A natureza da fé justificadora

        

  Romanos 4.1-5


Como a justiça de Cristo torna-se nossa? O evangelho bíblico afirma que somos justos baseados na justiça de Jesus que é transferida para nossa conta. É a justiça de Cristo que justifica-nos. Tudo o que podemos apresentar é a nossa confiança nele e em sua justiça. 


A vida eterna depende de Cristo somente. A vida eterna é união com Jesus Cristo. E o nome desta união com Jesus Cristo é fé. A fé é o instrumento pelo qual somos ligados a Jesus. Somente a justiça de Cristo é a base de nossa justificação. Quando Deus declara o seu julgamento de nossa posição diante dele, quando ele vê fé, ele declara-nos justos; mesmo quando ainda somos pecadores.


Em Romanos 4, Paulo volta ao Antigo Testamento, e descreve Abraão como o supremo exemplo de como uma pessoa é justificada pela fé, e não pelas obras. “A única diferença entre a nossa justificação e a de Abraão é que ele olhava para frente, para o que era prometido. Ele confiava na promessa do redentor, enquanto nós olhamos para trás, para a obra de Jesus” (Sproul, 2011). Contudo, o fundamento da justificação de Abraão era exatamente o mesmo que o nosso, isto é, a pessoa e a obra de Jesus.


Abraão não poderia gloriar-se porque não foi justificado pelas obras, assim como nós também não (Romanos 4.1-2). Abraão foi avaliado ou considerado por Deus como justo, não em razão de qualquer atitude de justiça que Abraão tenha praticado, mas simplesmente porque ele creu na promessa de Deus. No momento em que Abraão creu, Deus o declarou justo (Romanos 4.3-4; Génesis 15.6).


A fé salvadora significa confiar em Jesus Cristo. É lançar sobre Ele todos os seus cuidados. Nenhum texto da Escritura Sagrada diz isso tão bem quanto Romanos 4.5: “Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça”.


Observe as diferentes maneiras que este versículo ensina a justificação pela fé somente (Gerstner, 2013): “(1) O justificado “não trabalha”. (2) O justificado “crê”. (3) O justificado crê não em si mesmo, e sim em outro – em “Deus”. (4) O justificado confessa ser “ímpio”. (5) O justificado não tem fé em sua fé. (6) O justificado vê sua fé só como “creditada” a ele.  (7) O justificado vê sua fé creditada como “justiça”.


Note que esta fé é um acto, mas não uma obra meritória. A igreja romana ensina que somos salvos pelas obras, que vêm da graça. Ou seja, não é a graça e sim as obras que vêm dela que salva. Se uma pessoa crê que a graça a salva, ela é protestante e está do nosso lado.


A pessoa justificada “não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio”. Se os ímpios chegam a ser justificados, não pode ser por obras ou fé como obra. É a justificação por Jesus Cristo somente. É a justiça dele, que é alcançada para seu povo pelo cumprimento de toda a justiça, que torna-se deles pela união deles com Cristo por intermédio fé somente.


Alguns romanistas dirão que eles também ensinam a justificação pela graça. Mas a justiça de Cristo que eles afirmam que justifica não é a justiça pessoal de Cristo imputada aos crentes. Os romanistas  referem-se não à justiça pessoal de Cristo e sim a justiça pessoal de crente, que ele realiza pela graça de Deus. É a justiça de Cristo versus a justiça do próprio crente. É a realização de Cristo versus a realização do cristão. É uma justiça imputada versus uma justiça infundida. É uma dádiva de Deus versus uma realização do homem. Enfim, é a salvação pela fé versus a salvação pelas obras. 


O protestante confia em Cristo para salvá-lo e o papista confia em Cristo para ajudá-lo a se salvar. Mas, como o Espírito de Deus coloca em Romanos 4.16 (NIV): “… a promessa vem pela fé, para que seja de acordo com a graça …” Você não poderá ser salvo somente pela graça a não ser somente pela fé. Se é uma salvação baseada em obras que vêm da graça, não é baseada na graça; e sim nas obras cristãs que vêm pela graça. As obras que vêm da graça devem evidenciar a graça, mas não podem ser graça. Poderão vir de; ser derivadas de; uma consequência natural de; mas não poderão ser identificadas com ela. A fé é a união com Cristo que é nossa justiça, nossa graça, nossa salvação (1 Coríntios 1.30). Nossa justiça não resulta da justiça Dele, ela é a justiça Dele (1 Coríntios 1.30). 


A justificação com Deus é à parte do mérito das obras. Isso não significa que a justificação é à parte da existência de obras. A fé sem a existência de obras é morta. A fé salvadora é uma fé vive, operosa, que gera boas obras para a glória de Deus. 


Se um crente não estiver transformado, ele não é um crente. Ninguém pode ter Cristo como Salvador por um momento que seja, se ele não for também Senhor. Contudo, a afirmação do evangelho é que as obras que fluem da fé não são, de modo nenhum, a base da justificação. Deus declara-nos justos aos seus olhos no momento em que a verdadeira fé está presente, antes que qualquer obra brote de nossa fé. 


O céu cristão é ganho de maneira absolutamente justa. Jesus Cristo foi punido em lugar do seu povo. A ira total de Deus merecida pelo pecador foi derramada no Substituto do pecador. Assim, o pecador foi punido. Cumprindo toda a justiça, assim Ele justificou o seu povo diante de Deus (2 Coríntios 5.21) Jesus fez por merecer e pagou por tudo com seu sangue. A justificação é, no fim das contas, por obras – as obras de Jesus Cristo! Ele justificou seu povo pelas obras Dele como sendo obras deles, obras feitas por eles em seu representante, substituto e mediador. Ele “foi entregue à morte por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação” (Romanos 4.25 NVI, v. tb. 1.4).


Obras imperfeitas nunca poderiam perdoar pecados ou ganhar a absolvição de um culpado no tribunal divino. Mas obras imperfeitas podem merecer no céu as recompensas que o Senhor Jesus Cristo diz que vão receber (Lucas 6.23). Toda obra pós-justificatória que o crente fizer em qualquer tempo irá receber sua recompensa no céu. A culpa do pecado foi removida dos crentes em Cristo, tornando suas boas obras aceitáveis e dignas de recompensas celestiais. Mesmo um copo de água fresca dado em nome de Jesus terá sua recompensa eterna (Mateus 10.42). 


Lembra-se, porém, que não há nenhuma bênção maior debaixo do céu do que o ter Deus, em sua misericórdia e graça, transferindo a justiça de Jesus para a nossa vida (Romanos 4.7,8). "Quando Deus olha para nós inerentemente, tudo o que vê são trapos sujos; entretanto, essa não é a maneira como Deus olha para os que estão unidos a Cristo pela fé. Ele olha para os crentes e vê a Cristo. Vê a cobertura de justiça de Cristo" (Sproul, 2011). Cristo é a justificação dos crentes. A única justiça que possuímos é a justiça de Cristo, e nós a possuímos por transferência, por imputação. A possuímos exclusivamente pela fé na pessoa e na obra fiel do Senhor Jesus Cristo. 

______

Referências: Gerstner, J. H. 2013. A Justificação pela fé somente. (In Kistler, D. ed. Justificação pela Fé: a marca da vitalidade espiritual da igreja. SP: Cultura Cristã, p. 83–92). Moo, D. 1996. The Epistle to the Romans: the new international commentary on the New Testament. Grand Rapids, Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing Co. / Sproul, R.C. 2011. Estudos Bíblicos Expositivos em Romanos. SP: Editora Cultura Cristã.


Pr. Leonardo Cosme de Moraes