O NASCIMENTO VIRGINAL DE JESUS

              

 

O NASCIMENTO VIRGINAL DE JESUS

Mateus 1.18–25


Em todo este capítulo, Mateus coloca o nascimento de Jesus no âmbito da história, e não da mitologia. Mateus passa da linhagem humana do Rei para sua linhagem divina, mostrando que o nascimento de Jesus foi diferente de todas as pessoas mencionadas na genealogia anterior, uma vez que ele nasceu não de um relacionamento físico entre José e Maria, mas foi concebido por obra do Espírito Santo no ventre de Maria. Sua conceção foi sobrenatural, e seu nascimento foi virginal. 


Os evangelhos de Mateus e Lucas afirmam que Jesus tornou-se carne através do Espírito Santo e da Virgem Maria (Mt 1.18-21; Lc 1.30-35). Mateus fala sobre José como pai adotivo, e Lucas fala sobre Maria como mãe real. Mateus e Lucas afirmam que Jesus não teve pai humano. Jesus foi sobrenaturalmente concebido pelo Espírito Santo. Esta é uma verdade que nenhuma mente humana é abrangente o bastante para compreender. Para nós, crentes, é suficiente saber que, para aquele que criou o mundo, nada é impossível (Lc 1.37). Antes, devemos satisfazer-nos com a declaração constante no Credo dos apóstolos: “Jesus Cristo foi concebido pelo Espírito Santo e nasceu da virgem Maria”.


1. A gravidez sobrenatural (Mt 1.18, 20, 23). Maria tinha sido prometida em casamento a José, mas o casamento ainda não havia acontecido. Nos tempos do NT, o noivado era um compromisso bem mais sério que os noivados de hoje, e somente podia ser desmanchado pelo divórcio. Apesar de o casal de noivos não poderem morar juntos até que ocorresse a cerimônia matrimonial, a infidelidade por parte de um dos desposados era tratada como adultério. As expressões que dizem, no versículo 19, que Maria era “desposada com José” (ou seja, “prometida para casar-se com José”); e no versículo 20, Maria é a “mulher de José”; e no versículo 24, José recebeu “a sua mulher”, comprovam esta realidade.


Foi no intervalo do noivado à consumação do casamento que o anjo Gabriel visitou Maria em Nazaré. Nesta ocasião, Maria foi comunicada de que seria mãe do salvador, de que desceria sobre ela a sombra do altíssimo e que, pela ação do Espírito Santo, ela conceberia e daria à luz o filho de Deus (Lc 1.35) - o Salvador, que é o Cristo, o nosso Senhor. Nas palavras de Mateus, antes de Maria coabitar com José, “achou-se grávida pelo Espírito Santo”. Portanto, o pai da criança no ventre de Maria não era um amante ilícito, tampouco José. A conceção de Jesus foi realizada pela obra divina do Espírito, cujo resultado foi um bebé nascido de uma virgem (Mt 1.21). 


Ao citar Isaías 7.14 (Mt 1.21), com muita clareza, Mateus ensina que Jesus nasceu do ventre de uma mulher que nunca havia estado com um homem – uma virgem. A palavra grega que Mateus usa para “virgem” (parthenos) refere-se a uma mulher que nunca teve relações sexuais. Isaías disse: “[…] eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Is 7.14). Aqui em Mateus, entretanto, o anjo diz que seu nome será “Jesus”. O termo Emanuel descreve o que Cristo faz. Descreve o acto da encarnação. Ele será chamado Emanuel porque será a presença encarnada de Deus connosco, mas seu nome próprio será Jesus, porque “salvará o seu povo dos pecados deles”.


Despertado José do sono, fez como ordenara-lhe o anjo de Deus e recebeu sua mulher. Contudo, não teve relações com ela até o menino nascer; e ele lhe deu-lhe o nome de Jesus (1.24, 25). José fez isto muito embora o nome da criança não tivesse sido escolhido por ele. No sentido máximo, Jesus recebeu seu nome de Deus, que é o pai supremo. No sentido imediato, Jesus recebeu seu nome de José, a quem foi concedido o privilégio de ser pai terreno do Senhor Jesus Cristo.


Além disso, Mateus deixa claro que José não coabitou com Maria até o nascimento de Jesus. Fica evidente que, após o nascimento de Jesus, José e Maria viveram a vida comum do lar e tiveram um relacionamento normal de marido e mulher (conforme o mandato de Deus na Lei, Gn 2.24). Portanto, a “perpétua virgindade de Maria" não tem amparo nas Escrituras (Mt 1.25). A expressão “enquanto não” sugere que “depois sim”. Ademais, o uso da palavra “primogénito” para descrever Jesus, em vez de “unigénito” (Lc 7.12; 9.38), reforça a ideia de que Maria teve outros filhos e filhas, e de que Jesus, obviamente, teve irmãos e irmãs, conforme se pode ver no registo dos evangelhos (Mc 6.3; Mt 13.55; Jo 2.12).


Qual é a importância doutrinária de Jesus ter nascido de uma virgem por obra do Espírito Santo? Se Cristo tivesse sido o filho de José e Maria por geração natural, ele teria herdado a culpa de Adão e, consequentemente, seria um pecador incapaz de salvar a si mesmo e outros de seus pecados. Para que pudesse nos salvar, o Redentor tinha de ser Deus e homem sem pecado numa só pessoa. A doutrina do nascimento virginal satisfaz estas exigências.


2. A conduta de José. Quando a gravidez de Maria foi descoberta, José, que era um homem justo, resolveu romper a união em segredo, pois não queria envergonhá-la com uma separação pública (1.19). José inicialmente não acredita na história de Maria de que ela está grávida sem que outro homem esteja envolvido. José queria cumprir a lei, mas também queria mostrar compaixão para com sua noiva.


O anjo Gabriel apareceu para Maria, mas não para José. Imediatamente depois da visita do anjo a Maria, ela foi ao encontro de sua prima Isabel, na Judeia, e ali ficou três meses, até o nascimento de João Batista. Ao retornar a Nazaré, sua gravidez era notória. 


O texto informa que enquanto José ponderava sobre estas coisas, um anjo do Senhor apareceu a ele, em sonhos, para convencer José de que Maria não foi infiel e que eles deveriam prosseguir com seus planos de casamento (1.20). José não deveria rejeitar o filho de Maria, mas conferir a ele uma linhagem real. Para que ele fosse filho de Davi na ordem judaica, seu pai também devia ser legalmente filho de Davi. Mateus sustenta que Jesus não era filho de José. O que estava no ventre de Maria não era fruto do pecado, mas obra do Espírito Santo.


Implicações práticas (Lopes, 2019): 

A conduta de José é um exemplo de consideração pelo próximo. Desde o começo, ele estava decidido a tratar a sua amada com dignidade, poupando-a de um escândalo público. A atitude José ensina-nos que devemos proteger as pessoas, em vez de expô-las a vergonha pública (1.19). Ensina-nos que devemos ser mais cautelosos e não avaliarmos as pessoas apenas pelas aparências.


A história de José ensina-nos que não devemos viver para agradar aos homens, mas, sim, a Deus. José estava a ponto de abandonar Maria e viver sozinho, renunciando ao seu amor e à sua amada. Se ele o fizesse, teria se privado do melhor de Deus para a sua vida. O medo da opinião dos outros pode levar-nos a fazer coisas inconvenientes (Pv 29.25). José estava com medo de Maria ter sido infiel, mas nela estava se cumprindo a profecia bíblica de que uma virgem daria à luz o Messias (Is 7.14). O que José pensou que era pecaminoso, na verdade era sagrado. Maria não era uma noiva infiel, mas uma serva fiel e obediente ao Deus vivo. Seu ventre hospedava não o fruto do pecado, mas a obra do Espírito Santo. Ela carregava no ventre não um filho ilegítimo, mas o filho de Deus, o salvador do mundo (Lopes, 2019) 


Muitas vezes não compreendemos os planos de Deus ou o trabalhar de Deus em nossa vida. José estava sofrendo por algo oposto à verdade dos factos. O que José pensou que poderia ser a ruína do nome de Maria, na verdade imortalizou o nome dela, pois nela cumpriu-se a profecia (1.23). Maria tornou-se a mãe do nosso Senhor e salvador. Ela teve o sublime privilégio de amamentar o criador do universo, de carregar nos braços aquele que sustenta os céus e a terra, de ensinar os primeiros passos àquele que é o único caminho para Deus. 


3. O propósito do primeiro advento de Cristo (1.21, 23). Há dois nomes atribuídos ao Filho de Deus nesta passagem. Um deles é Jesus (1.21); o outro, Emanuel (1.23). O primeiro destes nomes descreve seu ofício; o segundo, sua natureza.


Jesus é o Messias (o Cristo) que veio para salvar seu povo. O bebé será chamado “Jesus” porque é o Salvador. Ele foi enviado para salvar o seu povo das consequências do pecado. O povo de Cristo não está imune das tristezas, da cruz e dos conflitos. Porém, são salvos do pecado, para todo o sempre. Jesus salva-nos da culpa do pecado, do domínio do pecado, da presença do pecado e das consequências do pecado.


Ele veio porque todos pecaram (Rm 3.23; 6.23; Ef 2.1). Ele veio para salvar o seu povo de seus pecados (Lc 19.10; 1Tm 1.15; Jo 3.17; Mt 20.28). Ele veio para morrer como um sacrifício perfeito. Ele nasceu como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). Ele deu sua vida por suas ovelhas (Jo 10.11). A sua morte foi substitutiva e voluntária (2 Co 5.21). Ele entregou-se. Deu-se a si mesmo por nossos pecados (Gl 1.4). Ele é a demonstração definitiva do supremo amor de Deus (Jo 3.16; Rm 5.6).


O outro nome que aparece no versículo 23 é destaca a natureza do nosso Senhor, como “Deus que se manifestou em carne”. Ele é chamado Emanuel, ou seja, “Deus connosco”. Jesus é o “Deus connosco”. Ele assumiu a natureza humana igual à nossa, em todas as coisas, exceto apenas na tendência ao pecado. Mas, embora Jesus estivesse “connosco” em carne e sangue humanos, ao mesmo tempo ele nunca deixou de ser o verdadeiro Deus (Fl 2.5-11). Portanto, o Salvador é o próprio Deus connosco. É o Deus Filho manifesto em carne humana.

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Referências: Carson, D. A. 2018. The Gospels and Acts (Em D. A. Carson, ed. NIV Biblical Theology Study Bible. Grand Rapids, MI: Zondervan, p. 1699). / Lopes, H.D. 2019. Mateus: Jesus, o Rei dos Reis. SP: Hagnos. MacDonald, W. 2011. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. SP: Mundo Cristão. / Ryle, J.C., 2018. Meditações no Evangelho de Mateus. São José dos Campos, SP: Editora FIEL. / Sproul, R.C., 2017. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. SP: Editora Cultura Cristã. / Woicik, L., 2020. Incarnation (Em J. D. Barry, ed. Dicionário Bíblico Lexham).