacionamento de amor com o Seu povo. Ele é o Deus que está (e tem o prazer em estar) junto do Seu povo. Ele é o Yahweh Shammah, o Deus que está presente, que "tabernacula" no meio do Seu povo. Que Deus maravilhoso nós adoramos! E não é só isso. Ele possuí um coração que é tocado pela miséria alheia! Ele tem misericórdia de nós! Apesar da nossa arrogância, indiferença e prepotência, não passamos de miseráveis! Contudo, Ele olha para nós, na nossa miséria e lástima, com os olhos de amor e de graça, perdoando-nos e purificando-nos.
“O Senhor sobre ti levante seu o rosto e te dê a paz”. O Deus da comunhão, que contempla o Seu povo, é também o Yahweh shalom! É Aquele que dá a Sua paz e se dá ao Seu povo como o Deus da paz (Filipenses 4: 7, 9).
Amados em Cristo, que o ano de 2010 seja rico em bênçãos vindas do Pai, daquele que protege, que comunga com o Seu povo e que concede a Sua paz. Que Ele derrame sobre nós a Sua maravilhosa graça, usando-nos como vasos e canais de bênção para os outros.

Soli Deo Gloria!
Pr. Samuel Quimputo
no Boletim nº 98
27 Dezembro 2009