Zelo com Entendimento


O encontro de Saulo de Tarso com o Senhor Jesus, a caminho de Damasco, é uma das experiências mais dramáticas mencionadas na Bíblia, no que diz respeito à conversão de um indivíduo.

Desde o momento da sua conversão e comissionamento para o apostolado, Paulo teve a plena convicção de que tinha sido chamado para ser o “apóstolo aos gentios”, a fim de levar o evangelho da salvação e o testemunho de Cristo para além dos limites do contexto judaico.

Com base no testemunho bíblico, e com especial ênfase no livro de Atos dos Apóstolos, vemos que Paulo desempenhou, com afinco, a sua missão, atravessando vastos territórios do Império Romano, a fim de levar a cabo a incumbência   que lhe tinha sido dada. 

Embora estivesse consciente dessa missão aos gentios, a qual Paulo encarava com orgulho e dedicação, nunca ficou indiferente em relação aos seus  compatriotas judeus. Prova disso mesmo é o facto de que, em qualquer cidade onde chegava para ali começar o ministério de evangelização, o ponto de contacto inicial era, quase sempre, uma sinagoga, um ponto de referência importantíssimo na transmissão dos valores da fé e da cultura judaicas.

Ao escrever a sua epístola aos Romanos , o “apóstolo aos gentios” dedica uma parte substancial (cerca de quatro capítulos—2,9,10,11) a abordar o lugar dos judeus, como povo, no misterioso e insondável plano de salvação.

No início do capítulo 10 (v.2), Paulo faz uma afirmação que, ao mesmo tempo, expressa a sua avaliação do estado espiritual da maioria dos seus compatriotas. Segundo ele, Israel, como nação, incluindo a sua elite religiosa, sofria de uma das mais graves enfermidades (ou deficiências) espirituais que afetam o bom equilíbrio no processo de crescimento e do alcance da maturidade pessoal, a saber,  o fanatismo religioso destituído de entendimento.

Os judeus eram zeloso, exuberantes e cheios de entusiasmo por Deus e pelas coisas sagradas. Tinham “zelo por Deus”.
É interessante que Paulo não nega tal zelo, nem o considera reprovável ou negativo. Ele próprio exerceu o seu ministério com zelo e com dedicação.
O zelo é uma das características de alguém que faz as coisas movido por convicções fortes, capaz de sofrer por elas até às últimas consequências.

Não era o zelo dos judeus que preocupava Paulo. Era, sim, a conjugação do seu profundo zelo por Deus com a sua “insensatez”, isto é, a sua falta de “conhecimento sustentado” que servisse de suporte ao seu empenho religioso.
Fica claro, pelo contexto imediato, que Paulo se referia ao orgulho da justiça própria, que fez com que Israel, o povo da promessa, recusasse e desprezasse a justiça de Deus que, por meio de um único justo, decide perdoar pecadores indignos.

Ao rejeitarem a oferta de Deus, o Messias prometido, não só revelaram ingratidão, mas também falta de entendimento na compreensão do “espírito” e das exigências da justiça que há na lei.

É sempre perigoso fazermos as coisas, ou assumirmos posições sobre determinados assuntos, sem conhecimento de causa. Mais perigoso ainda é nutrirmos zelo exacerbado por algo, ou alguém, sem um suporte mental (e/ou racional) que sirva de base para justificar tal atitude.

O zelo deve ser sempre acompanhado e sustentado pelo entendimento prévio da realidade que nos move a agir. Deve ser “servo” do entendimento e nunca seu substituto.

Que Deus aumente o nosso zelo por si e pelo Seu reino, ao ponto de o servirmos de todo o nosso coração. Que Ele nos dê um sadio e claro entendimento da sua vontade e dos seus caminhos, revelados na sua bendita Palavra, a fim de crescermos na graça e no conhecimento da sua pessoa. Soli Deo Gloria! 

Pr. Samuel Quimputo
Boletim julho 2016