As parábolas do tesouro escondido e da pérola de grande valor ilustram a resposta sincera que o reino dos céus exige. As analogias dramatizam a suprema importância do reino dos céus e da alegria de encontrá-lo.
Ambas as parábolas instiga-nos a trocarmos tudo aquilo que considerámos o centro da nossa vida e concentrarmo-nos no reino dos céus (Mt 6.33). Por outras palavras, quem compreender o verdadeiro valor do reino como Jesus o apresenta, trocará alegremente tudo o mais para segui-lo. Assim como os discípulos de Jesus que descobriram o tesouro do reino e deixaram tudo para seguir o Senhor Jesus.
Esta interpretação está de acordo com tudo o que Jesus sempre ensinou sobre o caminho da salvação (Mc 10.21). Jesus ordenou aos que buscavam a vida eterna que negassem a si mesmos e o seguissem. Suas palavras às multidões, em Marcos 8.34–37, não poderiam ser mais diretas: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser, pois, salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, salvá-la-á. Que aproveita ao homem, ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Que daria um homem em troca de sua alma? Em João 12.25, sem deixar nenhuma sombra de dúvida, Jesus afirma: “Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna”.
Para interpretar as parábolas de Jesus, é necessário ter sempre em consideração determinados princípios hermenêuticos: (1) Não podemos usar uma parábola para interpretar outra. (2) O simbolismo utilizado numa parábola não deve ser levado a extremos. (3) A maioria das parábolas traz uma lição principal - ilustram uma verdade central.
Por exemplo, não é dito que o campo, nesta parábola, seja o mundo. “O campo é o mundo” (v. 38) aplica-se à parábola do joio. A semente ali semeada ilustra os filhos do reino. Já o campo na parábola do semeador representa um coração cultivado, e a semente é a Palavra. Portanto, as figuras utilizadas não representam as mesmas coisas em todas as parábolas.
Não podemos perder de vista o(s) foco(s) central(ais) da(s) verdade(s) ilustrada(s) numa parábola. Comprar este campo não sugere comprar a salvação e, portanto, não viola a doutrina da graça (Is 55.1; Ef 2.8-9). Em vez disso, a parábola enfatiza o valor supremo do tesouro escondido (o reino dos céus), que vale muito mais do que qualquer “sacrifício” que alguém poderia fazer para adquiri-lo. A parábola, na verdade, nem mesmo trata de “sacrifícios”, já que a pessoa que o encontra recebe um valor muito maior.
A mensagem da parábola do tesouro escondido (Mt 13.44). No mundo antigo, não havia bancos, cofres ou
afins. O procedimento normal para se esconder e proteger objetos de valor era
enterrá-los num lugar secreto. A história judaica está repleta de batalhas,
cercos, e conquistas dos exércitos inimigos que chegavam para saquear. Josefo,
o historiador judeu do primeiro século, escreveu sobre “o ouro e a prata e a
mobília preciosa que tinham os judeus, os proprietários escondiam sob a terra,
por causa dos destinos incertos da guerra”.
A mensagem da parábola da pérola de grande valor (13.45-46). Na parábola da pérola de grande valor deparamo-nos com um comerciante especializado no ramo de compra e venda de pérolas. Ao contrário do homem que tropeçou no tesouro escondido (Mt 13.44), esse comerciante procurava diligentemente pelas pérolas excelentes. Mas quando ele encontrou a pérola de grande valor (o reino dos céus), sua reação foi a mesma: ele sacrificou tudo o que tinha e comprou-a (13.45-46).
Mais uma vez, o argumento de Jesus era que aquilo que o homem faz por uma pérola valiosa é exatamente o que o crente deve fazer para ganhar o reino. O reino dos céus vale muito mais do que tudo o que se possa ter. Seu valor excede muito ao dos tesouros deste mundo ou às pérolas mais excelentes. Mesmo assim, a sua riqueza passa despercebida da maioria das pessoas.
- Tal
como o tesouro oculto no campo, multidões passam por ele sem jamais
notarem a sua presença. Em 1 Coríntios 2.14, lemos que “o homem natural
não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não
pode entendê-las porque elas se discernem
espiritualmente”. Então, como alguém pode perceber as
realidades do reino? No mesmo capítulo, em 1 Co 2.10, diz: “mas Deus no-lo
revelou pelo Espírito.” Deus abre os corações para que compreendam o valor
inestimável do seu reino.
- O
homem que achou o tesouro vendeu tudo o que tinha movido por pura alegria (Mt
13.44). Ele alegra-se em desistir de tudo pelo reino. A fé salvadora é
assim. O coração que crê rende-se ao Senhor com grande
alegria. Paulo, por exemplo, compreendeu a alegria de desistir
de tudo em troca de um ganho maior. Comparado ao tesouro de conhecer a
Cristo, tudo o mais, em sua vida, ele considerou como refugo (veja
Filipenses 3.7,8).
- Estas
parábolas ensinam que a fé salvadora é uma rendição incondicional, uma
disposição para fazer o que quer que seja que o Senhor mandar. Ensinam que
o verdadeiro discípulo deixa qualquer coisa que opõe -se a Cristo ou que
vier a entrar em competição com Ele (Mt 10.39; 16.25; Lucas 14.25–35).
Esse desejo de render-se à autoridade divina é a marca de todo verdadeiro
discípulo. É a manifestação inevitável da nova natureza (2 Co 5.17).
- A
salvação é, ao mesmo tempo, gratuita e caríssima. A vida eterna é um dom
gratuito (Rm 6.23). Ela foi comprada por Cristo, que pagou o resgate com o
seu sangue. Mas isto não significa que não haja um custo no que toca ao
impacto da salvação sobre a vida do pecador. A vida eterna causa a
imediata morte do ego. “Sabendo isto, que foi crucificado com ele o nosso
velho homem” (Rm 6.6). Trata-se de uma troca de tudo o que somos por tudo
o que Cristo é.
- O
verdadeiro cristão é o que é, e faz o que faz, por estar totalmente persuadido
de que vale a pena. Por outro lado, as pessoas não convertidas são o que
são porque não estão plenamente persuadidas de que vale a pena ser
diferente. Não querem tomar sua cruz. Não desejam comprometer-se. Não vêm
para o lado de Cristo por não estarem convencidas de que esta é a solução.
Elas não estão seguras da realidade do “reino do céus”. Eles não estão
convencidas de que o “reino” possui tanto valor, um valor que justifique
concentrar toda a vida nele (Ryle, 2018). O Senhor Jesus, porém, ensina-nos
que não vale a pena tentar ganhar a própria vida e, por fim, perder a vida
que realmente importa - a vida eterna.
- Investidores
experientes geralmente não concentram todo o seu dinheiro num único
investimento. Mas foi exatamente isso o que ambos os homens destas
parábolas fizeram. O primeiro vendeu tudo e comprou um campo; o segundo
vendeu tudo e comprou uma pérola. Igualmente, quem realmente crê em Cristo
não faz duplos investimentos. O crente verdadeiro assume o compromisso e
entrega-se inteiramente a Cristo (Lucas 14.28–31); assim como Moisés, que
“considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros
do Egito, porque contemplava o galardão” (Hb 11.26). Ele abandonou as
riquezas do mundo para sofrer por amor a Cristo. Ele trocou o Egito por
uma recompensa celestial. Esta é a única atitude que poderá abrir as
portas do reino (MacArthur, 2008). Então, você também deseja ter Cristo a
qualquer preço? Você já rendeu-se ao senhorio de Cristo? Ele reina em seu
coração? Tudo isso acontece quando alguém nasce de Deus. São evidencias da
fé salvadora.
_______________
Referências: Carson, D. A. 1984. “Matthew”. (Gaebelein, F. E., ed.
The Expositor’s Bible Commentary: Matthew, Mark, Luke, vl. 8 8. Grand Rapids,
MI: Zondervan, p. 327-329). / Crossway Bibles, The ESV Study Bible (Wheaton,
IL: Crossway Bibles, 2008), 1849. / Lopes, H. D. 2019. Mateus: Jesus, o Rei dos Reis:
Comentários Expositivos Hagnos. SP: Hagnos, p. 437–438. / MacArthur, J.
2008. O Evangelho Segundo Jesus.
São José dos Campos, SP: Editora FIEL, p. 177–187. / Ryle, J. C. 2018. Meditações no Evangelho de Mateus.
São José dos Campos, SP: Editora FIEL, p. 146–148. / Sproul, R. C. 2017. Estudos Bíblicos Expositivos em
Mateus. SP: Editora Cultura Cristã, p. 387–392.
Leonardo Cosme de Moraes