“Porque, quem te faz diferente? E que tens tu que não tenhas recebido?
E, se o recebeste, por que te glorias, como se não o houveras recebido?”
(1 Coríntios 4:7)
Um dos mais devastadores efeitos da Queda, no ser humano, verifica-se na “crise de identidade” que domina o seu coração, levando o Homem, muitas vezes, a fazer uma avaliação errada e distorcida de si mesmo.
De um modo geral, essa autoavaliação revela a arrogância e o sentimento de auto-suficiência que caracterizam a sua natureza decaída, pecaminosa e rebelde. Não é sem razão que a virtude mais elevada que a Bíblia apresenta, diante do pecador que se confronta com a revelação divina, seja a humildade. Como alguém afirmou: “a humildade é a porta de entrada no Reino de Deus” (Mateus 5:3).
Infelizmente, mesmo entre aqueles que confessam a fé cristã, caracterizada pela graça de Deus, que alcança o pecador, arrancando-o das trevas e das “garras” de Satanás para um reino onde reina o amor, é possível encontrar alguns restos dessa atitude carnal e mundana que apela por méritos.
Embora a Bíblia afirme, claramente, que a nossa salvação tem como causa última o próprio Deus e a Sua maravilhosa graça, há sempre uma tentativa de atribuir ao Homem algum grau de mérito. Muitas vezes, a fé (salvadora) evidenciada pelo crente, no momento da conversão, é apontada como um atributo, cujo valor meritório reside, intrinsecamente, no seu ser.
Paulo conhecia bem, por experiência própria e pela observação objectiva, a inclinação humana para a usurpação dos méritos que devem ser atribuídos somente a Deus. Por esta razão afirma que a salvação e a própria fé são dons de Deus, isto é, manifestações da Sua misericórdia e da Sua graça (Efésios 2:8,9).
A fé não é a causa da salvação daquele que crê. A Bíblia nunca afirma tal coisa. O que ela diz é que a fé é o “meio instrumental” pelo qual a graça de Deus chega ao coração do pecador. Deus (Pai, Filho e Espírito Santo) é a fonte de todo o poder e de toda a vitalidade que opera a regeneração no coração do pecador. Somos salvos pela graça mediante a fé (Efésios 2:8).
A Bíblia desafia e incentiva os crentes a perseverarem na fé até ao fim, isto é, a batalharem arduamente pela fé, uma vez dada aos santos, sem desfalecer. Este é um desafio sério que exige, da parte do crente, um esforço diligente que o leva a lutar contra tudo o que afecta a sua comunhão com o Senhor, e desonra a Sua santidade.
Contudo, a perseverança, por sua vez, não constitui a causa da salvação (final) do crente. Apesar da sua importância, ela não é mais do que uma evidência externa da própria obra santificadora que o Espírito Santo estará a realizar no interior do crente. O crente justificado irá perseverar até ao fim!
No trecho de 1Coríntios 4, Paulo está a combater a arrogância dos coríntios (e de todos nós), fazendo estas perguntas retóricas, a fim de levar os seus destinatários (e todos nós) a uma atitude de humildade que reconheça o facto de que, como humanos que somos, não passamos de míseros devedores da graça divina, que nada merecemos, e que, por toda a eternidade, estaremos em constante débito para com o nosso bondoso Deus.
A lição a ser aprendida por todos os que vivem para a glória de Deus é que, tudo o que somos e temos é fruto da graça e da bondade do Eterno Deus, que nos amou, nos salvou e nos adoptou como filhos do Seu Reino.
Que o Senhor nos livre da síndrome de Lúcifer.
Soli Deo Gloria!
Pr.Samuel Quimputo