O PODER DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO



O apóstolo Paulo, em seu ministério em Filipos, encontrou três tipos diferentes de pessoas e ganhou-os para Cristo (Atos 16.11-34). Stott (1994:302) observou que “é difícil imaginar um grupo mais heterogêneo do que uma comerciante, uma jovem escrava e um carcereiro. Em termos raciais, sociais e psicológicos, eram mundos totalmente diferentes. Mas todos os três haviam sido transformados pelo mesmo evangelho e recebidos na mesma igreja.” [1] 

O evangelho alcança a todos os tipos de pessoas. Deus salvou em Filipos três classes sociais: uma comerciante; uma escrava; e um funcionário público. Deus Salvou em Filipos pessoas de paradigmas religiosos diferentes: Lídia era uma gentia convertida ao judaísmo; a jovem escrava vivia na prática do ocultismo e era possessa por demónios; o carcereiro provavelmente professava a religião oficial do Império Romano. Cada uma dessas pessoas teve uma experiência distinta de salvação. Lídia foi salva enquanto estava numa reunião de oração e ouviu a Palavra de Deus (At 16.13-15). O evangelho alcançou a jovem escrava enquanto ela estava com o coração possuído por Satanás (At 16.16-18). O evangelho alcançou o carcereiro à beira do suicídio (At 16.27-34). Portanto, esta é uma passagem que demostra que a salvação alcança a todos os tipos de pessoas. É uma passagem de demonstra que as paredes que dividem as pessoas são quebradas pelo poder do Evangelho de Cristo. [2] [1]

O evangelho chega até às pessoas pela graça soberana. Foi Deus quem enviou Paulo para pregar o evangelho em Filipos (16.10). É Deus quem abre o coração de Lídia (16.13-14), é Ele quem liberta a jovem cativa (16.16-19); é Ele quem abre as portas da prisão (16.25-27) e transforma a vida do carcereiro (16.30-34).Temos aqui uma ênfase na soberania de Deus na salvação. [2] [3]

O Senhor abriu o coração de Lídia para atender às coisas que Paulo dizia (16.13-14). É a obra sobrenatural de Deus, não a sabedoria ou persuasão do pregador, que atrai as pessoas a Cristo. A salvação não é obra do homem, mas do Senhor. É o próprio Senhor quem abre o coração humano para receber a palavra do Evangelho (Lc 24.45; Mt 13.10-15). O resultado é que Lídia responde a mensagem de Paulo e aceita o Senhor como o seu Salvador. [3] [4] [5]

A iluminação e a persuasão divinas são necessárias para que o coração cego pelo pecado responda ao evangelho (At 13.48). A Bíblia diz que “o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.” (2 Co 4.4). Em 1 Coríntios 2.14 lemos que “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” Jesus, com absoluta clareza, disse: “ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer” (Jo 6.44) […] “ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido.” (Jo 6.65). A Escritura também diz: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas?” (Jr 13.23). “Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.” (Rm 9.16). [5] [6]

Embora a mensagem do Evangelho possa soar como loucura para alguns, o evangelho é efetivo porque carrega em si a omnipotência de Deus. Como escreveu o apóstolo Paulo: “a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos. Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação.” (1 Co 1.18-21). Essa é a razão pela qual Paulo jamais sentiu qualquer envergonha “do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê…” (Rm 1.16, ACF).

O evangelho é o poder de Deus para a salvação (At 16.13-14). Lídia era uma mulher temente a Deus, religiosa, ela orava. Mas não era convertida. Não basta frequentar uma igreja ou ter uma religião. É necessário nascer de novo (Jo 3.3-8). Precisamos nascer de Deus (1 Jo 5.1). Precisamos da regeneração produzida pelo Espírito Santo (Jo 3.8; Tt 3.5; Tg 1.18; 1Pe 1.23). Nesse sentido, a Escritura também usa a linguagem de ressurreição espiritual em Efésios 2.1-11. Quando indivíduos são ligados a Cristo pela fé nele, tornam-se parte da nova criação (2 Co 5.17; Jo 1.12). [2]

Deus abriu o coração de Lídia e Ela ouviu e atendeu a chamada de Deus. Ela creu no Evangelho e foi salva. Sua casa acabou se tornando o local de encontro dos cristãos em Filipos (At 16.15, 40). É na casa de Lídia que surge agora a primeira igreja e centro de missões na Europa.

O evangelho é o poder de Deus para libertação dos cativos (At 16.16-19). O diabo estava escravizando aquela jovem. Ela era escrava tanto do diabo como dos homens. O diabo possuiu essa jovem, dando-lhe um espírito de adivinhação. Ela adivinhava pelo poder dos demónios. O diabo falava pela boca dela. Muita gente acreditava no poder preditivo dessa jovem. Os donos desse jovem lucravam com o seu ocultismo e com o misticismo pagão da população da cidade de Filipos (que, à luz da Bíblia, é uma prática abominável aos olhos de Deus, Dt 18.9-14; 2 Rs 17.17; Mq 3.11). [2]

As palavras da jovem eram verdadeiras no sentido formal, mas Paulo ficou indignado, pois sabia quem estava por trás daqueles gritos. Paulo não aceitou o testemunho dos demónios nem conversou com os demónios. Ele não tolera nenhuma propaganda do diabo para a causa de Jesus. Ele não queria que parecesse que ela era sua parceira na evangelização (At 16.17-18). Por isso, “Paulo voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu” (At 16.18, ACF). “Enquanto, porém, o próprio Jesus podia proferir o simples “ordeno-te” (Mc 1.25; 5.8), o discípulo somente tem autoridade quando o faz “em nome de Jesus Cristo”, com o olhar de fé para a vitória na cruz e o poder do Cristo vivo e presente, naquele tempo e hoje”. O diabo mantém muitos no cativeiro hoje também. Mas, quando o evangelho chega, os cativos são libertos. [7]

Ademais, a atitude dos proprietários dessa escrava demonstra a crueldade desumana da instituição da escravidão. O texto informa quando Paulo exorcizou o espírito que dominava a jovem, exorcizou também a fonte de renda daqueles que a exploravam. Movidos pelo ódio antissemita, esses homens acusaram Paulo e Silas de estarem a pregar práticas religiosas ilegais, que ameaçavam ao modo de vida romano. Os quais, sem nenhum direito de defesa, foram ilegalmente acoitados e lançados numa prisão de segurança máxima (At 16.19-24).  

O evangelho é o poder de Deus para nos suster nas provas da vida (At 16.24-26). Paulo e Silas são açoitados e trancados no cárcere interior. Mas eles não murmuram, não se desesperam, não se revoltam contra Deus. Em vez de clamar vingança, eles clamam pelo nome de Deus para adorá-lo. Eles fazem um culto na prisão. Seus pés estão no tronco, mas o coração deles está em Deus. Eles cantam e oram a despeito das circunstâncias. Exaltaram a Deus não porque estavam no controle da situação, mas porque o Senhor estava. A Bíblia diz que os demais prisioneiros os escutavam (At 16.25). Quando os filhos de Deus cantam no sofrimento o nome de Deus é glorificado. [2] 

Trancafiados, ultrajados e machucados eles oram cantaram louvores a Deus antes do terremoto. Então, “de repente, houve um forte terremoto, e até os alicerces da prisão foram sacudidos. No mesmo instante, todas as portas se abriram e as correntes de todos os presos se soltaram” (At 16.26). Eles experimentam um poderoso livramento. Eles viram Deus usar essas circunstâncias para trazer a salvação para uma família inteira. Eles deixam o cárcere na condição de honrados cidadãos romanos respeitados pelas autoridades locais (16.37-40). O mesmo Jesus que liberta e salva é o Jesus sustém os seus servos. [3] [4] [2]

O evangelho também alcança o principal dos pecadores. A boa notícia é que “Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores” (1Tm 1.15). “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação” (2 Co 5.19). A conversão de Lídia aconteceu num lugar favorável. Ela buscava a Deus. O carcereiro não procurava. Ela estava orando; o carcereiro estava à beira do suicídio. Mas o mesmo Deus que abriu o coração de Lídia, abriu as portas da prisão e salvou o carcereiro. Há pessoas que só se convertem depois de um abalo sísmico, alguma dificuldade, algo radical. [2] [4]  

O carcereiro reconhece (At 16.30-34): (1) Que está perdido – “Que farei para ser salvo?” – Não há esperança para você a menos que reconheça que está perdido. Sem Cristo você caminha para um abismo de trevas eternas. (2) Que é preciso crer no Senhor Jesus – “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa” – Não importa quão longe você esteja. Se você crer, será salvo. Venha a Jesus! Creia no Senhor Jesus, confia-lhe tua vida! Não há outro caminho. Somente Cristo é que pode dar a salvação (At 4.12). Ele é o único mediador entre Deus e os homens (2Tm 2.5). Jesus é a única porta de entrada para o céu (Mt 7.14; Jo 10.1, 7, 9; 14.6). (3) É preciso obediência – Crê no SENHOR Jesus – Se Jesus não é o dono da sua vida, ele ainda não é o seu salvador. Ele não nos salva no pecado, mas do pecado. Jesus é salvador daqueles dos quais ele é Senhor. (4) É preciso dar provas de transformação – Conversão implica em mudança de vida. Esse homem rude deixa de açoitar, para lavar os vergões de PauloEsse homem duro se tornou hospitaleiro e, com alegria, alimentou os missionários. Deus mudou a vida dele. Como escreveu Crisóstomo: “o carcereiro lavou […] e foi lavado. Ele lavou os vergões dos açoites e foi lavado de seus pecados.” [2]

… “serás salvo, tu e a tua casa”. O carcereiro chamou toda a sua família para ouvir a mensagem do evangelho (At 16.32). Ele e toda a sua família foram baptizados (At 16.33) e se alegraram, porque creram em Deus (At 16.34). O evangelho traz esperança para as nossas famílias. Há dez registos de baptismos no Novo Testamento, e deles seis referem-se a baptismos de casas inteiras. O plano de Deus é salvar também as nossas famílias. “Quando o homem abre seu coração para Cristo, também abre sua casa.” [4] [7] [2]

Pastor Leonardo Cosme de Moraes 
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Fontes bibliográficas:
[1] Stott, J. R. W. 1994. A mensagem de Atos: até os confins da terra.  SP:ABU Editora, 285-304.
[2] Lopes, H. D. 2012. Atos: a ação do Espírito na vida da Igreja. SP: Hagnos, p. 293-318.
[3] Kistemaker, S. 2016. Atos. 2ª ed. SP: Cultura Cristã.
[4] Wiersbe, W. W. 2006. Comentário bíblico expositivo. Vol. 1. Rio de Janeiro: Central Gospel, p. 604-608.
[5] Sproul, R.C., ed. 2015. The Reformation Study Bible: ESV (Acts of the Apostles 16). Orlando, FL: Reformation Trust.
[6] MacArthur, J. 2010. Bíblia de Estudo MacArthur. SP: Sociedade Bíblica do Brasil, p. 1463-1465.
[7] Boor, W. 2002. Comentário Esperança: Atos dos Apóstolos. Curitiba: Editora Evangélica Esperança.