Vidas Perfumadas

Sair das grandes cidades para os campos, em plena primavera, é experimentar uma das sensações mais extraordinárias de variedade de aromas exalados pelas flores que enchem a atmosfera campestre com o seu perfume e cheiro agradável.

Depois de apresentar um quadro pesado e triste, relacionado com a atitude menos cordial da igreja em Corinto, e de manifestar a sua inquietação e apreensão pela ausência de Tito e pelo desconhecimento do seu paradeiro, Paulo passa, de forma brusca e repentina, para uma atitude de alegria e de gratidão a Deus, apesar da realidade menos animadora da vida dos crentes daquela igreja.

O apóstolo dá graças a Deus, o Pai, que, por meio do grande comandante -Jesus Cristo-, conduz Paulo e os seus companheiros (e a todos os seus servos) a uma vida de triunfo. 

Apropriando-se da imagem de uma marcha (ou procissão) militar que ocorria quando o exército romano entrava em Roma, depois de uma conquista bélica, conduzindo, acorrentados, os inimigos derrotados e capturados vivos e cujo intenso cheiro de ervas aromáticas e de incenso se espalhava pelo recinto, exalando a sua fragrância típica, preanunciando o reconhecimento da bravura dos vencedores e, ao mesmo tempo, a morte certa dos vencidos (a não ser que o imperador demonstrasse misericórdia,  poupando-os da pena máxima), Paulo, considerando-se um conquistado por Cristo e um servo do grande general, afirma que, à medida que ele e todos os crentes, comprados pelo sangue de Jesus, vão vivendo e anunciando a mensagem do evangelho, vão também, e ao mesmo tempo, espalhando o bom cheiro de Cristo.

É mister notar o facto de que a fonte  donde todo o perfume se exala é Cristo. A vida, a experiência e o testemunho dos crentes, conquistados pelo poder redentor de Jesus, devem refletir o carácter e a beleza do Senhor, de quem receberam poder e graça suficientes, que os capacita a fazer Cristo conhecido num mundo carente de orientação e de sentido, e  que desconhece o verdadeiro propósito da sua existência.

Segundo Paulo, o cheiro de Cristo deve ser exalado “em todo o lugar”, o que significa que onde quer que estejam os crentes e quaisquer que sejam as circunstâncias em que se encontrem, é necessário que Cristo seja visto através da vida daqueles que professam conhecê-lo e partilham a  sua intimidade com Ele.
Que neste período de férias, em que muitos estarão  fora do seu “habitat natural”, as nossas vidas e o nosso testemunho demonstrem a graça e a beleza de Cristo. Que as palavras que saírem da nossa boca proporcionem um profundo alívio àqueles que nos ouvem e connosco partilham as suas inseguranças.

Que cada um de nós seja usado como um vaso de bênçãos e um depósito da fragrância de Cristo, pronto a exalar o agradável aroma da santidade e do amor que só podem ser encontrados naquele que é, por excelência, a fonte primária de todo o bem. Soli Deo Gloria!   

Pr. Samuel Quimputo
in Boletim julho 2017


Dia dos Pastores




fotos Avelina Menezes
escolha das flores: Zita Urbano
 ano 2017

Discípulos de Um Só Mestre

Mesmo que não lhe tenha sido reconhecido nenhum preparo formal aos pés de algum mestre judeu, ou que tenha frequentado alguma escola rabínica do seu tempo, o Senhor Jesus era popularmente considerado um verdadeiro “Rabi”, isto é, Mestre.

Não houve ninguém que com ele se tenha cruzado ou que o tenha ouvido  ensinar que duvidasse da sua evidente e inegável mestria. As palavras que saíam dos seus lábios eram revestidas de uma sabedoria tal, que não deixavam ninguém indiferente. Mesmo os seus mais acérrimos opositores ficavam, não poucas vezes, emudecidos diante daquele cujo discurso era caraterizado por uma autoridade singular, que ultrapassava a dos fariseus e dos escribas, embora exalasse, ao mesmo tempo e de modo paradoxal, graça, bondade e compaixão.

A consequência lógica do reconhecimento da sua mestria era o número cada vez mais alargado de seguidores que ingressavam na sua “escola”, e que se consideravam seus discípulos.

Embora nem todos os que se intitulavam  “discípulos” o fossem de facto, e por motivações corretas, contudo, aqueles que verdadeiramente criam ser ele o Messias de Deus, que havia de vir ao mundo, eram considerados irmãos, logo, discípulos do único Mestre que os havia convencido pela verdade que proclamava, com discursos penetrantes e que denunciavam os males do coração humano (Mateus 23:8,10).

É na qualidade de discípulos que os crentes que nele confiavam foram comissionados a sair da sua zona de conforto, a ultrapassar as barreiras do comodismo e da indiferença e a levar a mensagem da salvação aos demais seres humanos, que jaziam nas densas trevas espirituais e que careciam do amor sacrificial que abraça, acolhe, ilumina e liberta.

Antes de deixar este mundo, o Senhor Jesus, em ato de despedida, ordenou aos seus discípulos o “fazer discípulos” em todas as nações, querendo isso dizer que  a incumbência de proclamar o evangelho  envolvia não só o anúncio das boas-novas, mas também o acompanhamento necessário dos que aceitassem a fé, de modo que fossem ajudados a crescer na graça e no conhecimento daquele que é o “novo” Senhor das suas vidas.

Ananias, enviado para ser o agente divino da “conversão” e do batismo de Saulo, foi identificado como “discípulo” de Cristo (Atos 9:10). Após o seu batismo, Saulo permaneceu por alguns dias em Damasco, na companhia de crentes que Lucas identifica como “discípulos” (Atos 9:19).

Este aspeto enfatizado por Lucas tem como objetivo destacar o princípio de que todos os seguidores de Jesus estão debaixo da sua liderança e do seu ensino. E, embora haja entre si estágios diferentes  no crescimento espiritual, todos os crentes pertencem à mesma escola que os prepara para a tarefa de levar e fazer conhecido o nome do Senhor aos que ainda estão perdidos.

Essa nobre missão, de resultados e consequências eternas, implica, por parte dos que são escolhidos, um compromisso radical e uma predisposição em sofrer as consequências inerentes ao facto de a proclamação do evangelho de Jesus ser feita com a Bíblia na mão e a “cruz às costas”.

Saulo foi agraciado por Deus para ser um instrumento (ou vaso) útil, a fim de levar a todos o nome, diga-se autoridade, daquele que antes perseguia. Contudo, essa bênção envolvia, igualmente, a realidade do quanto iria sofrer no decorrer do cumprimento da sua missão.

Que o Senhor nos dê uma melhor compreensão da nossa missão neste mundo, e desperte em cada um de nós a consciência de que  só há um Mestre, e que todos somos meros discípulos ao serviço desse Mestre sem igual. 

Soli Deo Gloria!   

Pr. Samuel Quimputo
Boletim junho 2017


Somos Uma Família, Sim!


Com muita frequência, quando se quer reivindicar a igualdade entre todas as pessoas, ou quando se quer denunciar (com certo grau de indignação) a injustiça do infortúnio que atinge  uns e não  outros, é comum usar-se a expressão popular: “todos somos filhos de Deus”.

Embora tal expressão seja usada como um simples dito proverbial, muitos acreditam que é verdadeira e, com base nessa crença, acabam por atribuir-lhe uma carga teológica que defende (e assegura) a paternidade divina de todos os seres humanos.

Infelizmente, essa verdade aparente é alimentada, com algum certo populismo à mistura, por muitos teólogos que não suportam (nem toleram) o claro ensino das Escrituras que afirma que, sendo os seres humanos criaturas de Deus, e nele encontrem a sua origem, sendo Ele o único Criador, não obstante, nem todos pertencem à Sua esfera familiar.

Aliás, esta distinção é a razão do plano redentor divino e, consequentemente, a causa do imperativo missionário que comissiona todos os salvos e os impulsiona a serem testemunhas do Senhor Jesus e proclamadores das boas-novas da salvação a todos aqueles que ainda não fazem parte do “agregado familiar” divino.

A linguagem que caracteriza a narrativa bíblica, no que diz respeito ao relacionamento de Deus com o seu povo, é uma das metáforas que traduz, de forma bem peculiar, o ambiente de amor e de afetos no qual homens e mulheres gozam as benesses da nova vida em Cristo.

Paulo, ao escrever a uma das igrejas mais influentes do seu ministério apostólico, maioritariamente gentílica, embora contivesse um grande número de crentes judeus, partilha com eles o mistério que lhe tinha sido revelado pelo Senhor, e que diz respeito à unidade espiritual entre judeus e gentios, e faz de ambos os grupos  herdeiros coiguais das bênçãos do reino.

À medida que ia desenvolvendo a sua cristologia, destacando de forma sublime a obra realizada no Calvário e a subsequente (e não menos relevante) vitória sobre a morte, Paulo conclui que Cristo, por meio da sua vinda ao mundo e por tudo o que fez em favor, e no lugar, de judeus e de gentios, trouxe uma mensagem de paz.

Essa paz tem duas vertentes: a que reconcilia o Homem pecador, morto em seus delitos e pecados, com Deus, o Criador que se torna seu Pai, e a paz que promove e estabelece a reconciliação entre os homens, independentemente da etnia, raça, nacionalidade, género ou estatuto social.

É com base nesse mistério revelado que Paulo vai afirmar categoricamente  que os gentios crentes em Cristo já não são “estrangeiros nem peregrinos”, isto é, sem família espiritual e sem terra própria, mas sim, incorporados na família espiritual de Deus.

Na qualidade de filhos adotivos de Deus, os crentes em Cristo pertencem à família divina e devem viver dentro dos parâmetros de um ambiente familiar saudável, onde cada membro faz o usufruto das “regalias” da mesma e se compromete a cumprir todos os requisitos necessários para o funcionamento equilibrado do “agregado familiar” e da manutenção de relacionamentos que promovam a edificação do corpo.

Aplicando o ensino de Paulo à nossa realidade eclesiástica, concluímos que, dentro da igreja local, que é a expressão real e visível da Igreja planetária, os crentes devem viver e adorar em família, devem   exercitar e desenvolver os seus dons espirituais em família, devem resolver os seus diferendos em família, onde cada um dos membros se comprometa a participar ativamente na construção de um ambiente familiar saudável que favoreça o crescimento na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo (2 Pedro 3:18).  Soli Deo Gloria!
   
Pr. Samuel Quimputo
maio 2017, no Boletim