"Não assassinarás" (Êxodo 20.13)
Este é o sexto mandamento na íntegra. Em hebraico, ele é na realidade
ainda mais sucinto: לֹא (lō(ʾ)), a partícula de negação (“não”), e רָצַח (ratsakh), “assassinar”. Este mandamento ensina a santidade da vida humana. Ensina
que a vida humana, mais ainda do que outras formas de vida, tem valor único aos
olhos de Deus.
Deus criou-nos à sua imagem, e é
justamente esta doutrina que confere dignidade ao ser humano (Gn
1.26,27). Foi Deus quem deu-nos vida e atribuiu-nos valor (Sl 139.13; cf.
tb. Gn 2.7; At 17.25). O valor do ser humano não pode ser medido nem
limitado pelos padrões humanos. Todas as pessoas refletem a imagem de Deus e
devem ser valorizadas por isto.
A vida de um ser humano não pode ser
simplesmente extirpada, porquanto o ser humano foi criado à imagem de Deus (Êx
27.3); ou seja, uma vez que Deus é o doador de toda a vida, é ele quem pode
tirá-la no tempo que designou. A Bíblia ensina vida e a morte pertencem à
alçada de Deus (Fp 1.21-24). Em I Samuel 2.6, inequivocamente, a Escritura
afirma: “O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz
tornar a subir dela”. Em Eclesiastes 8.8a declara: “Nenhum homem há que
tenha domínio sobre o espírito, para retê-lo; nem tampouco tem ele poder sobre
o dia da morte”. No livro de Jó, lemos: “Visto que os seus dias estão
determinados, contigo está o número dos seus meses; e tu lhe puseste limites, e
não passará deles” (Jó 14.5). É Deus, portanto, quem tem a palavra final sobre
a morte (veja I Co 15.26, 54-56; Hb 2.9, 14-15; Ap
21.4). Consequentemente, o roubo de vidas de bebés (Êx 21.22-25) ou de
nossa vida é um crime contra Deus. Como disse Jesus: “qualquer que matar será
réu de juízo” (Mt 5.21, Ap 21.8).
Estes são os mesmos princípios que
lemos no Breve Catecismo de Westminster, nas respostas 68 e 69: "o sexto
mandamento exige todos os esforços lícitos para conservar a nossa vida e a dos
nossos semelhantes" (Ref.: Sl 132.3-4; At 27.33-34; Rm 12.20-21; Lc 10.33-37)
[…] “o sexto mandamento proíbe o tirar a nossa própria vida, ou a do nosso
próximo injustamente, e tudo aquilo que para isso concorre" (At 16.28; Gn
9.6; Dt 24.6; Pv 24.11-12; 1Jo 3.15).
Finalmente, a Bíblia ensina que o sexto
mandamento não proíbe apenas o assassinato concreto, mas aquele cometido no
coração e exige que busquemos reconciliação (Mt 5.21-26, 1 Jo 3.15). No Sermão
do Monte, Jesus diz-nos para amarmos nossos inimigos e orarmos por aqueles que
nos perseguem. Ele diz que, se você é do tipo irado insensato, “nunca ficará
livre até pagar o último centavo”. Caso insista em derramar seu cálice de ira,
haverá mais ira para você.
Olhemos para o sacrifício vicário de
Cristo, que ao enfrentar a morte na cruz, orou: “Meu Pai, se for possível,
afasta de mim este cálice; todavia não seja como eu quero, mas como tu queres”
(Mt 26.39). Que cálice era esse? Era o cálice da Ira justa e perfeita dirigida
a pessoas como nós, que tantas vezes manifestaram uma ira ímpia e profana. Nós
merecemos esse cálice, mas ele tomou sobre si mesmo. Ele, o único que jamais
violou qualquer dos mandamentos. Os homens derramam o cálice da ira uns contra
os outros, mas somente Jesus bebeu daquele cálice em nosso lugar e em nosso
favor (DeYoung, 2020). Firmemos nossos olhos em Cristo e "no conceito
de vida no Deus Vivo e não em nós mesmos” (Kaiser, 2015).
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Referências: Beeke, J. R. & Ferguson, S.
B. 2006. Harmonia das confissões de Fé reformadas. SP:
Cultura Cristã. / DeYoung, Kevin. 2020. Os Dez Mandamentos (pp. 103-116). Vida
Nova. Edição do Kindle. / Geisler, N. L. 2010. Ética Cristã: opções e questões
contemporâneas. 2º Ed. SP: Vida Nova, p. 160-161. / Horn III,
Carl. 2009. Bioética. (Em Elwell, W. A.,
ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, vl.
1. SP: Vida Nova, p. 190.). / Kaiser, W. C. 2015. O cristão e as
questões éticas da atualidade: um guia bíblico para pregação e ensino. SP: Vida
Nova, p. 137-150; 181-195. / Merrill, E.
H. 2009. Teologia do Antigo Testamento. SP:
Shedd. / Sharlemann, M. H. 2007. Aborto. (Em Henry, C. E. H., ed. Dicionário de
ética crista. SP: Cultura Cristã, p. 22-23).
Pr Leonardo Cosme de Morais