Reações do mundo ao Rei recém-nascido

 Mateus 2:1-12

Jesus e a sua mensagem tem provocado diferentes reações nas pessoas. Ele é amado e odiado. Atrai uns e incomoda outros. É adorado por uns e desprezado por outros. Mateus 2.1-12 fala-nos dos magos que levaram presentes generosos a Cristo porque acreditavam que ele era digno de sacrifício e honra. Eles viajaram uma grande distância e abriram os seus tesouros para honrar Jesus. Em contrapartida, vemos o desprezo dos eruditos da religião judaica e a nefasta perseguição do rei Herodes ao Rei recém-nascido (2.3, 7-8).

 

1. A visita dos magos do Oriente. As pessoas que foram visitar Jesus com tesouros generosos são identificadas por Mateus como magos. Este título aplicava-se a pessoas cujas práticas incluíam astrologia, interpretação de sonhos, estudo de escritos sagrados e busca de sabedoria (muito comum na Pérsia e na Babilônia, Dn 5.11).

Mateus sabia que o Antigo Testamento censura os astrólogos (Is 47.13-15; Dn 1.20; 2.2; 2.27; 4.7; 5.7) e proíbe a astrologia (Jr 10.1– 2). Aqui, porém, ele compara a ânsia dos magos em adorar Jesus, apesar de seu limitado conhecimento, com a apatia dos líderes judeus e a hostilidade da corte de Herodes - todos os quais tinham as Escrituras para informá-los.

O texto diz que que estes magos eram oriundos do Oriente (2.1). O relato bíblico não indica quantos magos vieram ver Jesus. Não diz se eram “reis”, nem informa seus nomes. A lenda diz: Gaspar, Melquior e Baltasar. O número das prendas contribuiu para a tradição de que eram três homens, mas o número real é desconhecido.

Eles chegaram quando havia Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes (2.1). A maioria das ilustrações retrata os magos e os pastores reunidos em torno do menino Jesus deitado numa manjedoura (Lc 2.7), mas o texto bíblico diz-nos que, quando os magos chegaram, Maria, José e o bebé estavam numa casa (2.11).

A viagem do oriente teria levado algum tempo. Portanto, os magos provavelmente chegaram alguns meses após o nascimento de Jesus. A razão para considerarmos até dois anos é porque Herodes ordenou o extermínio de todos os meninos com até dois anos de idade (2.16).

Mateus diz-nos que eles tinham visto a estrela no oriente e foram adorá-lo. Embora várias tentativas tenham sido feitas para equiparar a ‘estrela’ a um cometa, uma supernova, uma conjunção de planetas ou algum outro fenómeno natural, uma explicação sobrenatural é melhor, pois o movimento da estrela ao guiar os magos de Jerusalém a Belém (2.9) sugere que não é foi um fenómeno natural. Não poderia o Deus criador dos céus e da terra ter criado uma ‘estrela especial’ para sinalizar a chegada de seu Filho?

Como os magos perceberam que a estrela indicava o nascimento do Messias (Mt 2.2)? Pensemos em duas hipóteses plausíveis: (1ª) Eles eram judeus que haviam permanecido na Babilónia depois dos 70 anos do exílio e, portanto, conheciam às profecias do Antigo Testamento sobre a vinda do Messias (p. ex.: Dn 5.11). (2ª) Eram gentios sábios do Oriente, que estudavam manuscritos antigos do mundo todo. Por causa dos exílios Israel e de Judá, séculos antes, obtiveram cópias do Antigo Testamento. 

Balaão havia se referido a uma “estrela de Jacó” que apareceria (Nm 24.17). Este oráculo, falado por Balaão, que veio “das montanhas orientais” (Nm 23.7), era amplamente considerado messiânico. “Cristo” e “o rei dos judeus” eram títulos da mesma pessoa esperada (2.2, 4). Mateus acrescenta a linguagem pastoral de 2 Samuel 5.2, deixando claro que o governante em Miquéias 5.2 não é outro senão aquele que cumpre as promessas a Davi, e a esperança prometida de bênção para todas as nações (cf. Sl 68.28-35; Is 18.1-3, 7; 45.14; 60.6; Zc 3.10). 

Em todo o caso, Mateus informa que estes magos receberam uma mensagem especial e sobrenatural de Deus, que os guiaria até o Messias (Mt 2.9, 12).

Estes versículos ensinam preciosas verdades (Ryle, 2018; Wiersbe, 2009):


  • Pode haver verdadeiros servos de Deus nos lugares onde menos esperamos encontrá-los. A história deles é tão pouco conhecida quanto a história de Melquisedeque, de Jetro ou de Jó.

  • A atitude destes sábios prefigura a adoração de Jesus por todas as nações (Mt 28.19; Ap 7.9-10; 21.24). Embora Jesus fosse o Messias, nascido da linhagem de Davi para ser o rei de Israel, foram os gentios que vieram para adorá-lo. Eles creram em Cristo mesmo depois de os escribas e os fariseus terem demonstrado sua incredulidade. 

  • Nem sempre são aqueles que desfrutam os maiores privilégios religiosos que mais honram a Cristo. Enquanto os escribas, que conheciam com precisão as profecias sobre o nascimento do Messias e moravam em Jerusalém, muito próximo de Belém, não foram adorar o recém-nascido, rei dos judeus, os magos, que eram gentios, vieram de longe, com o propósito de adorá-lo. Com frequência as pessoas que vivem mais perto dos meios de graça são justamente aquelas que mais os negligenciam. Parece que a familiaridade com as realidades sagradas leva algumas pessoas a desprezarem-nas.

  • O conhecimento intelectual das Escrituras, por si só, não salva ninguém. Sem o acompanhamento da graça no coração, uma pessoa pode ser possuidora de um profundo conhecimento teológico, mas perecer para sempre. O rei Herodes indagou aos sacerdotes e escribas “onde o Cristo deveria nascer”. Eles responderam com precisão, mostrando que estavam perfeitamente familiarizados com o ensino bíblico. Entretanto, eles mesmos não foram a Belém para homenagear o Messias, o Rei prometido (2.8). Eles conheciam a Palavra, mas não agiam de acordo com ela. Os magos ouviam e seguiam a Palavra!

2. A atitude de Herodes em relação a Cristo. Em contraste com o desejo dos Magos de adorar o Rei dos Judeus, o rei Herodes e a cidade de Jerusalém ficaram alarmados ao saber que havia nascido o rei dos judeus (Mt 2.3). Herodes tinha obsessão pelo poder. Ele era um rei tirano, egoísta e assassino. A cidade de Jerusalém, conhecedora de suas atrocidades, temia outra onda de fúria do monarca cruel.

Herodes convoca os principais sacerdotes e escribas do povo para indagar onde o Cristo deveria nascer. A resposta destes especialistas foi Ele deveria nascer em Belém da Judeia, pois assim apontava a profecia de Miqueias 5.2. Em vez de o esclarecimento dos principais sacerdotes e escribas trazer sossego à alma de Herodes, agravou ainda mais seu tormento (Mt 2.4-6).

O motivo pelo qual Herodes queria saber, em seu encontro secreto com os Magos (Mt 2.7), a hora exata em que a estrela apareceu foi que ele já havia planejado matar os meninos pequenos de Belém (Mt 2.16). Ele enviou os magos a Belém com o propósito de que se informassem cuidadosamente acerca do menino. A falsa humildade de Herodes - "para que eu possa ir e adorá-lo" (Mt 2.8) - enganou os magos. Seu propósito não era adorar Jesus, mas o eliminar. Confiante de seu sucesso, Herodes não enviou escolta com eles. Ele não previa a intervenção de Deus (Mt 2.12). Aqueles magos estavam ali não para atender suas ordens, mas para cumprirem o plano eterno do Rei dos reis (Lopes, 2019).

3. A atitude dos magos em relação a Cristo. Os magos viajaram milhares de quilómetros para ver “o nascido Rei dos Judeus”. Quando finalmente o encontram, manifestaram alegria, adoração, e deram-lhe prendas (Mt 2.2, 11). Os magos trouxeram ouro, incenso e mirra. Esta atitude é muito diferente daquela que as pessoas frequentemente têm. Normalmente, as pessoas esperam que Deus venha ao nosso encontro para provar seu amor com dádivas e bênçãos. Mas os verdadeiros servos de Deus buscam e adoram Jesus não por aquilo que Ele pode dar, mas por quem Ele é.  

As prendas entregues a Jesus traziam uma mensagem profética. Mostra o cumprimento das passagens do AT, onde os gentios trazem suas riquezas para o rei de Israel (Sl 72.10; Is 60.6). Qual o significado destas prendas? 

O ouro é uma prenda adequada para ser dedicada ao Rei. Com este gesto, os magos reconheceram que Jesus é o Rei dos reis, a suprema autoridade no céu e na terra, aquele que está no trono do universo, que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade. 

O incenso é uma prenda adequada para um sacerdote. O incenso era a única resina usada e permitida no altar (Êx 30.9, 34-38). No tabernáculo, e posteriormente do templo, o sacerdote queimava incenso sobre o altar. Os magos trazem incenso para aquele que seria o perfeito sacerdote. Até o tempo de Jesus os sacerdotes ofereciam sacrifícios por si mesmos e pelo povo. Estes sacrifícios precisavam ser repetidos, pois eram imperfeitos, oferecidos por homens imperfeitos. Jesus veio ao mundo como o supremo sacerdote, o sacerdote perfeito, sem pecado, para oferecer um sacrifício perfeito, a sua própria vida. Ele é ao mesmo tempo o Sacerdote e o sacrifício. Jesus é o único Mediador entre Deus e os homens, aquele que abriu para nós um novo e vivo caminho para Deus, dando-nos livre acesso à presença do Pai.

A mirra é uma prenda para simbolizar a morte. O principal emprego da mirra entre os povos antigos era a unção dos mortos durante o sepultamento. Foi usada para preparar o corpo de Jesus por José de Arimateia e Nicodemos (João 19.39). No dia do nascimento, uma prenda profética. O corpo de Jesus seria sacrificado pelos nossos pecados. Esta prenda indica que ele é supremo salvador dos homens. Isto não deveria surpreender-nos, uma vez que Maria e José receberam o seguinte anúncio quando levaram o Menino ao templo: “Eis que este menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em Israel e para ser alvo de contradição (também uma espada traspassará a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações” (Lc 2.34-35).

4. Invista no Reino de Deus. Os magos levaram presentes generosos a Cristo porque acreditavam que ele era digno de sacrifício e honra. Eles viajaram uma grande distância e derramaram sua riqueza para honrar Jesus. Ofereceram o melhor para o Rei Jesus. Os três presentes eram preciosos. A palavra “tesouros”, em Mateus 2.11, provavelmente significa “cofres” ou “caixas de tesouro”. Estes presentes provavelmente foram usados ​​providencialmente para sustentar a família em sua fuga para o Egito (Mt 2.13-15). 

A forma como lidamos o nosso dinheiro revela, com mais objetividade do que qualquer outra coisa, onde nosso coração está. Não há dúvida que somos abençoados quando investimos com amor e generosidade no reino de Deus - quando contribuímos para a causa de Jesus Cristo, para o sustento de sua santa Igreja. Contudo, não devemos incentivar as pessoas a dizimar para que enriqueçam; tampouco porque é uma obrigação. Deus não se agrada quando seguramos nosso dinheiro com força, relutando em entregá-lo, “porque Deus ama quem dá com alegria.” (2 Co 9.7).

A contribuição financeira para a igreja de Cristo é um assunto que incomoda muitas pessoas, sobretudo, aqueles que estão ao serviço de Mamon, a personificação diabólica do apego pelo dinheiro (Mt 6.24). Trata-se de um assunto perturbador aqueles que são ingratos a Deus, mordomos infiéis, avarentos (Cl 3.5). Nesta passagem, contudo, vemos qual deve ser a atitude dos cristãos para com Cristo e a sua obra neste mundo. Vemos como Deus cuidou de Jesus e de sua família, provendo recursos para fuga da perseguição do rei Herodes para o Egito (Mt 2.13).

Depois de terem homenageado a Jesus com presentes valiosos. Eles foram por divina revelação avisados num sonho para que não voltassem para junto de Herodes. Assim, eles voltaram por outro caminho à sua terra (Mt 2.12). Qualquer um que vai até Cristo volta para casa por outro caminho. Aqueles que têm um encontro com Cristo nunca mais andam pelas mesmas veredas, pois são "novas criaturas”, receberam novas vidas e trilham um novo caminho.

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Referências:
Carson, D. A. 1984. Matthew. (In F. E. Gaebelein, ed. The Expositor’s Bible Commentary: Matthew, Mark, Luke. Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing House, p. 82–90). / Carson, D. A. 2018. The Gospels and Acts. (In D. A. Carson, org. NIV Biblical Theology Study Bible. Grand Rapids, MI: Zondervan, p. 1700–1705). / Crossway Bibles. 2008. The ESV Study Bible, Wheaton, IL: Crossway Bibles. / Lopes, H.D. 2019. Mateus: Jesus, o Rei dos Reis. SP: Hagnos. / Ryle, J. C. 2018. Meditações no Evangelho de Mateus. São José dos Campos, SP: Editora FIEL. / Sproul, R.C. 2017. Estudos Bíblicos Expositivos em Mateus. SP: Editora Cultura Cristã. / Wiersbe, W. 2009. Comentário Bíblico Wiersbe Novo Testamento. RJ: Geográfica. 

 

Pastor Leonardo Cosme de Moraes