“E o averbo se
fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua
glória, como a glória do unigénito do Pai” (João 1: 14)
Ao criar o homem
à sua imagem e conforme a sua semelhança, Deus dotou-o de uma
impressionante capacidade de pensar, de construir ideias e de estabelecer
ligações entre fenómenos, incluindo a capacidade de teorizar com base em
possibilidades ainda não testadas.
Mesmo levando em
consideração os estragos provocados pela queda da raça humana, por causa
da desobediência dos nossos primeiros pais (com maior ênfase em Adão), a busca
pela verdade, por meio da observação dos factos, da investigação dos processos
e da verificação dos resultados, continua a ser o maior empreendimento dos
descendentes de Adão.
Na abordagem da
verdade, a linguagem humana ocupa um lugar de importância basilar, visto que as
palavras pronunciadas são portadoras de pensamentos que, por sua vez, comunicam
a verdade por meio de proposições.
Tudo o que
expressa um elevado grau de coerência e de profundidade intelectual, denuncia
a existência de uma mente por detrás dos
resultados obtidos. Todo o quadro epistemológico tem como pano de fundo o conceito
e a realidade da verdade. Aliás, podemos afirmar, com toda a certeza, que todos
os relacionamentos humanos ( em todas as dimensões da sua existência) são
sustentados pela premissa da verdade.
De um modo
peculiar, a espiritualidade cristã sustenta-se pela noção de verdade e encontra
o seu equilíbrio tendo como fundamento a própria verdade.
É ela que faz da
espiritualidade cristã uma experiência única e consistente. É a verdade que
estabelece o padrão, a partir do qual a fé, a adoração, a vida comunitária e o
comportamento dos comungantes são avaliados. É pela verdade que os
benefícios da fé (tais como a paz e a liberdade) são experimentados e gozados
plenamente (João 8: 31,32).
A singularidade
da espiritualidade cristã faz-se evidente na medida em que as Escrituras
apresentam o Senhor Jesus, não só como o maior conhecedor ou a fonte de toda a
verdade, mas também como a própria encarnação e a personificação da mesma (João14:6).
João diz que o
Verbo que (no princípio) estava com Deus e que era Deus (João 1:1),
agora estava no mundo (João 1:10). Esta presença física do Filho
de Deus deu-se por meio da encarnação (João 1:14), uma presença marcada,
profusamente, pela graça e pela verdade (João 1:14).
Embora, por meio
da lei e dos pronunciamentos proféticos, a graça e a verdade já estivessem
presentes e já fizessem parte da espiritualidade do remanescente crente, em
Israel, a sua plenitude só se tornou uma realidade com a vinda do Verbo
encarnado, o Cristo de Deus (João 1:17).
Concluímos, pois, por
dedução lógica, que a fé bíblica, com todas as variáveis que lhe são inerentes,
deve estar fundamentada na verdade. É a partir da Palavra inspirada, com todas
as suas verdades proposicionais (que formam a espinha dorsal da doutrina
cristã) que a adoração, o serviço e a comunhão dos crentes encontram (e devem
encontrar) o seu padrão de medida.
A verdadeira fé,
depositada naquele que é a própria encarnação da verdade, deve caraterizar-se
pelo amor à verdade que está em Cristo.
Toda a formação
teológica deve ter como motivação e propósito pedagógico, o desejo (gracioso e
redentor) de levar homens e mulheres ao conhecimento do Pai, pelo caminho da
cruz, ensinando toda a verdade revelada nas Escrituras, com reverência e com
convicção.
Soli Deo Gloria.
Pr. Samuel Quimputo
in Boletim 145
27janeiro2013