Cada vez que o evangelho encontra oposição em Atos, Deus encontra uma maneira de fazer avançar a mensagem. Ninguém pode destruir o evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação, tanto em Jerusalém como até os confins da terra (Rm 1.16). A mensagem do evangelho é poderosa, salvadora e eficaz quando abençoada pelo Espírito Santo. Deus usa a pregação para trazer a alma espiritualmente morta à vida e para aumentar a vida de Cristo na alma crente.
O
crescimento explosivo da igreja (5.12-16). Depois da morte de Ananias
e Safira, os apóstolos continuaram a realizar milagres no meio do povo que se
reunia no Pórtico de Salomão. A presença e o poder de Deus podiam ser
claramente percebidos, de modo que ninguém ousava ajuntar-se a eles
levianamente nem fazer profissões de fé superficiais. Todos reconhecem que Deus
impõe altos padrões à comunidade sagrada em que Ele habita (5.13). E, no
entanto, muitos vieram a crer no Senhor Jesus e se juntaram à igreja, tanto
homens como mulheres (5.14).
Este
aparente paradoxo mostra que o crescimento da igreja não é superficial, mas vem
daqueles que calculam o custo e estão verdadeiramente comprometidos. A poda de
um crescimento ruim (como Ananias e Safira) produz um crescimento novo e bom
(Jo 15.1-11). Apesar do medo demonstrado pelos incrédulos, o Espírito Santo
está agindo no coração de homens e mulheres.
Os
apóstolos cumpriram o primeiro estágio da comissão de Jesus (5.28; 1.8). Eles
encheram Jerusalém da doutrina de Cristo. Muitos dos que creram levavam os
enfermos e os colocavam sobre leitos e macas para que a sombra de Pedro se
projetasse nalguns deles enquanto ele passava. Das cidades vizinhas, afluíam os
doentes e endemoninhados (pessoas atormentadas por espíritos imundos), e todos
eram curados (5.12-16).
A
sombra de Pedro não possuía poderes mágicos, mas, como quando o poder de cura
de Jesus fluiu de Sua vestimenta ao toque da mulher que estava com fluxo de
sangue (Mc 5.28; Lc 8.44), aqui Deus permite que a sombra de Pedro efetue as
curas (At 5.15), como também fez por meio das roupas e lenços que Paulo havia
usado (19.11, 12).
Como
Hebreus 2.4 deixa claro, esses milagres constituíram o selo de Deus sobre o
ministério dos apóstolos. Os sinais e prodígios eram credenciais do apostolado
(2Co 12.12). Em todo o caso, o Deus que criou o universo interfere nele quando
quer, onde quer, conforme sua soberana vontade.
Os
apóstolos cumpriram o primeiro estágio da comissão de Jesus (5.28; 1.8). Eles
encheram Jerusalém da doutrina de Cristo. Pessoas das vilas e aldeias vizinhas
de Jerusalém começaram a afluir para a cidade e juntaram-se à igreja
(5.16). Isto, porém, provocou a fúria das autoridades da época.
A
perseguição à igreja (5.17–32). O ministério de cura dos apóstolos provocou uma segunda onde de
perseguições por parte das autoridades judaicas (5.17, 18). Sua motivação é a
"inveja" (5.17, 18; cf. 13.45; 17.5), por causa da crescente
influência dos apóstolos entre o povo.
Desta
vez, a reação dos saduceus é mais severa. Mandam prender todos os apóstolos
(5.17-20). Mas de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e,
conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no templo, dizei
ao povo todas as palavras desta Vida (5.19,20).
Os
apóstolos não foram libertados da prisão simplesmente para escapar. Incumbidos
de um novo serviço no templo, eles deveriam anunciar publicamente ao povo as
palavras desta Vida (o evangelho não é simplesmente uma questão de devoção
privada). Todas as palavras desta vida exprimem a mensagem da
salvação e da vida eterna por meio de Jesus Cristo (5.20). Somente
Jesus tem as palavras da vida eterna (João 6.68), e a vida eterna consiste em
conhecer a Deus por meio Dele (João 17.3).
Toda
a cena tem um ar de comédia (5.21-25). Os anciãos se reúnem e
chamam os prisioneiros apenas para descobrir que a prisão está trancada, mas os
prisioneiros haviam desaparecido! Então, um mensageiro anuncia que os apóstolos
estão mais uma vez a pregar nos pátios do templo! É igualmente irónico que um
anjo de Deus frustre e confunda um tribunal dominado por saduceus que negam a
existência de anjos (5.24; 23.8).
Lucas
informa que o capitão do templo e os seus guardas prenderam novamente os
apóstolos (5.26), apresentando-os ao Sinédrio pela segunda vez, para que fossem
interrogados (5.27). O sumo sacerdote estava furioso com os apóstolos por dois
motivos (5.27,28): porque uma ordem expressa do Sinédrio fora desobedecida por
eles; e porque os apóstolos acusavam as autoridades judaicas de serem
responsáveis pela crucificação do Messias.
Em
resposta à primeira acusação do sumo sacerdote, Pedro elabora uma memorável cria
verbal: ”Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.” (At 5.29). Uma cria é
um breve ditado ou ação que elucida um ponto; é geralmente tão curta quanto uma
única frase — mas, ao contrário de uma máxima, era atribuída a um personagem
(Theon, em Kennedy 2003, 15).
Os
versículos 30 ao 32, fornecem a justificativa do argumento. O versículo 30
primeiro oferece a causa: “O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus”. Se Jesus
ressuscitou, ele deve ser obedecido. A segunda metade do versículo dá a
justificativa para não obedecer à autoridade humana, neste caso o Sinédrio: “ao
qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro”. Os versículos 31 e 32 oferecem
argumentos de exemplo para a verdade da cria: Deus exaltou Jesus como Príncipe
e Salvador; e os apóstolos e o Espírito Santo são testemunhas dessas coisas.
Portanto, a cria elaborada por Pedro serve para destacar a afirmação radical
dos apóstolos de que eles devem seguir os mandamentos de Deus em vez da
autoridade que os ameaça.
Por
outro lado, Pedro declara que tanto o arrependimento quanto a remissão de
pecados são dádivas de Deus a Israel (5.31; Lc 24.47; At 2.38; e dos gentios
também 13.38). Todo o que depositar sua confiança em Jesus, arrepender-se e for
batizado recebe o perdão e o Espírito Santo (2.38,39; 13.38, inclusive os
gentios). Deste modo, Pedro convoca o sumo sacerdote e seus associados à
obediência, à fé e ao arrependimento. As autoridades (5.33), porém, ouvindo as
declarações de Pedro, se enfureceram e deliberaram matar os apóstolos.
O
conselho de Gamaliel (5.34-40). Então Gamaliel jogou água na fervura e chamou os saduceus à
reflexão (5.34,35). Gamaliel era filho do rabino Simeão e neto do influente
rabino Hilel, que fundara uma escola para os fariseus (Mt 19.3). Gamaliel
tornou-se líder nessa escola, que era conhecida por sua tendência mais liberal
do que a sua rival, a escola do rabino Shamai. Gamaliel foi o rabino mais
proeminente de sua época e o professor de Paulo (At 22.3). Na literatura
judaica, Gamaliel é mencionado repetidas vezes como Rabi Gamaliel, o Ancião,
que emitiu conselhos concernentes a assuntos relacionados ao relaxamento da
observância do sábado e proteção para as mulheres em caso de divórcio. Seu
período de influência foi aproximadamente de 25 d.C. a 40 d.C. Lucas retrata Gamaliel
como um destacado líder no julgamento dos apóstolos.
Depois
de mandar retirar os apóstolos da assembleia, Gamaliel oferece um breve
discurso deliberativo para tentar acalmar os ânimos do Sinédrio (5.34-35). Para
fundamentar seu argumento, ele cita os exemplos históricos de Teudas e Judas, o
Galileu, líderes de movimentos revolucionários que foram significativos por um
tempo, mas não deram em nada (5.36-37). “Teudas”, provavelmente, foi um dos
muitos líderes dos movimentos revolucionários após a morte de Herodes, o Grande
em 4 a.C. Ele foi um líder auto-proclamado de cerca de quatrocentos rebeldes
que foi morto e cujos seguidores se dispersaram. Judas, o Galileu,
liderou uma revolta fiscal contra os romanos por volta de 6 d.C, quando
Arquelau foi deposto e novos impostos entraram em vigor (Josefo, Antiguidades
Judaicas 18,23). Suas ações inspiraram o movimento zelote posterior que
provocou a guerra judaica de 66-73 d.C. Por fim, este movimento também […]
pereceu e seus seguidores foram dispersos (5.33-37).
Empregando
duas sentenças condicionais, Gamaliel convence seus ouvintes de que se o novo
movimento for de origem humana, fracassará, mas se sua origem for divina, o
Sinédrio é que fracassará, pois estará lutando contra Deus (2Cr 13.12; Pv
21.30). Do ponto de vista do narrador, o Sinédrio está lutando contra Deus
(5.39). Além disso, o crescimento da igreja confirma a afirmação de Gamaliel à
medida que o evangelho avança (5.39).
Gamaliel
estava metade certo e metade errado quando disse, “Se esse conselho, ou essa
obra vem de homens, perecerá”. Na História há evidências abundantes de falsas
religiões que não desapareceram da face da terra. A heresia gnóstica que
afligiu a igreja no 2° e 3° séculos está bem viva atualmente (o Código Da
Vinci, de Dan Brown, é um exemplo). Gamaliel tinha a ideia equivocada de que,
se algo não era de Deus, não daria certo. Mas essa ideia não levava em
consideração a natureza pecaminosa humana e a presença de Satanás no mundo. O
sucesso não é prova de que algo é verdadeiro. Seitas falsas muitas vezes
crescem mais rapidamente que a igreja de Deus.
A
parte correta e verdadeira do conselho de Gamaliel era: “Se é de Deus, não
podereis destruí-la”. A igreja de Jesus Cristo, embora golpeada e assaltada por
todos os lados não falhará. Ela é a única instituição da face da terra que tem
uma garantia absoluta e incondicional do seu sucesso futuro. Nem toda igreja
local ou membro de igreja, mas a verdadeira igreja de Cristo será sempre
vitoriosa, e não poderá ser barrada por questões humanas.
Gamaliel
incentivou a neutralidade, mas Jesus deixou claro que é impossível permanecer
neutro em relação à sua pessoa e à sua mensagem: Quem não é por mim, é contra
mim; e quem comigo não ajunta, espalha (Mt 12.30). Os indecisos decidem-se contra
Cristo, e não a seu favor.
O
testemunho dos apóstolos (5.40-41). Os oficiais seguiram o conselho de Gamaliel e deixaram os
apóstolos ir, mas não antes de ordenar-lhes que não falassem mais no nome de
Jesus e então os açoitaram impiedosamente (5.40-41). Os açoites eram aplicados
com um chicote feito de couro, na parte superior do corpo nu do ofensor (Mt
10.17). A Mishná judaica diz para administrar um terço de tais golpes no peito
e dois terços nas costas. Segundo a lei mosaica o número de açoites contra um
condenado não pode exceder a 40 (Dt 25.2,3). Paulo escreve que foi açoitado 5
vezes e que recebeu dos judeus os estipulados 40 açoites menos um (2Co 11.24).
A
reação dos apóstolos parece contrária às emoções humanas comuns. Os apóstolos
se retiraram do Sinédrio com as costas brutalmente laceradas e a sangrar, mas,
ainda assim, regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer
afrontas por esse Nome (5.41). Os apóstolos consideram um privilégio sofrer por
Cristo, porque Jesus sofreu muito por eles (veja Mt 5.11–12; Rm 5.3; Cl 1.24;
Tg 1.2-3; 1 Pe 4.13). Em nenhum lugar a Bíblia nos diz para escolher o
sofrimento pelo sofrimento. Entretanto, se seguir a Cristo traz sofrimento, não
devemos recuar, mas aprender com os apóstolos a ver nosso sofrimento como um
privilégio à luz do propósito de Deus. Tal resposta é consistente com o ensino
de Jesus: “Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos
separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do
Filho do homem. Folgai nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso
galardão no céu …” (Lc 6.22,23). Anos mais tarde, o próprio Pedro encoraja os
cristãos oprimidos da Ásia Menor: “Regozijai-vos na medida que sois
co-participantes dos sofrimentos de Cristo” (1Pe 4.13; 2Ts 1.4; 2Co 4.17).
Os
apóstolos passaram novamente por cima das proibições do tribunal, pois todos os
dias, em público e em particular, no templo e de casa em casa, não cessavam de
ensinar, e de pregar Jesus, o Cristo (5.42). Proibir os discípulos de falar em
o nome de Jesus era o mesmo que proibir o sol de brilhar!
A perseguição refina a igreja, mas não a destrói (At 6.1).
Tertuliano, falando às autoridades do Império Romano, exclamou:
"Matem-nos, torturem-nos, condenem-nos, façam de nós pó ... Quanto mais
vocês nos oprimirem, tanto mais cresceremos; a semente é o sangue dos
cristãos”.
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Referências: Beeke, J. R.; Barrett, M. P. V. & Bilkes, G. M.
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Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento, vl. 1. Santo André, SP:
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Pastor
Leonardo Cosme de Moraes